AD SENSE

domingo, 22 de novembro de 2020

O espancamento como instituição de segurança – Racismo, ou Psicopatia?

Imagem: internet

O espancamento como instituição de segurança – Racismo, ou Psicopatia?

O tema em pauta da última semana, foi o caso de espancamento até à morte, de um homem, de origem africana, em uma loja, no Sul do País.

O primeiro passo foi de indignação, pela atitude covarde de dois homens, contratados para proteção do patrimônio da loja, ao anteciparem julgamento a uma suposta futura ameaça à integridade física de pessoas, e do patrimônio da loja.

A ação imediata, foi de reconhecimento do possível agressor, seguida de imobilização deste, e ato contínuo, o desferimento de uma interminável sequência de socos e pontapés, sufocamento, contorcionismo resultante do preparo marcial dos dois agentes, investidos de autoridade, e revestidos de supremacia corporal de força e agilidade.

As cenas mostram, breve tentativa de fuga do agredido, e eventuais movimentos de braço, em ação de defesa, sendo debelados pela superioridade numérica e da força empregada pelos agressores.

Em sequência, uma movimentação de comoção, que  tomou conta das redes sociais, e da mídia formal, que qualificou o ato como “agressão racista”, e naturalmente, o bom senso comercial orientou aos responsáveis pela loja, e fez com que rompessem contrato com a empregadora dos agentes insubordinados e opulentos. 

A sequência das informações, além de disseminarem o vídeo por todos os endereços virtuais (confesso que só assisti o vídeo completo, para escrever esse ensaio), foi proporcional à injúria causada, primeiro, pelo Ser Humano, que teve sua vida ceifada pela brutalidade investida à truculentos indivíduos, que foram alçados, numa fração de segundos, à condição de “policiais”, “delegados”, “juízes”, legislação excedente (uma vez que a legislação penal brasileira, não permite o uso da pena capital, exceto em caso de guerra, por traição ou deserção de fileiras militares), “algozes”, e finalmente, “cães incontinenti que não abrem as mandíbulas depois que atracam a carne da vítima, depois da dentada fatal. Eis a primeira fase do ensaio.

De outro lado, começo a ler e receber compartilhamentos da suposta “ficha policial” do agredido, assim como defesa prévia estimulada por advogados de porta de cadeia, que imediatamente traçam linhas de defesa sob a hipótese de que “talvez a vítima fosse cardíaca, e tenha ido a óbito por consequência de sua comorbidade, e não pela sequência de golpes e pancadas de marretas de carne e osso, e como já citado, chutes e estrangulamentos”.


A suposta ficha policial do agredido, de fato, é bastante extensa, culminando na acusação registrada, de “agressão familiar”, e outras façanhas desse tipo. Enfim, tratava-se de um indivíduo de elevada periculosidade à sociedade, como atestam os registros, e cabia, de alguma forma, que o efeito de seu destempero social fosse cessado, sob a vara da Lei, e da justiça.

Aqui começa a questão: Errou a vítima, em seus delitos anteriores, e certamente, calculou mal a abordagem à uma funcionária do estabelecimento, não considerando que haviam ali próximos dois agentes de segurança, capazes de freá-lo.

Erraram os agressores, que viram no agredido, a possibilidade de demonstrarem sua capacidade de bem proteger a casa, assim como fazem os cães treinados, que estrangulam os invasores da casa, e a seguir, correm para seus donos (donos, e não tutores, dane-se o politicamente correto), abanando o toco de rabo em busca de recompensa. Erraram ainda mais na dimensão da punição, posto ainda que sua tarefa não era punir e sim frear o mau intento, então, erraram por excederem às suas funções, ainda que pisando em terreno alcatifado de boas intenções.

Erraram os selecionadores de Recursos Humanos, ao contratarem indivíduos com acentuado grau de provável psicopatia  (o psicopata não demonstra bons sentimentos diante dos apelos da vítima), para simplesmente preencherem as vagas da demanda de seus empregadores. Aplica-se à estes uma significativa parcela de responsabilidade pelo resultado da desastrosa ação.

Erraram, antes de tudo, os advogados que esgravataram nas páginas escondidas das Leis penais, subterfúgios para convencerem juízes a manter o indivíduo em liberdade, nem ao menos vigiada, o que em certas circunstâncias, pouco resolveriam.

Erraram os legisladores, que votaram e aprovaram emendas esdrúxulas casuísticas, que favorecem a impunidade.

Erraram os Presidentes da República, que chancelaram e deferiram tais aberrações jurídicas.

Erramos todos nós a atribuirmos como de natureza racial os golpes desferidos contra um homem negro, haja vista que este  velho escriba, apesar de ter tez clara e traços caucasianos, já foi agredido com palavras, com rompantes e arrogância autoritária, por outros vigilantes de bancos (até trancado em porta rotatória já fui), ou constrangidos a deixarem documentos na posse destes em guaritas empresariais, ou ainda constrangidos em portarias de prédios residenciais, e aqui não se trata só dos vigilantes, mas dos próprios cidadãos, que se julgam superiores a outros, por estarem na condição de clientes , sob a máxima estúpida de que “o cliente sempre tem razão”, quando não tem, pois a razão está da ética, na elegância, na civilidade, nos bons costumes e modos, e no respeito ao outro, enquanto pessoa, independente da cora, etnia, ou situação social em que se encontre.

Assim, não vejo a agressão e morte do cidadão em questão, apenas como um crime racial, mas como um crime de falta de humanidade, e como todo crime é falta de humanidade, isto é, do lado bom que a humanidade nos oferece, vejo que o primeiro excesso foi em imaginar que pessoas mais fortes que as outras, em posse de armas, letais ou não, tenham o direito de agredirem, de punirem com socos e pontapés, estrangulamento, outra que esteja sob seu domínio, ainda que não imobilizada por completo, pois até para imobilização, existem meios, mecanismos e dispositivos de choque, de efeito paralisante, que atordoa, enfraquece, derruba, pelo tempo suficiente para que seja algemada e imobilizada por completo, até que as verdadeiras autoridades os recolham e encaminhem aos lugares que a Lei determina, e que a Justiça se faça acontecer.

Vejo precipitada a politização do fato. Vejo precipitados os extremismos de acusação ou defesa, diante de fatos midiáticos e sem o devido processo legal, que esclareça todos os fatos, de todas as maneiras, e a todos os envolvidos.

