AD SENSE

domingo, 17 de novembro de 2019

Seitas, Partidos, ou Religiões?



Eu estava saindo de Israel, já no portão de embarque, quando um agente do Serviço de Defesa do aeroporto Ben Gurion abordou-me e pediu meu Passaporte. Examinou por alguns segundos, olhou pra mim, e fez uma pergunta em hebraico. E só soube responder: "Ani lo ivrit" (eu não falo hebraico). Perguntou-me então em inglês, quantos idiomas eu falava. "Um tantico só de inglês, um bocadinho de espanhol, e se falar bem devagarinho, talvez eu conheça alguns palavrões em italiano" (Evidente que respondi apenas "inglês, e um pouco de espanhol, e italiano, bem serio). Não se brinca com um agente da Mossad, com quase dois metros de altura, uma metralhadora a tiracolo, dentro de um aeroporto mais guardado que filha de estancieiro, cujo país precisa de uma redoma de mísseis e tecnologia para proteger, sob ameaça real de guerra por mais de vinte países à sua volta. Não se brinca mesmo. Então eu disse que era brasileiro, que estava no país à convite de uma empresa, para receber um treinamento, e que o dono da empresa era a pessoa que estava ao meu lado, um brasileiro, que vive em Israel há cerca de 40 anos. O varão examinou mais uma vez meu passaporte, olhou pra mim, apontou pra minha cabeça, e perguntou, de chofre: "Por que você está usando Kipá?" (Aquele chapeuzinho redondo, usado por judeus religiosos (ou não). Fiquei completamente estático, o sangue circulou ao contrário, e dava pra ouvir meu coração disparado, ecoando pelo imenso hall do aeroporto. Meu amigo então, percebendo que eu teria que trocar de cuecas logo a seguir, interviu, e disse ao agente: "Ele é de uma seita judaica, no Brasil!" O moço deu um sorriso, balançou a cabeça, e desejou-me uma boa viagem, devolvendo meu passaporte. É que na cabeça dele, é impossível imaginar que um judeu, fora de Israel, não saiba falar hebraico. Mas encerro aqui o relato, e digo, que pela primeira vez, na vida, fiquei feliz por dizer que eu pertencia a uma "seita".

Não guardo segredo da minha fé. Nunca guardei, mas também, nunca senti-me confortável em fazer proselitismo. Nunca gostei de debate doutrinário, e se em algum momento da minha vida, flertei com a apologética, já lembro pouco disso, porque defesa de doutrina nunca foi do meu agrado, defender aquilo que milhares de renomados teólogos o tenham feito de formas tão diversas e inteligentes, que qualquer coisa que eu disser a favor, ou contra, estaria apenas repetindo jargões, que deixar-me-iam em trapo, ao primeiro argumento desconhecido por, de alguma outra escola teológica contrária. Até mesmo dentro de minha própria convicção religiosa, percebi que existia uma apologética dentro da apologética, que defendia então minúcias dentro de minúcias, e tão bem argumentadas, que faziam-me parecer um idiota, culpado por minha absoluta ignorância, e inferior no proceder de minha conduta. Assim, esquivei-me tanto, que ao largo de certo tempo, dei-me por conta que estava cada dia mais e mais emaranhado numa teia de conceitos e preconceitos, que estava me esquecendo de D-s. Foi desta forma, que tirei o manto, outrora branco, mas agora encardido e amarelado, de minha busca pela santidade e pureza espiritual, e descobri que debaixo dele, havia um homem desnudo. Peladão, se quiserem fazer gracinha. Era eu. Sem roupagem religiosa, nem tampouco partidária, para proteger minhas vergonhas, do mundo.

De modo algum quero que seja interpretada esta leitura sobre intimidade com o debate em círculos, que é o debate apologético, com minha relação com o conjunto de doutrinas pelas quais entreteci minha trajetória moral e espiritual. São coisas absolutamente diferentes. Um coisa é o "modo de ser", e outra é a "razão por crer". Aqui estou no plano religioso, no qual sinto-me absolutamente confortável em me pronunciar, porque procuro manter a coerência entre o que eu penso, o que eu digo, e o que eu tento fazer. Então, não estou trazendo nenhuma doutrina nova, nenhuma nova "verdade", antes estabeleço que as verdades que construíram minha formação espiritual, sejam suficientes para manter-me em voo solo, como faço, sem a interferência mastigada de que "por pertencer à este ou aquele grupo deva pensar deste ou daquele modo". Absolutamente não. Quero meu livre arbítrio desimpedido para quando eu tiver que prestar contas de meus atos e de minha consciência diante do Criador, eu o faça com a solenidade do momento e com a esperança de uma vida inteira. Simples assim.

Estou, com isso, dizendo que aquilo que faz bem pra mim, deva ser do mesmo modo para meu querido leitor, ou minha perfumada leitora? De modo algum. A beleza do pensamento está na originalidade, ainda que seja esta orientada por esta ou aquela forma de agir, viver ou pensar. Não há demérito algum buscar modelos de outrem para consubstanciar nossas experiências, e como nosso tempo é exíguo, nada melhor do que ter outras experiências para agregarmos, e as chamarmos de "nossas". Então, sempre iremos encontrar uma causa à tudo o que vivemos, e causa, não no sentido de motivo, mas no sentido de origem, ato causador. E isso pode ser encontrando tanto em lições de contemplação na Natureza das coisas, quanto em exemplos deixados por quem tenha vivido da forma que desejamos viver.

