AD SENSE

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

O Silêncio ensurdecedor



A Democracia é o argumento dos tiranos para calarem as discordâncias de seus oponentes. Em nome da Democracia usa-se a barbárie. Em nome da paz, faz-se a guerra. Em nome da Justiça, ocorre a violência. Em nome da verdade, surge o silêncio.

O mundo vive momentos de solene transição. Só que, como um menino que ganha excessiva liberdade antes da maturidade, às vezes troca os pés pelas mãos, e atropela a própria liberdade pela incontida fúria pela vida, pela ânsia de abrir horizontes e derrubar muralhas, ao que chama de "Romper com o Sistema".

É esta liberdade e desejo de mudar o mundo que move gerações e transformam o mundo. É natural e saudável que haja inconformidade com o que não sintonize com o compasso de nossas vidas. É natural e compreensível que haja excessos nesta ânsia por mudar o "status quo", a condição dominante, e nestes movimentos em espirais que parecem andar em círculos, mas estão se abrindo e se distanciando do centro de origem, formando gerações confusas e sem rumo, em muitas oportunidades.

O desconforto da continuidade é necessário para quem está fora, mas também para quem é a substância que constrói a civilização. O pensamento respaldado pela adrenalina e hormônios da juventude são os pilares que estruturam as edificações da humanidade, desde que o mundo é mundo.

É neste burburinho de ideias que se fundamenta o equilíbrio da experiência. É neste grito de dor do crescimento que urge a importância do equilíbrio e da sabedoria dos que nos antecedem, para que sejamos conduzidos com segurança e relativamente inteiros à nossa maturidade moral, física, social, econômica, e sobretudo, política.

É aqui que arde a pimenta. Equilíbrio político, financeiro, moral, social e familiar é tudo o que foi colocado a ferver neste caldeirão imundo chamado sociedade contemporânea. Tudo aquilo que uma geração atrás conhecia como íntegro, tornou-se "politicamente incorreto". Tudo o que uma geração atrás entendia como seguro, tornou-se obsoleto. Tudo aquilo que uma geração atrás via como futuro, tornou-se instantaneamente passado. Roubaram de nossa geração o presente. Roubaram de nós o tempo de reflexão, para que desenhemos o futuro. Não temo poder de prever o futuro, mas temos a oportunidade de construí-lo. Só que não se constrói futuro quando se destrói o passado, e se pisa no presente.

E de quem é o presente, senão de nós mesmos? E quem governa este presente senão aqueles que o começaram no passado? E de quem será o nosso futuro, senão  daqueles que nos guiarão  na velhice?

É aqui que entra minha reflexão política. Aqui traço a linha divisória entre aquilo que é a ânsia por mudanças daqueles que conduziram os novos governantes ao seu pódio, e a expectativa daqueles outros que assistem estupefactos o triunfo sobejar em suas decepções, porquanto pensavam e ainda pensam diferente.

Uma eleição é um fogo ingrato, porque tanto pode queimar na direção do oponente, quanto, ao mudar do vento, lamber com suas chamas os próprios vencedores. 



Não se enganem os eleitos que apenas por estarem no pódio, sejam vencedores de todas as disputas. A mais ingrata das disputas está no recôndito do silêncio da solidão que gera um silêncio ensurdecedor diante das adversidades e variáveis que a responsabilidade impõe aos que carregam os louros.

O silêncio nem sempre é uma estratégia favorável. Antes da tempestade da noite, há uma assustadora calmaria. Nem os animais da noite enfrentam este agouro. O silêncio às vezes é ouro. O silêncio às vezes é medo.

A sociedade começa a especular. A imprensa busca vestígios. Os blogs elucubram. Por que o novo governo não mostras seus Ases? Por que tanto mistério em torno do elenco que transformará Gramado para as próximas gerações? Por que as pessoas têm medo de assumir que gostariam de participar desta transformação? Medo de serem dispensáveis, ou ânsia pelo inusitado para que o glamour da chegada tenha mais brilho?

Não pergunto isso com intenção outra senão a de construir a proposta que haja transparência até mesmo na escolha do "casting" que representará os atos ao longo do espetáculo que representará o presente de nossa história, ao futuro daqueles que nascerão a partir deste tempo.

Estamos contando e analisando a história enquanto ela acontece, para que possamos compreender cada passo, e julgarmos as medidas com o mesmo cânon com que mediram para ali  chegarem. Isso não é oposição. Não se faz oposição àquilo que não se conhece. Não se faz oposição à pessoas, nem mesmo à ideias, mas à atitudes, se contrárias. Então, não há nenhum tipo de oposição até aqui. Porque desconhece-se a face e o pensamento à que se insurgirão os oponentes.