O "Cara estava agredindo sua companheira", disse um internauta. Sim, dizia sua extensa ficha de crimes, que estava. Mas isso não era do conhecimento dos seguranças, e ainda que fosse, não lhes era reservada a tarefa de punição, mesmo porque não existe tal forma de punição no código penal brasileiro. E ainda que existisse, não são seguranças de supermercado, os responsáveis pela aplicação de qualquer tipo de punição.

Até lá, fiquemos longe de confusão, onde quer que seja. Viveremos menos pior. Para nossa infelicidade, nos bastam as desgraças que não vemos.

Paulo Cardoso - Pensador

domingo, 15 de novembro de 2020

Apresentação do autor Pacard - Escritor

  


 
 

Caro empresário

Cara empresária!

 

Sou Pacard(Paulo Cardoso) escritor, brasileiro, gramadense.

Sou autor, independente, e desta forma, escrevo, reviso, edito, e publico os meus livros, em plataforma digital, para que viabilize a distribuição, tanto digital, quanto impressa de meus livros.

Gostaria de oferecer à sua empresa, a possibilidade de adquirir alguns exemplares de minhas obras, para circulação entre seus colaboradores, bem como oferecidas como brindes comemorativos.

Ao adquirir minhas obras, estará contribuindo para que mais livros sejam produzidos,  distribuídos, e compartilhados.

Para adquirir meus livros, basta escolher o título, e clicar nos links, que serão direcionados às plataformas de vendas (Amazon, ou Clube de Autores). Cada plataforma tem características próprias de edição, impressão e comercialização, como:

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O pagamento das obras adquiridas, feito nas plataformas, assegura que eu receba os direitos autorais (royalties), de forma segura, e justa.

Por gentileza, leia, doe, e divulgue meu trabalho.

Além dos livros, ofereço também minhas palestras, em temas relacionados com a literatura, ou sob demanda, além de biografias que escrevo, também sob demanda.

Seguem imagens de meus trabalhos, e outro arquivo, em PDF, mostrará as sinopses de cada livro, e os links de acesso ás plataformas.

Caso não queira acessar pelos links, pode entrar diretamente dos sites da AMAZON e CLUBE DE AUTORES, e lá proceder a busca pelo nome dos livros, ou pelo meu nome, PAULO CARDOSO/ PACARD

 

Muito obrigado

Pacard

 

48 999 61 1546   whatsapp

dpacard@gmail.com

 

Visite meu blog:

 www.dpacard.blogspot.com.br

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domingo, 8 de novembro de 2020

A invenção da cueca e da calcinha - Apolônio Lacerda é Istória


Pois a história que se conta é muito diferente da que verdadeiramente (verdade é uma certeza que a gente tem, quando olha dentro de si num quarto escuro) acontece. 

Primeiro, vieram com aquele pelo do Diógenes, que morava num barril, carregava um vela de corozena, vestia uma cuequinha bacaninha, e ficava campiando por uma pessoa verdadeira (homem, pois mulher não valia nada naquele tempo, e tem umas que não valem ainda hoje. Homens também entram na lista da infâmia, quando se prestam a isso). Mas, de fato, não foi assim que tudo começou. E eu vou contar como tudo começou, senão não faria sentido esse texto.

Pois a coisa era assim: Todo mundo andava que nem bicho: pelado, peludo, e cas côsa balanceando para lá e para cá. Era assim que era. Um dia (uns dizem que foi um dia, outros falam em início da noite, isso não há registro certo), veio um vento das bandas do oriente, mas não era um vento qualquer, não senhor. Era um vento que deixava o Minuano, lá do Rio Grande, ou o Vento Súli, aqui em Fronópixx, envergonhados, abichornados, acabrunhados, e completamente desenxabidos, pela pequenez da côsa.

E como nem tudo que é ruim chega sozinho, o tal vento trouxe junto uma poeira danada, e dentro dessa poeira, uma praga, mas que praga que era, barbaridade. Carregou umas baquetéria medonha de tão tinhosa, que atacavam o sistema evacuatório-mictal, e começava por uma escorrimentozinho mequetrefe, que subia pelos dutos excretores, matando a flora e a fauna intestino-mictória, a peçôa desatava a tussir, lá por bácho, promovendo um churrio incomensurável, uma caganeira bagual, e um mijoleteio irreparável. Era feia a côsa.

Pra piorar a situação, isso se alastrou rapidamente pelo mundo inteiro. E as benzedeiras, estupefatas, perplexas, decidiram que o bão memo pra côsa, seria proteger e evitar a propalação das baquetéria, pois não havia cura nem valcina à vista em curto prazo.

 E foi o que decidiram. A partir dali, todos, em todos os lugares, deveriam usar uma espécie de máscara (Más = marvadas, Cara = Fucinho, então: Máscara = Côsa ruim pra tapá as fuça), à qual, pela etimologia, chamaram de Cuéca (Cu + Éca. Eu faria apenas um reparo, pois como a cuéca não cobre apenas o Friduino, supracitado, deveria se chamar também de "Pistoléca"), e como dizia a palavra, o furico da peçôa, para proteger os pinduricáio dos taura, e...bem, as senhoras também tinha que se potrejêr das baquetéria), e desde então, nunca mais ninguém deixou de usar cueca e carçola, que é uma carça curta pra quem não tem pingola.




terça-feira, 3 de novembro de 2020

O debate e seus efeitos - Candidatos de Gramado

Foto: Print Facebook Jornal de Gramado - Transmissão aberta

A coisa mais difícil que existe, é ver alguém fazendo errado, você saber o que é certo, e ficar calado.

James Joyce


Eu não seria quem sou, nem meus textos não seriam respeitados, talvez odiados, mas jamais contestados por medíocres, se eu não falasse aquilo que percebo, e não emitisse, mas omitisse, a minha opinião. É o que estou fazendo, abertamente. Por ser opinião, posso fazer. Posso criticar fatos, se não tocar na honra das pessoas. Isso jamais.

Caminhando em frente, o debate dessa noite, 03/11/2020, entre os candidatos à prefeito em Gramado, uma bela iniciativa do Jornal de Gramado, que, apesar de pequenos problemas técnicos no final, foi impecável na condução do debate, pela simpática jornalista, que não sei o nome.

