AD SENSE

terça-feira, 13 de outubro de 2020

O viajante dos ventos - O casulo das almas - ( Janela I )


 
O viajante dos ventos

Pacard

Janela Um


O casulo das almas



A brisa do mar regia o bailado das folhas secas que rodopiavam subindo e descendo, subindo e descendo, desafiando-se umas às outras, até que uma rajada marota soprava-as para o alto e de lá sumiam, ora para o mar, ora para as campinas.

Férias na casa de campo dos avós é um presente, um tempo esperado o ano todo. Fernando e Daniela chegaram no dia anterior ao feriado, mas já estavam de férias, e cada minuto deve ser aproveitado, o melhor que der.


- Levou meu chapéu! Gritou Daniela, rindo só por rir!

- Por que não pôs a mão na cabeça, sua tola? Era certo que voaria. Deixe que eu pego pra você!

- Você vai atravessar a cerca de arame farpado? É perigoso!


Fernando riu, envaidecido. Deu de ombros, e pulou a cerca com habilidade de um acrobata. Em poucos minutos, o belo chapéu de palhinha cor bege, ornado com um raminho de flores do campo, adornava os cabelos dourados, quase brancos, de Daniela.

- Eu não mereço nada? Nem vai me agradecer?

- Bobão! Valeu!

- Tá! Valeu. Na próxima vou deixar lá pra vaca mascar, o seu chapéu.

- O que vamos fazer agora? - Perguntou Fernando.

- Ah, sei lá. Não fazer nada não tá bom?

- Tá, né! Então tá. Um lugar lindo desses e você quer “não fazer nada”; Se fosse pra não fazer nada, a gente podia ter ficado em casa, jogando. Ou dormindo, ou vendo filme, ou jogando, vendo filme enfiado debaixo da coberta.

- Tá calor pra ficar debaixo da coberta.

- É.

- Vamos caminhar pelo bosque! Sugeriu Fernando. Tem uns caminhos super legais ali.

- Não é perigoso?

- Não. Bem tranquilo! Eu conheço tudo. Eu sei onde fica a cabana do velho maluco.

- Ela existe mesmo? Já ouvi falar dela. Eu tenho medo.

- Medo por que? Ele é inofensivo. Vovô já me mostrou a cabana dele, de longe.

- Temos que levar uma coisa pra ele comer, não temos?

- Ah, legal! Vamos levar umas frutas e pão; Será que ele come isso?

- Claro, né, tontinha! Ele é velho e velho come de tudo que colocar na frente deles.

Daniela ri muito.

- Vovô come umas coisas estranhas, de quando era criança; Eu já comi com ele. Algumas coisas são legais.

- É Ele já me ensinou a fazer umas daquelas comidas de roça dele. Um dia a gente pode fazer né?

- É.

- Vamos levar bananas? Será que ele come banana?

- Dãr! E quem não come banana?

- Meu amigo do terceiro B. Ele quase vomita quando vê banana.

- Tadinho. Pega pão novo ali e uma caixinha de leite. Será que ele tem intolerância á lactose?

- Ah, sei lá. Tá, se tiver, a gente trás de volta.

As folhas ainda bailavam à brisa que trazia o cheiro das ondas e causavam alguns arrepios. As crianças andavam a largos passos, carregando suas mochilas com alimentos e algumas roupas e cobertor para o velho da cabana.

O caminho dentro da floresta se bifurcava por algumas vezes. E tinham que escolher a qual caminho deveriam seguir. Subiam ladeiras e desciam trilhas. O perfume da mata fazia coro ao trinado dos pássaros, e dos insetos. As cigarras regiam uma orquestra de zumbidos, e o vento balançava a copa das árvores mais altas. A temperatura era mais amena dentro da mata, e um pequeno córrego serpenteava as colinas, por vezes se derramando em cachoeiras ornadas de pedras lisas pretas, e outras dançava em redemoinho em algum cantinho recostado do arroio, onde folhas cansadas caídas dançavam seu derradeiro bailado antes de serem tragadas pelo jorro imponente das espumas que caíam da cachoeira.

Um caminho de chão mais liso e firme mostrava a direção da choupana, e mais alguns passos, já ofegantes pela ansiedade do mistério, levavam à portinhola puída com um pequeno coração recortado ao centro, um visor da porta.

Uma velha cabana, com um banco de madeira rústica na varanda, e plantas do lado de fora: ervas, chás, hortaliças que cresciam entre ervas nativas, e um e outro pé de frutífera antigo, com frutas esparsas e cercadas de pássaros que bicavam nervosos, e saíam voando, desconfiados, a qualquer movimento brusco em sua direção.

- Vamos bater na porta? Perguntou, apreensiva Daniele.

- Acho melhor, que não. Vamos bater palmas daqui, que dá pra sair correndo. Fica preparada!

- Aham! Eu tou. Tou com medo.

- Fica atrás de mim, e se ele vier na nossa direção, sai correndo que eu te acompanho.

- A as coisas que trouxemos?

- Ora, são pra ele mesmo. A gente deixa e corre.

- Atá! Legal.

Demais Janelas

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……...Continua

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segunda-feira, 12 de outubro de 2020

O reino dos perplexos - Fábula

 

