AD SENSE

sexta-feira, 6 de março de 2020

Preguiça mental, o tempo, e a verdade - Porque eu escrevo e porque muitos leem o que eu escrevo




Às vezes faz-se conveniente, o inconveniente de justificar o que se faz, para que, uma vez feito, torne-se compreensível e justificável. De tudo o que eu tenho escrito e publicado (e olha que lá se vão mais de mil ensaios em três anos, apenas no Blog), até a presente edição, não recebi nenhuma contestação ou corrigenda ética de nada que eu escrevi, com exceção de deslizes de digitação, ou alguma eventual concordância que passou batido, nenhuma expressão, ainda que mais contundente, foi rebatida na condição de infame. nenhuma. Isso deve-se principalmente à postura que mantenho, intrínseca, que torna desnecessário o patrulhamento vernacular ou ético, uma vez que esteja contido em essência e não como cosmético no meu modo de ser, falar ou escrever. Uso meu livre arbítrio com responsabilidade para que não me sobrepuje nenhuma arbitrariedade por algum mal feito. Simples assim.

Muito do que eu escrevo é de difícil interpretação para quem usa leitura dinâmica, para quem fotografa mentalmente um quadro de texto, e insere no subconsciente algumas palavras-chave, e destas, formula sua linha de raciocínio dentro daquilo que eu escrevi. Porém, quando chegam na metade do texto, e descobrem nele alguma relevância lógica, percebem que precisam retomar a leitura desde o início, palavra por palavra, vírgula por vírgula, e assim seguem até a última sílaba, voltando, relendo, estruturando sua linha de pensamento, que, por estas sortes que a gente tem na vida, acaba sendo bastante parecida com minha própria forma de pensar e colocar as coisas.

Há porém os que reclamam do tamanho dos meus textos, e ameaçam mesmo que não irão mais ler o que eu escrevo, se eu não mudar minha forma de escrever. ora! Se eu não fosse eu, não escreveria desta forma, pois para mim, escrever não é fazer relatório.

Meus temas vão muito além de relatar, contar os fatos, pois eu não faço jornalismo e sim análise dos fatos que o jornalismo publica. Enquanto o jornalismo convencional informa que choveu, eu quero saber como as pessoas se comportam, como percebem a chuva, como convivem com a água que cai do céu, como sobem ou descem o morro e o que pensam enquanto sobem e descem o morro, apesar da chuva. Eu sou o sujeito que, insatisfeito em beber a água do coco, quero saber como ela foi parar lá dentro. Então, eu escrevo para todos, mas sei que o meu universo dos "todos" é fracionado entre os que muito leem, os que pouco leem, os que leem títulos e correm para as imagens, e aquelas que nem sabem o que significa uma interpretação de texto.

O que eu escrevo é para as pessoas que caminham além do horizonte, e não acham que montanha seja obstáculo, mas oportunidade de ver o mundo lá do alto. Escrevo para os que desejam mudar a sociedade, e construírem uma civilização, mas sabem que apenas olhando a chuva nada poderão fazer quando vierem as tempestades.

Então, eu não escrevo muito. São eles quem conseguem ler pouco, e entenderem menos ainda.  Não se compreende o conteúdo de um livro pelo título da capa impresso em letras douradas. Eu escrevo para que se montem bibliotecas e não tirinhas de almanaques. Escrevo pela ânsia de cumprir o mandamento bíblico de buscar a Sabedoria onde quer que ela esteja. E se ainda não a tenho, muito a desejo. Por isso eu escrevo do jeito que escrevo. para aprender com meus erros de sintaxe, e corrigi-los, se for possível.


Cinco ideias para conquistar seus eleitores, sem precisar mentir


...
Imagem: Picryl
Começa, o leitor mais inquisitivo, a imaginar que eu parto do princípio que todos os candidatos em campanha mintam, certo? Errado! São incontáveis os candidatos bem intencionados que percorrem o país em busca de votos, percorrem seus estados, seus municípios, seu bairro, e até mesmo sua rua, tentando convencer os eleitores que eles, candidatos, representam o último bastião da liberdade e da democracia ao alcance do voto, e que o mundo será dividido no "antes" e no "depois" que eles, eleitos, começarem o processo de transformação da sociedade. Todo político honesto deseja transformar a sociedade, e que seja a partir do seu mandato, sob sua influência pessoal. É assim que funciona o pensamento político dos candidatos.

