Já deve ter percebido, o leitor que tem acompanhado minhas recentes postagens acerca da natureza do turismo, e deve ter percebido também, que não estou focando em opinar sobre os recursos oferecidos, tais como parques, natureza, restaurantes, hotéis, ou o que quer que sejam os atrativos deste mercado, mas fundamentalmente no comportamento, tanto dos anfitriões, quanto dos visitantes (claro que meus leitores são, na maioria, formadores de opinião do mundo receptivo, e bem menos turistas, no geral, até porque não tenho tantos "seguidores" , e eu odeio esta palavra, soa pretensiosa, aos quais denomino "amigos", pois assim soa melhor, o que de fato são, e sendo bem, mas bem sincero, não tenho interesse em multidões vazias, antes, escolho a dedo a quem envio meus links, porquanto considero o peso das opiniões de quem também raciocina, ainda que no contradito), e como minha atenção se direciona a quem esteja no centro das atenções do turismo, é com pessoas que eu falo, olhando nos olhos, e com um vigoroso abraço (agora já pode, eu acho, nada de soquinhos e cotoveladas preventivas).
E como devoto da sabedoria de minha saudosa avó, senhora Maria Elisa, tenho em meu DNA o grande ensinamento que ela me deixou, na prática, e na teoria, na essência, acima de tudo: A hospitalidade! Ser hospitaleiro não é um ato de etiqueta social, mas um Mandamento divino, uma ordenança bíblica, uma condição "sine qua non" (indispensável) para a harmonia da vida humana, para a coexistência e boa relação entre as pessoas. Não é só um modo elegante de comportamento, mas um aprendizado de generosidade, de bondade, de empatia. O anfitrião é alguém que coloca-se no lugar do outro, percebe suas incertezas por estar em ambiente estranho, para que não se sinta hostil nem hostilizado pela estranheza territorial.
Para quem aprecisa o estudo da cultura judaica, e mesmo das histórias relacionadas ao comportamento de Jesus, perceberá que a hopitalidade é uma atitude contida dentro do DNA do Ser Humano, desde a criação, quando diz o autor do livro de Gênesis, que D'us "soprou as narinas do Homem", é importante compreender um pouco do texto hebraico que de forma metafórica, e ao mesmo tempo,física, une a ação espiritual com a material, porque Ser Humano (Homem), é ADAM, da mesma raiz de DAM,, que se encontra entre DAM e ADAMÁ (terra), então ADAM é a ligação do Ser Espiritual com a terra, que o abriga. Começa aqui a hospitalidade. A primeira das sete palavras hebraicas que inicia o Gênesis, é "Bereshit" (Bereshit é também o nome do livro em hebraico), que começa com a letra, ou símbolo BET, que é a tradução hebraica de CASA. Assim, "A Casa recebe o Espírito e nasce o Ser Humano". Neste formato fica mais tangível a compreensão que a primeira demonstração de afeto entre pessoas é a hospitalidade. Isso não começo no balcão de recepção do hotel, nem na porta do restaurante, ou no balcão de chek-in da companhia aérea, ou no taxista (agora também de aplicativo) que abre a porta para o passageiro. A hospitalidade começa no relacionamento entre empregador e empregado, entre colegas de trabalho, entre amigos, e até na civilidade entre desafetos. Até mesmo na guerra, um adversário entende que o outro quer negociar uma trégua, quando uma bandeira ou um lenço branco está estendido, e um, e outro, empunhando seus lenços, cedem à contenda enquanto se encontram num gesto de respeito e vontade mútua. Um avança em direção ao outro, e ambos se encontram no meio do caminho, no campo neutro da contenda, e ali conversam. Este ponto no meio do caminho é o ponto de equilíbrio da hospitalidade. É o lugar onde anfitrião e visitante ajustam suas condutas de convivência, e a estadia segue prazeirosa, a um e outro.
A hospitalidade vai além de dar boas vindas e curvar-se em reverência ao que chega, que em certos casos, não passa de salamaleques desnecessários e até caricatos, porque percebe-se nitidamente que quem o faz, esteja externando de forma repetitiva aquilo que aprende na cartilha de boas maneiras da empresa, ou o mantra que decorou nos encontros motivacionais de adestramento que é obrigado a comparecer, em nome da manutenção do emprego.
A boa hospitalidade compreende em primeiro lugar, a empatia de um e de outro: anfitrião e visitante! Não basta que o pobre anfitrião se desdobre em lamber o chão do arrogante visitante, sem que o visitante seja igualmente cordato, educado, gentil, cortês, e sobretudo, humano, no sentido do melhor da humanidade, porque também são humanos os que cometem atrocidades, que fique claro isso.