Foi um debate pândego, cômico, divertido, e o responsável pelo espetáculo burlesco foi o candidato artista, que teve seu momento de glória aos cerca de 11 mil internautas que assistiram, ao vivo, as perguntas estúpidas, e as respostas absurdas que deu este personagem. Mas deu, certamente o brilho necessário aos demais candidatos, que disputaram propostas, e algumas alfinetadas, duas apenas, a bem da verdade, e que demonstrou que os tietes de um e de outro, estavam afiados nas besteiras que sempre repetem, e nem pode-se culpar o disco de estar quebrado, porque não se usa mais disco, e nem agulha, mas eram tipo: "Fulano é o cara!" "Beltrano é nóis, tamu junto", "só ele pra salvar Gramado", e coisas assim, vazias, esdrúxulas, idiotas. E essa gente vota! E pior: Nutre a esperança de ser chamada como CC, se seu candidato vencer. São os mesmos que rasgarão as cordas vocais aos berros, enchendo a tromba de Chope, pulando sem camisa, ou as damas, de camiseta suada, encharcada de bebida, misturada com perfume vagabundo, emporcalhando as ruas, e largando foguetório sobre as casas dos vencidos.

Este é o panorama do debate. Não houve foguetório, mas o massacre do português, da gramática, da elegância, foi escancarado, com a multiplicidade dos "Consertesa venseremos!", e os louvores à estupidez de algumas respostas dadas.

Quanto ao debate, o candidato dos Tucanos, Beto Tomasini, embora tenha uma plataforma bem elaborada, mostrou-se despreparado, e tropeçou em várias respostas, perdendo oportunidade de apresentar uma performance adequada ao seu bem elaborado plano de Governo. 

O Candidato "Poeta", completamente sem sintonia com o debate, não respondeu nenhuma pergunta dentro do enunciado, e divagou o tempo todo, causando constrangimento à apresentadora e aos demais candidatos.

O Candidato Nestor Tissot, leu quase tudo o que falou, e aquilo que não leu, respondeu com agressividade, claramente direcionada ao seu oponente imediato, Evandro Moschem, do MDB.

Evandro, advogado, e atual vice-prefeito, mostrou irritabilidade em algumas vezes, e também alfinetou, ou melhor, espetou o candidato Nestor, que personalizou algumas considerações. Ainda assim, Nestor e Evandro souberam melhor oportunizar seus parcos minutos para direcionarem suas respostas às propostas que levaram para mostrar.

Já a organização do debate foi pobre, pois não deu aos candidatos tempo para construírem melhor seus discursos, considerando que o tempo de internet é diferente do tempo de televisão, e não haveria nenhum problema em ampliarem mais os tempos individuais.

Penso que Evandro foi mais polido que Nestor, e Nestor estava visivelmente incomodado com o debate. Beto estava à vontade, no início, mas depois perdeu a linha de raciocínio, motivado (ou desmotivado) pelas perguntas pândegas do Poeta.

O lado muito bom do debate. é que os candidatos foram eles mesmos, sem a produção de vídeo onde são mais ajeitadinhos, e falam bonito. Penso que mais debates, ainda que online, definiriam melhor a escolha dos eleitores.

Penso que hoje um grande número de indecisos andou um passo à frente.




quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Lockdown ou aumento do cemitério - O triste ocaso do governo de Fedoca



Eu esperava, sinceramente, poder chegar ao fim desta campanha, que acompanho com admiração, pela civilidade entre os candidatos, e certa expectativa pela renovação, e renovação com qualidade do Legislativo de Gramado, com serenidade, apenas comentando as variáveis daqui e dali, das estratégias de campanha.

Infelizmente não foi possível isso, considerando que o papel do escritor, e aqui particularmente, do blogueiro, é expor e contribuir para a reflexão acerca do que é importante, do que é necessário, e do que é urgente.

Recebi, com tristeza, a notícia da perda de mais uma pessoa querida pelos meus conterrâneos, assim como a infeliz notícia de que Gramado já perdeu mais vidas, diagnosticadas com a COVID-19, do que pequenos países, cuja proporção habitacional torna Gramado  potencialmente perigosa, se as estatísticas contribuírem de fato, e as estatísticas contribuem, de fato, para o quadro de perigo crescente, no que diz respeito à vida humana.

Gramado é a "menina" dos meus olhos, a minha grande paixão, a biblioteca das minhas lembranças, e o turismo fez com que essa paixão se proliferasse até por quem nunca esteve em Gramado. Assim, meu coração se despedaça em saber que o seu melhor remédio, tornou-se o seu pior veneno: O Turismo!

Escrevi, e não mudo uma palavra, quando digo que não são os bons gramadenses, nem os bons turistas, conscientes, quem está jogando essa riqueza em um lixão inexorável. 

São eles, os maus turistas, inescrupulosos, amparados por uns poucos gramadenses desesperados (e desesperados estamos todos) , quem destemperam o que resta de bom senso, e acreditam que pimenta no dos outros é refresco, e que, contanto que os seus lucros estejam salvaguardados, que morra o mundo, porque o que é deles está salvo.

Mas não é assim que acontece. Somos uma corrente que segura um grande peso, e se apenas um único elo desta corrente for rompido, de nada adianta a parte que está segura em cima. E esta corrente não é de coisas, mas de pessoas. Não sofremos por um terremoto, onde podemos nos reconstruir depois que tudo passou. Não sofremos por uma guerra, onde possa ser assinado um tratado de paz, uma trégua. Sofremos por um inimigo invisível, cercado de possibilidades ruins, uma semente do diabo, que ao brotar, rapidamente gera novas sementes, e novas espécies de atrocidades, sendo o egoísmo, a ganância, a pior delas.

Gramado é um elo forte desta corrente, mas é o elo desejado por todos, e se urgentemente, o Prefeito Fedoca não tomar a decisão dramática de promover um Lock Down completo, deixando uma fresta para, apenas, unicamente, as atividades essencialíssimas, ele, ou o próximo a ser eleito, deverá providenciar com urgência um aumento das vagas do cemitério.

Esta é a reflexão mais agressiva que já fiz, mas certamente serei compreendido por aqueles que perderam pessoas amadas para essa pandemia, e mais ainda aqueles que reconhecem, que Gramado deve vencer a crise econômica  e social, deve vencer o desemprego e o provável quadro de fome às portas, mas deve, antes de tudo, vencer a morte, que já está se tornando um mal comum.

O Prefeito Fedoca optou por não disputar sua reeleição, mas deve fazer a mais importante das escolhas para encerrar seu mandato: A vida de seus munícipes! A segurança  e a saúde da população, especialmente esta, porque, se permitir que continue esse agravo às leis, ao bom senso, ao respeito pelo outro, não haverá quem sirva gostosos pratos, nem arrume as camas dos hotéis. Não haverá nem memo quem queira ver um turista pela frente, ainda que seja dos bons, porque os maus passaram antes e deixaram um rastro de destruição.

