Fui professor de desenho por muitos anos, e o tema mais procurado, era o Desenho de Perspectiva. (Baixe gratuitamente minha apostila clicando aqui). Gosto muito de desenho, de perspectiva, e de ensinar desenho de perspectiva. E quando eu explico o sentido da perspectiva, e digo que nesta modalidade de ilustração, temos que fazer a combinação de elementos reais, com elementos virtuais. Mas o que são elementos reais e virtuais, no desenho?
Você, querido leitor ou perfumada leitora, é um elemento real. Você pode ser dimensionado, ou dimensionada. Você também, pode ser identificado pelo seu peso, sua altura, sua voz, suas configuração genética, enfim, há muitas maneiras de determinar a sua existência na sala ou no ambiente onde se encontra. Assim, você é tão real quanto um pacote de biscoitos recheados, embora tenha, talvez, sabor um pouco diferente dos biscoitos. É um palpite, mas creio que sim. O preço também sobe um pouco, nesta análise. Mas ambos são reais, ainda que um seja quem coma o outro, continuam sendo reais.
Pois bem. Mas caso, você resolva esconder-se de uma visita inesperada, digamos, no seu quarto (eu ia dizer banheiro, mas é meio estranho ir comer biscoito recheado - o tal que não é você, dentro do banheiro). Então, ao adentrar no recinto, você dá de cara com aquele enorme espelho, com moldura laqueada, do tempo da sua avó. Certo! Você está diante de um legítimo espelho de cristal com 76 anos de existência. Que super! Uau! E o que está na sua mão? Ele, o pacote de bolachinha recheada, que não é você, já garantimos isso, e instantaneamente você começa a refletir sobre seu próprio reflexo: a sua imagem virtual! Eis o mistério do tempo e do espaço, resolvido pelas leis da física, a Reflexão! É ela quem coloca você instantaneamente em outra dimensão, onde você percebe através da visão, que seu cabelo está rebelde aquele dia, e que o espelho provavelmente esteja com desvio de superfície, pois sua barriga não pode ser tão grande quanto aparece na imagem. Certamente não era esta a imagem que você gostaria de encontrar, caso pudesse viajar de uma dimensão á outra, e encontrar-se consigo mesmo. Mas gente! Você acaba de promover este encontro, graças á sua determinação em não ter que dividir as bolachinhas recheadas do pacote, com as visitas comilonas que apareceram de última hora. Gente mal educada! Assim, você, beliscando-se, para sentir-se ainda você, se defronta com a sua imagem, que também se belisca (nunca vire de costas para uma imagem que pegou gosto por beliscar, pois sua bunda é a parte beliscável mais próxima desta imagem de si mesmo, além do fato de acidentalmente olhar pra trás e reconhecer-se aquele bundão de quem falava tanto mal há poucos dias atrás.
Às vezes, nós colocamos os outros, dentro de espelhos imaginários, onde podemos moldá-los à nossa imagem e desejada semelhança. Estas pessoas são aquelas com as quais nutrimos certa simpatia pelo que fazem, pelo que dizem, pelo que mostram, por suas ideias, por sua bela voz, por seu carisma, seja ele político, artístico, cultural, religioso, ou moral. Criamos os nossos ícones a partir daquilo que há em nós que nos identifica com tais pessoas. Chamamos isso de "tietagem", mas "tietagem", não é amor, não é afeto, não é admiração pelo valor da pessoa, do ícone, em si, mas porque ela é formada das nossas moléculas reflexivas, porque quando as vemos, vemos a nós mesmos dentro destes espelhos onde as colocamos para vê-las melhor, para manipulá-las melhor, para moldá-las cada vez mais à nossa semelhança, não semelhantes ao que somos, mas ao que desejaríamos ser.
Somos sedentos por heróis. Somos famintos por audazes que vistam uma capa de poder e deem-nos outra capa, para que voemos lado a lado em suas missões de salvamento de algo ou alguém, pois quando nossos heróis voam, voamos junto com eles, e quando nossos heróis são atacados, é em nós que batem as pedras dos ataques. Quando adotamos tais ícones, cobramos deles perfeição, aquela que nós não somos capazes de alcançar, porque somos reais. Estamos sujeitos às leis da gravidade, da biologia, da química, da física, de todas as leis que nos sustentam vivos e livres. Então, intensamente desejamos confrontar-nos com nossos espelho, porque quem está do outro lado do vidro, mergulhado na superfície de prata daquela moldura, é nosso "EU", livre destas leis, mas atrelado à nossos movimentos, e principalmente à intensidade da luz que fornecemos para a concretização deste encontro virtual.
Como eu escrevo sobre política, pergunto: E o que um ser que arde em incertezas, buscando respostas diante do espelho, tem a ver com política aqui neste ensaio? Talvez eu não dê a resposta, como de fato não gosto de encerrar uma questão, fato que encapsularia o leitor no círculo vicioso de perguntas e respostas, e um circulo vicioso jamais será resposta a nada. Assim, pergunto eu, para que a perfumada leitora e o distinto leitor, debatam com seu travesseiro e troquem ideias com seus botões: O que você espera da pessoa a quem, no mais profundo de sua intimidade, permitirá que seja o portador de sua vontade, soberana, graciosa, determinada, a não ser que o represente tão bem, que não seja ela a ver-se como real, e você como um fantoche virtual, que só existe quando há luz do outro lado, para refleti-lo do melhor modo visível?
Não seria o eleitor, enquanto cidadão, sujeito às determinações daqueles em quem votaram, durante os quatro anos, apenas uma imagem refletida, sujeita ao querer e ao efetuar daqueles que se sentem de fato, reais, por terem peso, passo, e pensamento, revestidos da terceira dimensão da sua (falo com você, presta atenção, ou quer levar uns tabefes pra acordar?) imagem, que pensa que os manipula, mas que na verdade o espelho é deles?
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Falei difícil: Era a intenção. Se não entendeu, leia de novo. Eu não estou emprestando minhas ideias e palavras para gente sem cérebro. Você tem um. Use-o, senão alguém vai fazer uso dele. Para manipulá-lo, por exemplo. Para fazer de seu voto, um espelho, para suas patifarias, se for esta a sua imagem refletida do lado de lá do espelho. Vai votar errado, ou vai examinar com lente grossa cada movimento de seus candidatos? Ou vai deixar para escolher na última hora, tirando a sorte?
Vai você esperar que apareçam candidatos, ou vai tomar a iniciativa de escolher e promover você mesmo a candidatura de quem você acredita que possa fazer melhor por sua cidade, sua família, por você? Ou quem sabe, seja você mesmo no espelho, dos dois lados, e comece o seu tempo de determinação própria?
Olá!
Sou Pacard (Paulo Cardoso), Escritor, Gramadense de adoção e coração, e às vezes, gosto de pensar que D-s me fez andar por muitos caminhos, atravessar muitos pântanos, tropeçar em muitas pedras, isso tudo, como um conjunto de oportunidades para meu amadurecimento pessoal, interpessoal, humanitário, político, ético, e religioso. É o que chamamos de "Escola da Vida". E hoje vejo-me com a graciosa oportunidade de servir à minha comunidade, ao meu chão amado, à minha querência natal, com as letras que tanto amo, sob a forma de crônicas, ensaios, e aconselhamentos coletivos. É assim que vejo meu trabalho. E meus valores são: D-s (Deus), Família, Gramado, e o resto do mundo, se sobrar tempo.
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