A pergunta que abre este ensaio é se você segue uma Seita, um Partido, ou uma Religião? Vamos entender cada uma destas manifestações ideológicas, e saber em quais nós nos encaixamos, então.
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1 - Seitas
Aqui, irei transcrever a definição clássica de seita, mesmo porque não estou buscando locupletar-me em originalidade plena textual, mas trazer ao estudo as definições estabelecidas, para adiantar meu trabalho.
"Seita (latim secta = "secionar", "dividir", "sectar) de forma geral é um conceito complexo utilizado para grupos que professem doutrina, ideologia, sistema filosófico, religioso ou político divergentes da correspondente doutrina ou sistema dominantes.
O termo “seita” é usado amplamente e é aplicado a grupos que seguem um líder vivo que promove doutrinas e práticas novas e não-ortodoxas.
Segundo Peter L. Berger, seita seria a organização de um grupo contra um meio que consideram hostil ou descrente. O grupo então se fecha em um corpo de doutrinas e vê o restante da sociedade como inerentemente má ou pecadora, passível da ira divina, que inevitavelmente sobrevirá sobre eles. As seitas de orientação cristã usam as noções de pecado e santificação como forma de dar legitimidade discursiva aos neófitos e manter os que já são seguidores. A saída do grupo pode acarretar diversos efeitos psicossociais em decorrência do sentimento de solidão, de autoculpabilização e da hostilidade advinda do grupo que se está deixando. Sair de uma seita nunca é fácil porque ela exerce controle sobre toda a vida individual e coletiva dos indivíduos. As seitas, assim como as religiões instituídas, são agências reguladoras do pensamento e da ação, mas com a diferença de que na seita a regulação tende a ser mais totalizante, devido ao rígido controle que exercem sobre os sujeitos.
Embora o termo seja frequentemente usado apenas às organizações religiosas ou políticas, estende-se também à adesão a grupos militantes minoritários em tensão com a sociedade ampla."
Aqui quero discordar de Berger, quando diz que apenas pode ser chamado de "Seita" aqueles grupamentos, cujo líder ainda vive. Não é assim. Grande parte das seitas, nasce como tal após a morte de seu líder, e que em muitos casos, começa com doutrinas bastante mais simplicidade do que aquelas empregadas por seus sectários. O autor abraça firmemente a ideia que o cristianismo seja uma seita, e aqui preciso concordar, porque nasce a partir de um Líder, a quem denominam de Messias, e não vou entrar neste mérito, mas comprovar que é a partir desta referência que brotam todas as demais vertentes, e estas, sim, com seus ícones, vivos ou não. Os sectários constroem um "calvário", falso, ou verdadeiro, enaltecem o martírio, em lugar das vitórias, para com isso, constrangerem seus prosélitos, neófitos ou não, a ignorarem as ofensas, e enfrentarem os desafios, com bravura, ou com doçura, seja qual for a circunstância, ou o modelo empregado. Estes sectários chegam à extremos, e muitos deles chegam a provocar a ira dos antagonistas, para que os façam sofrer pelas injúrias, sejam elas físicas, ou morais, e este sofrimento é o fermento que ativa a massa, e as massas, dispostas a qualquer sacrifício, já não mais pela causa, mas pelo líder supremo que gerou a causa.
2 - Partidos
Partido político é um grupo organizado, legalmente formado, com base em formas voluntárias de participação numa associação orientada para ocupar o poder político.
É um grupo organizado de pessoas que formam legalmente uma entidade, constituídos com base em formas voluntárias de participação, nessa "democracia", segundo professor Lauro Campos da Universidade de Brasília; quando faz referência ao espectro ideológico, em seu livro, História do Pensamento Econômico, em uma associação orientada para influenciar ou ocupar o poder político em um determinado país politicamente organizado e/ou Estado, em que se faz presente e/ou necessário como objeto de mudança e/ou transformação social. Porém, segundo Robert Michels, em seu livro publicado em 1911, Sociologia dos Partidos Políticos, por mais democráticos sejam esses partidos, eles sempre tornam-se oligárquicos, esses partidos estão sempre sociologicamente ligados a uma ideologia, porém, nem sempre essa ideologia é pragmática e/ou sociologicamente exequível ou viável, pois muitas vezes carece de ambiente para seu desenvolvimento, o que demonstra segundo Lauro Campos, que os chamados Líderes partidários não se sintonizam perfeitamente com o povo e como que, como diz: "… tentam governar de costas para o povo e suas necessidades…".
Acho suficiente o conceito, e apenas esclareço, que nem todo Partido é uma "Seita", e nem toda "Seita" torna-se em Partido. Classifico aqui duas situações de atuação dos Partidos; Na primeira, os Partidos agregam militantes espalhados, que defendem determinada causa, ou candidato do momento, em caráter nacional ou regional, e que depois de passada a paixão da campanha, sublima-se sem alarde, e cada um volta pra sua função, ao seu "status quo ante", ou, como estava antes da eleição. Vou além, e na minha leitura não encontro mais partidos com ideologia plena, senão ajuntamento de políticos que buscam o poder, seja direto, ou de forma periférica, e que segundo a lei exije, há necessidade da criação de uma agremiação, à qual dava-se o nome de Partido, e hoje nem mais isso.
A ideia de "Partido" parece-me configurar motivo de vergonha, senão me digam, por que o Partido Progressista, agora se chama apenas "Progressista? Ou outros, a saber: Podemos? Patriotas, MDB, e por aí segue? Não são os mesmos integrantes, as mesmas lideranças, o mesmo estatuto, a mesma ideologia de antes, com apenas alguns ajustes? Não estou dizendo que está errado, apenas estou fortalecendo que a política começa a levantar as velas para outros ventos, onde os velhos costumes estão sendo, aos poucos, substituídos, modernizados, melhor ajustados com as novas tendências do povo de quem se servem.
Já partidos com ranço de tradição, fazem questão de manter o "P" para começar suas siglas: PDT, PRN, e por aí segue. O PDT mesmo, já nasceu como uma mágoa de não ter sido PTB, o Partido de Brizola e de Getúlio Vargas, criado por este último, como "um anteparo entre sindicatos e comunistas", segundo suas próprias palavras, e que foi extinto em 1964, com a Ditadura Militar, vindo ressurgir após a Anistia de 1982, onde Brizola perde a sigla para Ivete Vargas, sobrinha de Getúlio, e desde então seguem separados, onde aqui os classifico como seitas da "sociedade dos poetas mortos", porque cada um destes partidos tem o seu próprio panteão de divindades, mas não conseguiu prosperar, apesar de manterem suas ideologias intactas desde que foram criados.
3 - Religiões
"Religião (do latim religio, -onis) é um conjunto de sistemas culturais e de crenças, além de visões de mundo, que estabelece os símbolos que relacionam a humanidade com a espiritualidade e seus próprios valores morais. Muitas religiões têm narrativassímbolostradições e histórias sagradas que se destinam a dar sentido à vida ou explicar a sua origem e do universo. As religiões tendem a derivar a moralidade, a ética, as leis religiosas ou um estilo de vida preferido de suas ideias sobre o cosmos e a natureza humana.
A palavra religião é muitas vezes usada como sinônimo de  ou sistema de crença, mas a religião difere da crença privada na medida em que tem um aspecto público. A maioria das religiões tem comportamentos organizados, incluindo hierarquias clericais, uma definição do que constitui a adesão ou filiação, congregações de leigos, reuniões regulares ou serviços para fins de veneração ou adoração de uma divindade ou para a oração, lugares (naturais ou arquitetônicos) e/ou escrituras sagradas para seus praticantes. A prática de uma religião pode também incluir sermões, comemoração das atividades de Um Deus ou vários deuses, sacrifícios, festivais, festas, transe, iniciações, serviços funerários, serviços matrimoniais, meditação, música, arte, dança, ou outros aspectos religiosos da cultura humana."
Neste formato de agrupamento, posso acrescentar que quando um grupo de prosélitos, que tanto podem ser chamados de fiéis, ou militantes, age em defesa de suas crenças fundamentais (a cartilha de um partido, por exemplo, é uma crença fundamental),tendo, ou não um líder máximo, mas mata e morre por aquela filosofia (não sei se cabe aqui a palavra filosofia, que por si só não reconhece algo como verdade única, enquanto que uma religião defende sua apologética como redentora, única, e virtuosa), torna-se uma religião, mesmo porque, no extremismo da militância político-religiosa, viver ou morrer, tem o mesmo peso de importância, e quando prefere que outros morram para que sua causa sobreviva, e não existe uma crença fundamental ancestral entre o "certo e errado", nada se pode esperar que diga respeito à civilidade, no tocante ao respeito ao Ser Humano na sua integralidade, senão que ele é apenas humano enquanto servir à sociedade, trabalhando pelo Partido, e sendo necessário, morrendo pela causa. Nas religiões, os prosélitos matam e morrem por, e em nome de seus deuses e suas doutrinas. Na política acontece o mesmo. Por isso, talvez, que o adágio popular diz que "política e religião não se discute".
Quem é você neste contexto? Um sectário? Um político, ou um religioso? Ou ainda apenas alguém que faz parte dos três grupos, e espera ansiosamente pelo início da próxima campanha para vingar-se de seu político odiado, ou extorquir seu político generoso, ou finalmente, identificar-se com aquela pessoa que sintoniza com suas aspirações, e o representará junto aos demais, no lugar adequado para chamar de "Casa do povo"?
Está você disposto a empunhar uma bandeira, e cerrar os dentes em batalha por alguém que nem sabe o seu nome, onde você mora, ou quantas colheres de açúcar põe no café? Está disposto a defender com unhas e dentes uma agremiação que tem um perfil na sua comunidade, e outro completamente diferente no cenário nacional? Sabe você quanto está contaminado este candidato, pela ideologia que você mesmo abomina? O quanto irá beneficiá-lo, com seu envolvimento comunitário, a saber, trabalhando para tornar realidade as suas aspirações?
Seita, Partido, ou Religião? À qual delas você vai dedicar seu tempo, sua honra, seus valores, seus bens, e sua integridade, a defender?
Nas sociedades de pensamento totalitário alinhado ao antropocentrismo individualista, contrária ao Teocentrismo Universalista, não é muito pensar em que ou o indivíduo serve à causa, ou a causa defenestra o indivíduo, condenando-o ao ostracismo, tornando-o um pária, ao ponto de expropriar-lhe bens, valores, e família, como medida protetiva dos valores constituídos pelo Partido, tornando-o neste ato, e nos demais mencionados, como uma religião, cujos clérigos não passariam nem na grande porta da esperança, quanto menos no fundo de uma agulha.