Gramado pede socorro, e perguntar-me-ia um desavisado leitor, o que eu, que moro fora desta cidade há alguns pares de anos, o que tenho a ver com isso? Respondo que tenho tudo a ver com isso, porque minha mãe, e grande parte da minha família estão aí neste lugar. Minha mãe mora na divisa com Canela, já no município de Canela, mas minha mãe é Gramadense, e ainda que aos 79 anos de idade, jamais transferiu seu título de eleitor, de Gramado. Porque Gramado é a terra de meus ancestrais, e a terra dos meus amigos de uma vida inteira. Eu posso sim, gritar aos quatro ventos: Prefeito! Feche as portas e passe a tranca, porque o monstro já chegou para devorar, e está faminto demais.

Ser Prefeito de Gramado é uma honra, um desafio, mas sobretudo, uma oportunidade. Oportunidade de vencer uma eleição, oportunidade de fazer uma boa gestão, e oportunidade de sair pela porta da frente, sem olhar pra trás, com o senso do dever cumprido. E o dever do Prefeito Fedoca nesse momento é salvar todas as vidas que puder, pois ele tem poder e caneta, e sim, a boa política salva vidas e edifica. Só a política medíocre deixa rabo para ser pisado, e erva daninha para ser  arrancada. A hora é agora, e como diz a canção: "Quem sabe faz a hora, não espera acontecer!"





sexta-feira, 23 de outubro de 2020

O homem que brigou com D-s - A conspiração do Universo - A Banana e o Quasar (Opus 4)



Esteban estava radiante com o encontro, e expressou com um ditado popular, que é uma forma de dizer que não é completamente alheio aos mistérios da fé, o seguinte:

- Nossa conversa está interessantíssima, meus caros. Até o Universo conspira para esse encontro. Não acha isso?- Perguntou Esteban, provocativo.

Benjamim interveio.

- É interessante pensar que não somos autossuficientes, mas estamos aos cuidados de alguém que nos conhece bem, e planeja até mesmo um Universo que conspire , que colabore, para que sejamos bem sucedidos. 

No entanto, não é possível crer que o feijão que está na panela, combine com o arroz, e "conspirem" com o prato e o garfo, para que você os saboreie. A grande conspiração é essa: uma função auxiliadora, mas que não é autodeterminante, nem tem inclinação à decidir sua utilidade. O Universo é um infinito sistema binário, que responde à estímulos de sim e não. Não passa disso. Só que, enorme, gigantesco. Assustador. 

O sol emite luz, pois é de sua natureza emitir luz. A lua reflete a luz do sol, para que a noite seja iluminada, e para que as marés se comportem nesse compasso. Cada ser exerce sua função, e muitas destas funções tem por por objetivo, ou consequência, sustentar ou modificar o Universo que existe em nós mesmos.

Criamos o péssimo hábito de valorizar coisas em lugar de pessoas. Quando chamamos um "táxi", estamos chamando àquele que dirige o carro; ou quando vamos ao hospital, vamos à um espaço com equipamentos e recursos, geridos por pessoas, que providenciam nossa cura; assim quando creditamos às criaturas o que é de direito do Criador, estamos negando a nós mesmos o direito ao reconhecimento daquilo que fazemos, no entanto, nos desgostamos quando não reconhecem nossas virtudes, nossas boas ações.

Se um assassino comete um crime, não é o instrumento que será julgado, mas aquele que fez do instrumento, o mau uso.

- Mas não acreditam muitos que tudo é parte de D-s? Então se D-s está em todo lugar, tudo pode ser D-s? E nesse caso você eu eu seríamos deuses também?

Benjamin respondeu:

- O senhor sabe que o peixe vive na água. Suas células são formadas com grande quantidade de água, então o peixe está na água e a água está no peixe, mas o peixe não é água, nem a água é peixe. Porém, é da natureza do peixe que viva na água, e se for retirado de dentro dela, não vai sobreviver. A água vive sem o peixe, mas o peixe não vive sem a água. Evidente que água não é um ser vivo, mas esta é a sua natureza. Assim, cada ser, em seu modo de ser, obedece à sua própria natureza, e embora participe de uma simbiose, não se torna aquele cuja natureza se torne partícipe.

Então o senhor devolve o peixe à água, ele se hidrata, e sobrevive. A água contribuiu para que ele sobrevivesse, e os nutrientes da água, a luz solar, contribuíram para que ele exercesse sua natureza de peixe, que é andar livremente dentro da água. A água, os raios do sol, os nutrientes, "conspiraram" para que ele vivesse desse modo. Mas água continua sendo água, e peixe, continua sendo peixe.

Costumamos dizer que uma centelha divina nos preenche, o chamado "sopro" de vida, o Espírito de D-s, que foi soprado no ato da criação do Ser Humano. Este sopro, é a centelha divina, porém, isso não nos torna deuses.

Quando comemos uma banana, estamos ingerindo uma substância formada de elementos químicos, que estão relacionados na Tabela Periódica com seus 118 elementos. São estes mesmos elementos que compõem o Universo conhecido, pelo que mostram os dados astronômicos dos laboratórios, e também das amostras já recolhidas, de meteoros, ou da poeira lunar. Nada novo foi encontrado. 

Isso significa que desde a banana que comemos, até a extremidade do Universos, é tudo igual: Matéria, espaço, e energia. O que muda é apenas a intensidade. Mais nada.

No cérebro de um bebê que ainda não sabe falar, existem cerca de cem trilhões de sinapses, e duzentos bilhões de neurônios. Isso é milhares de vezes mais do que o número de galáxias contabilizadas até agora. Então, há mais mistérios dentro da nossa mente, que verdadeiramente conspiram para nossa existência, do que a massa densa de um Buraco Negro, ou a energia incalculável de um Quasar, que gira em velocidades incríveis, para que ao fim, se fundam suas estrelas, causem uma explosão, e formem uma Supernova. Ora, as duas estrelas que giram entre si, e as outras que ficam batendo palmas à sua volta, tem mais coisas com que se preocuparem, do que com uma pessoa que tem dúvidas sobre namorar esta ou aquela pessoa aqui nos cafundós da Terra.

 
O Universo é burro, mas obediente, porque está sob uma arquitetura inteligente. Logo, se o Universo conspira a meu favor, a banana faz o mesmo, e se o Universo conspira contra mim, acredite: um fio desencapado e uma poça de água no meu caminho, conspiram mais ainda também.

- E onde está esse D-s, em um Universo tão grande? Na banana ou no quasar? - Provocou Esteban!

