
Por muitos anos, falar em Direita ou Esquerda, era fora de moda. "Essa linguagem acabou", diziam, Vivíamos novos tempos, onde tínhamos que nos preocupar com inflação, preço dos combustíveis, vacinas eficientes para erradicar a possibilidade de epidemias, com os preços dos hortifrutigranjeiros, e o próximo capítulo das novelas.
Vivíamos em um estado de torpor político, uma sonolência de tal modo, que imaginar que teríamos diante de nós uma rachadura na parede do tempo, que deixou escapar todos os velhos fantasmas ao mesmo tempo, e que nossa perplexidade seria tão grande, em ocupar-nos a ouvir notícias mais e mais atualizadas, que deixamos de pensar. Deixamos de refletir, e deixamos, principalmente que a avalanche de informações mal formadas tomasse conta de nossas vidas. Que esculhambassem a organização de nossos sonhos e trajetos demarcados, a tal ponto que pensamos mais no que está acontecendo fora do nosso cercado, do que o que realmente pode acontecer, se não protegermos este cercado. Haverá mais raposias que galinhas. Mais lagartos, que ovos. Mais pulgas que cães e gatos, e em pouco tempo, aquilo que era nobre, resta pobre. Aquilo que era precioso, perde o valor. E a vida começa a perder o sentido.
O mundo está em convulsão, como a mãe nas dores do parto. A América começa a retornar ao tempo das cavernas, e o Brasil digladia-se entre Paulo Freire e Olavo de Carvalho. Entre Bolsonaristas e Lulistas. Entre o debate sobre o certo e o errado. Em lugar de trabalhar e pensar um país com justiça e paz social, pensa-se nas ideologias e em seus ideólogos, debate-se entre não depredar bens públicos, ou rotular as depredações como cultura emergente. Debate-se se homens e mulheres podem esfregar-se homens com homens e mulheres com mulheres, enquanto a morte banaliza a vida. e crianças não sabem mais definir quem são, de onde vem, e para onde poderão ir.
Os jovens e os adultos perdem dia após dia sua capacidade cognitiva e reflexiva, haja vista que mecanismos cibernéticos ultrapassam a velocidade da luz da razão e do conhecimento, e produzem máquinas capazes de pensar um bilhão de vezes mais rápido que suas congêneres recém construídas.
Jovens e adultos não tem mais uma linguagem comum de comunicação. Não há mais construção de diálogos e circunlóquios, onde nem mesmo o solilóquio mostra vontade de existir neste ambiente vazio. Crianças, bebês ainda, tem suas mentes invadidas pela velocidade das imagens e brilho da telinha do smartphone, quando ainda não sabem pronunciar o próprio nome, mas sabem trocar as imagens e a música que preferem. Sim, crianças de peito, já tem preferencias musicais, que nem sempre deveriam ser mostradas à elas, ou a qualquer adulto em estado normal de sanidade moral.
Podemos atribuir esta confusão mental e social ao esquerdismo de Gramsci, ou ao empoderamento marcial apregoado por Olavo? Também creio que nenhum dos dois teria infinitude mental suficiente para descrever o pré-apocalíptico mundo que nos arrasta a um corpo maior dentro da curva de espaço-tempo desenhada por Einstein, de cuja atração não temos como nos desviar. É mais forte que nossa vontade. É mais ágil que nossa capacidade de reação.
Assim, compreendendo que estamos sendo arrastados para essa inexorável convulsão, como podemos nos desprender desta teia abjeta, e viver nossas vidas como se vivia em priscas eras, tempo em que acreditamos hores, teríamos sido felizes e não havíamos percebido que esta imaginada felicidade tenha escorrido entre nossos dedos como mercúrio, um metal que brilha, mas não se sustenta?
Como Gramado e o gramadense participam deste processo, considerando que nunca foram atingidos por crise alguma, desde que disparou na sua vocação para a hospitalidade? Onde a Esquerda e a Direita podem interferir desta quietude social, em Gramado?