sábado, 16 de novembro de 2019

PACAIO, e o Futuro das Redes Sociais , no Primitivismo da Nossa Ansiedade


Imagem - Digital Zombie (Internet)

Quando eu era menino, tínhamos, em sala de aula, uma brincadeira muito bobinha, chamada PACAIO, que era um acróstico de: Paixão, Amor, Casamento, Amizade, Ilusão, e Ódio. Funcionava assim: Alguém passava ao seu grupo de amigos (panelinha mesmo) uma folha de caderno, onde deveriam anotar o nome de seis amigos, em ordem crescente numérica, de um a seis. A folha era devolvida, e então, o fator surpresa era identificar o número correspondente à letra, e assim, o primeiro da fila, correspondia à paixão, e assim por diante.

Devo testemunhas que tal lista nunca correspondeu aos fatos, e até onde sei, nenhum nome citado na lista correspondeu à expectativa do enunciado, ou seja, ninguém casou com outro ninguém, e também, qualquer relação de ojeriza entre colegas, ficou no passado e não caracterizou uma profecia das ciências ocultas de gurizada ingênua, ocupando as horas ociosas, entre as enfadonhas aulas de matemática ou geografia.
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Era um princípio de relacionamento virtual. Só acontecia no faz de conta de folhas soltas de papel, e assim que eram descartadas, ninguém mais lembrava qual posição ocupada na ordem dos vaticínios sentimentais uns dos outros.

O tempo passou, as crianças cresceram, os velhos descansaram, e outras crianças nasceram. Os ciclos e os círculos continuaram a se mover, e a tecnologia acelerou nossas vidas. E a vida nos emprestou mais, muito mais conhecimento. E nosso conhecimento nos fez embarcar em novos costumes. E os novos costumes criaram as redes sociais. E as redes sociais criaram novas formas e dinâmicas de relacionamento. E nós percebemos que estávamos sós, isolados por bits e bytes, dominados por Smartfones, e nos embrenhando em grupos imaginários de amigos débeis, de amizades estéreis, e de repetição de nossas necessidades de pertencermos à grupos que antes nem sabíamos que existiam. E muitos nem existiam mesmo. Então nós os criamos. Quando não há uma guerra para um exército, este exército não tem mais razão de existir. então criamos expectativas de guerra, e aceleramos a ansiedade coletiva, para motivar nossos generais que sejam de fato generais, e para que nossos soldados se tornem guerreiros. E para que nossos líderes, se empenhem em fortalecer suas lideranças. E para que criemos um medo coletivo, para assegurar-nos de que será pelo coletivo que libertaremos os medos. Os medos que nós mesmos criamos. Como uma vacina de uma praga que nunca aconteceu.

Nós somos os geradores do medo, assim como robôs cibernéticos criam o gerador de "lero-lero", uma máquina virtual que gera discursos sem sentido, nosso gerador de "lero-lero" coletivo gera fatos hipotéticos, que nos levam a buscar soluções virtuais. Nas no fim de tudo, somos as mesmas crianças tentando descobrir pelo sortilégio das coincidências, quem nos ama e a quem supostamente odiamos.

O mundo mudou, a tecnologia mudou, o saber se multiplicou, as casas subiram umas nas outras, e não pisamos mais no chão de nossas aventuras pueris. Não corremos mais dos vira-latas das ruas, antes os recolhemos para que as ruas não lhes sirva de mortalha.

Não procriamos mais ao modo convencional, porque há os que procriam irresponsavelmente por nós, e tal como num grande supermercado, podemos optar pela adoção de um Ser Humano, que pensa, questiona, recusa, aceita, age, interage, trai, ama, simula, protege, decepciona, ou por um patudo cheio de pelos, que pula em nós, se enrosca, lambe, ronrona, late, e que sem o menor pudor iremos chamá-los de "filhos", seremos, não mais seus "donos", mas seus "tutores", e nos dirigiremos à nós mesmos, nas redes sociais, como "humanos", e não mais pessoas, crianças, homens, velhos, mulheres, moças, rapazes, e outros adjetivos que nos classifiquem como tal. Diremos deles em relação à nós: "O meu humano". Ora, não é isso uma completa inversão de valores? Não é isso um completo deboche do Criador, D-s (Deus), que nos criou à Sua Imagem, conforma a Sua Semelhança, para que nos tornássemos senhores deste mundo, que o guardássemos, que o protegêssemos, e que o tornássemos um lugar melhor? Ou será que a descrença em Um Criador nos transformou em parasitas do vazio, cujos valores possam ser simplesmente jogados ao lixo, em nome do "Politicamente correto", enquanto que politicamente correto deveria ser tratarmos em primeiro lugar daqueles que se assemelham à nós em comportamento, mas são iguais em espécie humana?

O mundo mudou, mas a solidão fez brotar um reino diferente do animal, vegetal, mineral, e fungi, o reino inanimado mental. Inanimado mental é a espécie de seres que perambula como aqueles arbustos secos que passam rolando pelo chão nos filmes de faroeste, secos, sem vida, inúteis e mortos, que apenas se movimentam porque estão no modo automático. E estes seres que nos tornamos, estão no último suspiro de sua humanidade, ansiosamente buscando uma superfície para respirar, como alguém que afundou na água, e não fazem ideia de como isso pode acontecer, não sabem quando nem como será esta grande virada. Pois eu digo à você, que a virada começa quando começamos a pensar, questionar, formular perguntas, sem preocupação com as respostas.

Quem somos? Onde estamos? De onde viemos? Para onde iremos? São estas as perguntas que deveríamos fazer e não fazemos, então os teóricos de conspirações tomam nosso lugar em nossa mente, e mentem descaradamente, sobre nossas origens, nossa existência, e nosso destino. E nós nos desesperamos em percorrer os buscadores da web, nos deparando com bilhões de respostas, que não respondem a nenhuma das perguntas que deveríamos fazer.