Benjamin olhou para seu pai, que esfregava a longa barba, e disse:

- D-s não estão nem na banana, e nem no Quasar. Mas um e outro, estão em D-s, assim como o peixe está na água. 

Não podemos limitar D-s, como o mar que tem seus limites, mas podemos estender que D-s É o espaço, o tempo, e o Seu próprio existir, que não pode ser medido, calculado, ou imaginado.

A banana e o Quasar são condicionais ao espaço e ao tempo, mas D-s É absoluto, e se houver algum tipo de conspiração, ou contribuição, estas tem tanta capacidade de raciocínio e decisão, quanto a banana, e o Quasar.


Esteban ouviu a tudo estupefato, e pediu mais uma xícara de café.






sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Voce precisa mesmo expulsar o candidato de sua casa? O eleitor medíocre

 

Li com tristeza, algo que foi compartilhado com protesto, e como escracho, como deboche da baixa popularidade dos políticos. Isso não é privilégio apenas dos políticos, mas de grupos religiosos, de vendedores, e de qualquer pessoa que esteja em situação de depender do gesto de boa vontade das pessoas..

Vi certa vez, uma placa de bom tamanho, no jardim de uma casa, os seguintes dizeres:
-"Pessoas das Testemunhas de Jeová, estão proibidas de entrarem nessa casa"

Soube, depois, que era um ódio intrínseco, pois um membro daquela família havia se convertido à esta religião, o que incomodou sobremodo os familiares, devotos de outra doutrina.

A disseminação do ódio é uma constante no mundo, mas em tempo de eleições, ficam liberadas as ofensas pessoais, as ilações (acusações vazias, insinuações), os ataques, até mesmo físicos, e verbais agressivos, no confronto entre duas pessoas, muitas vezes da mesma família, que divergem das opções um do outro.

O fato que descrevo é uma imagem compartilhada nas redes, de um morador, em Gramado, que instalou na sua casa, ou condomínio, não sei dizer, uma enorme faixa, com dizeres que deixam clara a exclusão de candidatos neste território particular.

Que triste isso. Não sei, e nem quero saber quem são estas pessoas, mas sou capaz de traçar um perfil delas, xingando, ao longo de quatro anos, os políticos, por qualquer razão, sendo que não tenham um, em espacial, a direcionar seus protestos, pois, quando eu quero reclamar de algo, procuro alguém, para que faça alguma coisa, mas, não posso reclamar de quem não me deve neda, nem mesmo sua palavra.

Como poderia eu, cobrar de um prefeito, um vice, e nove vereadores, por algo que não me prometeram, de uma reivindicação que não fiz, olhando nos olhos e selando o acordo com um aperto de mão?

Desse modo, quem não se compromete no caminho, não espere receber a chave da porta na chegada. O compromisso das autoridades é com o povo, com todas as pessoas, mas o compromisso de ouvir uma reclamação, deve ser direcionada, para que não se torne injusta, pois, como pode o Prefeito pagar por promessas feitas pelo vereador, sem que não tenha participado da conversa?
Quem não participa da campanha, seja como militante, buscador de votos, ou como eleitor que recebe o candidato para ouvir suas propostas, não tem o mínimo direito de reclamar depois, não tem a mínima condição moral de apontar ausência política de quem ele próprio, eleitor, nem mesmo se dispôs a ouvi-lo. Hipocrisia se responde com silêncio. É o que há.



terça-feira, 13 de outubro de 2020

O viajante dos ventos - O casulo das almas - ( Janela I )


 
O viajante dos ventos

Pacard

Janela Um


O casulo das almas



A brisa do mar regia o bailado das folhas secas que rodopiavam subindo e descendo, subindo e descendo, desafiando-se umas às outras, até que uma rajada marota soprava-as para o alto e de lá sumiam, ora para o mar, ora para as campinas.

Férias na casa de campo dos avós é um presente, um tempo esperado o ano todo. Fernando e Daniela chegaram no dia anterior ao feriado, mas já estavam de férias, e cada minuto deve ser aproveitado, o melhor que der.


- Levou meu chapéu! Gritou Daniela, rindo só por rir!

- Por que não pôs a mão na cabeça, sua tola? Era certo que voaria. Deixe que eu pego pra você!

- Você vai atravessar a cerca de arame farpado? É perigoso!


Fernando riu, envaidecido. Deu de ombros, e pulou a cerca com habilidade de um acrobata. Em poucos minutos, o belo chapéu de palhinha cor bege, ornado com um raminho de flores do campo, adornava os cabelos dourados, quase brancos, de Daniela.

- Eu não mereço nada? Nem vai me agradecer?

- Bobão! Valeu!

- Tá! Valeu. Na próxima vou deixar lá pra vaca mascar, o seu chapéu.

- O que vamos fazer agora? - Perguntou Fernando.

- Ah, sei lá. Não fazer nada não tá bom?

- Tá, né! Então tá. Um lugar lindo desses e você quer “não fazer nada”; Se fosse pra não fazer nada, a gente podia ter ficado em casa, jogando. Ou dormindo, ou vendo filme, ou jogando, vendo filme enfiado debaixo da coberta.

- Tá calor pra ficar debaixo da coberta.

- É.

- Vamos caminhar pelo bosque! Sugeriu Fernando. Tem uns caminhos super legais ali.

- Não é perigoso?

- Não. Bem tranquilo! Eu conheço tudo. Eu sei onde fica a cabana do velho maluco.

- Ela existe mesmo? Já ouvi falar dela. Eu tenho medo.

- Medo por que? Ele é inofensivo. Vovô já me mostrou a cabana dele, de longe.

- Temos que levar uma coisa pra ele comer, não temos?

- Ah, legal! Vamos levar umas frutas e pão; Será que ele come isso?

- Claro, né, tontinha! Ele é velho e velho come de tudo que colocar na frente deles.

Daniela ri muito.

- Vovô come umas coisas estranhas, de quando era criança; Eu já comi com ele. Algumas coisas são legais.

- É Ele já me ensinou a fazer umas daquelas comidas de roça dele. Um dia a gente pode fazer né?

- É.

- Vamos levar bananas? Será que ele come banana?

- Dãr! E quem não come banana?

- Meu amigo do terceiro B. Ele quase vomita quando vê banana.

- Tadinho. Pega pão novo ali e uma caixinha de leite. Será que ele tem intolerância á lactose?

- Ah, sei lá. Tá, se tiver, a gente trás de volta.

As folhas ainda bailavam à brisa que trazia o cheiro das ondas e causavam alguns arrepios. As crianças andavam a largos passos, carregando suas mochilas com alimentos e algumas roupas e cobertor para o velho da cabana.