Assim como um recém formado Bacharel de Direito, imaginar que esteja esperando por ele um grande júri popular, e que ele, do alto de seus recém adquiridos conceitos acadêmicos do Direito, possa defender o indefensável, diante de uma plateia entorpecida pela sua homilética, inebriados pela sua oratória eloquente, mas que ao cabo de dias, horas, talvez, descobrem que antes de enfrentar um grande júri, terão que despachar petições intermináveis nos balcões dos cartórios forenses, e sei lá quantos atendimentos gratuitos terá de fazer, antes que um primeiro caso de briga por qualquer "dá cá uma palha" precise de defesa ou de um "Habeas Corpus". Na política é  igualzinho.  Assim como numa corrida de maratona, onde arrancar voando na largada é contraproducente, também na carreira política, menos é mais, e desejar é mais que alcançar, mas ensejar para continuar, é a premissa que vale para fortalecer o passo, para que caminhe seguro, para que chegue aos objetivos, e saiba antes quais são estes objetivos, que estude as possibilidades, que trace estratégias para ter e saber o que fazer condo chegar à tribuna. Então, vou simplificar as sugestões:

1 - Avalie sua saúde física, mental ética, moral e espiritual, antes de pensar em uma aventura eletiva.
Digo aventura, porque sem preparo, na incerteza, e sem estribo físico, moral espiritual, não passa disso mesmo: uma roleta russa, em uma arma com uma bala a menos, apontada sobre sua cabeça.
De nada adianta o candidato pensar em ingressar em uma campanha política, sem estar fisicamente preparado, pois ele não irá buscar votos apenas para si próprio, mas fará parte de um conjunto de pessoas que estarão trabalhando umas pelas outras, no contexto de unidade partidária, e todos dependem de todos nesta jornada. Um único deslize morar da parte deste candidato, poderá desmoronar o resto do grupo, da coligação, ou do Partido.

2 -Avalie seu território, mapeie seu bairro, sua rua, conheça bem as pessoas, e mais que isso, com bastante antecedência, faça-se conhecer, torne-se conhecido, para que não seja atacado, desprezado, pisoteado, por conta da ideologia que você prega. Faça uma análise do perfil das pessoas a quem pedirá votos, e cuide em não pisotear nas crenças pessoais destas pessoas, não apenas religiosas e políticas, mas de costumes e tradições.

3 - Prepare-se intelectualmente para responder à todas as questões levantadas pelos eleitores. Se você representar a situação no governo, procure conhecer, por suas lideranças no Executivo, os desafios encontrados, as soluções oferecidas, e aquilo que ainda resta por fazer. Procure falar a linguagem destas pessoas, sem perder o seu modo de falar, isto é, fale de uma forma que seja compreendido, quando for questionado, e jamais, eu disse jamais defenda com veemência as suas ideias enquanto estiver no território do eleitor, ou seja, evite discussões, evite debates inócuos, e prossiga oferecendo de maneira criativa, mas também metódica,  o desafio e junto, a solução que esteja ao seu alcance resolver. Estude minuciosamente a cartilha de seu partido, pois dez em cada dez candidatos desconhecem com profundidade a cartilha que rege os princípios partidários, e não é incomum que em suas campanhas defendam ideias de modismo, mas frontalmente contrárias às letras miúdas das cartilhas ideológicas dos Partidos Políticos.

4 - Prometa tudo, mas tudo o que pode ser feito dentro de seu limite de capacidade, e não aquilo que dependa dos outros para ser cumprido. De nada adianta a um candidato a vereador prometer melhores escolas, se ele desconhece a real situação da educação, e se desconhece o limite imposto pelo cargo, sabendo que sendo eleito, terá que seguir os protocolos próprios de uma administração. Assim também, o candidato à Prefeito, não poderá garantir a construção de ruas e pontes, se não souber como encontrará recursos para esta execução, e deve saber que sem apoio do Legislativo, não vai fazer muita coisa. Exemplo pra isso não falta.

5 - Jamais, repito, jamais fale mal de seu adversário, na ânsia de adular seu eleitor, pois ainda que simpatize com sua plataforma e pessoa, você não conhece a ligação daquela pessoa com seu oponente, e ainda que seja a seu inteiro favor, você corre o risco de que este eleitor seja ético, e não aceite o tipo de ilação e maledicência que muitos candidatos expõem em seus discursos, uma vez que estejam vazios de propostas.

quinta-feira, 5 de março de 2020

Festival do Japão em Gramado - Resgatando as culturas das etnias


Quando eu falo que Gramado não cansa de reinventar-se, que tornou-se muito mais que o quinto destino do mundo na preferência turística, surge um novo projeto que tem o tempero pronto para transformar-se em um mega evento, e atrair outros eventos desta natureza, redimensionando Gramado também neste quesito.

Parece um pouco de hedonismo meu dizer que eu acredito nesse tipo de evento desde 1991, quando criamos a Semana Alemã de Gravatal, e em sequência foi também realizada a Semana Italiana, no pequenino município de Gravatal, em SC, e a partir deste, seguindo a linha etno-cultural da imigração em Santa Catarina, seguiu-se um crescimento nesta direção neste Estado.