Pitoco Monarca e Paulico Pitoco - Personagens por Pacard
Era uma vez um reino. Havia nele tudo o que era preciso para fazer daquele lugar um belo reino. Rios, montanhas, florestas, planícies, mar, lavouras, jardins, palácios, aldeões, príncipes, cortesãs, vassalos, cozinheiros, mordomos, tudo. Tudo mesmo. Ou quase tudo, pois o reino não tinha um rei. Nunca tivera, desde a sua fundação. Não um rei do tipo que usasse coroa ou morasse em um palácio; Sim, como disse antes, havia palácio, mas nele viviam intrusos. 
Uns se intitulavam amigos do rei. Outros inimigos do rei, mas circulavam pelo reino com ampla liberdade porque nesta condição, asseguravam o respeito da nobreza e o receio que além de oponentes, também pudessem tornar-se inimigos, e pior que inimigos são inimigos que conhecessem a rotina da alta corte. 
Todos, de uma forma ou de outra, falavam em nome do rei. Chegavam a ser mais reais que a própria realeza. Criavam e ditavam regras em nome do rei, que nem o próprio rei, se as tivesse ele mesmo ditado, não ousaria ser tão real em suas decisões como eram pela boca de seus emissários. 
Só que havia um problema: ninguém conhecia o rei. Havia um decreto proibindo que a face do rei fosse vista e o súdito, fosse ele príncipe, nobre ou plebeu, que encarasse o rei nos olhos, deveria ser condenado à prisão pelo resto da vida. 
Desta forma, os lacaios serviam-no em sua câmara por uma passagem onde havia uma roda por onde eram colocados os alimentos, roupas limpas e necessidades do monarca, mas jamais encarar-lhe o rosto. Quando se tornava necessário cuidar da limpeza do lugar, o rei se retirava para outra câmara ao lado e assim a vida seguia no palácio. Os seus decretos eram estabelecidos todos por escrito e selados pelo próprio rei.
Neste reino havia um homem velho e sábio, mas muito pobre. Vivia de mendicância pelas ruas, que de tempos em tempos assentava-se à porta do palácio para coletar esmolas de quem entrasse pelas portas reais. Uns viam aquela figura silenciosa observando o movimento, e cautelosamente achegavam-se e atiravam algumas moedas na canequinha do mendigo. Outros, empinavam o nariz e mudavam de direção para não sentir-lhe o fedor. 
Apenas as crianças tinham coragem de se aproximarem dele e arriscar um momento de prosa, enquanto depositavam as esmolinhas cautelosamente com uma mão, e a outra  estendida para os adultos que permaneciam distantes com olhar de orgulho pelos filhos generosos que haviam gerado. 
Não era isso. Ter uma criança que levasse a esmola tão perto era uma forma segura de não precisarem olhar o velho nos olhos, Era perigoso olhar a miséria nos olhos, pois poderiam ver a si mesmos espelhados neles.
Todo primeiro dia do mês, lá estava o velho assentado naquele degrau. Mês após mês. Ano após ano. Um dia, ele não apareceu no degrau. Não havia uma canequinha e um par de mãos encardidas para recolher as esmolas. Uma fila de senhoras em busca de conselhos demonstrava sua decepção e lamúrias, ora procurando saber o que tinha acontecido com o velho, ora praguejando sua ausência.
Mas naquele dia, um fato surpreendeu à todos daquele reino: o rei mandou avisar que mostraria seu rosto ao seu povo e que a partir daquele dia todos poderiam vê-lo quantas vezes tivessem vontade, pois ele faria um passeio diário pelas ruas da cidade e seu cortejo de nobre estaria recolhendo as petições dos seus vassalos para que ele pudesse atendê-las ao seu tempo e condições.
A partir daquele dia, aquele reino tornou-se o reino mais feliz daquele continente, porque viam um rei real e não uma sombra imaginária que se escondia nas sombras.
E o velho? Sei lá. Sempre dá certo colocar um velho mendigo com jeitão de sábio nas fabulas. E o rei? Criou uma fanpage nas redes sociais, entrou para uma academia de fitness e deu plenos poderes aos seus lacaios para que fizessem o que bem entendessem, contanto que ele não tomasse conhecimento de nada.
*PS: Só que não!
Fim
(Estado de Alerta - Pacard, 2015)

sábado, 10 de outubro de 2020

O Velho Bracatinga, e os impertinentes




 Não se deve confundir "impertinente", com "incontinente", embora, muitas vezes, residam no mesmo corpo, e compartilhem o mesmo caráter, maus, mas nem sempre. Ansioso, talvez. Agradável, nunca.

O impertinente é um ansioso em terceiro grau, um sofredor missionário, que tem como missão, levar aos outros, as suas angústias.

- Tem uma nuvenzinha tímida no céu, e não há vento. Podemos passear um pouco, tomar uma fresca! - Comentou o enfermeiro.

- Não se engane! Nuvens assim carregam mau agouro! - Disse João Marmota.

- Não chove hoje! Vamos tomar a fresca - berrou Bracatinga, já procurando o chapéu, com a ponta da bengala.

- Eu acho que não vou, e acho que também vocês não deveriam meter o nariz fora de casa hoje. 

- Meta-se com sua vida!

- Já que ninguém me escuta, levem umas galochas e um agasalho!

- No verão, a trinta graus? 

- Pode cair uma saraivada de chuva de granizo!

- Aí a gente volta pra dentro!
- A roda da cadeira pode enguiçar!

- Num passeio de concreto, a dez metros da varanda?
- ...Que pode desabar com o temporal!

- Mas quem foi que disse que vai chover? Até a nuvenzinha já se foi. Céu azul, de brigadeiro!

- Foi chamar outras nuvens. Essas efemérides tem parte com "demônho!"

- Velho caduco! Fique aí então!

- Já estão me excluindo, estão? Discriminação racial?

- Você é caucasiano, e nós também! Quem discrimina gente da mesma origem?

- Agora querem se igualar a mim? É isso que querem? Me arrastar pro buraco com vocês? No meio da chuva? Querem que eu pegue uma "pontada" e morra?

- Tu é doido. Tá um calorão, e o céu tá azul, já falei!

- Isso até que chova! E o céu tá muito baixo! Pode dar temporal.

-Eu desisto!

- Desiste? justo agora que eu tinha me preparado pra dar um passei, tomar uma fresca? O que foi agora? Não me querem junto? Digam na minha cara!

- Tá com a corda toda no azedume, ô...

- Leve algo pra comer o passeio, e uma ferramenta pra consertar a roda da cadeira.

- Por caridade! Nós só vamos aqui na frente do asilo, a dez metros da varanda, pela calçada, e não tem degrau!

- E por que não fizeram um degrau? Querem que a gente ande numa lombada e se esborrache debaixo de uma diligência?

- Não existem mais diligências, nem cabriolés há muitos anos, Marmota!

- Era só o que faltava. Então o senhor Dom Pedro vai ter que andar a pé, com essa lacaiagem toda atrás deles?

- Dom Pedro já morreu, João!

- Chega! Eu não falo mais com vocês! Gente mentirosa! Do Pedro nem doente estava quando soube a última notícia dele.

- E onde foi que você soube dele, Marmota?

- Na aula de história, na terceira série, com dona Jurema.

- Para! Calça tua pantufa e vai olhar filme de bangue-bangue na tevê.

- Vou mesmo, antes que comece a trovejar e eu tenha que desligar o aparelho. Acha mesmo que vai chover?

- Não sei, tenho ouvido muito falar disso na última hora. Pelo sim, pelo não, vou pegar um guarda-chuva.

- Leve também um casaquinho, que depois do granizo, pode cair a temperatura.

- Enfermeiro! Traga meu capote de chuva, e um naco de rapadura. Se chover, posso me entreter mascando um docinho.

- Vamos cancelar o passeio, Seo Bracatinga! O tempo fechou e acho que vai chover.