Nos debatemos com minhocas do pensamento, cujas cabeças e cloacas são iguais, e o que entra numa e sai na outra, tornam-se idênticas, quando não sabemos o que buscar. Uma flecha solta no espaço, sem origem, não vai a lugar algum, e se não houvesse o efeito gravitacional, permaneceria girando continuamente em ziguezagues excêntricos por todo o infinito. Nomos estes ziguezagues, mas que em algum momento amargamos as consequências da inanição e do ostracismo, e mergulhamos no vazio existencial que este mundo caótico nos oferece.

Estou exagerando? Os suicídios dizem que não. O esvaziamento da família me diz que não. O distanciamento da justiça, da espiritualidade, e da vergonha de admitir que existe um certo e um errado a nos guiar, são respostas à essa inquietude das almas sonolentas ao nosso redor, à nossa própria alma tão inquieta quanto letárgica que conflita consigo mesma, no vai e vem vazio das tardes e das manhãs que nos arrastam para uma ladeira enlameada, cujo final é um penhasco sem volta.

Demos sorte que não fomos formados á imagem de um macaco, que encolhe-se e joga bosta naquilo que teme, mas somos forjados do mais duro barro, moldados como a mais fina porcelana, pelas mãos do Criador dos mundos, que criou um espelho vivo, e neste espelho gerou Sua imagem  semelhança, e chamou de Paulo, Pedro, Joana, Maria, Elisabeth, e assim bilhões de outros espelhos, que refletem cada um uma imagem diferente em um modelo único, chamado de "Humanidade".

Assim, as redes hoje sociais, tendem a voltar-se às redes individuais, não mais binárias e frias, mas  multicelulares e vivas, pulsantes, necessárias. Deste modo, talvez, ao menos por resgate de nosso humanidade diluída, tornemos às folhas de papel, buscando nomes para preenchermos as pessoas, cujos sentimentos sejam de novo PACAIO.

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quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Quem são os nossos heróis?



Quando eu era pequeno, que me enfiava na casa dos amigos mais abastados, ricos, mesmo, e nos meus valores, eram ricos aqueles que tinha TV na sala, geladeira na cozinha, e uma prateleira cheia de "Vidros-Veeck" na sala, como um painel de sabores a encherem os olhos das visitas. Não apenas me enfiava, como sentia-me um membro da casa, da família, com direito a pedir mais uma fatia de salame e queijo durante o jantar, fato bastante corriqueiro, nas saudosas lembranças de meu crescer feliz. Eu me beneficiava desta relação, especialmente porque podia  assistir meus programas favoritos (todos os programas eram favoritos, pois não havia muitas opções, com apenas dois canais de Tevê disponíveis), e meus programas mais favoritos ainda, eram os que tinham heróis, daqueles com máscara e capa mesmo. Suas armas poderiam emitir raios laser (eu nem sabia o que era um raio laser, mas adorava ouvir o "bzzzz" que sincronizava com o feixe luminoso que fritava monstros do espaço). Então haviam outros heróis, mais selvagens, como o Tarzan, que voava entre as árvores, suspenso em cipós, que pareciam ser quilométricos, e vestido apenas com uma tanga de pele de tigre, com uma faca na cintura, e uma força descomunal, tacava-le pau na bandidagem, sempre assessorado por uma macaca, chamada "Chita". Daí, minha concepção que para dar de pau na mediocridade, você não precisa de um grande aparato tecnológico do futuro, mas uma tanga, para cobrir as vergonhas, uma faca, para dosar as palavras e cortar os excessos, e uma macaca, como conselheira, você é um herói de enorme grandeza.
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Eu era menino, pobre, fraquinho, sujinho, dos pés empiriricados, orelhas sujas, e fedendo a mijo, mas eu queria ser um herói. Os anos passaram. Tarzan foi guardado nos rolos de celuloide de algum galpão que já nem existe mais. O raio laser tornou-se corriqueiro, e eu até tenho alguns aqui nos meus computadores, então nem há mais necessidade de vestir roupas prateadas cm capacete de vidro inquebrável, para manusear o raio, e os heróis, outrora inocentes, foram transfigurados em vilões com máscara, para saciar a sede de sangue das vítimas que clamam por justiça. No meu tempo de menino, os heróis nunca matavam ninguém, e toda a pancadaria que sofriam, os fazia parecer de silicone, porque não se via sangue. Até matavam, pra dizer a verdade, mas matavam de longe, em tiroteio, que não mostrava cérebros explodindo em 3 dimensões. Já os heróis de hoje, passam o filme inteiro no analista, tendo "flashbacks" (aquelas lembranças dos filmes) sobre as cachoeiras de sangue e pancadaria destruidora que promovem em seus confrontos. Nossos heróis, ainda que tenham os mesmos nomes de antes, são mais como personagens da série "Mad Max", onde estourar cabeças é a dinâmica de cada cena. O que aconteceu com nossos heróis? Por que mudaram tanto?

Nossos heróis nunca mudaram, porque heróis de nossa imaginação são as nossas frustrações espelhadas debaixo das máscaras que não ousamos arrancar, pelo medo de desnudarmos a nós mesmos debaixo delas, e não sermos capazes das proezas que os vemos fazer, porque cremos naquilo que não conhecemos, em lugar de conhecermos àqueles em quem devemos crer, nesse quesito de heroísmo, ou seja, à nós próprios. Nossos heróis não usam mais espadas, porque a invasão de facilidades na oferta de armamentos tão mais ousados nos seus efeitos, torna os objetos pontiagudos que faziam companhia à capa e máscara, completamente obsoletos. Daí, nossos heróis de hoje, não os da tela, mas o da realidade que é quase tão assustadora quanto a ficção, senão ainda mais, são aqueles pelos quais continuamos a sofrer, nos angustiamos em cada episódio que assistimos, porque, diferente dos filmes e das séries de nossa infância, não importava quais seriam os desafias, mas sabíamos que no fim, tudo sairia bem, tudo daria certo. Nossos heróis reais tem a solidariedade de nossas incertezas, com as suas, pois nem eles sabem, e nem nós imaginamos qual será o desfecho de suas façanhas. É aí que entram em cena os outros heróis, os heróis auxiliares, os combatentes pelos flancos: Nós mesmos, heróis de nossos heróis, que nos transformamos, de vitimas indefesas, à gladiadores invencíveis, e em nosso socorro defendemos aqueles que desejam nos socorrer, quando na verdade são eles apenas agentes de nossa vontade debaixo das máscaras que não usamos mais. Máscaras escondem nossa identidade, mas ousadia revela nosso caráter, Nossos heróis nos chamam de seus heróis e nós, heróis de nós mesmos, nos chamamos do jeito que quisermos. Como eu já disse outro dia, todos os heróis são tímidos, mas nossa intrepidez pisoteia a timidez que nos acovarda, para nos transformarmos de cordeiros em leões, num piscar de olhos, quando somos chamados à ação.

