Ele
foi Chefe de Gabinete do Prefeito Waldemar Frederico Weber, aos
dezessete anos de idade, no início da década de 1970. Logo depois,
foi nomeado Secretário-Geral do Município. Formado em Jornalismo e
em Gestão Pública, pela UCS, ocupou por dois mandatos o cargo de
Vice-Prefeito, e atualmente é Vereador, tendo sido até o fim de
2017, o Presidente da Câmara de vereadores de Gramado, o gramadense
Luia Barbacovi é, por consenso, um dos grandes personagens da
política gramadense dos últimos tempos.
Na
condição de Vice-Prefeito, com Nestor Tissot, o curso natural da
política apontava ele na direção de ocupar o cargo majoritário na
disputa à Prefeitura de Gramado, no último pleito, de 2016. Uma
manobra interna de seu Partido, o PP, alterou esta condição, e
tomado de surpresa, Luia vê sua natural carreira desmoronar-se,
dando lugar ao Ex-Prefeito, Pedro Bertolucci, que também, colhido de
surpresa, aquiesceu em aceitar mais uma candidatura, quando imaginava
ter encerrado sua participação do executivo de Gramado. Luis, no
entanto, soube engolir o choro, e surpreendentemente, candidatou-se a
Vereador, e naturalmente, foi eleito.
Nesta
sequência de entrevistas, Luia abre o espaço, e em breve, quero
conversar com os outros personagens deste capítulo da historia de
Gramado.
Pacard
- Luia Barbacovi, Vereador, foi Vice Prefeito por dois mandatos, com
Nestor Tissot, mas com longa carreira no Serviço Público, e um
currículo de paixão por Gramado muito extenso. Pela lógica da
política, deveria ser o candidato natural da UPG à sucessão de
Nestor, e numa virada surpreendente, ressurge Pedro Bertolucci, e
Jorge Drumm, como adicional de chapa, que desconcerta toda a lógica
até então vigente. O que deu errado?
Luia -
Naturalmente seria um candidato ao cargo majoritário, tanto por ser
vice oito anos,como pela experiência que tenho em relação ao
executivo municipal, bem como ser um apaixonado por Gramado e
participar das mais diversas atividades da comunidade.
Algumas
pessoas ligadas a cúpula partidária entenderam que o ex Prefeito
Pedro Bertolucci teria mais condições de vencer e assim articularam
está mudança. O que deu errado não posso dizer, pois continuo
trabalhando e me dedicando a Gramado, mas, com certeza, os
coordenadores da campanha teriam mais condições de
responder.
Registro que o Pedro foi correto comigo e acho que
perdemos a oportunidade de termos mais uma boa gestão, assim como
acredito que o Luia também seria um bom prefeito.
Pacard
- Podemos pensar que foi ingenuidade tua, em não imaginar uma
rasteira, como dizes, dos coordenadores do Partido (ou dos Partidos),
e que,esta eventual ingenuidade seria o aditivo que teria faltado
para que se tornasse o grande líder do PP, e consequentemente da
UPG, se este tirocínio estivesse presente? Faltou estratégia, de
tua parte, ou excesso de confiança?
Luia - Não. Fiz
a minha parte e meu trabalho, tanto que me tornei vereador
tranquilamente e continuo contribuindo com o Partido e com GRAMADO.
Cheguei até aqui acreditando na boa vontade das pessoas e assim, não
posso ser acusado de omisso. Estava a disposição. Quem perdeu foi
nosso município em não contar com ex prefeito experiente ou com um
cidadão que ama sua terra e teria condições de fazer algo a mais.
Pacard - Quando
assumistes a Presidência da Câmara, aparentemente houve um
movimento para anular tua força no Legislativo, construindo, de ti,
uma imagem de oposição frágil, mas eu mesmo ouvi que tu serias, em
determinadas circunstâncias, uma muralha mais forte, ainda que
silenciosamente, do que teus pares mais alvoroçados na tribuna. Como
te descreves na figura de opositor?
Luia - Tive
excelente trabalho a frente do Legislativo. Reformamos aLei Orgânica,
Regimento Interno, criamos as emendas Impositivas, diminuímos
mandato de dois para um ano. Criamos a Sala da Democracia,projeto
Arte na Casa do Povo , programa semanal de rádio e aí por diante.