- Que tempo maluco. Não faz nem meia hora, o céu estava tão azul, e só tinha uma nuvenzinha no firmamento.

- Mas estava muito baixo. Eu disse, eu falei, eu avisei! - Emendou João Marmota lá de dentro, que tinha ouvido de tuberculoso e escutou toda a conversa.

Em breve* (Continua após a Publicidade)

- O senhor estava certo, Seo João! Melhor tirar uma pestana. Vamos colocar a fralda, por causa da sua incontinência.

- Que pestana? Vamos sair lá fora e tomarmos uma fresca.

- Não dá, João! Talvez chova!

- Que nada, Bracatinga! o Céu está azul e só tem uma pequenina nuvem no firmamento, sem vento nenhum!

- Eu mereço. Tudo de novo! - Choramingou baixinho, o Enfermeiro.








sexta-feira, 9 de outubro de 2020

A Comenda do Velho Bracatinga




Seo Bracatinga nem sempre foi largado num asilo pra esperar a morte chegar. Não senhor. Bracatinga já foi importante, fez coisas importantes, e teve ao seu lado, pessoas importantes. Assim foi, sim senhor.

Foi um filantropo muito conhecido, e patrono das artes e literatura. Teve dinheiro, fama e poder, e uma esposa, a quem foi fiel enquanto ela deixou. Mas sabe como é, todo homem  precisa ter uma fraqueza e a fraqueza de Bracatinga era..."jogar truco ca cumpanherada!" Embora prometesse à Casturina que havia largado o vício, de fato não havia, e mal era virava as costas, e ao longe se ouvia: 

- "Truco!"
- "Te retruco!"

- "Mão de onze!"
- Mão de ferro!

- "Guascaa!"
- "Ah, la frescaaa!"

E voltava assobiando, com a mão no bolso da bombacha, contando os pila que amealhou.

- Adonde tu tava, Carniça?

- Fui ali, bombeá umas linha de jundiá.

- Mas o rio fica do outro lado, mintiroso!

- Pra tu vê o trabaio que dá caminhá nesses brejo pra trazê um peixinho pra fritura. E tu, já fez a polenta?

- Fiz de manhã, caduco! Agora é metade da tarde!

- Recebi uma carta.

- Carta de quem?

- Consulado da Espanha!

- Que que querem?

- Me fazer uma homenagem por serviços que prestei durante a revolução de 35.

- O que tu fez em 35?

- Nasci. Isso é um préstimo inestimável à coroa espanhola.

- Tu é loco!

Tá aqui a carta. Pode oiá com teus zóio, encrenca!

De fato, era mesmo uma carta do consulado geral da Espanha, mencionando uma homenagem, por serviços prestados, ao entregar uma carta, cujo teor, decidiu uma questão importante no país. Bracatinga is passando na rua, e viu que o carteiro deixara cair a tal carta. Juntou e correu atrás dele, mas não o alcançou. Como viu que era destinada ao consulado da Espanha, que ficava perto, passou lá e entregou a um sujeito magricelo que estava entrando no prédio. Era o Cônsul. Fez um gesto de reverência em gratidão, perguntou o nome, e entrou. Isso foi tudo.

Chegou o dia da entrega da comenda, e um belo jantar foi servido. Bracatinga se fartou de Paella. Repetiu várias vezes. Saiu de pança lustrosa. Chegado o momento, foi chamado ao púlpito e recebeu a comenda, uma bela medalha suportada por uma faixa com as cores da Espanha. Bem bagual mesmo, pensou Bracatinga. Isso feito, chegou o momento de descontração, e foi servida uma sangria - uma bebida à base de vinho e frutas. Bem docinho. Bom demais. E sendo o convidado de honra, Bracatinga desatou a beber o quanto podia. Bebeu muito. Depois veio conhaque, vinho, enfim, festa é festa.

Já com o pé redondo, e a cabeça girando, Bracatinga chegou a uma mesinha, onde estava exposta a bela comenda. Olhou aquilo, chegou bem perto, examinou bem, ainda que borracho, e comentou:
- Que negócio tão lindaço. De quem é esse pinduricáio?

- É sua, Señor Bracatinga!  O señor recibyó  la Comenda de la cuerte de España! LO más alto honor de la Casa de Los Bourbon Y Aragón!

- E quando é que eu fiz encomenda de corte pra uma espanhola? Me tira disso! Eu não vou pagar por uma coisa que não encomendei.

Teria sido apenas arroubo de um borracho, mas quem respondeu isso foi o próprio cônsul, vermelho de raiva... Só se ouviu, ao longe, um:
- Conõ! Qué me caga la madre!

- Seu Bracatinga! Acorde! O senhor está tendo um pesadelo...

- Vai à merda, enfermeiro! Adonde tá minha comenda? Tava aqui na minha mão agorinha mesmo..deixei cair no café..

- O senhor estava comendo bolachinha com café, Seo Bracatinga. Quer mais uma?

A tarde estava fria, e embora enrolado em um cobertor, Bracatinga foi recolhido ao seu quartinho triste e sombrio.


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Olá 
Eu, Pacard,  e o Apolônio Lacerda, meu simpático Alter Ego Intestino queremos convidar você, a participar deste projeto literário, que desenvolvemos (ele é o autor, e eu só entro de metido)desde 2013, quando foi lançada em algumas plataformas, a Primeira edição do livro Teoria da Criatividade.

Há poucos dias, percebemos que os leitores estão em busca de respostas à questão criativa no ambiente de pandemia, e pós pandemia, e entendemos que seria necessária uma revisão e atualização, além de uma melhor diagramação da obra.
 
Assim, apresentamos o projeto da Edição Revisada e Ampliada 2020,  e contextualizada para o momento. Trata-se de uma obra conceitual, filosófica, autobiográfica, e que levanta questões diretamente ligadas à necessidade criativa e na sua importância na sociedade moderna.
A obra será vendida, inicialmente, de modo direto, a um grupo seleto de amigos, e mais tarde, através das plataformas na web.

Você adquire uma cópia digital codificada ao valor de R$ 10,00, e ao adquirir acima de 50 cópias, pode acrescentar uma peça publicitária de seu interesse, e distribuir as cópias aos seus amigos e clientes livremente (ela não poderá ser impressa, mas poderá ser compartilhada com senha)

Esta é uma forma de participar de meu projeto literário, pois tenho muitos outros livros em andamento neste formado. 
Também aceito projetos especiais, biografias, ensaios, e redação publicitária.