Tudo isso é lindo, mas e como se aplica esta definição em tempo de eleição? Como defino se a pessoa em quem vou depositar minha confiança, pelo voto, tem vocação para heróis, ou é um impostor bem produzido? Não tem, porque ninguém que se apresenta como "libertador", Salvador da Pátria", "Exterminador de corruptos e Marajás", ou "Seu amigo pra todas as horas", nem de longe passa pela prateleira dos heróis, para buscar sua capa e espada, mesmo porque, máscara ele já tem. O verdadeiro herói é silencioso, não se manifesta, senão pelos efeitos de seu heroísmo, e ninguém que busca a honra irá encontrá-la, senão aqueles que fogem dela, serão pela honra procurados, diz antigo ditado talmúdico. Então, ninguém é herói por antecipação, senão pela sua participação e determinação em submeter-se ao pente fino de caráter circunstanciado pela sua conduta, ainda que em silêncio, pois ética é aquilo que se faz quando ninguém vê, é a boa educação quando não há recompensas a receber. Ninguém usa faixa da vitória antes de começar a corrida, embora muitos candidatos gabam-se do que fizeram, como se fosse isso motivo de glória, pois se o fizeram e precisam lembrar as pessoas de seus feitos, não o fizeram com intenção de servir, mas de cobrar aquilo que não lhes devem. Servir é um ato de generosidade, mas quando você precisa ser lembrado, passa a ser uma marca de egoísmo, em lugar de heroísmo. São palavras homófonas, mas que se confrontam principalmente em tempo de campanha.

Se estamos falando de candidatos, vale observar os que gastam a maior parte de seu discurso forçando sua memória a lembrar o que eles fizeram, mostrar ruas que abriram, leis que promulgaram, creches que abriram, valores que implantaram. Estes jamais serão heróis, porque precisam de auto-elogios do passado para justificarem o futuro. Não há nada de errado em usar os feitos do passado como testemunho de competência e caráter, mas que sejam outros que o digam, e não eles próprios. Que invistam seu tempo e a paciência dos eleitores a debaterem suas propostas para o futuro, e que saibam que uma investigações breve nos anais de seus mandatos e vidas profissionais ou empresariais, descortinam suas entranhas até à última dobrinha do intestino, e é o que sai de suas bocas, e não o que entra nos seus ouvidos, que fará a diferença e os avaliará, pela história, no tipo de heróis que foram: O que sonhavam ser, ou o que necessita da máscara para não mostrarem quem são. Para este tipo de "heróis", que tem peçonhas para beijar pessoas, a melhor máscara é a verdade, que quando cai, nem eles mais se reconhecem no espelho.

Que tipo de herói é você? Para quem você é herói? Quem é seu herói? O preço do que fez e joga na sua cara, vale o seu voto para vê-lo repetir tudo de novo? Vale pensar!


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Diariamente recebo sugestões de pauta, que nem sempre são do interesse editorial deste espaço, e examino com muita cautela qualquer manifestação em temas de natureza polêmica. Certa ocasião, quando ainda tinha um semanário, um antagonista foi procurar o Ministério Público, para exigir que eu publicasse as matérias tendenciosas que enviavam para a redação do jornal, e eu, como Editor revisava-as uma a uma, e na grande maioria, descartava, e não as publicava. Ora! O fato muito indignou meus adversários, que acreditavam, pelo poder da Justiça, forçar-me a publicar aquilo que eu não desejava e não estava em minha linha editorial. Não se tratava de que eu concordasse ou discordasse, pois nem sempre estou de acordo com aquilo que eu mesmo publico,m as o faço, pelo interesse do debate. Pois bem! A resposta do Promotor, que também não achava que eu fosse a pessoa mais agradável do mundo, e que disse-me com claras letras, que lia tudo o que eu publicava, e que no dia que eu publicasse algo fora da Lei, ele me processaria, foi que: "Ainda que o Presidente da República caísse morto na porta da redação, se eu não quisesse publicar, eu não tinha essa obrigação, porque quem escreve, é responsável por aquilo que escreve, e não pelo que deixa de escrever (e publicar)".

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Os tempos aceleraram a liberdade, e o excesso de liberdade, a liberdade descontrolada, sem responsabilidade, acelerou a libertinagem, os excessos, e o desmazelo com o maior de todos os atributos inerentes ao Ser Humano: A fala! É através da fala que nos tornamos uma civilização atrás da outra. São as línguas que separam ou unem as pessoas, e depois destas, os costumes, o comportamento social, e por fim, as leis do país ou do lugar. Mas tudo começa com a fala, e a escrita é a forma de armazenar as palavras para não esquecê-las, e falar delas mais tarde. Então, a escrita é a fala três vezes: A primeira, ao pensar. A segunda, ao escrever, e a terceira, ao ler e transformar vocábulos gráficos, em sons, e sons em palavras.

Como uma casa é erguida sobre esteios, seguidos das paredes, e finalmente o teto, assim também as palavras constituem a casa do pensamento compartilhado, e como tal, segue certas regras de construção, para que umas palavras sejam atreladas a outras, e neste comboio de vocábulos, andando, como uma locomotiva, sobre trilhos, é que comunicam-se os seres racionais, a saber, o Ser Humano, a saber, você e eu. Esta comunicação compreende a estrutura do funcionamento da vida em sociedade, e para o bom convívio nesta sociedade, há padrões que facilitam o entendimento entre as pessoas, no convívio equilibrado, sustentado pela justeza do que é dito para que de justeza se firme como justiça, e para que como justiça, pelo mau emprego das palavras, seja transformado o viver em conjunto como punição pela desestruturação de um sistema, que bem funciona, quando funciona bem com todos.

Os tempos mudaram, acelerou-se o saber, a ciência (conhecimento) foi esquadrinhado (meticulosamente investigado), e a ânsia por falar, mais do que ouvir, invadiu o comportamento, antes formal, para o informal, e a Última flor do Lácio, inculta e bela", vulgariza-se como um trem descarrilhado, e arrasta pelo caminho, como um vendaval, varrendo a delicadeza, a elegância, o esplendor das citações vernaculares, respeitosas, ainda que no contraditório, que varrem os tribunais e as tribunas, onde quem as ocupa, imaginam-se diante de uma panteão de iracundos titãs à espera de afrontas para libertarem a fúria que queima em suas entranhas, e neste linguajar tosco e pueril, encontrarem suas vitórias diante de estupefatos  pares e magistrados, que cada dia mais encontram-se perplexos e inaptos a promoverem aquela justiça que estudaram durante a jornada acadêmica.

Em tempos de outrora, ainda que sob o frágil manto da precariedade de conhecimento, era o cuidado com a agressão fortuita, com o aparato verborrágico, até mesmo a manifestação acusativa em tribunais, lapidada com o cuidado em bater firme na ação do sujeito, sem pisar na dignidade, ainda que cercada de culpa, do sujeito da ação, e mesmo que resultasse sua retórica refinada em condenação, tais floreios exaltavam o respeito à dignidade humana, ainda que sob a batuta da correção aplicada. 

O mais se agrava quando as paixões viscerais que floreiam os discursos, e seu relato, e o hálito incandescente ultrapassa as fronteiras que a liturgia do ofício demanda, no ato de tais oratórias. Quando a Justiça se torna palco de espetáculos burlescos, e o defensor vitupera o acusador, ainda que ambos e todos vistam portentosas Togas,  descem, no âmago da oratória ao mundo das trevas, no tocante ao respeito mútuo, invocando forças estranhas ao ambiente sagrado da Justiça e da Ordem.

