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quinta-feira, 5 de março de 2020

O Amor na Política, faz sentido?


Afinal, o que é a política, senão a essência mesclada na expressão de poder, da sociedade em que se vive? Pode, no entanto,  o amor, um sentimento pessoal ou interpessoal, interferir no cotidiano coletivo de uma sociedade, de uma civilização? Onde fica este sentimento banalizado ou idolatrado, no trato com a coisa pública? Por que o político fala mais em realizações materiais, e poupa divagações que possam ser interpretadas como vazias, populistas, piegas, como falar em amor, por exemplo?

Creio que a resposta pode ser mais uma sequência de perguntas, que nem os próprios políticos sejam capazes de definir: Mencionar o amor como plataforma de uma campanha pode cair no ridículo, e ele ser tratado por doido, sonhador, vazio. Uma campanha política, pela natureza de sua tradição, deve contemplar elementos sólidos, e no máximo, ideológicos, posturais, pragmáticos, exequíveis. Então, ainda que imateriais, os movimentos políticos são sempre racionais, e o amor não é racional. Será? vamos entender o amor no seu significado através dos tempos.

Quando falamos de amor, tomamos como referência, não a palavra, mas o sentido dela, que se traduz, na maior parte das vezes por sentimento afetivo, por algo que proporcione prazer, e que, segundo o senso comum, proporcione recíproca, isto é, que saiba e possa devolver no mesmo grau de intensidade, o ato de afeto ao favorecido. Nessa leitura, quem recebe amor, torna-se devedor à quem dá esse amor. Então, na política, já há outro tipo de dívida entre eleitor e eleito, que não necessariamente implicam em sentimento de afeto. Assim,, se amor é gratidão, e gratidão é dívida do coração, há o agravante que o eleitor torne-se devedor ao eleito, quando o contrário deveria ser melhor empregado, mas sendo a eleição nada mais que a escolha dos representantes da coisa pública, que devem à si próprios o cuidado com aquilo que pertence a si próprios, compartilhada com os demais, e assim, não deveria ser visto como gratidão, nem de um lado, nem de outro, o ato de eleger-se alguém, mas apenas um cumprimento de rodízio de tarefas para os cuidados e a gestão da sociedade.

Se analisarmos o amor, a partir do idioma e do entendimento filosófico grego, fracionaremos o termo em quatro palavras: Eros, Fileos, Ágape, e Storge, onde Eros é o sentimento físico e afetivo de intensidade quase mensurável, entre um homem e uma mulher (hoje a sociedade exige que vá-se além disso, o que não é a pauta desta reflexão); o Fileos é o sentimento de irmãos, de amigos, de uma fraternidade ou grupo afim;  Ágape é o sentimento de bem querer universal, da humanidade, de D-s pelo Ser Humano, e vice versa, e por fim, Storge é aquele sentimento, necessidade do filho pela mãe. Isso era o amor na Grécia, e nenhum destes adjetivos complementares estava inserido no discurso da "Polis", da coisa pública. A República estabelecia normas e protocolos do homem e sua convivência social, mas afeto era algo desnecessário à causa social e dos negócios de estado.

É no judaísmo que iremos encontrar uma definição que se ajusta perfeitamente ao ideal do Homem Público (atenção analfabetos intelectuerdas: "Homem", no sentido antropológico): A palavra "Ahavá", que traduz-se por "Doar-se", comprometer-se, envolver-se. Então, aquilo que chamamos apenas, e para tudo, de "amor", que por pulverizar-se desta forma, se esvazia no excesso de conteúdo, e quando chega aos corações, pouco resta para o destino que deveria ser dado á palavra. Assim, no hebraico, a palavra Ahavá implica em uma doação contínua e se endereço pessoal, que pode ser aplicada à política, o genuíno ato de doar-se por outrem, esvaziar-se para preencher outro vazio, desprender-se do manto para que outro seja aquecido.

Amor deveria ser a regra de ouro da verdadeira política, e sendo um adjetivo, na ação torna-se um verbo, e de verbo passa a ser a ação por inteiro. Amar e promover amor não significa distribuir flores ou pegar criancinhas ao colo para ganhar o voto das mamães, mas prover às mamães que tenham segurança para que o colo dos filhos sejam pelo prazer e não pela defesa. Para que o prato à mesa seja farto, e nele nada falte, posto que divinamente distribuído. Para que o debate seja um digno espetáculo de propostas, e não um festival de pancadaria moral.

Amor na política faz com que a política seja mais política e menos os políticos. Mais a causa e menos o causador. Mais o povo e menos os que se valem do povo. Ou não?


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