Contato: 48 999 61 1546  apenas whatsapp ou email - dpacard@gmail.com


https://www.kickante.com.br/campanhas/livro-teoria-da-criatividade.


quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Bracatinga e Apolônio



Apolônio deu de mão na viola de três cordas, e um dente de ouro, e foi visitar o velho Bracatinga, no asilo onde aguardava o susto.

- Mãns chê! Cuaje não me deixam entrar, por causo da viola. 

- E o que a viola tem de errado?

- Foi qualificada como instrumento de tortura. Mãns só quando eu toco.

- Trouxe a encomenda?

- Tá aqui. Só tinha a Tertúlia.

- É da boa. Deixa ali atrás do banco. Tomemo um mate?

- Tomemo um mate. Mãns não se apoquente. Já truche pronto aqui nos apetrecho.

- Adonde tá?

- No saco da viola!

- E a viola?

- Deixemo guardada. Não toco nada mêmo.

- Guardada adonde?

- Na portaria do asilo.

- Quem era o porteiro?

- O Polaquinho.

- Bagual ele.

- Bagual, bagual!

- Vou ali tomar um mate a já venho.

- Não vai me servir um?

- Não posso. Tenho que respeitar as lei.

- Aqui dentro tem lei que proibe mate?

- Pois não sei.

-Vamo quebrá essa lei.

- E nóis semo ôme de quebrá lei? Sou ôme de bem!

-Vou me candidatar.

- Vai?

- Vou!

- A que?

- Não sei. Me candidato, e depois eu decido.

- E o que vai prometer? Candidato tem que prometer!

- Uma ponte!

- Adonde?

- No Itaimbezinho. Um feito!

-Como tu é inguinorante. Uma ponte em riba do Itaimbezinho contradiz a Lei da gravidade!

- Eu passo um decreto e anulo essa lei.

- Não dá, ôme! Não se mexe com essas côza! A Lei da Gravidade é uma lei federalh!

- Sirva um mate!

- Não dá. Só pode matear de másquera.

- Então coma um biscoito.

- Perciza vortá aqui com a viola.

- Eu não sei tocá.

- Cheia de erva e biscoito.

- Bem alembrado.

- Me voy!

....

- Enfermeiro! Venha cá! Tou lhe chamando!

- Diga Seo Bracatinga!

- Quero mijá!

- Pode fazer na fralda, Seo Bracatinga!

- Enfermeiro!

- O que é, Seo Bracatinga?

- Me sirva um mate!

- Aqui não tem mate, seo Bracatinga!

- Chame o Apolônio de volta e ele que devolva meus apetrecho de mate!

- Quem é Apolônio, Seo Bracatinga?
- O maleva, com o violão de trêis corda que saiu daqui.

- É meia noite, Seo Bracatinga, o senhor está no seu quarto, e não vem ninguém aqui visitá-lo há mais de três meses...

...

- O senhor está chorando, Seo Bracatinga?

- Não mesmo, varão! Sou "ôme de bem!"

- Enfermeiro!

- O que é agora, Seo Bracatinga?

- Posso peidá na fralda também?


O velho Bracatinga, o centenário


Imagem: Internet

Pois não é exagero afirmar que o velho Bracatinga já havia passado dos cem anos de idade. Era ele mesmo que afirmava isso, com muita segurança.

- Quanto é noventa mais dez, Seo Bracatinga?

- Duzentos!

- E o senhor tem mesmo cem anos de idade?

- Carcule o senhor! Nasci na revolução de trinta e cinco.

- Mas então não são cem anos ainda, Seo Bracatinga. São oitenta e cinco..

- Mil oitocentos e trinta e cinco! Conheci Bento Gonçalves e ajudei a dar uma coça no traíra do Canabarro.

- Mas nesse caso, Seo Bracatinga, o senhor deveria ter cento e oitenta e cinco anos.

- E "seis meis", pois nasci no mês de abril, logo depois da Somana Santa.

- Seo Bracatinga, quem sabe o senhor tenha nascido em 1935, e tenha mesmo 85 anos?

- Vassuncê quer saber mais que eu, que tava lá quando nasci? Alembro como se fosse treisontonte, do cavalo manco do Assis Brasil.

-E eu desisto. o senhor tem mesmo cem anos.

-O senhor é louco? Acabou de admitir  que eu tenho cento e oitenta e cinco..

- ...e seis meses!

- Viu só? Contadinho nos dedos!

- E o que sente, aos cento e oitenta e cinco anos?

-...e" seis meis"!"

- Isso!

- Sinto que ninguém mais fala a verdade nesse mundo!

- Ninguém mesmo!

- Ouviu falar das políticas?

- Me respeite! Sou "ôme" de bem!

-Está faltando um caudilho que bote ordem no governo.

- Os "caudilho"  já morreram tudo!

- Estava pensando no senhor mesmo.

- Largue de ser puxa-saco! Já falei que sou "ôme de bem!"

- Como está a familia, seu Bracatinga?

- Me mandaram umas bolachinha no natal.

-Só isso?

- Só isso. Erva eu já tinha. Fiz um mate. Tomei com bolachinha.

- Lhe tratam bem aqui no asilo?

- Me tratam como véio.

- Mas o senhor não é velho?

- Claro! Nasci na revolução de 35!

- E lhe tratam bem aqui?

- Tu é caduco? Já fez essa pergunta.

- Quero saber se lhe respeitam.

- Respeitam o meu facão "treis listra"!

- O senhor tem um facão aqui?

- Não.

- Entendi. Mas pensam que tem, né?

- Sei lá o que passa na cabeça dessa gente. São tudo lôco!

- Por que, Seu Bracatinga?

- Acreditam que nasci em 35, na revolução.

- E lhe tratam como louco então?

- Claro! Senão como acham que não me tiram pra uma justa de adaga?

- Aqui já saiu alguma justa de adaga, Seo Bracatinga?

- Claro que não! Isso é um asilo e não um bolicho. Não teria a mesma graça.

- E namorada, Seo Bracatinga?: Tem alguma?

- Não! Aqui só tem véia.

- E as enfermeiras?

- Enfermeiros! Não sou desse tipo. Sou "ôme de bem!"

- A comida como,é, Seo Bracatinga?

- De comer. O resto é de beber.

- Eu desisto!

- Frôcho!

- Bom, é tarde, e eu tenho que voltar, Seo Bracatinga!

- Voltar de "adonde?"

- Daqui. Tenho que ir embora.

- Se é pra sair, porque chegou?

- Para visitá-lo, Seo Bracainga.

- E quem é o senhor?

- Seu filho, Manuel!

- Desde quando?

- Acho que desde que nasci.