Quando mesclam-se desejos de expandirem à sociedade sua ansiedade por defesa de seus pacientes, ao suporte inevitável dos meios de comunicação, esta amálgama é o abrir das cancelas de uma loja de departamentos em dia de promoção e queda de preços das mercadorias. Há uma invasão de emoções que impede o pleno raciocínio, em detrimento da busca por resultados, em muitos casos, no desespero de causa, com um último estertor de possibilidades de reverter a culpa e retirar as sentenças pela inculpabilidade arremessada ao olor das ofensas pessoas e interpessoais.

Ninguém se livra das paixões, combustível para a animosidade, assim como ninguém também é inocente quando a causa primária cessa, e acontece o rescaldo dos ofendidos, buscando justiçar os ofensores. Eis o que ocorre todos os dias, em todos os tribunais. 

Por esta razão, gosto mais de escrever do que falar, porque no teclado, posso ser gago, como sou, porque o tempo de buscar a palavra que falta ao texto é o tempo da reflexão se é aquela mesma palavra que eu quero usar no ensaio. Erro menos quando penso mais. Erra mais, quem dispensa a liberdade de acertar, não pensando nas consequências dos erros. 
Portanto, Pense!


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terça-feira, 12 de novembro de 2019

Quando uma voz se multiplica por uma causa - A liberdade como Bandeira




Triste povo, o que precisa de heróis. Bem-aventurado o povo que faz de si próprio o herói que buscava. Heroísmo é aquela ação que excede nossas forças, ou as forças externas em nosso cuidado, em situação de extremo perigo. Ninguém nasce herói. A situação o torna herói. E nem sempre o herói é o que está certo, mas é o que ultrapassa seus e nossos limites para agir em tempos de crise. Herói nem sempre é inteligente, bonito, ou fala com timidez (a ser analisado pela psicanálise: por que todo heróis, no seu disfarce de vida real, é alguém muito tímido, o que nunca termina bem com a namorada, ou que tem uma situação em conflito não resolvida?). Às vezes o herói pode ser alguém que surge do inesperado e que toma atitudes desesperadas por causas impossíveis.
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Havia uma causa: "O veado desgarrado e apátrida, disputado e acolhido, sem entender nada do que estava se passando - O "Chico"! A causa era conseguir convencer a opinião pública a comover-se com o caso, e agir em favor da proposta de tomar o "Chico" de um lugar, porque fora tomado de outro, pela arbitrariedade da Lei, e fazê-lo ser devolvido, a quem quer que fosse, por força do coração, independente da razão. E a razão dava guarida ao hospedeiro escolhido, enquanto que o coração dos que o entregaram mansamente, ao perceberem o vazio deixado, e pela injusta desigualdade de forças que competiam pela guarda de "Chico", começava a gritar alto, tão alto, ao ponto de convencer-me, por aliados do primeiro hospedeiro, a tornar-me o agente desta convicção pública quanto ao ocorrido. Foi o que fiz: escrevi, do meu jeito de escrever, opinando sem opinar, mas dando minha opinião, escolhendo as palavras certas, para elaborar o texto adequado, e lancei ao vento, envolto em argumentos que colocasse meus leitores e seus amigos, em suas redes sociais, a adotarem para si a causa de  ampliar esta mobilização, até que chegasse aos personagens capazes de decidirem favoravelmente à ação proposta. Meu trabalho terminou ali. Fiz o que sempre faço: levanto perguntas que suscitam outras perguntas, e em poucas horas, milhares de pessoas, desconhecidas entre si diretamente, adotaram incondicionalmente a causa de "libertar o Chico" (acho que já vi isso em algum lugar, mas não lembro exatamente onde , deu um "vermelho" na minha memória). Bem, o "Chico" continua ainda recebendo brioches de aveia com leite de Rena da Lapônia, com sequilhos flambados e alpiste torrado caramelizado, em um cenário de conto de fadas, talvez até gostando da situação, contando como benefício acrescido o fato de que tem uma rena velha ali que talvez até durma ao seu lado nas noites quentes de verão, para espantar-lhe as moscas e lamber-lhe o cangote. Afinal, ele é um meninote ainda e precisa de conselhos sobre a vida ainda.

Mas, e o herói, onde fica? O herói é um corpo coletivo, capaz de dizer "sim" a uma causa, e mobilizar-se em conjunto com dezenas, centenas, e milhares de pessoas, não importando as consequências que acarretará para os envolvidos, começando consigo próprio. As pessoas não se mobilizam por pessoas ou animais. As pessoas se mobilizam e criam revoluções por causas. Se você quiser criar um ajuntamento, crie uma causa, e atire as galinhas às raposas. Depois, vá contar as penas, pois as raposas não estarão interessadas se as galinhas eram inocentes ou não. Raposas devoram galinhas, e pessoas militam em causas porque veem outras pessoas gritando as mesmas palavras de ordem, e como o Ser Humano tem pavor da ideia de sentir-se só, agrupa-se, e grita junto: "Mata, Esfola" Come as tripas!". E aí, as galinhas, cujas tripas fedem demais, já estarão sendo lambidas pelos bandos combinados de todas as raposas da floresta. Quando não houver mais galinhas para esfolarem, as raposas se dispersam, e cada uma sai trotando seus passinhos curtos, para suas tocas, á espera de um novo alerta de galinha para depenar, ou causa para participar.

Chico não é uma galinha, e as pessoas envolvidas não são raposas. Usei uma metáfora, para demonstrar que, antes de entrar numa causa, há necessidade de avaliar a dimensão daquela causa, o alcance dos resultados, e o poder de resposta dos adversários. Serei objetivo, prático, pragmático: O parque que recebeu o animal, não errou ao receber. A equipe da SEMA, não errou ao confiscar, nem tampouco errou ao encaminhar para quem, de acordo com seus registros, estaria legalmente apto a fazê-lo. Não errou a família que tomou atitude de denunciar o que considerava anti-ético, o fato do parque recebedor transformar o animal em espetáculo, e auferir lucro mediante sua apresentação durante os espetáculos que promove (acho que promove, nunca botei os pés no lugar), e tampouco errou quem começou a mobilização por devolução do animal à sua habitação de origem. Errou quem então?

Errou e errou feio, errou vergonhosamente, o departamento de marketing do parque, ao tomar as atitudes agressivas que tomou:
1 - Com a enxurrada de críticas, lacrou a página nas redes sociais>
2 - Ao abrir novamente, deu respostas agressivas, antipáticas, ameaçadoras, falando em "medidas judiciais cabíveis", não considerando que não existem medidas judicias que caibam em críticas à comportamento de ambiente aberto ao público, senão por excessos eventualmente cometidos, tais como: ofensa à moral de pessoas, injúria ou difamação caluniosa por eventuais agressões ao patrimônio, ou por grave ameaça á pessoa. Não houve nada disso. Houve o desabafo triste, sofrido, melancólico, de pessoas que, ainda que não conheçam nem o "Chico", nem seus cuidadores anteriores, foram movidos pela sensibilidade tão frequente diante de injustiças à indefesos, visto tantas vezes nas redes sociais. Aqui, a sensibilidade dos envolvidos, dezenas de milhares deles já, compreendeu que faltou sensibilidade ao parque em, já no primeiro momento, promover ações que minimizassem o problema, tais como: Destinar parte dos ingressos em determinado dia à instituições filantrópicas de Gramado e de São Francisco de Paula; ou, promover o dia da "Visita ao "Chico", agora com outro nome, e promover aulas de educação ambiental, explicando para as crianças e jovens as razões porque não se deve ter animais exóticos sem o amparo da Lei; ou convidar a população para que visitem o "Chico", com ingressos facilitados e campanhas de doação de alimentos, ou tantas outras campanhas, que transformariam o limão em limonada. E todos sairiam fortalecidos. Mas não foi isso que aconteceu, e pela forma agressiva, antipática, prepotente, que a direção tratou o assunto, fez-se necessária a formação de um corpo de heróis, de audazes, de valentes, de letrados, de Organizações pelo Direito dos Animais se manifestassem, em lugar de um simples comunicado, uma declaração que amenize o assunto, escrita com palavras certas, pouco técnicas, mas tomadas de afetividade, e sobretudo com humanidade, mostrando que atrás dos murros e das cercas do lugar, batem corações e corações sinceros, pois parece à mim, e aos leitores, muito, muito estranho, que um lugar que cobre ingressos elevados para vender a ideia de um lugar feliz, repleto de amor, trate a realidade como um fórum, onde quem argumenta mais, desmerece quem argumenta menos.

