Quando eu era pequeno, que me enfiava na casa dos amigos mais abastados, ricos, mesmo, e nos meus valores, eram ricos aqueles que tinha TV na sala, geladeira na cozinha, e uma prateleira cheia de "Vidros-Veeck" na sala, como um painel de sabores a encherem os olhos das visitas. Não apenas me enfiava, como sentia-me um membro da casa, da família, com direito a pedir mais uma fatia de salame e queijo durante o jantar, fato bastante corriqueiro, nas saudosas lembranças de meu crescer feliz. Eu me beneficiava desta relação, especialmente porque podia assistir meus programas favoritos (todos os programas eram favoritos, pois não havia muitas opções, com apenas dois canais de Tevê disponíveis), e meus programas mais favoritos ainda, eram os que tinham heróis, daqueles com máscara e capa mesmo. Suas armas poderiam emitir raios laser (eu nem sabia o que era um raio laser, mas adorava ouvir o "bzzzz" que sincronizava com o feixe luminoso que fritava monstros do espaço). Então haviam outros heróis, mais selvagens, como o Tarzan, que voava entre as árvores, suspenso em cipós, que pareciam ser quilométricos, e vestido apenas com uma tanga de pele de tigre, com uma faca na cintura, e uma força descomunal, tacava-le pau na bandidagem, sempre assessorado por uma macaca, chamada "Chita". Daí, minha concepção que para dar de pau na mediocridade, você não precisa de um grande aparato tecnológico do futuro, mas uma tanga, para cobrir as vergonhas, uma faca, para dosar as palavras e cortar os excessos, e uma macaca, como conselheira, você é um herói de enorme grandeza.
Continua após a Publicidade
Eu era menino, pobre, fraquinho, sujinho, dos pés empiriricados, orelhas sujas, e fedendo a mijo, mas eu queria ser um herói. Os anos passaram. Tarzan foi guardado nos rolos de celuloide de algum galpão que já nem existe mais. O raio laser tornou-se corriqueiro, e eu até tenho alguns aqui nos meus computadores, então nem há mais necessidade de vestir roupas prateadas cm capacete de vidro inquebrável, para manusear o raio, e os heróis, outrora inocentes, foram transfigurados em vilões com máscara, para saciar a sede de sangue das vítimas que clamam por justiça. No meu tempo de menino, os heróis nunca matavam ninguém, e toda a pancadaria que sofriam, os fazia parecer de silicone, porque não se via sangue. Até matavam, pra dizer a verdade, mas matavam de longe, em tiroteio, que não mostrava cérebros explodindo em 3 dimensões. Já os heróis de hoje, passam o filme inteiro no analista, tendo "flashbacks" (aquelas lembranças dos filmes) sobre as cachoeiras de sangue e pancadaria destruidora que promovem em seus confrontos. Nossos heróis, ainda que tenham os mesmos nomes de antes, são mais como personagens da série "Mad Max", onde estourar cabeças é a dinâmica de cada cena. O que aconteceu com nossos heróis? Por que mudaram tanto?
Nossos heróis nunca mudaram, porque heróis de nossa imaginação são as nossas frustrações espelhadas debaixo das máscaras que não ousamos arrancar, pelo medo de desnudarmos a nós mesmos debaixo delas, e não sermos capazes das proezas que os vemos fazer, porque cremos naquilo que não conhecemos, em lugar de conhecermos àqueles em quem devemos crer, nesse quesito de heroísmo, ou seja, à nós próprios. Nossos heróis não usam mais espadas, porque a invasão de facilidades na oferta de armamentos tão mais ousados nos seus efeitos, torna os objetos pontiagudos que faziam companhia à capa e máscara, completamente obsoletos. Daí, nossos heróis de hoje, não os da tela, mas o da realidade que é quase tão assustadora quanto a ficção, senão ainda mais, são aqueles pelos quais continuamos a sofrer, nos angustiamos em cada episódio que assistimos, porque, diferente dos filmes e das séries de nossa infância, não importava quais seriam os desafias, mas sabíamos que no fim, tudo sairia bem, tudo daria certo. Nossos heróis reais tem a solidariedade de nossas incertezas, com as suas, pois nem eles sabem, e nem nós imaginamos qual será o desfecho de suas façanhas. É aí que entram em cena os outros heróis, os heróis auxiliares, os combatentes pelos flancos: Nós mesmos, heróis de nossos heróis, que nos transformamos, de vitimas indefesas, à gladiadores invencíveis, e em nosso socorro defendemos aqueles que desejam nos socorrer, quando na verdade são eles apenas agentes de nossa vontade debaixo das máscaras que não usamos mais. Máscaras escondem nossa identidade, mas ousadia revela nosso caráter, Nossos heróis nos chamam de seus heróis e nós, heróis de nós mesmos, nos chamamos do jeito que quisermos. Como eu já disse outro dia, todos os heróis são tímidos, mas nossa intrepidez pisoteia a timidez que nos acovarda, para nos transformarmos de cordeiros em leões, num piscar de olhos, quando somos chamados à ação.