Há um silêncio ensurdecedor na plataforma pessoal de Fedoca e Evandro.  Mas há a expectativa que toda grande apoteose só acontece pelo êxtase do inusitado. Piadas também são assim.


quarta-feira, 16 de novembro de 2016

O Desafio humano de Fedoca - Reforma administrativa



Quando era menino, excetuando as férias de verão, um dos períodos mais animados do ano, era o início das aulas. Era um misto de expectativa boa e ao mesmo tempo ruim, pelo início das aulas. A expectativa boa era imaginar como seriam os novos professores, colegas, estudos. Era ainda o cheirinho de plástico novo, aquele que encapava livros e cadernos. Também os apetrechos novos para enfrentar os rigores do inverno, como capa de chuva, guarda-chuva, boné, lanterna (para quem estudava à noite), os livros novos, os cadernos, lápis de cor, a caneta-tinteiro, tudo cheirava a novo.

Outra expectativa eram os professores: seriam bonzinhos, ou carrascos? A professora de ciências seria tão querida quanto à do ano anterior? E as aulas de português, seriam animadas, com muita literatura, ou chatas, com aquela verborreia gramatical, análise sintática, e  recitação de verbos?
O melhor e o pior era a expectativa quanto aos colegas. Seriam os mesmos do ano anterior? Aqueles meninos malvados continuariam na turma? Aquelas meninas empavonadas continuariam sentando lá na frente para puxar o saco didático dos mestres? Os amigos legais continuariam a sentar-se próximos para se protegerem das meninas arrogantes e dos malvadinhos da sala? Aquele abobado, metido a saber de tudo e se meter em tudo, continuaria na turma?  A merendeira, seria ainda a querida Dona Ermelinda? A Dona Hilda?

Começar o ano era um desafio, um êxtase, um luminar de vida e continuidade. Uma oportunidade para testar a maturidade. Tempo bom. O novo sempre tem tudo isso: dois lados , um bom, um ruim, e um terceiro obscuro.


Para escrever meus ensaios, faço pesquisas. Converso com pessoas, leio notícias recentes e antigas, e com estas informações e até mesmo opiniões, reestruturo minhas reflexões. O foco nesse momento continua sendo o novo governo em Gramado, até porque para falar mal do Temer e do Trump, além de execrar o Lula e o PT, já tem uns 200 milhões de pessoas. Não  faço nenhuma diferença. Vou escrever então para quem vá ler o que escrevo, e constato, com alegria e responsabilidade dobrada, que sou lido por muita gente. Lido e respeitado, o que me deixa feliz e expectante, como quando era pequeno e iniciava o ano letivo, com livros novos e uma capa de chuva estalando de nova também.

E em minhas pesquisas, leio um artigo publicado pela Rádio Gramado FM, a partir de uma reunião havida entre Fedoca e Evandro, então  candidatos, falando sobre os novos métodos de sua administração, no tocante aos servidores públicos, sejam eles concursados ou não. Aliás, temos uma péssima cultura de tratar com pesos diferentes um concursado e um comissionado, como se um fosse divino e outro satânico. Não são. Nem um caso e nem outro. A função exercida, se votada pelo Legislativo, e decretada pelo Prefeito, torna-se justa e Legal. Um e outro tem problemas e virtudes. Então penso que deveríamos dar um ponto final nessa questão. E qualquer um deles que agir fora de seu limite de civilidade e ética, que seja punido dentro dos rigores da Lei. E pelo bom cumprimento de suas funções, que seja louvado com os benefícios da Lei. A Lei e a capacidade apenas.

O texto diz assim:

"Na sua saudação, Fedoca disse que o Plano de Governo da Oposição é fruto de inúmeras consultas junto à comunidade e reflete o que querem e como irão dirigir os trabalhos, de uma maneira coletiva. “Nos apresentamos como Oposição exatamente por não concordarmos com os métodos de administração empregados até o momento”, destacou Fedoca."
http://gramadofm.com.br/gramadofm/fedoca-e-evandro-apresentam-plano-de-governo-para-servidores-municipais/

Pois bem. Já apresentei aqui as dificuldades iniciais da formatação dos quadros destes servidores, até porque não é apenas nos cargos comissionados que a dança das cadeiras acontece. Também entre os concursados, que, com exceções específicas, se encontram à disposição do humor e olhar crítico do novo Prefeito, que poderá tanto trazer novos assessores retirados do meio político e politiqueiro também (em geral os politiqueiros são bons "X-9", dedo-duros, e necessários para o olhar atento do Prefeito nas Secretarias para conferir com os relatórios oficiais), como promover em comissão os próprios servidores concursados. Isso deve, no entanto, ser uma exceção, pois um servidor concursado, em geral, está mais preparado para a transição e a continuidade do emprego das metodologias e rotinas administrativas, sem as quais, a Prefeitura quebra em poucos dias.