- Muito prazer! Demiciano Rodrigues! Mas pode me chamar de Bracatinga! Seu criado!

- Muito prazer, pai!

....

- Enfermeiro!

-Diga, Seo Bracatinga!

- Simpático aquele rapaizinho que saiu daqui? 

- Parecia que sim, Seo Bracatinga. Quem era ele?

- Não sei, disse que era meu pai. Mas achei muito novo pra isso. Eu tenho pra mais de cem anos. Nasci na revolução de 35. Nos braço de Bento Gonçalves.

- Bem conservado ele, Seo Bracatinga.

....

- Seo Bracatinga? O senhor está dormindo?

.....






O homem que brigou com D-s - Opus 4 (Parte 4)Quando o fundo do poço tem um um porão - A Melancolia que nos sustém


Imagens - Internet

As respostas de D-s são sempre imediatas, mas nossa relutância em estarmos alinhados com Ele faz com que demoremos para compreender o que Ele já fez em relação à nossa espera.

Esteban estava eufórico com aquele encontro. Encontrar um religioso que não o julgava nem discriminava por seu ateísmo, era inusitado. Quem travasse algum debate com ele, começava na dianteira, porque qualquer paradoxo convocava um coringa e dava o nome de "fé".  Mas com os Klein não acontecia assim. Nem Itzak, nem Benjamin, o rapaz, demonstravam qualquer ironia ou pouco caso em relação às indagações de Esteban.

Ele queria mais, queria espremer a fruta e saber quando caldo havia. Assim, como os cristãos, de modo geral, tem curiosidade em relação aos judeus, ou islâmicos, assim alguns ateus também suprem sua curiosidade em busca solitária, ou em companhia de outros ateus, porque muito raramente um bom cristão irá deixar-se contaminar pela descrença em D-s, não irá expor-se à tentação de ser convencido, e sair deste encontro, também ateu.

Aquela era, então uma oportunidade de ouro, onde um e outro, seriam examinados à exaustão (assim pensava Esteban), sem o receio de serem pervertidos de suas convicções.

- Onde está D-s? - Perguntou Esteban, ainda que sabia a resposta técnica, mas queria ouvi-la de um religioso.

- Onde você gostaria que Ele estivesse? - Respondeu Itzak, ao modo talmúdico - uma pergunta com outra pergunta.

- Se eu acreditasse que Ele existe, certamente gostaria que estivesse aqui conosco, dividindo um bom refresco, e explicando Ele próprio, onde está quando crianças morrem no meio da guerra, ou quando uma serpente devora um passarinho, que não fez mal a ninguém.

- É uma perspectiva interessante - respondeu Itzak. E você realmente crê que D-s então não tem interesse na refeição da serpente, ou no livramento da criança em meio à guerra?

- Se tivesse, e se fosse Quem dizem Ser, Justo e Bom, onde se encontra a justiça da dor, da fome, do sofrimento?

- Há uma pergunta bastante conhecida: Onde estava D-s, no Holocausto? - Disse Itzak.

- E onde Ele estava? - Emendou Esteban.

- Nossos sábios costumam dizer que D-s Se oculta para que O encontremos - respondeu Itzak.

Quando o fundo do poço tem um um porão - A Melancolia que nos sustém, meu amigo, eis a chave compreensível do incompreensível que nos abraça no cotidiano.

Minha avó, Mirian Elisheva, tinha a pele muito branca, o que permitia fazer notar qualquer alteração nela, e as alterações mais comuns, eram grandes manchas roxas e pretas nos braços flácidos, ao que ela chamava de "Manchas de Melancolia".

Fui, recentemente, buscar mais informações sobre esta expressão, e de fato, descobri que são manchas associadas à depressão, o que, em meus tempos de "bachur" (menino), chamava-se "Melancolia". Hoje, a palavra Melancolia", embora ainda tenha o mesmo significado, é mais assoada ao estado psíquico e sentimental, dito de uma forma mais poética, digamos assim, e de pouco uso, embora possa definir bem melhor sentimentos que não estejam necessariamente ligados a algum distúrbio químico, o que é tratado em outra dimensão dentro da medicina.

Meu filho, certa vez, disse essa frase: "Quando achares que estejas no fundo do poço, lembre-se que o poço pode ter um porão!" Eu ri, mas havia uma grande verdade no que ele falou, por brincadeira.

Não são raras as vezes em que o lugar onde estacionamos pareça ser o fim dos problemas, e esse beco sem saída, torna-se então, pelo modo do otimismo inverso, um alento, e uma esperança de que pior não pode ficar. Mas fica, e é nessa oportunidade que percebemos que tudo o que sofremos, todas as dificuldades e desafios que tínhamos atravessado, foram exatamente o treinamento que tivemos, porque dias piores viriam ainda pela frente. E vieram. O infortúnio tem uma agenda organizada, e não falha aos seus compromissos. Se está agendado que deva vir, ele virá.

E D-s, onde fica nisso? Acaso falharam as Suas promessas, e Seu braço encolheu? Acaso seria D-s um sádico, que deseja fazer-nos crescer pela dor? Teria D-s necessidade de ver-nos sofrer, para só então agir em nosso favor, e às vezes, aos nossos olhos, nem mesmo agir, ou agir tardiamente?

Quase sempre eu ofereço respostas, caminhos do pensamento, reflexões, mas hoje não tenho como fazer isso, porque simplesmente eu não tenho nenhuma resposta a dar, e se o fizesse, cairia nos jargões de rodapé missionários, que nenhuma resposta daria, senão a certeza de que "D-s quis assim". Quis mesmo assim? Ou o sofrimento é uma consequência de erros, nossos e de outros em nosso caminho, no passado dos que nos precederam?

Diz o Livro Santo que  "O indivíduo que pecar, este morrerá! O filho não levará a culpa do pai, tampouco o pai será culpado pelo pecado do filho. Assim, a justiça do justo lhe será creditada, e a malignidade do ímpio lhe será devidamente cobrada com a vida." (Ezequiel, 18:20).

No entanto, aparentemente contraditório há o mandamento que diz:

"Não te encurvarás a elas nem as servirás; porque eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos, até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam.

E faço misericórdia a milhares dos que me amam e aos que guardam os meus mandamentos.
Êxodo 20:5,6"

"Visito a iniquidade até terceira e quarta geração - faço misericórdia até mil gerações!

Eis o grande paradoxo, onde de um lado, O Eterno determina um espaço de tempo contado por gerações, para que as consequências dos atos maus sejam purgados daquela família e de outro, estabelece mil gerações, e sabemos que em toda a história humana, não se passaram ainda mil gerações desde a  criação do primeiro Homem e da primeira Mulher, mas ainda assim, há um conjunto de recompensas ou consequências pelo comportamento de cada pessoa.