Tudo isso é lindo, mas e como se aplica esta definição em tempo de eleição? Como defino se a pessoa em quem vou depositar minha confiança, pelo voto, tem vocação para heróis, ou é um impostor bem produzido? Não tem, porque ninguém que se apresenta como "libertador", Salvador da Pátria", "Exterminador de corruptos e Marajás", ou "Seu amigo pra todas as horas", nem de longe passa pela prateleira dos heróis, para buscar sua capa e espada, mesmo porque, máscara ele já tem. O verdadeiro herói é silencioso, não se manifesta, senão pelos efeitos de seu heroísmo, e ninguém que busca a honra irá encontrá-la, senão aqueles que fogem dela, serão pela honra procurados, diz antigo ditado talmúdico. Então, ninguém é herói por antecipação, senão pela sua participação e determinação em submeter-se ao pente fino de caráter circunstanciado pela sua conduta, ainda que em silêncio, pois ética é aquilo que se faz quando ninguém vê, é a boa educação quando não há recompensas a receber. Ninguém usa faixa da vitória antes de começar a corrida, embora muitos candidatos gabam-se do que fizeram, como se fosse isso motivo de glória, pois se o fizeram e precisam lembrar as pessoas de seus feitos, não o fizeram com intenção de servir, mas de cobrar aquilo que não lhes devem. Servir é um ato de generosidade, mas quando você precisa ser lembrado, passa a ser uma marca de egoísmo, em lugar de heroísmo. São palavras homófonas, mas que se confrontam principalmente em tempo de campanha.
Se estamos falando de candidatos, vale observar os que gastam a maior parte de seu discurso forçando sua memória a lembrar o que eles fizeram, mostrar ruas que abriram, leis que promulgaram, creches que abriram, valores que implantaram. Estes jamais serão heróis, porque precisam de auto-elogios do passado para justificarem o futuro. Não há nada de errado em usar os feitos do passado como testemunho de competência e caráter, mas que sejam outros que o digam, e não eles próprios. Que invistam seu tempo e a paciência dos eleitores a debaterem suas propostas para o futuro, e que saibam que uma investigações breve nos anais de seus mandatos e vidas profissionais ou empresariais, descortinam suas entranhas até à última dobrinha do intestino, e é o que sai de suas bocas, e não o que entra nos seus ouvidos, que fará a diferença e os avaliará, pela história, no tipo de heróis que foram: O que sonhavam ser, ou o que necessita da máscara para não mostrarem quem são. Para este tipo de "heróis", que tem peçonhas para beijar pessoas, a melhor máscara é a verdade, que quando cai, nem eles mais se reconhecem no espelho.
Que tipo de herói é você? Para quem você é herói? Quem é seu herói? O preço do que fez e joga na sua cara, vale o seu voto para vê-lo repetir tudo de novo? Vale pensar!
"Se você tem vergonha de falar de política, saiba que há políticos que não se envergonham em tentarem te calar."
Faça sua contribuição para manutenção deste espaço.
Ele é muito importante para Gramado.
Sua contribuição é o que mantém este trabalho com isenção.
Não agradamos os políticos, mas motivamos a boa Política!
Pic Pay: @paulo.cardoso2
CAIXA:
PAULO CARDOSO
AG 0879
CONTA 00046331-2
OPERAÇÃO 013 POUPANÇA
CPF 257800000-00
Nenhum comentário:
Postar um comentário