O caminho dentro da floresta se bifurcava por algumas vezes. E tinham que escolher a qual caminho deveriam seguir. Subiam ladeiras e desciam trilhas. O perfume da mata fazia coro ao trinado dos pássaros, e dos insetos. As cigarras regiam uma orquestra de zumbidos, e o vento balançava a copa das árvores mais altas. A temperatura era mais amena dentro da mata, e um pequeno córrego serpenteava as colinas, por vezes se derramando em cachoeiras ornadas de pedras lisas pretas, e outras dançava em redemoinho em algum cantinho recostado do arroio, onde folhas cansadas caídas dançavam seu derradeiro bailado antes de serem tragadas pelo jorro imponente das espumas que caíam da cachoeira.

Um caminho de chão mais liso e firme mostrava a direção da choupana, e mais alguns passos, já ofegantes pela ansiedade do mistério, levavam à portinhola puída com um pequeno coração recortado ao centro, um visor da porta.

Uma velha cabana, com um banco de madeira rústica na varanda, e plantas do lado de fora: ervas, chás, hortaliças que cresciam entre ervas nativas, e um e outro pé de frutífera antigo, com frutas esparsas e cercadas de pássaros que bicavam nervosos, e saíam voando, desconfiados, a qualquer movimento brusco em sua direção.

- Vamos bater na porta? Perguntou, apreensiva Daniele.

- Acho melhor, que não. Vamos bater palmas daqui, que dá pra sair correndo. Fica preparada!

- Aham! Eu tou. Tou com medo.

- Fica atrás de mim, e se ele vier na nossa direção, sai correndo que eu te acompanho.

- A as coisas que trouxemos?

- Ora, são pra ele mesmo. A gente deixa e corre.

- Atá! Legal.

Demais Janelas

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……...Continua

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segunda-feira, 12 de outubro de 2020

O reino dos perplexos - Fábula

 

Pitoco Monarca e Paulico Pitoco - Personagens por Pacard
Era uma vez um reino. Havia nele tudo o que era preciso para fazer daquele lugar um belo reino. Rios, montanhas, florestas, planícies, mar, lavouras, jardins, palácios, aldeões, príncipes, cortesãs, vassalos, cozinheiros, mordomos, tudo. Tudo mesmo. Ou quase tudo, pois o reino não tinha um rei. Nunca tivera, desde a sua fundação. Não um rei do tipo que usasse coroa ou morasse em um palácio; Sim, como disse antes, havia palácio, mas nele viviam intrusos. 
Uns se intitulavam amigos do rei. Outros inimigos do rei, mas circulavam pelo reino com ampla liberdade porque nesta condição, asseguravam o respeito da nobreza e o receio que além de oponentes, também pudessem tornar-se inimigos, e pior que inimigos são inimigos que conhecessem a rotina da alta corte. 
Todos, de uma forma ou de outra, falavam em nome do rei. Chegavam a ser mais reais que a própria realeza. Criavam e ditavam regras em nome do rei, que nem o próprio rei, se as tivesse ele mesmo ditado, não ousaria ser tão real em suas decisões como eram pela boca de seus emissários. 
Só que havia um problema: ninguém conhecia o rei. Havia um decreto proibindo que a face do rei fosse vista e o súdito, fosse ele príncipe, nobre ou plebeu, que encarasse o rei nos olhos, deveria ser condenado à prisão pelo resto da vida. 
Desta forma, os lacaios serviam-no em sua câmara por uma passagem onde havia uma roda por onde eram colocados os alimentos, roupas limpas e necessidades do monarca, mas jamais encarar-lhe o rosto. Quando se tornava necessário cuidar da limpeza do lugar, o rei se retirava para outra câmara ao lado e assim a vida seguia no palácio. Os seus decretos eram estabelecidos todos por escrito e selados pelo próprio rei.
Neste reino havia um homem velho e sábio, mas muito pobre. Vivia de mendicância pelas ruas, que de tempos em tempos assentava-se à porta do palácio para coletar esmolas de quem entrasse pelas portas reais. Uns viam aquela figura silenciosa observando o movimento, e cautelosamente achegavam-se e atiravam algumas moedas na canequinha do mendigo. Outros, empinavam o nariz e mudavam de direção para não sentir-lhe o fedor. 
Apenas as crianças tinham coragem de se aproximarem dele e arriscar um momento de prosa, enquanto depositavam as esmolinhas cautelosamente com uma mão, e a outra  estendida para os adultos que permaneciam distantes com olhar de orgulho pelos filhos generosos que haviam gerado. 
Não era isso. Ter uma criança que levasse a esmola tão perto era uma forma segura de não precisarem olhar o velho nos olhos, Era perigoso olhar a miséria nos olhos, pois poderiam ver a si mesmos espelhados neles.
Todo primeiro dia do mês, lá estava o velho assentado naquele degrau. Mês após mês. Ano após ano. Um dia, ele não apareceu no degrau. Não havia uma canequinha e um par de mãos encardidas para recolher as esmolas. Uma fila de senhoras em busca de conselhos demonstrava sua decepção e lamúrias, ora procurando saber o que tinha acontecido com o velho, ora praguejando sua ausência.
Mas naquele dia, um fato surpreendeu à todos daquele reino: o rei mandou avisar que mostraria seu rosto ao seu povo e que a partir daquele dia todos poderiam vê-lo quantas vezes tivessem vontade, pois ele faria um passeio diário pelas ruas da cidade e seu cortejo de nobre estaria recolhendo as petições dos seus vassalos para que ele pudesse atendê-las ao seu tempo e condições.
A partir daquele dia, aquele reino tornou-se o reino mais feliz daquele continente, porque viam um rei real e não uma sombra imaginária que se escondia nas sombras.
E o velho? Sei lá. Sempre dá certo colocar um velho mendigo com jeitão de sábio nas fabulas. E o rei? Criou uma fanpage nas redes sociais, entrou para uma academia de fitness e deu plenos poderes aos seus lacaios para que fizessem o que bem entendessem, contanto que ele não tomasse conhecimento de nada.
*PS: Só que não!
Fim
(Estado de Alerta - Pacard, 2015)

sábado, 10 de outubro de 2020

O Velho Bracatinga, e os impertinentes




 Não se deve confundir "impertinente", com "incontinente", embora, muitas vezes, residam no mesmo corpo, e compartilhem o mesmo caráter, maus, mas nem sempre. Ansioso, talvez. Agradável, nunca.