Não é, no entanto, novidade, que cada município, de uma forma ou de outra, resgata sua cultura ancestral, como forma de perpetuar as raízes de sua gente. Assim são os Kerbs, na região alemã do Rio Grande do Sul, as festas típicas italianas na região dos vinhedos, e em cada região, segundo suas raízes, segue o festejo destas culturas.

Gramado, há muito tempo, abriu mão de sua identidade ítalo-germânica, para pulverizar-se em um conjunto universal de culturas, criando com isso, uma nova cultura autóctone, que mescla não apenas um modo de agir, de falar, de comer, festejar e trabalhar. Soma-se a esse conjunto cultural adventício, um novo evento, que se de um lado, não traduz um tipo de comportamento e grupo específico no município, de outro, oferece-se como sede de um evento que poderá tornar-se um novo divisor de fronteiras entre Gramado e o mundo: O Festival do Japão!

Pouco posso falar sobre a ligação de Gramado com esta cultura, pois não nenhum grupo nipônico estabelecido que justifique um evento regional em Gramado, mas reconhecidamente Gramado recebe a tradicional Festa do japão, que já realizou nove edições em Porto Alegre, reunindo, na condição de Capital do estado, os representantes japoneses do Rio Grande do Sul. Hoje, porém, tal como nasceu o Natal Luz, pelas ruas de Porto Alegre, e sendo levado pelo maestro Eleazar de Carvalho à Gramado, segue os mesmos possíveis passos, o Festival do Japão.
Vou transcrever aqui a proposta do programa do evento.

Segundo Andre Kabutomori, responsável pela organização do evento, o Festival do Japão RS já recebeu 500 mil visitantes desde a sua primeira edição, sendo 95% do público não descendentes de japoneses. O evento promove uma exposição e experiência da cultura japonesa ao público gaúcho, cujo objetivo é aproximar a cultura japonesa dos gaúchos, além de manter as tradições dos nossos antepassados para as futuras gerações.

Imigrantes Japoneses no Rio Grande do Sul

Em dados recentes, o Brasil é o país que abriga a maior comunidade japonesa fora do Japão, somando mais de 1,9 milhão de japoneses e descendentes até da quinta geração. Apesar dos grandes desafios enfrentados, os imigrantes japoneses superaram e prosperaram contribuindo para o desenvolvimento econômico-social em diversos estados brasileiros; destaque o sudeste brasileiro São Paulo e Paraná onde há maior concentração de japoneses. No estado do Rio Grande do Sul a comunidade japonesa é modesta com estimativa de 5 mil habitantes nas principais regiões como Porto Alegre, Gravataí, Ivoti, Itati, Santa Maria e Pelotas.

Atrações previstas

O palco principal exibe performances artísticas exclusivas no RS! - Cantores internacionais e locais apresentando composições próprias, músicas folclóricas, pop, além de performaces únicas; - Taikô e instrumentos típicos japoneses; - Danças tradicionais japonesas; - Cerimônia de abertura; - Esportes como artes marciais (aikidô, judô, karatê-do, kenjutsu), sumô e beisebol.



Esportes e Lazer

Por toda a história do povo e da cultura japonesa, história, os esportes sempre se apresentaram como fortes ferramentas de integração dos povos, além de serem importantes elementos culturais. No Japão, se desenvolveram muitas artes marciais, além dos tradicionais sumô e gateball, que transmitem, em sua prática e filosofia, as diversas características do povo japonês. Hoje, as artes marciais já estão difundidas em vários países, marcando forte presença no Brasil. Da mesma forma, no Japão se popularizaram esportes ocidentais como baseball, softball, futebol, tênis e tênis de mesa. Não há mais fronteiras quando tratamos de esportes, que já se tornaram atividades de lazer comuns a diversos povos.

Cultura e Bazar

Oficinas e exposições para que o público entenda melhor sobre a cultura e experiencie das artes: - Exposição temática; - Oficina de origami e jogos japoneses; - Experiência de vestir kimono e cerimônia do chá; - Exposição de bonsai, ikebana e outras artes japonesas. Lojas e bazar para que o  público leve para casa um pedaço do Japão: - Produtos da colônia japonesa; - Produtos importados japoneses; - Artesanato japonês.



Gastronomia

Diversos restaurantes compõem na praça de alimentação, com cardápio variado e restrito da culinária japonesa: - Sushi e temakis; - Bentô tradicional (marmita japonesa); - Yakisoba, ramen, udon; - Harumaki e tempurás; - Takoyaki; - Doces japoneses; - Salgados japoneses.