Se olhar o aspecto das bênçãos, vale dizer que será um compromisso de cada geração, pensar nos que virão, e usufruam as benesses de seu bom comportamento, assim como o ancião que planta uma tamareira, e de outro lado, por situação de consciência, que a mesma geração projete a possibilidade de que suas más atitudes possa atingir gerações que não estão à sua frente e ao alcance de um abraço, ou de uma repreensão, demonstrando que a responsabilidade de cada um está além do alcance do que se possa ver ou tocar, mas se espalha pelo tempo, e se multiplica pelo espaço.

O fundo do poço pode ser um lugar, um tempo, uma pessoa, uma sensação, ou uma prisão. Pode ser libertador, se olharmos para o alto, ou desesperador, se pisarmos em falso, e D-s não tem culpa, nem responsabilidade por nossas escolhas, ou pelas escolhas dos que nos precederam. D-s estabelece o plano, e destaca com brilho as mil gerações, mas as três ou quatro páginas das consequências estão à nossa frente também, e  pode ser que nestas três ou quatro páginas, esteja a chave para a compreensão das mil páginas que as sucedem.

Esteban ficou pensativo, e perguntou:
- Você me diz que Benjamin pode ser responsabilizado por algum erro que você cometa, ou herdará de modo afortunado, as boas ações que você amealhou com D-s, você me diz? O que o meu aluno Benjamin diz sobre isso?

Benjamin, que a tudo ouvia, e balançava a cabeça, às vezes sorria, e outras parecia pensar com profundidade no que diziam, terminou seu gole de café, devolveu a xpicara ao pratinho, e falou:

- Quando eu não como meu desjejum, pela manhã, passo o dia com fome. Digamos que seja Yom Kipur, e eu decidi jejuar, de acordo com nosso costume, por vinte e cinco horas. A tradição nos ensina a quebrarmos o jejum com uma refeição leve, em família, ou comunidade, para que recebamos com alegria, o pouco que iremos comer, recordando que esta refeição faz parte de um ensinamento, de que nossos pais tiveram dificuldade, mas foram libertados de suas aflições pelo cuidado de HaShem (D-s), não sem que antes tenham atravessado um longo deserto de provações e privações, mas que o cuidado de HaShem sempre tenha sido efetivo ao final do tempo estabelecido.
O fundo do poço era o Egito, depois o Mar de Juncos pela frente, mas cerca de oito dias depois, receberam a Torá, a Lei, e apesar de um grande deslize espiritual, ao adorarem um bezerro de ouro, foram perdoados, e seguiram em frente. Nesse tempo haviam se passado apenas quarenta dias desde a saída do Egito, e novamente se deixaram levar pela falsidade de sua fé, então foi aí que descobriram que o fundo do poço tinha porão, pois permaneceram por quarenta anos no deserto, para receberem o ensinamento necessário a poupar-lhes novos dissabores.
Aqui vemos que pelo medo e "fake news" de dez homens, cerca de três milhões de pessoas amargaram pelo resultado das ações réprobas destes dez ímpios.
Esteban ouvia e continha-se em êxtase. Nunca havia ouvido tal coisa em sua busca por provar que D-s não existe.

- Talvez ainda não exista - pensou, mas quem acredita nEle, está muito bem fundamentado pela lógica e pelo conhecimento filosófico de sua fé.

-Mas isso não responde o vazio de D's no sofrimento - continuou Esteban.
- D-s não dá respostas, -nem Se mostra. Nossos sábios costumam dizer que D-s "Se oculta, para que O procuremos". Assim, dada a grandeza infinita de D-s, mil gerações talvez seja muito pouco, para encontrar todas as Suas manifestações, pois nunca estaremos "Com D-s", mas "Em D-s!". Sua busca já começou, meu amigo professor Esteban. Acredite!



continua.........

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terça-feira, 6 de outubro de 2020

Querido Diário - O Cotovelaço!

 


Pois naquele dia, Dona Dorotéia, carinhosamente chamada de Tia Dorinha, iria receber visitas importantes: Os candidatos!

Pense numa alegria, da macróbia, em poder tirar  da gaveta, os guardanapinhos bordadinhos com carinho, cheirando à camomila, que ela deixava junto de um sachezinho para perfumar o armário. 


Pense na alegria dela, que durante  a juventude, fizera parte do Comitê de Jovens Pela Democracia , o COJOPEDE, liderado por Sebastião Medeiros, o caudilho. 

O próprio Sebastião, condecorara a "Camarada Dorotéia" por bravura em ação de defesa (ela havia tocado porta afora à vassouradas um candidato oponente da COJOPEDE).

Pois Tia Dorinha soubera, por sua vizinha Cantides Morena, a benzedeira, que naquele dia, os candidatos fariam uma visita à rua, e não poderiam visitar o lugar, sem passar para um abraço à velha revolucionária condecorada. E assim foi.

Batendo palmas de porta em porta (de luvas, como recomendava o Ministério, luvas descartáveis, combinando com as máscaras descartáveis, a touca descartável, o avental descartável, e as cotoveleiras descartáveis, porque o cumprimento agora era na base do cotovelaço, por conta da pandemia que não dava moleza, especialmente para os mais rodados, a veiarada mesmo, sem floreiros nem frescuras no modo de dizer), chegaram à casa florida, com cerquinha branca e flores pelo caminho, afinal, estavam em Jardim dos Prazeres, a suculenta cidadezinha encravada na curva do vento sul.

Prosa vai, prosa vem, um chazinho aqui, uma bolachinha ali, e o candidato olha pro vice candidato, e bate na testa, escandalizado: 

- Ai, misericórdia! Quase perdemos a hora! Tá tão formidável a prosa, que ia me esquecendo que temos que passar na reunião dos depenadores de marreco ali na Vila da Rosa Murcha.

E dito isso, virou-se para dar uma cotovelada de despedia no cotovelo de Tia Dorinha, sem perceber que ia chegando Dona Nenê, vizinha de Dorinha, e mãe do Dorvalo Batista, justamente o candidato oponente, e chega a bater remorso só de contar, que o cotovelo mal calibrado do candidato acertou em cheio, o olho da Nenê.

Certas coisas acontecem na vida da pessoa em horas erradas, vou te contar. A cotovelada seria consertada por uns afagos, mas aquela guria mixiriquêra com celular cintilante, tinha que passar justo naquela hora? Tinha?



domingo, 4 de outubro de 2020

Querido Diário - "Comamos e bebamos, porque amanhã governaremos!"