O impertinente é um ansioso em terceiro grau, um sofredor missionário, que tem como missão, levar aos outros, as suas angústias.

- Tem uma nuvenzinha tímida no céu, e não há vento. Podemos passear um pouco, tomar uma fresca! - Comentou o enfermeiro.

- Não se engane! Nuvens assim carregam mau agouro! - Disse João Marmota.

- Não chove hoje! Vamos tomar a fresca - berrou Bracatinga, já procurando o chapéu, com a ponta da bengala.

- Eu acho que não vou, e acho que também vocês não deveriam meter o nariz fora de casa hoje. 

- Meta-se com sua vida!

- Já que ninguém me escuta, levem umas galochas e um agasalho!

- No verão, a trinta graus? 

- Pode cair uma saraivada de chuva de granizo!

- Aí a gente volta pra dentro!
- A roda da cadeira pode enguiçar!

- Num passeio de concreto, a dez metros da varanda?
- ...Que pode desabar com o temporal!

- Mas quem foi que disse que vai chover? Até a nuvenzinha já se foi. Céu azul, de brigadeiro!

- Foi chamar outras nuvens. Essas efemérides tem parte com "demônho!"

- Velho caduco! Fique aí então!

- Já estão me excluindo, estão? Discriminação racial?

- Você é caucasiano, e nós também! Quem discrimina gente da mesma origem?

- Agora querem se igualar a mim? É isso que querem? Me arrastar pro buraco com vocês? No meio da chuva? Querem que eu pegue uma "pontada" e morra?

- Tu é doido. Tá um calorão, e o céu tá azul, já falei!

- Isso até que chova! E o céu tá muito baixo! Pode dar temporal.

-Eu desisto!

- Desiste? justo agora que eu tinha me preparado pra dar um passei, tomar uma fresca? O que foi agora? Não me querem junto? Digam na minha cara!

- Tá com a corda toda no azedume, ô...

- Leve algo pra comer o passeio, e uma ferramenta pra consertar a roda da cadeira.

- Por caridade! Nós só vamos aqui na frente do asilo, a dez metros da varanda, pela calçada, e não tem degrau!

- E por que não fizeram um degrau? Querem que a gente ande numa lombada e se esborrache debaixo de uma diligência?

- Não existem mais diligências, nem cabriolés há muitos anos, Marmota!

- Era só o que faltava. Então o senhor Dom Pedro vai ter que andar a pé, com essa lacaiagem toda atrás deles?

- Dom Pedro já morreu, João!

- Chega! Eu não falo mais com vocês! Gente mentirosa! Do Pedro nem doente estava quando soube a última notícia dele.

- E onde foi que você soube dele, Marmota?

- Na aula de história, na terceira série, com dona Jurema.

- Para! Calça tua pantufa e vai olhar filme de bangue-bangue na tevê.

- Vou mesmo, antes que comece a trovejar e eu tenha que desligar o aparelho. Acha mesmo que vai chover?

- Não sei, tenho ouvido muito falar disso na última hora. Pelo sim, pelo não, vou pegar um guarda-chuva.

- Leve também um casaquinho, que depois do granizo, pode cair a temperatura.

- Enfermeiro! Traga meu capote de chuva, e um naco de rapadura. Se chover, posso me entreter mascando um docinho.

- Vamos cancelar o passeio, Seo Bracatinga! O tempo fechou e acho que vai chover.

- Que tempo maluco. Não faz nem meia hora, o céu estava tão azul, e só tinha uma nuvenzinha no firmamento.

- Mas estava muito baixo. Eu disse, eu falei, eu avisei! - Emendou João Marmota lá de dentro, que tinha ouvido de tuberculoso e escutou toda a conversa.

Em breve* (Continua após a Publicidade)

- O senhor estava certo, Seo João! Melhor tirar uma pestana. Vamos colocar a fralda, por causa da sua incontinência.

- Que pestana? Vamos sair lá fora e tomarmos uma fresca.

- Não dá, João! Talvez chova!

- Que nada, Bracatinga! o Céu está azul e só tem uma pequenina nuvem no firmamento, sem vento nenhum!

- Eu mereço. Tudo de novo! - Choramingou baixinho, o Enfermeiro.








sexta-feira, 9 de outubro de 2020

A Comenda do Velho Bracatinga




Seo Bracatinga nem sempre foi largado num asilo pra esperar a morte chegar. Não senhor. Bracatinga já foi importante, fez coisas importantes, e teve ao seu lado, pessoas importantes. Assim foi, sim senhor.

Foi um filantropo muito conhecido, e patrono das artes e literatura. Teve dinheiro, fama e poder, e uma esposa, a quem foi fiel enquanto ela deixou. Mas sabe como é, todo homem  precisa ter uma fraqueza e a fraqueza de Bracatinga era..."jogar truco ca cumpanherada!" Embora prometesse à Casturina que havia largado o vício, de fato não havia, e mal era virava as costas, e ao longe se ouvia: 

- "Truco!"
- "Te retruco!"

- "Mão de onze!"
- Mão de ferro!

- "Guascaa!"
- "Ah, la frescaaa!"

E voltava assobiando, com a mão no bolso da bombacha, contando os pila que amealhou.

- Adonde tu tava, Carniça?

- Fui ali, bombeá umas linha de jundiá.

- Mas o rio fica do outro lado, mintiroso!

- Pra tu vê o trabaio que dá caminhá nesses brejo pra trazê um peixinho pra fritura. E tu, já fez a polenta?

- Fiz de manhã, caduco! Agora é metade da tarde!

- Recebi uma carta.

- Carta de quem?

- Consulado da Espanha!

- Que que querem?

- Me fazer uma homenagem por serviços que prestei durante a revolução de 35.

- O que tu fez em 35?

- Nasci. Isso é um préstimo inestimável à coroa espanhola.

- Tu é loco!

Tá aqui a carta. Pode oiá com teus zóio, encrenca!

De fato, era mesmo uma carta do consulado geral da Espanha, mencionando uma homenagem, por serviços prestados, ao entregar uma carta, cujo teor, decidiu uma questão importante no país. Bracatinga is passando na rua, e viu que o carteiro deixara cair a tal carta. Juntou e correu atrás dele, mas não o alcançou. Como viu que era destinada ao consulado da Espanha, que ficava perto, passou lá e entregou a um sujeito magricelo que estava entrando no prédio. Era o Cônsul. Fez um gesto de reverência em gratidão, perguntou o nome, e entrou. Isso foi tudo.