Anime Buzz

O Festival do Japão RS divide o espaço e a organização do evento com o Anime Buzz. Dessa forma, há um encontro entre a cultura tradicional e a cultura pop japonesa em um único local! As principais atrações do Anime Buzz são: convidados especiais, concurso cosplay (fantasia), concurso animekê (karaokê com músicas de desenhos e séries), arena de games, card-games, RPG, oficinas/palestras, exposições, feira, gincanas, show de bandas, grupos de k-pop e fã clubes em espaços temáticos.


A estimativa é de cerca de 10 mil pessoas circulando no dia do evento. O Festival é realizado em espaço aberto e durante o dia, com diversas atividades e apresentações, o que atrai muitas famílias. O público jovem é atraído, principalmente, pelo Anime Buzz.
Local do evento: Rua Coberta e Sociedade Recreio Gramadense

O festival será realizado em dois espaços, as atrações serão alocadas na Rua Coberta pois é um espaço aberto que permite a circulação de um intenso fluxo de pessoas, já o Anime Buzz acontecerá no Recreio Gramadense, pois o mesmo conta com amplo espaço para sediar o evento. Fazemos parcerias com órgãos públicos. A segurança com a Polícia Militar, a limpeza e o controle do trânsito com órgãos responsáveis e o recolhimento de alimentos com o Banco de Alimentos.

Retorno filantrópico aos gaúchos

O evento é aberto a toda população, tendo entrada franca. São realizadas campanhas de arrecadação 1kg de alimentos não perecíveis em parceria com o Banco de Alimentos, sendo solicitada apenas a doação de 1kg de alimento por pessoa. Já foram doadas 49 toneladas de alimentos a diversas entidades beneficentes.




Os organizadores então em busca de patrocínios, com retorno em diversos níveis. Quem desejar estampar sua marca no evento, deverá contatar com:

ASSOCIAÇÃO DO FESTIVAL DO JAPÃO RS
 www.festivaldojapaors.com.br
contato@festivaldojapaors.com
festivaldojapaogramado
ANDRÉ KABUTOMORI
andrekabutomori@gmail.com
+55 11 95610-7971


Apoio deste Blog*






Você desapega do que é inútil?


Conhecido meu se desfez de um patrimônio considerável, doando a maior parte do que tinha em um lugar, para mudar radicalmente de vida. Para resgatar o relacionamento familiar. E neste esvaziamento patrimonial, desapegou-se de objetos que faziam parte de sua história, de suas vivências, de um testemunho de tudo quanto fizera ao longo de décadas, ou quase uma vida inteira. Desfez-se de um dia para outro, de coisas que antes considerava-as intocáveis, relíquias de memórias em três dimensões, que custaram uma pequena fortuna, mas mais que dinheiro, demandaram milhares de horas de envolvimento e fadiga.

De um dia para outro, esvaziou um passado de mais de meio século, para reconstruir um futuro absolutamente incerto e cheio de poréns, vírgulas, e "portantos". Ele fez isso, me acreditem. E não caiu uma única gota de lágrima. Não houve nenhum tipo de arrependimento. Não chorou o luto dos bens que se desfez e da solidão que lhe concedia liberdade. Nada disso trouxe qualquer tipo de arrependimento. Concedeu-lhe uma nova leitura, esta é a conclusão que chegou. Porque teve a ousadia de desapegar-se do que era inútil, e ocupando o vazio guardado para a releitura de sua vida. Desapegou-se, e ainda dormiu o sono dos justos, em paz. Fez, literalmente aquilo que Jesus disse que devia ser feito: deu mais da metade dos bens aos pobres. E não acha que tenha feito favor algum, pois se deu é porque tinha demais, guardou demais, comprou demais, gastou demais, e viveu menos do que deveria poder ter vivido.

Digo sempre que D-s  criou o Ser humano (e até a grande maioria dos animais) com os sentidos principais, direcionados ao futuro. Os olhos, a boca, o nariz, os ouvidos, os pés, os órgãos reprodutores, o sorriso, as lágrimas, tudo voltado para frente, para o amanhã, para a eternidade. O pouco que restou, voltado ao passado, é o excretor, o que esvazia a sujeira, o que é execrável, ainda que necessário, e muito necessário, porque promove o expurgo daquilo que deixou de ser útil. Somos, portanto, desenhados para o amanhã, com estrutura e massa para hoje ainda, mas nada que compense deve estar direcionado para o dia de ontem, por mais prazeroso que tenha sido. Somos o futuro que caminha sobre o presente, abandonando o passado.