Além disso reduzimos de 1,9 para 1,36 por cento a despesa do
Legislativo em relação ao orçamento do município. Fui forte e
conciliador, tanto que mantive um clima cordial e positivo na
Casa.
Ser a favor de Gramado e contra os interesses pessoais
fazem a diferença.
Pacard
– A lógica da política é que o Prefeito em fim de mandato,
empenhe esforços para que seu vice ocupe a cadeira na vacância,
pelo segundo mandato de Nestor, mas os fatos demonstram que não
houve nenhum empenho dele manifesto, que te posicionasse para
substituí-lo, o que significa duas coisas: Ou ele não teve
liderança suficiente, ou não teve interesse em execrcê-la, para
reduzir a possibilidade que tu vencesse, fizesse uma boa gestão,
fosse reeleito, e nesse caso, ele estaria fora da corrida por mais
quatro anos. Por esta leitura, como foi teu relacionamento com ele
(tomando como comparativo o atual relacionamento entre Evandro e
Fedoca, e a respeitosa divergência de motivação de um em relação
ao outro)?
Luia - Meu
relacionamento com o Nestor foi excelente. Assumi mais de 60 vezes a
cadeira ,ou seja, fiquei "prefeito"por mais de um ano.
Sempre respeitei e fui respeitado. A postura do Nestor na campanha me
parece que não mudou , porém ele também sofreu reves com a
derrota do Pedro, a exemplo de todo o pp
Pacard
– Que tipo de revés?
Luia - Quando se
tem boas gestões,como as nossas duas últimas, se espera vencer a
próxima e a derrota foi um revés, exatamente por que acreditávamos que após o excelente trabalho,teríamos continuidade.
Pacard
– Gramado vem atravessando uma sequência de problemas estruturais
de graves consequências, e a atual gestão de Fedoca tem que
dividir-se entre “apagar incêndios pontuais” e por em ação
suas próprias promessas de campanha. Sendo assim, e com críticas
tuas mesmo à questões como o recente episódio da CORSAN, o
Saneamento e despoluição de arroios e cascatas, o próprio Lago dos
Pinheiros, que já foi a “Menina dos Olhos” da UPG, o que vê que
tenha sido rescaldo de gestões da UPG, e onde apontaria como falhas
da atual gestão?
Luia - A questão
não são falhas e sim a comunidade sente falta de iniciativas e
obras. O Gramadense acostumou-se com a vanguarda e está vendo o
município vizinho constantemente na mídia,com notícias positivas e
boas iniciativas.
Foi criada um expectativa com o novo e,pelo
que parece, a população está esperando.
A UPG deixou muitas
obras iniciadas e outras com recursos para concluir. Passados dois
anos, nossa gente ainda aguarda que sejam concluídas.
Pacard
– Gramado sempre respirou uma dualidade muito forte, entre Direita
e Esquerda, ainda que veladamente, pois houve um tempo em que
fracionar estas linhas era politicamente incorreto, mas, mesmo assim,
o poder político sempre se fragmentou desta forma. Durante o período
da eleição, ainda era forte o sentimento de revolta com a linha à
esquerda, e foi esta mesma linha quem determinou a vitória de
Fedoca, que sempre se manifestou com muito apreço à herança
socialista de Brizola e outros líderes deste viés. Isso ficou
bastante visível quando formou sua equipe de trabalho com
personagens egressos do mesmo viés, de outros municípios, o que
proporcionou críticas e desconfiança dos eleitores pró UPG, em
relação aos aditivos de natureza socialistas impregnadas no
formato de gestão.
Com a virada nacional e desejo visível de
extirpação da era petista e pró-socialista, acredita que a próxima
eleição municipal também seguirá este viés, e se for este o
caminho, como ficará o PP, tão enredado nos escândalos com o PT, e
assim, permanecerá neste Partido, ou buscará outro caminho, o que
parece ser um ajuste natural, para manter-se alinhado à política
nacional?
Luia - A eleição
presidencial mostrou que a população está atenta. Não aceita mais
abusos, prepotência e velhas práticas políticas. A eleição
municipal pode refletir isso, porém não acredito que mudará muito
neste dualidade aqui existente.