Porém, considerando que nem sempre o melhor visitante seja ao mesmo tempo a pessoa mais educada, como permanecer cordial e hospitaleiro, considerando que também o convidado possa estar chegando em busca de repouso, justamente para fugir do estresse da rotina nas grandes cidades, que talvez não queira investir os breves minutos que o separam de um banho relaxante, uma cama macia, e o que de bom houver em sequência, em lugar de sujeitar-se a uma bajulação protocolar entre o espeço de tempo em que desce do carro e preenche a finha de hóspedes, que por sinal, é algo absolutamente entediante, desnecessário, e prosaico, porque com os mecanismos atuais de pagamento, automaticamente o CPF da pessoa levantará, se necessára ação policial se fizer necessária, o histórico do hóspede (isso em caso de hotéis), e economiza até boa dose de mentiras, uma vez que ninguém confere o que foi escrito nas fichas. e nunca vi um policial solicitando as fichas para localizar fugitivos ou desvendar crimes, para seguir uma lei que foi promulgada desde que foi sancionada em 2018, sendo integrada à LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados), cujo castigo aplicado a quem tiver a estúpida ideia de espiar pela fechadura durante o banho do visitante (ou compartilhar os dados das fichas), pode chegar até 50 milhões de Reais, valor justo e razoável para quem obriga o hóspede a mostrar sua intimidade logo na chegada. Natural que a letra seja um garrancho, em muitos casos, e natural que hajam incorreções nos dados. Mas, isso ultrapassa a hospitalidade, porque tem a vara de marmelo da Lei chicoteando anfitrião e visitante, contra a vontade de ambos. Importante saber que não sou contra a Lei, e a cumpro com "rigor mortis" do meu livre arbítrio. Apenas não gosto dela.
Hospitalidade, como falei, vai além do hotel, do restaurante, da loja. Hospitalidade, também repito, é uma via de duas mãos, onde devolver a empatia é obrigação de quem a recebe. Compreender, por parte do visitante, que o anfitrião, é uma pessoa que tem família, adoece, cansa, tem contas a pagar, nem sempre recebe o suficiente, e precisa dividir-se em outras atividades que complementem a renda familiar, e que o sorriso que se exige dele, pode ocultar um choro invisível. Poucos tem a empatia de perceber que um atendimento carrancudo, indesejável, pode ocultar um filho enfermo em casa, um relacionamento desfeito, uma agressão recebida até mesmo por um colega, um chefe mal humorado, uma frustração, e sim, é claro que problemas devem ser deixados em casa, e o visitante tem direito à total atenção e simpatia por parte de quem o atende. Porém, como mencionei, que mesmo com um atendimento perfeito, protocolar, quem tem na generosidade, na empatia, na hospitalidade recíproca, a capacidade de perceber um olhar distante, e um deslize involuntário no atendimento, um esquecimento, um erro de pronome, ou outro qualquer.
Hospitalidade é uma mercadoria que sempre deve valer mais do aquilo que se paga por ela. Deve devolver mais do que aqulo que se deveria entregar, pois quem trabalha só pelo que ganha, ganha muito, e não merece o que ganha. A hospitalidade é a ética envelopada em atendimento, que percebe que a empresa é a árvore que produz frutos, onde um e outro, visitante e colaborador anfritrião, são beneficiários, contanto que seja cuidada, regada, nutrida, e receba o sol, que nasce para todos, mas brilha ainda mais onde não se interponha entre seu brilho e aquele que provará seu calor. Quem rouba a sombra alheia, não é bom anfitrião. Não é bom cidadão. Não faz jus à categoria de pessoa de bem.
Ser hospitaleiro não é dividir o pão e o teto. É permitir que haja pão sempre que houver necessitado para receber. Ser hospitaleiro é ser previdente, e estar preparado para, a qualquer tempo, amparar a viúva, o órfão, o necessitado, o amigo em dificuldades, o trabalhador que espera por oportunidade, a autoridade que não precisa ser acionada, senão a fazer fluir suas obrigações de rotina. Hospitalidade é honrar e respeitar as autoridades constituídas, ainda que não sejam de nosso agrado. Hospitalidade é ser honrado enquanto cidadãopelas mesmas autoridades, para que a bandeira branca tremulhe permanentemente no terreno neutro e produtivo.
Isso vale para o turismo. isso vale para a vida. Isso vale para abrir as portas da Eternidade.
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