O passado são as linhas tortas que foram endireitadas para que não perdêssemos o eixo da vida. As coisas inúteis e fúteis devem ficar no passado. A história é a única herança que nos deve restar, como ensinamento e identidade, mas jamais como depósito de entulhos que nos acorrenta no tempo. O passado é a dor, o presente, o lenitivo, e o amanhã o perfume. Sei que amanhã não me pertence, que ontem se foi, então é hoje que devo jogar no escuro as amarras do tempo. Desapegar do que é inútil. Reconstruir o que me torna vivo. Na terra é também assim. Rasga-se a terra com as plantas mortas e ervas daninhas, e semeia

Meu conhecido compreendeu isso, e caminha com uma tela em branco e um pincel sem tinta, redesenhando a vida em pinceladas que não serão guardadas, para que delas não sinta saudade. Saudade é, disse alguém, aquilo que fica daquilo que não ficou. Esperança é aquilo que precede, aquilo que virá, digo eu. Vida é isso. Vida são os passos dados com os pés voltados para frente, na direção do olhar, do perfume, da beleza das cores. Vida é o que acontece daqui por diante. No trato cm a terra acontece algo parecido. Rasga-se o chão, aterram-se as ervas daninhas, aduba-se o novo solo, e deitam-se as sementes para a nova safra, e o que nasce dali nada tem a ver com o que dali foi tirado. É assim que se renovam as coisas, é assim que se renova a vida.

O Amor na Política, faz sentido?


Afinal, o que é a política, senão a essência mesclada na expressão de poder, da sociedade em que se vive? Pode, no entanto,  o amor, um sentimento pessoal ou interpessoal, interferir no cotidiano coletivo de uma sociedade, de uma civilização? Onde fica este sentimento banalizado ou idolatrado, no trato com a coisa pública? Por que o político fala mais em realizações materiais, e poupa divagações que possam ser interpretadas como vazias, populistas, piegas, como falar em amor, por exemplo?

Creio que a resposta pode ser mais uma sequência de perguntas, que nem os próprios políticos sejam capazes de definir: Mencionar o amor como plataforma de uma campanha pode cair no ridículo, e ele ser tratado por doido, sonhador, vazio. Uma campanha política, pela natureza de sua tradição, deve contemplar elementos sólidos, e no máximo, ideológicos, posturais, pragmáticos, exequíveis. Então, ainda que imateriais, os movimentos políticos são sempre racionais, e o amor não é racional. Será? vamos entender o amor no seu significado através dos tempos.

Quando falamos de amor, tomamos como referência, não a palavra, mas o sentido dela, que se traduz, na maior parte das vezes por sentimento afetivo, por algo que proporcione prazer, e que, segundo o senso comum, proporcione recíproca, isto é, que saiba e possa devolver no mesmo grau de intensidade, o ato de afeto ao favorecido. Nessa leitura, quem recebe amor, torna-se devedor à quem dá esse amor. Então, na política, já há outro tipo de dívida entre eleitor e eleito, que não necessariamente implicam em sentimento de afeto. Assim,, se amor é gratidão, e gratidão é dívida do coração, há o agravante que o eleitor torne-se devedor ao eleito, quando o contrário deveria ser melhor empregado, mas sendo a eleição nada mais que a escolha dos representantes da coisa pública, que devem à si próprios o cuidado com aquilo que pertence a si próprios, compartilhada com os demais, e assim, não deveria ser visto como gratidão, nem de um lado, nem de outro, o ato de eleger-se alguém, mas apenas um cumprimento de rodízio de tarefas para os cuidados e a gestão da sociedade.

Se analisarmos o amor, a partir do idioma e do entendimento filosófico grego, fracionaremos o termo em quatro palavras: Eros, Fileos, Ágape, e Storge, onde Eros é o sentimento físico e afetivo de intensidade quase mensurável, entre um homem e uma mulher (hoje a sociedade exige que vá-se além disso, o que não é a pauta desta reflexão); o Fileos é o sentimento de irmãos, de amigos, de uma fraternidade ou grupo afim;  Ágape é o sentimento de bem querer universal, da humanidade, de D-s pelo Ser Humano, e vice versa, e por fim, Storge é aquele sentimento, necessidade do filho pela mãe. Isso era o amor na Grécia, e nenhum destes adjetivos complementares estava inserido no discurso da "Polis", da coisa pública. A República estabelecia normas e protocolos do homem e sua convivência social, mas afeto era algo desnecessário à causa social e dos negócios de estado.