De minha parte, participo das
ações partidárias e estou com meus companheiros. O futuro,acho que
haverão mudanças e fusões partidárias a nível federal que
poderão ter reflexos aqui.
Pacard
– Gramado tem duas crises que andam em picos e hiatos, como um
eletrocardiograma, e por coincidência, ambos estão ligados à
Saúde. O primeiro, é o fato de Gramado ser uma referência
internacional, e depender de penduricalhos jurídicos e
administrativos para manter em funcionamento do único hospital do
Município, sendo que vive aos sobressaltos pela possibilidade de que
o patrimônio seja vendido, e sempre por força de “canetaços”,
o Executivo impede que tal aconteça, mas o problema continua no fim
da fila para se agravar. Muitos tem opinado sobre a construção de
um hospital municipal, e tombamento da área do atual hospital, para
evitar que o local seja transformado em um resort ou algo do tipo.
Qual sua posição sobre isso, e que solução apontaria, caso fosse
Prefeito?
A segunda é a crise da água, que também urge por
uma solução que pense as próximas gerações, e que não deixe de
herança a estas, o legado de torneiras secas, um drama contínuo
desde muitos anos. Como vê a municipalização da água, e caso seja
Prefeito, como atuaria neste desafio?
Luia - Em relação
ao Hospital, acredito que a Prefeitura deva adquirir e transferir
para uma Comissão Comunitária ( criar entidade)que fará a gestão.
No futuro acho que poderá ser transferido de local em função de
logística. Mas isso é coisa para um futuro .
Em relação a
água, acho que devem se
r duplicados os dutos que trazem água
tratada de Canela.
Posteriormente fazer o saneamento do lago do
Parque dos Pinheiros e levar a água dali até uma futura estação
de tratamento que devemos construir em Gramado.
O contrato com a
Corsan deve ser revisto e FISCALIZADO.
Pacard
– Gramado tem se desenhado quase instintivamente, intuitivamente, à
medida que os desafios surgem. Assim, criam-se mecanismos de ajustes,
seja no campo legislativo, executivo, urbanístico, ou onde quer que
sejam necessárias ações de ajustes. Como vê a elaboração de um
grande plano de futuro para Gramado, com visão de uma, ou duas
gerações, onde sejam necessários esforços e até ajustes
administrativos, para que Gramado deixe de ser uma cidade de
remendos, para tornar-se, ao modelo de cidades europeias, referência
de qualidade de vida, ambiente, e sobretudo administrativa? Se
candidato, e se eleito, como faria um projeto assim, caso concorde
com a necessidade?
Luia - No
passado foi feito o projeto Gramado mais 50. A sociedade participou e
fez um planejamento muito bom e que foi seguido pelo Pedro e
Nestor.
Atualmente foi elaborado um grande trabalho que é a
Agenda Estratégica e de Mobilidade,pensando nos próximos 20
anos.
VaI ser analisado pela Câmara no início do ano.
Acho
importante e serve de norte aos gestores. Com um bom acompanhamento
da sociedade civil e organizada, teremos um bom documento.
Pacard
– Tu sempre esteve, e continua, ligado à Cultura. Várias críticas
ao desempenho desta Secretaria, no início da gestão de Fedoca,
mesmo tuas, mas percebe-se que houve avanços e a situação se
estabilizou. Agora, com o novo Governo Central, e com a proposta de
extinção do Ministério da Cultura, que era segundo muitos (opinião
que eu compartilho também), um “Xuxu no meio da pizza”, não
acrescentava nenhum sabor, e era um cabide de empregos de doutrinação
ideológica. Assim, como vê que a Cultura em Gramado possa respirar
sem sobressaltos, diante de tantos desafios mais urgentes, sob uma
eventual administração tua?
Luia
- Em relação a Cultura, vejo que o Ministério da Cultura se
mantinha com a Lei Rouanet, boa iniciativa,mas muito mal utilizada.
Uma estrutura enorme, porém contribuindo pouco com o segmento.
Em
relação a Gramado,vejo a Cultura num bom patamar,mantendo muitos
eventos que já existiam e iniciando outros projetos. Dentro do
contexto, acho que está num bom caminho.
Já em relação a
política, creio que o passado só serve como aprendizado.
Sou
Progressista e pretendo ser protagonista em 2020.