Para responder a estas perguntas (se é que podem ser respondido isso), precisamos passar um pente fino nas correntes que predominam em Gramado, a partir de sua fundação. Analisemos seus personagens.
Ano de 1954, a emancipação não tratava de viés ideológico, senão a vontade mútua de ter um município para gerir o progresso, e gerar receita e liberdade econômica e administrativa para seu pacato povo.
Ano de 1964, o golpe militar fecha o cerco em grupos de esquerda, onde alguns são presos, outros fogem, e o restante se aquieta nas suas casas, eliminando o quanto antes qualquer literatura e panfletaria que denunciasse sua preferência política.
Em 1968, as eleições acontecem, e um candidato alinhado com a esquerda, é eleito, mas em poucos dias, tanto o eleito, quanto seu vice, são destituídos, cassados, e assume o Presidente da Câmara, alinhado com os militares e com a direita. Gramado torna-se área de segurança nacional, e o Interventor tinha contato direto com o Governador, e com o Poder Central em Brasília.
O povo pouco percebeu, uma vez que começa no país uma onda crescente de prosperidade econômica, independente dos porões onde um e outro lado agiam, no resto do país. Gramado começou a prosperar e o artesanato, aliado às indústrias locais, garantiam a sobrevivência econômica à população, que entendia que um bom emprego era melhor que liberdade de expressão. Gramado torna-se rica a partir daí. É evidente que todo crescimento promove dores, as dores de crescimento, mas ainda assim, Gramado avoluma-se em status e empreendedorismo.
No campo político, no entanto, pouca coisa mudou. Partidos de direita e de esquerda, nas suas origens, passaram a disputar, não o avanço de suas ideologias, mas o comando administrativo da cidade. Apenas dois lados da mesma moeda avoluma suas fileiras, para disputarem um punhado de votos, o que realmente é, no resultado numérico das eleições. Com algumas exceções, Gramado se divide, literalmente, nesta época, em duas grandes famílias, e mais que isso, famílias consanguíneas se fracionam, na defesa deste ou daquele candidato, e por fim, um e outro seguem quase a mesma linha de trabalho. O que muda são os cargos comissionados, os amigos, e os amigos dos amigos. De um e de outro lado.
Mas e a ideologia sobre direita ou esquerda, onde é que fica? Não fica! Direita e esquerda se confrontam apenas pelas redes sociais, onde uns malucos, e outros mais malucos ainda, se ofendem, e ao fim, tem que calar a boca e assentarem-se muitas vezes, lado a lado, nas horas de trabalho. Direita e esquerda não fazem parte da dieta do gramadense, pois a prosperidade econômica transformou Gramado em uma "ilha da fantasia", onde quem pode pagar, tem seus mais secretos desejos atendidos, especialmente se for comer, comer bem, e comer muito.
Nesta reflexão, faz diferença então se esquerda ou direita, lá no resto da país, de digladiarem, e uma delas enfraquecer diante da insistência da outra, tomando o poder e o jeito de governar? A resposta é sim! A direita pensa de um modo, conservador, ético, progressista, onde a livre iniciativa deve preceder o Estado, onde o indivíduo tem aquilo que conquistou, e o Estado não interfere na proporção ou desproporção entre ricos e pobres. A esquerda pensa de um modo politicamente correto,humanista, e estatizante. onde quem tem mais deva distribuir com aquele que tem menos, sob argumento que quem ganhou muito, ganhou porque explorou o que ganhou pouco, e assim, motiva a rebelião, sob a capa de democracia, para que se tome o muito e deprede o excedente do "explorador" capitalista que age contra o povo.
Assim, Talvez, pensar sobre isso, seja precipitado, porque Gramado continua sendo uma ilha. Portanto, nesse momento, sem saber como, Gramado favorece a direita. E neste modo de pensar, se realmente os ideais do Foro de São paulo prevalecerem, Gramado não poderá mais agir. Apenas reagir.
De qual lado você iria ficar nesta hipotética situação: Direita ou Esquerda?
Nenhum comentário:
Postar um comentário