É no judaísmo que iremos encontrar uma definição que se ajusta perfeitamente ao ideal do Homem Público (atenção analfabetos intelectuerdas: "Homem", no sentido antropológico): A palavra "Ahavá", que traduz-se por "Doar-se", comprometer-se, envolver-se. Então, aquilo que chamamos apenas, e para tudo, de "amor", que por pulverizar-se desta forma, se esvazia no excesso de conteúdo, e quando chega aos corações, pouco resta para o destino que deveria ser dado á palavra. Assim, no hebraico, a palavra Ahavá implica em uma doação contínua e se endereço pessoal, que pode ser aplicada à política, o genuíno ato de doar-se por outrem, esvaziar-se para preencher outro vazio, desprender-se do manto para que outro seja aquecido.

Amor deveria ser a regra de ouro da verdadeira política, e sendo um adjetivo, na ação torna-se um verbo, e de verbo passa a ser a ação por inteiro. Amar e promover amor não significa distribuir flores ou pegar criancinhas ao colo para ganhar o voto das mamães, mas prover às mamães que tenham segurança para que o colo dos filhos sejam pelo prazer e não pela defesa. Para que o prato à mesa seja farto, e nele nada falte, posto que divinamente distribuído. Para que o debate seja um digno espetáculo de propostas, e não um festival de pancadaria moral.

Amor na política faz com que a política seja mais política e menos os políticos. Mais a causa e menos o causador. Mais o povo e menos os que se valem do povo. Ou não?


quarta-feira, 4 de março de 2020

Tramela, Bago, e Jiringonça - Lorotas do Apolônio Lacerda)


Jiringonça era um faz-tudo, porque o próprio nome, apelido, ou título nobiliárquico assim o declarava. Mexia com geringonças e reciclados, e não raro, descobria um liquidificador descartado, cujo motorzinho ainda funcionava, e o transformava em um aparador de grama, ou ventilador de parede.
Tramela era outro gênio dos parafusos, e atendia à domicílio, consertando e instalando fechaduras. Habilidoso, era ele capaz de abrir um cadeado emperrado usando apenas um grampo de cabelo, e um tijolo grande. Com o grampo, ele furungava no buraquinho do cadeado, até ouvir um "clac", abrindo o emperrado. Já o tijolo, servia como banquinho. Nada mais.
O terceiro era o bago. bago não tinha nenhuma habilidade para inventar ou consertar nada, e nem precisava, pois o bago era o Bago e há quem, nesse mundão velho, não tenha ouvido falar do Bago? Não há. Você mesmo que lê isso, já ouviu falar do Bago. Se não agora, dentro de alguns minutos, sim. Bago não precisava de apresentações nem atributos, pois Bago era o atributo em pessoa, uma lenda viva, um ícone.

A afinidade dos três, era a ciência. Não a ciência em si, mas a pseudo-ciência, à qual chamavam de "Ciênciamento Periférico", ou uma gama de conhecimentos não avalizados pela ciência convencional, mas que preenchiam os vazios de entendimento que a própria ciência não explicava. Os paradoxos e os paradigmas da quadratura do círculo, ou dos triângulos de quatro lados, por exemplo, preenchiam grande parte do tempo de Tramela e Jiringonça, entre um martelinho com limão e uma isquinha de jiló, no boteco do Talarico, ao fim da tarde. Já o bago, meio torto, num tragoléu bagual, apenas arregalava os olhos inchados, coçava o rego, para depois cheirar, e ouvia a tudo em silêncio. Ele não duvidava de nada, não era incréu de coisa alguma, e meditava atentamente às conclusões dos companheiros, porque, na sua humildade, entendia não possuir argumentação suficiente para as vírgulas que se metesse de pato-a-ganso em debater com os rábulas. Ouvir era suficiente. Alimentava a alma e tinha-se na conta de feliz pelo conhecimento adquirido com os amigos, dos quais sentia muito orgulho.

Certa ocasião, a prosa enveredou para a ciência da mente, e Jiringonça explicou como funciona o entrelaçamento quântico dos neurônios, das sinapses, da transmutação e transubstanciação galática do microcosmos que comanda a mente humana. Gesticulava, desenhava com o dedo indicador, molhado em cachaça, no balcão do boteco, e um círculo de pessoas à sua volta nem respirava para ouvir o desfecho daquilo que era mais que uma aula: era um seminário de metapsicologia aneurísmica quântica que estavam tendo ali, ao vivo, com aquele sábio. Coisa pra contar aos netos em quinze gerações adiante, pensavam.