Não seria o caso do corpo de heróis reconhecer que não haverá vitória judicial, mas que a quem não sabe o que é um sorriso, deve-se emprestar um?  A voz se multiplicou e a liberdade do Chico, é a bandeira. Só que Chico é um apátrida. Está condenado a ser confinado em um palco de luzes e purpurina. Não pode ser solto no campo, pois pode mesclar-se à espécies endêmicas, e procriar uma nova raça na região. Afinal, ele não é touro, cavalo, Galinha, Peru, ganso, todas espécias "nativas" e que "nunca se misturaram. E a outra solução, seria radical demais, um absurdo: Castrá-lo!  Isso o deixaria imenso de gordo, voz afinada, e sujeito a "bullying". Não! Melhor a prisão purpurinada. Pelo menso tem as tias e quem sabe uma delas não lhe tá uma chance e nasce mais um "chico", para que ganhem mais dinheiro? A ser pensado.

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domingo, 10 de novembro de 2019

Leviatã - O Tamanho do Estado e a Transformação Política




Leviatã é o livro mais famoso do filósofo inglês Thomas Hobbes, publicado em 1651. O seu título se deve ao monstro bíblico Leviatã. O livro, cujo título por extenso é Leviatã ou matéria, forma e poder de um Estado eclesiástico e civil, trata da estrutura da sociedade organizada. 
Hobbes alega serem os humanos egoístas por natureza. Com essa natureza tenderiam a guerrear entre si, todos contra todos (Bellum omnia omnes). Assim, para não exterminarmo-nos uns aos outros será necessário um contrato social que estabeleça a paz, a qual levará os homens a abdicarem da guerra contra outros homens. Mas, egoístas que são, necessitam de um soberano (Leviatã) que puna aqueles que não obedecem ao contrato social. 
Nota-se que um soberano pode ser tanto uma pessoa quanto um grupo, eleito ou não. Porém, na perspectiva de Hobbes, a melhor forma de governo era a monarquia — sem a presença concomitante de um Parlamento, pois este dividiria o poder e, portanto, seria um estorvo ao Leviatã e levaria a sociedade ao caos (como na guerra civil inglesa).(Fonte: Wiki)
O Estado tornou-se agigantado com tal dimensão, que a autoridade fragmentada torna-se por si só, uma ditadura, um totalitarismo, e à medida em que se emaranha na própria teia, um autoritarismo despótico irreversível, causando, com isso, insegurança jurídica, instabilidade social, e desânimo patriótico. O que vemos nos acontecimentos recentes vai muito além das paixões por um e outro lado das diferenças tão gritantes que levam às ruas a resultante destas paixões acéfalas.
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O agigantamento do Estado faz gerar impostos excessivos e injustos. Suga da produção, da qualidade de vida, do posicionamento e competitividade de mercado, tanto interno quanto externo, de tal modo, que os governos, em lugar de se preocuparem em prover investimentos e melhoramentos ou manutenção da infraestrutura do Estado, consome-se em justificativas jurídicas, em embates ideológicos, que passam longe do âmago da questão, e ainda mais da defesa da honestidade em xeque de um e de outro lado, fazendo com isso, esvair-se o rendimento, e avolumar a discórdia. É como um paciente em estado avançado da doença, que necessita, de um lado, tomar antibióticos poderosos para não sucumbir à próxima febre, mas que no outro braço tem conectado um litro de nutrientes, para que o corpo sobrevida ao ataque, tanto da doença, quanto do remédio forte, e cheio de efeitos colaterais.
O Estado brasileiro e latino-americano foram apanhados num tsunami esperado e previsto, mas sem força nem aparato de reação. É como avisar que uma represa vai desabar sobre uma casa, e a fenda se abre a olhos vistos. Não se pode fazer nada para impedir, e não é uma questão de "se", nas de "quando" o desastre vai ocorrer. Assim funcionam as profecias, que são sobrenaturais, mas também as previsões, que usam métodos científicos, para anteciparem certos acontecimentos, ainda que inexoráveis, e tudo o que resta ao povo é aumentar a fé, e acreditar que desgraça só acontece com quem está longe, mas que quando cai sobre a própria pessoa, é perguntar-se: "Por que comigo?".
Na minha leitura otimista dos fatos, Direita e Esquerda perceberiam que o que fazem é danoso ao Estado, ao Povo. Que a Direita seria menos paixão e mais empenho em restaurar sua ideologia com moldes de inteligência, para elaborar um projeto cinquentenário de estabilidade, justiça, e tranquilidade. Já a Esquerda, neste modo de examinar as coisas, seja ela de oposição ou situação, perceberia que a veneração de ícones e pseudo-mártires, defendendo impunidade para uns e punição exemplar para outros, contanto que "uns" sejam de suas fileiras de luta, e "outros", os adversários. Só que, infelizmente não está acontecendo assim, não porque veja que este ou aquele grupo seja melhor pu pior, mas porque vejo que que este e aquele grupo estão insuflados pelo ódio, um pelo outro, e que ódio mútuo nunca foi cenário para diálogo, e o caos, como uma chama imorredoura, prolifera-se nos barris de pólvora espalhados pela nação.
Aqui, Hobbes, bem descreve o Leviatã como o Estado, que se agiganta, mas não supre suas necessidades, e que seus filhos servem como alimento para que o mesmo Estado continue vivo. E o Estado não se sustenta mais nesta dualidade destrutiva, que de democracia nada mais tem. E então Hobbes propõe que o absolutismo seja a solução para o caos estabelecido. E a solução de Hobbes está sendo aplicada já na América latina, por exemplo, no Peru, onde o Presidente em um canetaço, fechou o Congresso, e a Suprema Corte, porque estavam, a olhos vistos, mancomunados e acorrentados pela corrupção, engavetando inclusive processos da Lava-Jato brasileira, que denunciava propinas às suas autoridades e políticos.
O eventual fechamento das casas legislativas e do judiciário, seria até mesmo um alívio a eventuais políticos e magistrados enredados em chantagens de seus próprios atos vergonhosos, pois com o fechamento temporário, para investigação por uma corte militar, o que é constitucional, libertaria estes também corruptos e subornados eventuais, do jugo de seus corruptores.
É uma situação hipotética, mas factível e no pensamento de Hobbes, necessária, para que o Lobo pare de devorar outro Lobo, e também o povo, como sobremesa. Talvez sejam as Forças Armadas, requisitadas pela população, o "audaz cavaleiro em seu cavalo brando de Justiça", que deceparia a cabeça deste Leviatã, para alívio dos encarcerados em leitos de hospitais, em corredores sobre trapos ao chão, para os aposentados com seus minguados proventos á mercês de lobos escroques que  lambem gota a gota de seus proventos antes mesmos de serem retirados pelas financeiras famintas, em lugar de libertarem os enjaulados por mal-feito aos inocentes, por corrupção, por crimes hediondos, que se beneficiam de arrastão porque cinco juízes se blindam na auto-divindade, e destroçam o direito de justiça por parte dos inocentes, dos que pagam impostos, dos que não fazem arruaças, e que edificam, com sangue  e suor, os pilares de uma nação, cuja criança deva amar com fé e orgulho a terra onde gostariam de viver livre e soberana. Mesmo porque, em caso de abuso de autoridade, e má gestão pública, é mais fácil destituir um governante indigno, do que tentar transformar centenas de parlamentares com esta má índole, em um Parlamento confiável. Note-se que até mesmo os ditadores se consubstanciam pelo Parlamento e Judiciário manipulável. Deve sim, haver um supremo mandatário, com mandato de quatro anos e impedido de reeleição. A qualquer tempo.