Imagem: Internet

Pois desde que iniciou a campanha eleitoral de 2020, e como sou, embora muito falante, em grande parte de meu tempo apenas observador atento, leio noticias, e acompanho, com curiosidade e expectativa os acontecimentos, e naturalmente, porque meu interesse intelectual me leva à conjecturas, e destas conjecturas, extraio uma análise bastante cautelosa, porém pitoresca dos fatos, juntando os elementos que chegam à mim, e dessa amálgama insossa, escrevo meinhas conclusões. Ou exponho minhas dúvidas, o que exige menos responsabilidade.

Desta feita, são conclusões com base em informações que NÃO tenho, isto é, embora tenha solicitado aos candidatos, por suas assessorias, que enviassem um resumo de suas propostas, o que em campanha política chamamos de "plataforma", ou o equivalente a um "Plano de Negócios" dos futuros gestores, infelizmente percebo que uma pandemia ideológica se alastra com grande velocidade e ferocidade pelo mundo político. Vou explicar melhor, para que não pairem sombras de desconfiança acerca do que eu digo, e para que não passe a impressão de que eu esteja puxando a brasa para qualquer um dos candidatos, e aqui refiro-me à Gramado, o alvo de meus ensaios.

Assim como o Covid-19, que alastrou-se com a velocidade do pensamento, e bem maior que a rapidez do vento, infiltrando-se com fome insuportável nas pessoas, e apenas nas pessoas, como uma bomba de Nêutrons, aquela que mata apenas organismos vivos, mas mantém intactas as edificações, assim também o esvaziamento de objetivos a médio e longo prazo, o conteúdo de promessas de realizações foi corroído pelo conjunto dos sintomas que foram afetados pela maldição do Corona.

Não é uma virtude apenas de Gramado esse marasmo e desânimo nas campanhas, pois para quem assistiu (e eu NÃO assisti, por falta de saúde estomacal pra ver sandices, mas acompanhei as notícias depois) o debate dos candidatos norte-americanos, ou acompanha as campanhas pelo Brasil afora, há um claro e imenso buraco negro nas propostas dos candidatos de todos os partidos, em relação ao que pretendem mudar, acrescentar, ou suprimir, assim que assumirem o cargo na Prefeitura.

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Tenho, há algumas semanas já, insistentemente implorado aos candidatos que enviem suas plataformas, que digam a que virão, e há um vazio ensurdecedor, de todos eles. 

Então, descartando que seja comigo o silêncio, busco nas redes sociais de outros blogueiros, qualquer pista, que possa me levar à descoberta de suas propostas, e já estou quase surdo de tanto ouvir agulhas caindo sobre almofadas. Silêncio.

Recorro, então, em última instância, às próprias redes sociais e páginas dos candidatos, e o que vejo lá:
O meu sonho de consumo para as campanhas de Gramado! Paz e amor, e pétalas esvoaçando pelas caminhas, onde uma névoa rosada e azul filtra os raios marotos do sol da Primavera que acaba de chegar.

Quase consigo ler na chamada das "selfies" o seguinte preâmbulo: "Meu querido Diário!".
É o que temos para essa eleição. Candidatos honrados, amigos de todos (mesmo), pessoas decentes (nenhum foge à isso), com conteúdo programático absolutamente vazio.

De todos, sem exceção, ouço suas biografias e todos dizem que irão despoluir os arroios, cuidar da saúde do povo, proteger, servir e amar às criancinhas e os idosos, fazer "bilu" nos animaizinhos, enfim, tudo genérico, tudo sem conteúdo, nada de concreto para o uso de trezentos milhões anuais de orçamento, nada de concreto, para a reabertura das portas no momento em que cessarem os efeitos da pandemia, nada. Apenas prometem que serão honestos (disso não tenho nenhuma dúvida), que serão competentes (claro, abrirão caixinhas de surpresa  e todos gritarão: "Viva!", e trabalharão na base do: "Deixa acontecer, que estamos juntos aqui!".

Os especialistas dizem que o exagerado uso do celular, das redes sociais, desprepara as pessoas para o raciocínio, e perdem com isso seu livre arbítrio. Parece que sim. Parece que a geração do "tá, depois eu faço" acaba de completar sua maioridade e se lançou na política.

Quase todos os cristãos, que já leram a Bíblia alguma vez, ou a ouviram ser citada, tem no livro de I Coríntios, o capítulo 13, como a mais bela expressão sobre o amor. 

Até rock já foi escrito e gravado com esse tema. O que parece é que o mundo agora descobriu que o livro não termina no capítulo 13, mas que mais adiante, o capítulo 15 diz algo tão verdadeiro quando o décimo terceiro capítulo.

Quem nada promete, de nada pode ser cobrado depois.

Estou falando dos candidatos à Prefeito. Já os candidatos à Vereador...pobres almas. Quase cem candidatos, mas para tirar daí nove, vai ser uma luta ferrenha. 

Felizmente tem alguns que oferecem esperança, não só para a próxima legislatura, mas para a renovação política de 2024. Todos eles, pessoas de excelente caráter, e inteligência acima do comum, mas completamente despreparados. Falam tanto em "renovação na política", mas não conhecem nem mesmo a antiga, para obterem ponto de partida. 

 
"Se, como homem, combati em Éfeso contra as bestas, que me aproveita isso, se os mortos não ressuscitam? Comamos e bebamos, que amanhã morreremos.

1 Coríntios 15:32"

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quinta-feira, 1 de outubro de 2020

O monstro de Wall Street e o Leão de Butiá - As escolhas que nos carregam

Imagens de Internet modificadas

"...você pode salvar a sua igreja ou o partido politico de sua escolha. Você pode pintar a porra da coruja com dinheiro..."

 J.B - O Lobo de Wall Street (diálogo do filme)


o Gari Betinho vive em Butiá, interior do Rio Grande do Sul, região carvoeira, que além do carvão mineral, produz ainda madeira de Eucalipto, Arroz, e Melancias. Um bom lugar para se viver. Bem, talvez, nem tão bom assim, porque há pobres, miseráveis, que não tem muita participação nas grandes riquezas desta economia. 

São os pobres. Os muito pobres, que nada pedem, mas muito esperam, daqueles que possam mitigar-lhes a fome, reduzir a miséria, e prover-lhes, de quando em quando, um pouco de refrigério ao corpo e ao espírito, e com estes, a alma.