- O poder da mente é incalculável! - Dizia, gesticulando e girando o indicador, apontado para o alto, e acima da cabeça.
- Pelo poder da mente, podemos tudo e qualquer coisa. E vou dar um exemplo aqui e agora!
Dito isso, afastou com os dois braços, empurrando delicadamente para trás as pessoas, e fixou o olhar numa rosquinha que estava á mostra dentro do balcão, e misteriosamente: PUF! A rosquinha desapareceu, e ele lambeu os beiços. A seguir, para estupefação de todos, olhou para uma fatia de torta, e: PUFT! A torta desapareceu, mas deixou um resíduo no canto do beiço, que já lambia o restinho de glacê que ficara do lado de fora.
- Impressionante, berrou Bago, já entorpecido pela manguaça! Qualquer um pode fazer isso? - Perguntou.
- Certamente, respondeu Jiringonça! Tente você meu amigo!
Bago esfregou as mãos, e olhou atentamente para um imenso frango assado na assadeira giratória que estava na frente da porta, e: PUFT! Uma galinha a menos na máquina, e Bago, lambendo os beiços, chupando um ossinho, e batendo na pança. Continuou, olhou para uma imensa torta de chocolate sobre o balcão, e: CATAPAF! Em uma fração de segundos, a boca toda lambusada de merengue! Mas não ficou satisfeito, e foi descendo pro bucho uma Coca litrão, um bule de café, e uma salada de frutas, e seria maiss, se não tivesse passado na sua frente, Tetéu, a sobrinha do bodegueiro, moçoila casadoira, atenta à moda e bem empacotada, um pitéu, por assim dizer. Bago não teve timidez, e encarou a moça, de cima abaixou, tres vezes, e: CATAPIMBA! Caiu mortinho, esturricado, duro!

Foi aquele gritedo, aquele rebuliço no lugar, e veio correndo, o talarico, com uma toalha no ombro e perguntou o que havia acontecido. Quem respondeu foi o Tramela, que não tinha aberto a boca naquele dia:

-Também! O ôme bebe que nem um leitão, come que nem um avestruis, não deixa a bóia abaixar pra digestã (acentuou o "ã" final), e cai na esbórnia? Só podia dar nisso!







terça-feira, 3 de março de 2020

Benício e Gabriela - Capítulo 3 - O Rito



O Superintendente Laerte era um homem amável, e ao mesmo tempo firme. Era um pouco gordo, e caminhava com passos resolutos de quem era acostumado a exercer autoridade onde quer que estivesse. Seu óculos redondo, tipo casco de tartaruga viviam engordurados, o que o fazia constantemente limpá-los com um lenço de seda bordado com suas iniciais: LPR (Larte Perez Ramires). Grossas sobrancelhas emolduravam os olhos, e uma calva adentrava pelo crânio lustroso e branco. Sabia tratar com as pessoas, e as examinava com olhar curioso, sorrindo com o olhar, enquanto rabiscava à lábis em um bloco de papel. Escrevia nomes, anotava palavras, reforçava uma e outra letra ou palavra, e girava na cadeira com envelhecidos estofados de couro.
- Você sabe porque está aqui, não sabe, rapaz?
- Penso que sei, senhor!  Recebi uma promoção e devo ser treinado para exercer a nova função. Estou certo, senhor?
Larte riu e olhou sobre os óculos engordurados.
- Passou perto, rapaz. Sim, você recebeu a promoção, e será treinado, mas não apenas para as vendas, como te falaram, e seu treinamento vai muito além disso. Você foi avaliado durante muito tempo, e seu comportamento, principalmente, pesou em seu favor, e você foi um dos selecionados...
- Há mais candidatos, senhor? - Perguntou, surpreso Benício.
-Esta informação deve ser confidencial, rapaz. Sim, há outros, mas não direi mais nada. Contente-se em ser um deles.
- Obrigado, senhor! Não perguntarei mais nada.
- Você será encaminhado à sala de reuniões agora. Vá. Conversaremos mais tarde.

Um corredor mal iluminado serpenteava a planta do pavilhão, com uma sequência de portas de madeira. Em cada porta, havia uma pequena placa indicativa, com apenas números. Ao final, na porta número doze, havia uma placa que dizia: Auditório B. Entraram ali. Era a sala de reuniões. Uma grande mesa retangular estava meticulosamente organizada, com dez cadeiras, sendo quatro cadeiras de cada lado, e uma cadeira em cada ponta da mesa. Em cada lugar, havia um livro com capa de couro aveludado preto, e na capa, uma estampa de um monograma, que se assemelhava ao alfabeto hebraico, a letra "Záin", equivalente à sétima letra em sequencia, Vav", que simboliza a comunicação. Por fim, o livro da ponta oposta, estampava em cor de prata, a letra hebraica Tzadik, que simboliza "Justo".
e que simboliza a "Sétima Dimensão. Era isso que explicava a nota de abertura do livro, logo à primeira página. O livro das pontas tinha a capa semelhante, mas na cor vermelha, e ambos tinham caracteres diferentes estampados. O livro da ponta frontal, em relação ao observador que entra, estampava a letra " Tzadic" - Justo.
Todas as cadeiras eram formais, lisas, sem ornamentos, e estavam cobertas por uma capa de veludo de cor azul intenso, que iam até o chão, como mantos refinados.
Um perfume de Sândalo tomava conta do ambiente, e um silêncio ensurdecia a sala, ouvindo-se apenas o ritmado compasso do coração acelerado de todos os convidados. Benício era um convidado, e embora estivesse preparado para absorver cada palavra do que ali seria ensinado, não era sem uma forte expectativa que procurava o seu lugar à mesa, onde pequeninas placas de metal gravado indicava onde cada um deles deveria assentar-se. Foi bem mais tarde que descobriram que seus lugares à mesa seguiam ordem alfabética e cronológica, Assim, Benício assentava-se ao lado de Alexander, e precedia Daniel, Francis, e assim por diante.