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sábado, 9 de novembro de 2019

Não precisamos de heróis terceirizados- Precisamos ser os nossos próprios heróis



Nem vou filosofar de saída. Vou direto ao ponto. Esmagadora maioria de contemporâneos meus, de juventude, dos tempo da guaraná com rolha, que atravessaram os anos 70, e eram, assim como eu, deslumbrados pelos cabelos compridos dos rapazes, os vestidos coloridos e floreados das moças, mas principalmente pela ideia de que se nos rebelássemos contra o regime militar, se contássemos piadas infames de milicos, à sombra do anonimato, estaríamos contribuindo de corpo e alma para uma contra-revolução, uma libertação do regime, e a tradução de uma pátria livre, de uma América livre, hoje, esta esmagadora maioria, que como eu, acreditava no socialismo moreno, já não pensa mais deste modo. E não, não fomos subornados. Ninguém nos pagou para reavaliarmos nossos conceitos, e redesenharmos nossas opiniões. Mas não pensam mais assim, como eu não penso mais do modo que pensava.

Nunca fui comunista, mas devo confessar que a ideia de uma sociedade equilibrada, onde não haveria miséria, nem riqueza absurdamente distante do alcance de que qualquer pessoa que, por meritocracia, alcançasse sucesso, era algo que fascinava. E, e muitos amigos meus. Mas o tempo mudou. Nossos valores se transformaram, à medida em que nos casamos, geramos filhos, e construímos a sociedade que éramos capazes de construir. Fizemos sim, a nossa revolução, mas bem diferente do modo que as palavras emaranhadas dos intelectuais de então desenharam para que as repetíssemos. Até as repetimos, por certo tempo, mas o choro dos bebê no meio da madrugada, e as contas batendo à porta, logo cedo, pela manhã, pouco a pouco foram nos afastando dos ideais poéticos, e nos encaixando na realidade factível.

O tempo passou. Passaram as crises. Passou a vida, e continua a passar, não por nós, mas em nós. Nos instruímos, cada um a seu modo e lugar. Hoje nossos sonhos são contrastados com a possibilidade de os realizarmos por nós mesmos, sem esperar por milagres sobrenaturais (milagre é sempre sobrenatural), mas estribados no alcance de nossas pernas, na resistência de nossos braços, e na ânsia pelos sonhos dos que vieram depois: os nossos filhos.
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Hoje, através deste movimento alucinado de "Nós contra Eles", em que Direita e Esquerda se digladiam, vemos como espelhos do passado, os nossos próprios retratos, e são as nossas mãos quem seguram as mãos dos que sonham em nosso lugar, e nos defrontamos com contemporâneos que permaneceram congelados no tempo, e tornam-se os novos guias cegos, que gritam para que sejam ouvidos, e sejam seguidos por outros que ouvem, sem nada dizer. É decepcionante o paradoxo de vermos quem antes nos apaixonava, hoje nos apiedar, não o sabemos se por ignorância ou má fé. É decepcionante encontrarmos nossos ícones do passado, amordaçados pelo cego fanatismo, hibernando sobre livros mofos resgatados dos porões da ignomínia, e entregando-se em sacrifício por semideuses da discórdia, por brados de guerra que desejam ver, por gente que já esteve em nossas doces lembranças dos tempos de nossos próprios sonhos.

O mundo mudou, e nós nem sempre fomos capazes de mudar com a escola do pior do mundo. O mundo mudou porque pessoas mudam o mundo. Algumas, buscam doar-se para melhorar a sociedade. Outras buscam roubar a ânsia pela vida daqueles que necessitam de heróis. Não precisamos de heróis. Precisamos ser nossos próprios heróis, cada vez mais. Não precisamos de heróis inflados, que são levados pelo vento, e estouram na primeira adversidade que encontram. Nossos heróis não são aqueles que apenas um elementos os torna vulneráveis, uma "Kriptonita", mas somos os heróis onde tudo à nossa volta é "Kriptonita", e apenas um ponto nos torna vencedores: O nosso caráter! Não precisamos de mártires vazios de decência e cheios de ódio acumulado para construir a nossa sociedade. O que precisamos é de regarmos a semente que nos moveu na juventude em busca de equilibrio social e moral, e adaptarmos à sabedoria que a experiência nos legou.

O mundo muda a cada tecla de nossas cartas à vida, e são as mesmas letras que usamos para compor novas canções a cada dia. As mesmas letras, mas em novas palavras. Dia a dia, olhamos para o passado e tentamos localizar o "erro matriz", o nosso "pecado original", e o que encontramos são apenas sulcos e pegadas que deixamos atrás de nós.Até ai não há problema. O problema parece estar em que os que vem atrás de nós, não tenham discernimento ou vontade para abrirem seus próprios caminhos, e sigam os nossos mesmos erros, repitam as mesmas palavras, cantem as mesmas canções, em um dissonante coro que apenas  encaixa seu ritmo, tempo, e voz, nos madrigais regidos por outrem.

Não precisamos de novos maestros que movimentem suas batutas e nos ordenem que cantemos do jeito que eles determinarem. O que precisamos é sermos solistas de nossa inquietude, ainda que mil solistas nos cerquem com seus próprios solos. Verdade, que parecerá dissonante em um coro, mas o mundo é dissonante em suas ideias também. Precisamos cantar as nossas próprias canções, com a experiência da maturidade, com o mesmo vigor da juventude.

Não precisamos de heróis terceirizados pelos Partidos, mas precisamos terceirizar nossa identidade para que nossa voz seja ouvida, ainda que entre outras milhares, milhões, ou bilhões de outras vozes, cujos cantos são livres e cuja ,liberdade não vá além da liberdade dos que cantam ao nosso lado.







Minha "quase esposa" do Tadjiquistão

Pois parece um pesadelo doido, mas o fato deu-se como verdadeiro. Eis o causo: No cotidiano da faina, lá pelos idos de 2012, recebo pelo mes...