Chegou o dia da entrega da comenda, e um belo jantar foi servido. Bracatinga se fartou de Paella. Repetiu várias vezes. Saiu de pança lustrosa. Chegado o momento, foi chamado ao púlpito e recebeu a comenda, uma bela medalha suportada por uma faixa com as cores da Espanha. Bem bagual mesmo, pensou Bracatinga. Isso feito, chegou o momento de descontração, e foi servida uma sangria - uma bebida à base de vinho e frutas. Bem docinho. Bom demais. E sendo o convidado de honra, Bracatinga desatou a beber o quanto podia. Bebeu muito. Depois veio conhaque, vinho, enfim, festa é festa.

Já com o pé redondo, e a cabeça girando, Bracatinga chegou a uma mesinha, onde estava exposta a bela comenda. Olhou aquilo, chegou bem perto, examinou bem, ainda que borracho, e comentou:
- Que negócio tão lindaço. De quem é esse pinduricáio?

- É sua, Señor Bracatinga!  O señor recibyó  la Comenda de la cuerte de España! LO más alto honor de la Casa de Los Bourbon Y Aragón!

- E quando é que eu fiz encomenda de corte pra uma espanhola? Me tira disso! Eu não vou pagar por uma coisa que não encomendei.

Teria sido apenas arroubo de um borracho, mas quem respondeu isso foi o próprio cônsul, vermelho de raiva... Só se ouviu, ao longe, um:
- Conõ! Qué me caga la madre!

- Seu Bracatinga! Acorde! O senhor está tendo um pesadelo...

- Vai à merda, enfermeiro! Adonde tá minha comenda? Tava aqui na minha mão agorinha mesmo..deixei cair no café..

- O senhor estava comendo bolachinha com café, Seo Bracatinga. Quer mais uma?

A tarde estava fria, e embora enrolado em um cobertor, Bracatinga foi recolhido ao seu quartinho triste e sombrio.


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Olá 
Eu, Pacard,  e o Apolônio Lacerda, meu simpático Alter Ego Intestino queremos convidar você, a participar deste projeto literário, que desenvolvemos (ele é o autor, e eu só entro de metido)desde 2013, quando foi lançada em algumas plataformas, a Primeira edição do livro Teoria da Criatividade.

Há poucos dias, percebemos que os leitores estão em busca de respostas à questão criativa no ambiente de pandemia, e pós pandemia, e entendemos que seria necessária uma revisão e atualização, além de uma melhor diagramação da obra.
 
Assim, apresentamos o projeto da Edição Revisada e Ampliada 2020,  e contextualizada para o momento. Trata-se de uma obra conceitual, filosófica, autobiográfica, e que levanta questões diretamente ligadas à necessidade criativa e na sua importância na sociedade moderna.
A obra será vendida, inicialmente, de modo direto, a um grupo seleto de amigos, e mais tarde, através das plataformas na web.

Você adquire uma cópia digital codificada ao valor de R$ 10,00, e ao adquirir acima de 50 cópias, pode acrescentar uma peça publicitária de seu interesse, e distribuir as cópias aos seus amigos e clientes livremente (ela não poderá ser impressa, mas poderá ser compartilhada com senha)

Esta é uma forma de participar de meu projeto literário, pois tenho muitos outros livros em andamento neste formado. 
Também aceito projetos especiais, biografias, ensaios, e redação publicitária.

Contato: 48 999 61 1546  apenas whatsapp ou email - dpacard@gmail.com


https://www.kickante.com.br/campanhas/livro-teoria-da-criatividade.


quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Bracatinga e Apolônio



Apolônio deu de mão na viola de três cordas, e um dente de ouro, e foi visitar o velho Bracatinga, no asilo onde aguardava o susto.

- Mãns chê! Cuaje não me deixam entrar, por causo da viola. 

- E o que a viola tem de errado?

- Foi qualificada como instrumento de tortura. Mãns só quando eu toco.

- Trouxe a encomenda?

- Tá aqui. Só tinha a Tertúlia.

- É da boa. Deixa ali atrás do banco. Tomemo um mate?

- Tomemo um mate. Mãns não se apoquente. Já truche pronto aqui nos apetrecho.

- Adonde tá?

- No saco da viola!

- E a viola?

- Deixemo guardada. Não toco nada mêmo.

- Guardada adonde?

- Na portaria do asilo.

- Quem era o porteiro?

- O Polaquinho.

- Bagual ele.

- Bagual, bagual!

- Vou ali tomar um mate a já venho.

- Não vai me servir um?

- Não posso. Tenho que respeitar as lei.

- Aqui dentro tem lei que proibe mate?

- Pois não sei.

-Vamo quebrá essa lei.

- E nóis semo ôme de quebrá lei? Sou ôme de bem!

-Vou me candidatar.

- Vai?

- Vou!

- A que?

- Não sei. Me candidato, e depois eu decido.

- E o que vai prometer? Candidato tem que prometer!

- Uma ponte!

- Adonde?

- No Itaimbezinho. Um feito!

-Como tu é inguinorante. Uma ponte em riba do Itaimbezinho contradiz a Lei da gravidade!

- Eu passo um decreto e anulo essa lei.

- Não dá, ôme! Não se mexe com essas côza! A Lei da Gravidade é uma lei federalh!

- Sirva um mate!

- Não dá. Só pode matear de másquera.

- Então coma um biscoito.

- Perciza vortá aqui com a viola.

- Eu não sei tocá.

- Cheia de erva e biscoito.

- Bem alembrado.

- Me voy!

....

- Enfermeiro! Venha cá! Tou lhe chamando!

- Diga Seo Bracatinga!

- Quero mijá!

- Pode fazer na fralda, Seo Bracatinga!

- Enfermeiro!

- O que é, Seo Bracatinga?

- Me sirva um mate!

- Aqui não tem mate, seo Bracatinga!

- Chame o Apolônio de volta e ele que devolva meus apetrecho de mate!

- Quem é Apolônio, Seo Bracatinga?
- O maleva, com o violão de trêis corda que saiu daqui.

- É meia noite, Seo Bracatinga, o senhor está no seu quarto, e não vem ninguém aqui visitá-lo há mais de três meses...

...

- O senhor está chorando, Seo Bracatinga?

- Não mesmo, varão! Sou "ôme de bem!"

- Enfermeiro!

- O que é agora, Seo Bracatinga?

- Posso peidá na fralda também?


A Parede Branca - Conto

  A Parede Branca Pacard Um dia fui à procura de D-s. Encontrei uma grande galeria de arte religiosa, com uma placa que dizia: D-s está aqui...