Um pequenino sino de prata anunciava a chegada do Presidente da corporação, ladeado pelo superintendente Laerte, e a assistente Noemi. Naturalmente que conto de maneira coloquial, mas naquele ambiente, eram: Digníssimo Senhor Presidente, Finéas de Albuquerque Medeiros; Senhor Laerte de Alvarenga Peixoto; e Senhorita Noemi Steinberg. Não eram apenas estes que eram tratados por esta formalidade. Também os convidados, eram tratados por: "Senhores", "Mui Dignos", etc.

- Cavalheiros. eminentes convidados, eu vos apresento o Digníssimo Senhor Doutor Finéas de Albuquerque Medeiros, Diretor geral da Corporação "Capello ", que fará a abertura os trabalhos. Todos de pé, por gentileza, para entoarmos o Hino da Pátria.
Nesse instante, entra um quarteto de cordas para tocar o hino, enquanto dos cantam. Benício canta também. Ainda bem que sabia o hino de memória.

Aquilo tudo, aquele ritual, era muito novo para Benício. Era muito novo para todos, devo dizer. E digo ainda que, se não estivesse aquilo acontecendo na sua frente, consigo mesmo, ele não poderia acreditar, se ouvisse contar. Era muito bizarro, às vezes escapulia um pensamento desse tipo, que era logo dissipado pelo senso ético e de gratidão que preenchia sua mente. Mas ele tinha que ser sincero consigo mesmo: Aquilo mais parecia um rito secreto do que uma reunião de treinamento para sua nova função. Parecia uma fraternidade, isso o fazia tremer, porém era um caminho sem volta, e não havia até aqui nenhum motivo para que de fato voltasse atrás, e também porque, parecia isso á ele, que retroceder seria fatal para seu emprego, o emprego de sua esposa, e para a sua permanência naquele lugar.
A sineta toca novamente, e a um gesto e mão de Noemi, todos se assentam. Em seguida, entram os copeiros, elegantemente uniformizados, com bandejas, travessa e taças, e um a um, recebem seus pratos, talheres, copos, e uma refeição à base de vegetais, saborosamente perfumados, começa a ser servida, um a um. O Presidente ergue as mãos, faz uma prece, e deseja bom a petite à todos, que começam a devorar os alimentos comandados pela gula, uma vez que recém levantaram do refeitório, onde tomaram o desjejum, como faziam todos os dias, com exceção da sala onde comeram, que era isolada do grande salão de refeições dos empregados da fábrica. A comida, porém, era a mesma, de boa qualidade.
Apenas Benício não comia nada. Delicadamente tomou um suco de laranja que fora servido, e observava à todos, tentando entender o sentido do que estava acontecendo. Tinha perguntas, que não ousava fazê-las, senão aos seus próprios pensamentos:
- Qual a razão daquele ritual?
- Por que foram convidados a comer uma segunda vez, se haviam saciado a fome poucos minutos antes:
- Quem eram aquelas pessoas, e por que era necessária aquela pompa toda?
Seus pensamentos foram cortados ao meio pela voz de Noemi, que agradece pela presença de todos, e declara encerrada a reunião. Todos foram dispensados para voltarem às suas casas, e retornarem à fábrica no dia seguinte.
- Não esqueçam de apanharem os livros à sua frente, e ao lado há um estojo com uma caneta-tinteiro para cada um. A tarefa será escreverem três páginas no livro, com páginas em branco, e trazê-las consigo no dia seguinte. Sugerimos que caminhem pelos lugares onde se sintam bem, e escrevam suas impressões sobre o que irão encontrar. Bom dia à todos!

Continua.......






O Shabat: Um Tempo de Encontro com Deus, na Perspectiva de Heschel e Jesus

  Ilustração: Seaart AI   O Shabat: Um Tempo de Encontro com Deus, na Perspectiva de Heschel e Jesus Paulo Cardoso* 1. ...