Imagem - Digital Zombie (Internet)
Quando eu era menino, tínhamos, em sala de aula, uma brincadeira muito bobinha, chamada PACAIO, que era um acróstico de: Paixão, Amor, Casamento, Amizade, Ilusão, e Ódio. Funcionava assim: Alguém passava ao seu grupo de amigos (panelinha mesmo) uma folha de caderno, onde deveriam anotar o nome de seis amigos, em ordem crescente numérica, de um a seis. A folha era devolvida, e então, o fator surpresa era identificar o número correspondente à letra, e assim, o primeiro da fila, correspondia à paixão, e assim por diante.
Devo testemunhas que tal lista nunca correspondeu aos fatos, e até onde sei, nenhum nome citado na lista correspondeu à expectativa do enunciado, ou seja, ninguém casou com outro ninguém, e também, qualquer relação de ojeriza entre colegas, ficou no passado e não caracterizou uma profecia das ciências ocultas de gurizada ingênua, ocupando as horas ociosas, entre as enfadonhas aulas de matemática ou geografia.
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Era um princípio de relacionamento virtual. Só acontecia no faz de conta de folhas soltas de papel, e assim que eram descartadas, ninguém mais lembrava qual posição ocupada na ordem dos vaticínios sentimentais uns dos outros.
O tempo passou, as crianças cresceram, os velhos descansaram, e outras crianças nasceram. Os ciclos e os círculos continuaram a se mover, e a tecnologia acelerou nossas vidas. E a vida nos emprestou mais, muito mais conhecimento. E nosso conhecimento nos fez embarcar em novos costumes. E os novos costumes criaram as redes sociais. E as redes sociais criaram novas formas e dinâmicas de relacionamento. E nós percebemos que estávamos sós, isolados por bits e bytes, dominados por Smartfones, e nos embrenhando em grupos imaginários de amigos débeis, de amizades estéreis, e de repetição de nossas necessidades de pertencermos à grupos que antes nem sabíamos que existiam. E muitos nem existiam mesmo. Então nós os criamos. Quando não há uma guerra para um exército, este exército não tem mais razão de existir. então criamos expectativas de guerra, e aceleramos a ansiedade coletiva, para motivar nossos generais que sejam de fato generais, e para que nossos soldados se tornem guerreiros. E para que nossos líderes, se empenhem em fortalecer suas lideranças. E para que criemos um medo coletivo, para assegurar-nos de que será pelo coletivo que libertaremos os medos. Os medos que nós mesmos criamos. Como uma vacina de uma praga que nunca aconteceu.
Nós somos os geradores do medo, assim como robôs cibernéticos criam o gerador de "lero-lero", uma máquina virtual que gera discursos sem sentido, nosso gerador de "lero-lero" coletivo gera fatos hipotéticos, que nos levam a buscar soluções virtuais. Nas no fim de tudo, somos as mesmas crianças tentando descobrir pelo sortilégio das coincidências, quem nos ama e a quem supostamente odiamos.
O mundo mudou, a tecnologia mudou, o saber se multiplicou, as casas subiram umas nas outras, e não pisamos mais no chão de nossas aventuras pueris. Não corremos mais dos vira-latas das ruas, antes os recolhemos para que as ruas não lhes sirva de mortalha.
Não procriamos mais ao modo convencional, porque há os que procriam irresponsavelmente por nós, e tal como num grande supermercado, podemos optar pela adoção de um Ser Humano, que pensa, questiona, recusa, aceita, age, interage, trai, ama, simula, protege, decepciona, ou por um patudo cheio de pelos, que pula em nós, se enrosca, lambe, ronrona, late, e que sem o menor pudor iremos chamá-los de "filhos", seremos, não mais seus "donos", mas seus "tutores", e nos dirigiremos à nós mesmos, nas redes sociais, como "humanos", e não mais pessoas, crianças, homens, velhos, mulheres, moças, rapazes, e outros adjetivos que nos classifiquem como tal. Diremos deles em relação à nós: "O meu humano". Ora, não é isso uma completa inversão de valores? Não é isso um completo deboche do Criador, D-s (Deus), que nos criou à Sua Imagem, conforma a Sua Semelhança, para que nos tornássemos senhores deste mundo, que o guardássemos, que o protegêssemos, e que o tornássemos um lugar melhor? Ou será que a descrença em Um Criador nos transformou em parasitas do vazio, cujos valores possam ser simplesmente jogados ao lixo, em nome do "Politicamente correto", enquanto que politicamente correto deveria ser tratarmos em primeiro lugar daqueles que se assemelham à nós em comportamento, mas são iguais em espécie humana?
O mundo mudou, mas a solidão fez brotar um reino diferente do animal, vegetal, mineral, e fungi, o reino inanimado mental. Inanimado mental é a espécie de seres que perambula como aqueles arbustos secos que passam rolando pelo chão nos filmes de faroeste, secos, sem vida, inúteis e mortos, que apenas se movimentam porque estão no modo automático. E estes seres que nos tornamos, estão no último suspiro de sua humanidade, ansiosamente buscando uma superfície para respirar, como alguém que afundou na água, e não fazem ideia de como isso pode acontecer, não sabem quando nem como será esta grande virada. Pois eu digo à você, que a virada começa quando começamos a pensar, questionar, formular perguntas, sem preocupação com as respostas.
Quem somos? Onde estamos? De onde viemos? Para onde iremos? São estas as perguntas que deveríamos fazer e não fazemos, então os teóricos de conspirações tomam nosso lugar em nossa mente, e mentem descaradamente, sobre nossas origens, nossa existência, e nosso destino. E nós nos desesperamos em percorrer os buscadores da web, nos deparando com bilhões de respostas, que não respondem a nenhuma das perguntas que deveríamos fazer.
Nos debatemos com minhocas do pensamento, cujas cabeças e cloacas são iguais, e o que entra numa e sai na outra, tornam-se idênticas, quando não sabemos o que buscar. Uma flecha solta no espaço, sem origem, não vai a lugar algum, e se não houvesse o efeito gravitacional, permaneceria girando continuamente em ziguezagues excêntricos por todo o infinito. Nomos estes ziguezagues, mas que em algum momento amargamos as consequências da inanição e do ostracismo, e mergulhamos no vazio existencial que este mundo caótico nos oferece.
Estou exagerando? Os suicídios dizem que não. O esvaziamento da família me diz que não. O distanciamento da justiça, da espiritualidade, e da vergonha de admitir que existe um certo e um errado a nos guiar, são respostas à essa inquietude das almas sonolentas ao nosso redor, à nossa própria alma tão inquieta quanto letárgica que conflita consigo mesma, no vai e vem vazio das tardes e das manhãs que nos arrastam para uma ladeira enlameada, cujo final é um penhasco sem volta.
Demos sorte que não fomos formados á imagem de um macaco, que encolhe-se e joga bosta naquilo que teme, mas somos forjados do mais duro barro, moldados como a mais fina porcelana, pelas mãos do Criador dos mundos, que criou um espelho vivo, e neste espelho gerou Sua imagem semelhança, e chamou de Paulo, Pedro, Joana, Maria, Elisabeth, e assim bilhões de outros espelhos, que refletem cada um uma imagem diferente em um modelo único, chamado de "Humanidade".
Assim, as redes hoje sociais, tendem a voltar-se às redes individuais, não mais binárias e frias, mas multicelulares e vivas, pulsantes, necessárias. Deste modo, talvez, ao menos por resgate de nosso humanidade diluída, tornemos às folhas de papel, buscando nomes para preenchermos as pessoas, cujos sentimentos sejam de novo PACAIO.
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