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quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

A Utopia do modelo ideal de turismo - Cidades pequenas em busca de identidade



O grande erro do sucesso é copiar o que os outros fizeram. O grande segredo do sucesso: inspirar-se em quem alcançou o sucesso! 

Parace um paradoxo, mas pode não ser, uma vez que a diferença entre o remédio e o veneno, é a dose, conforme dizia Hipócrates, o "Pai da Medicina", nada mais favorável para um gestor público que vê no turismo, um potencial de crescimento para sua pacata, até pachorrenta comunidade, seguir estas duas lógicas.  

Que mal há em contemplar aquela cachoeira e o cintilante riacho que serpenteia as colinas até a queda se derramando em um manto de noiva (talvez por isso, muitas cachoeiras são assim denominadas: "Véu de Noiva"? Ou aquela capelinha onde devotos peregrinam em busca de um milagre, segunda a sua fé? Ou ainda aquele grupo de senhoras que tem habilidade criativa e produz bonequinhas de palha de milho? Ou tecer redes em teares caseiros? Ou os entalhadores que escavam efígies em velhos troncos? Não seriam estes motes capazes de serem notabilizados em pontos de visitação, despertar o empreendedorismo local? Fazer crescer as quermesses e festas comemorativas da colheita ou produção de frutos notáveis da região? Por que não chamar visitantes para ampliar os ganhos das barracas de confeitos e produtos locais? Seria inoportuno desejar que sua população recebesse as benesses de suas habilidades e talentos? Claro que não! Mas, estarei sendo incoerente com o que já escrevi até aqui, sobre os riscos do crescimento desmedido, do inchaço expansivo acelerado pela ganância? 

Não! Não estou sendo incoerente, e justifico. O que eu chamo à reflexão, não é o turismo como fator de desenvolvimento, mas o turismo predador, como elemento de hiper crescimento desenfreado, que desumaniza e esmaece a identidade local e regional. O que trago ao debate é aquele turismo onde apenas o ingrediente econômico seja a razão de sua existência, e não aquele primeiro turismo que menciono no primeiro ensaio desta série, em que o segredo está na qualidade dos produtos, na originalidade do que é oferecido (mencionei queijos, vinhos, gastronomia original, artesanato, etc), que pode ser estabelecido enquanto ainda se pensa em implementar um plano de turismo em cada cidade pequena, porque pode ser devidamente estudado, podem ser vistos os desconfortos causados pelo turismo e crescimento descontrolado, e pode ser contido ainda na base. 

Um município que deseja iniciar seu projeto de turismo, não apenas deve refletir, junto de seus munícipes, sobre os prós e contras de cada projeto, de cada modificação estrutural viária, ou edificações de infraestrutura, sem que primeiro se conheça o comportamento da própria população face à presente de corpo estranho ao meio, porque o turista é exatamente isso, quando não há uma definição de espaços e permissões: um corpo estranho que pode causar reações internas e um, e outro, acabam por se estranhando pelo despreparo, tanto do habitante local, que vê-se de um momento a outro com sua intimidade invadida, e do turista, acostumado a viajar, que imagina encontra as mesmas regalias que encontra em polos estabelecidos, estranhando e criticando como de má qualidade a pousada que tem um lavatório no quarto e banheiro coletivo, ou que o café da manhã é servido individualmente, em lugar de buffet, coisas desse tipo, normais em um lugar, vulgares em outros, sem levar em consideração que o lugar possa estar apenas iniciando seus pequenos passos no atendimento, de um destino recém descoberto, na pura intenção de bem servir ao visitante, que reclama do atendente que nbão é bilíngue, ou algo assim. Claro que para ilustrar eu cometo alguns exageros, mas é mais ou menos essa a situação do principiante, seja no turismo, seja no desenho, como eu, que quando comecei, meus traços eram horripilantes, e hoje, com experiencia, são apenas feios.

O gestor público que tiver a coragem, quase ousadia, de reunir a população, diante da intenção de realizar um projeto dessa natureza, e não apenas desenhar as belezas, mas expor os riscos, e souber negociar o ponto de equilíbrio entre um e e outro, estará dimensionando um crescimento saudável a longo prazo. Iniciará com um levantamento de potencial de fornecimento de insumos e acomodações; mapeará as carências manufatureiras, e motivará a implantação destas, antes mesmo de colocar a primeira placa de boas vindas. Deixará aquele belo projeto de pórtico para o final do check list, e capacitará todos os envolvidos para que seja fechado o ciclo do bom atendimento, da boa gestão financeira e administrativa, não relegará aos contadores a obrigação de construírem modelos gestores eficientes e ficazes, e não deixará para seus marqueteiros a tarefa de "lotar a cidade", antes de garantir que a lotação seja equilibrada, e não se confunda "lotar" com "abarrotar". De tudo isso tenho modelos já conhecidos. Tudo isso já vi acontecer em pequenas e até grandes cidades. Já vi lugares estampando capas das maiores revistas da época, como modelos e desejo de consumo, se transformarem em bolsões esparramados de pobreza em suas periferias.

Antes de votar um Plano Diretor para o urbanismo do município, o município desejoso de tornar-se um ícone turístico, deve preocupar-se em como essa transformação se dará em cada cidadão, em cada criança, em cada família. Família, criança, cidadãos, em segundo lugar, pois o primeiro, sempre é de D'us.




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