Jordan Belfort é um cidadão norte-americano, bem sucedido nos negócios, autor do livro: Caçada ao Lobo de Wall Street, e nas redes sociais, onde tem 555 mil seguidores no Facebook, e cerca de 275 mil, no Twitter.

 Um número expressivo, diga-o o youtuber brasileiro Whindersson Nunes, com 40 millhões de seguidores, ou Ricardo Amorim, economista, que só no linkedin, tem mais de 2 milhões de seguidores, ou quase 1 milhão no Facebook,  que abriu sua corretora há cerca de 11 anos, e conta com quase mil clientes atendidos em vários países, clientes fiéis e redundantes (que retornam), diga-o também, suas postagens de caráter humanitário no Linkedin, enaltecendo sempre as causas sociais, que quase sempre, arrancam lágrimas e nos envergonham pelo nosso marasmo social.

Voltando ao Sr Jordan, não o conheço pessoalmente, e conheço de sua biografia, apenas aquilo que mostra o filme, com base em um livro, de sua lavra, após uma temporada na prisão, por conta de negócios ilícitos, e de sua brilhante capacidade de convencer pessoas a comprarem coisas que não necessitam, gastando o que não tem, para que nunca seja usadas, e no caso de seu negócio pregresso, de ações podres e ilegais, no mercado de valores.

O mercado de valores, ou Bolsa de Valores, como preferem dizer alguns, é um lugar onde se percebem as mudanças importantes do mundo. É um termômetro social e político. Conheci levemente e entendi isso na prática, no dia em que o índice Ibovespa estava subindo a olhos vistos, e eu estava ganhando algum dinheirinho rapidamente. Coisa de 150 por cento em cerca de dez minutos. Nesse momento, tocou o interfone, e fui atender. Era aquele amigo bacana, que gostava de jogar conversa fora comigo. Dei-lhe dez minutos de atenção, e ao desligar, retornei ao computador, para ver se já estava rico. Não estava. as ações despencaram naquele exato instante e o pregão que participei, estava encerrado pelo robô, que o encerrava à perda do que eu havia investido. Naquele momento, o ex Presidente Michel Temer, havia sido preso.

Isso é investimento em ações. Isso é a Bolsa. Isso é o Mercado financeiro. Isso é Wall Street. Isso e mais. Mais é o que fazem, supostamente, corretores inescrupulosos, que criam situações que fazem despencar ou subir exponencialmente as ações, e secretamente compram ou vendem, lucrando enormes fortunas em horas, dias. Isso é o que supostamente aconteceu durante o escândalo de uma grande companhia brasileira, que fez suas ações despencarem, por conta de um escândalo político gerado por eles próprios, e comprando as ações no mercado por valores irrisórios, lucrando depois, com o abafamento da situação. Isso é Wall Street, e o que deseja, apaixonadamente Wall Street? Dinheiro, muito dinheiro, para contentar pessoas felizes e infelizes, porém com muito dinheiro.

Falar mal de quem ganha dinheiro sem escrúpulos é muito fácil. Agrada à todos, pois é muito fácil que um pobre fale mal de um rico, e atribua seu sucesso à desonestidade. Tenho que dizer que é aqui que começa meu paradoxo, pois seguindo o que diz a Bíblia, dinheiro não é coisa do Satã. Tanto não é, que vários mandamentos da Lei ditada por Moisés, falam na forma da correta administração dos bens, do dinheiro, da distribuição das colheitas com os pobres, no auxilio aos órfãos e às viúvas, ao estrangeiro, ao necessitado, e no comprometimento de bem administrar os bens e valores recebidos como fruto do bom trabalho.

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Há muito livros que falam na prosperidade do povo judeu, e isso, naturalmente, acaba sendo associado à riqueza, sob a máxima de que "Jesus era pobre". Ora, Jesus, o Jesus bíblico, nunca foi pobre, e nem rico, e nunca deu importância a isso, senão ao fato que o Ser Humano não necessita mais do que os cuidados de D-s para que viva feliz, e uma única ocasião, onde sugeriu ao jovem rico que devolvesse metade dos bens aos pobres, pois era, supostamente, tal jovem, um dos ricos que amealhara fortuna à custa dos infelizes. Assim como fazem os personagens do filme sobre a mencionada biografia do playboy nova-iorquino.

Gosto de um pequeno livro, chamado: "As leis de "tsedacá e maasser", que fala do relacionamento do judeu (ou outro qualquer, que tenha as leis de D-s como norma de conduta)com o dinheiro e seus bens.

Em nenhum lugar da Bíblia se diz que dinheiro é sujo, como também não se diz que mel seja veneno, mas diz que comer muito mel não é bom, e que onde estiver o teu tesouro, aí também estará o teu coração.

A Bíblia inteira está repleta de ensinamentos e histórias de pessoas ricas que usaram seus bens para enaltecer O Criador, auxiliando os pobres. Se não houverem os ricos, capazes de administrarem os recursos, como ficariam os pobres, com outros talentos?

Não quero desandar pela hipocrisia de dizer que dinheiro não é bom. Claro que é bom, e na quantidade suficiente, traz dignidade, mas na falta deste, mede o caráter.

O Gari Betinho não faz palestras motivacionais, mas alimenta centenas de pessoas ainda mais pobres do que ele. Corrijo, com fortunas um pouco menores que as suas, mas equilibradas porque ele divide a sua própria fortuna, e motiva outras pessoas a separarem um certo pouquinho, de suas próprias riquezas, para que ele possa levar "um docinho" para as crianças que nunca ouviram falar de Wall Street. Wall, "o muro" não separa as pessoas de Butiá, e não tem dinheiro, assim, muito dinheiro. Mas até onde sei, ao receberem as doações de Betinho, se tornam temporariamente ricas e felizes.

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Está certo ele em dizer que pobreza e felicidade não combinam. Porque pobre fica feliz com pouco, e muitos deles (de nós), não precisa de uma Ferrari branca para andar pelas ruas.

Jordan Belfort é judeu, mas aparentemente nunca leu, ou se leu, deu pouca, quase nenhuma importância à literatura judaica, sobre a gestão do dinheiro da vida das pessoas. Infelizmente. Poderia ser rico, e também ter feito algo de útil ao mundo, pelo tanto que conhece do comportamento humano. Talvez.

Mantém longe de mim a falsidade e a mentira; Não me dês nem pobreza nem riqueza; dá-me apenas o alimento necessário.

Provérbios 30:8

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O que faz a tua mão direita....

Evitem fazer alarde quando ajudarem alguém, não fiquem contando vantagem diante das pessoas, para  que sejam admirados e elogiados; aliás, s...