Uma política com sabedoria então, mesclaria um percentual destes servidores, pactuando com eles que sejam os "X-9") que mencionei, simplesmente porque seus empregos  não  dependeriam de bajulação, mas de seriedade. Isso seria, de um lado, uma forma legal (dentro da lei) de assegurar o bom cumprimento de tarefas pelos comissionados, mas por outro lado poderia estabelecer uma certa tirania por parte dos concursados sobre os pobres comissionados, que vestiram a camisa, fizeram "bandeiraços", brigaram com os vizinhos, tiraram "selfies" e lotaram seus perfis, para ampliarem suas chances de pagarem as contas nos próximos quatro anos, pois temos que combinar que o salário pago pela Prefeitura de Gramado, bate inveja em muito servidor de estados pobres neste país.


O que Fedoca não disse é  como pretende remodelar a gestão funcional. Que carta na manga ele tem, e que o tenha eu não ponho em dúvida, mas a única certeza que possuo é que será de todo "a priori", isto é, intuitiva, por modelo teórico, considerando que esse tipo de relação com grupos de colaboradores diz respeito a quem já está embrenhado na prática de mexer com o Ser Humano no dia a dia. E isso definitivamente Fedoca não está. É um Profissional Liberal, bem sucedido nos negócios, mas até onde tenho conhecimento, seus negócios são ligados ao setor imobiliário e independem de estrutura humana volumosa para geri-los. E caso eu esteja errando pouco, Fedoca irá necessitar de um Secretário de Administração que tenha efetiva competência para gerenciar esta promessa de campanha, que me parece justa, humanizar, dinamizar, potencializar, otimizar o fluxo ativo do patrimônio intelectual do Poder Público. Insisto em dizer que o grande patrimônio de uma administração não são as máquinas, as edificações, ou as ruas asfaltadas. O grande patrimônio que o gestor público tem a oferecer à comunidade são os serviços prestados por uma equipe entusiasmada, feliz, humanizada e honesta.


Então, sob este prisma, e insistindo que Fedoca está com dificuldade de formar sua nova equipe, pelas razões que expliquei no ensaio anterior (veja em: O Trilema de Fedoca, dia 14/11/2016), tenho duas coisas a imaginar: ou Fedoca está escolhendo a pente fino sua nova equipe, ou está disposto mesmo a fazer uma revolução no aspecto humano e administrativo, e está debruçado em listas de servidores e suas competências para remanejá-los entre si, até que seus apoiadores políticos ofereçam vítimas para satisfazer o apetite da nova oposição, que não  vai poupar ninguém de sacrifícios. Seu novo algoz chama-se Ubiratã, que ao que tudo indica, deverá ser o Presidente da Câmara, cuja oposição será maioria. A prudência diz que com Ubiratã, Fedoca não deva mandar recados, mas tratar olho a olho, conversas que poderão ser regadas a cafezinho formal, chimarrão, amistoso, ou papel e caneta, na fria letra da Lei.





terça-feira, 15 de novembro de 2016

E agora, Jose?




Sempre gostei de Drummond, especialmente deste poema.
Isso não é um poema. É uma profecia. Nem é preciso comentar nada.



      JOSÉ
     Carlos Drummond de Andrade


                 E agora, José? 
              A festa acabou, 
              a luz apagou, 
              o povo sumiu, 
              a noite esfriou, 
              e agora, José? 
              e agora, você? 
              você que é sem nome, 
              que zomba dos outros, 
              você que faz versos, 
              que ama, protesta? 
              e agora, José?


              Está sem mulher, 
              está sem discurso, 
              está sem carinho, 
              já não pode beber, 
              já não pode fumar, 
              cuspir já não pode, 
              a noite esfriou, 
              o dia não veio, 
              o bonde não veio, 
              o riso não veio 
              não veio a utopia 
              e tudo acabou 
              e tudo fugiu 
              e tudo mofou, 
              e agora, José?


              E agora, José? 
              Sua doce palavra, 
              seu instante de febre, 
              sua gula e jejum, 
              sua biblioteca, 
              sua lavra de ouro, 
              seu terno de vidro, 
              sua incoerência, 
              seu ódio - e agora?


              Com a chave na mão 
              quer abrir a porta, 
              não existe porta; 
              quer morrer no mar, 
              mas o mar secou; 
              quer ir para Minas, 
              Minas não há mais. 
              José, e agora?


              Se você gritasse, 
              se você gemesse, 
              se você tocasse 
              a valsa vienense, 
              se você dormisse, 
              se você cansasse, 
              se você morresse... 
              Mas você não morre, 
              você é duro, José!


              Sozinho no escuro 
              qual bicho-do-mato, 
              sem teogonia, 
              sem parede nua 
              para se encostar, 
              sem cavalo preto 
              que fuja a galope, 
              você marcha, José! 
              José, para onde? 
      

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Apolônio Lacerda - o Gato




O pássaro e a Serpente




 
"Somos como passarinhos diante da serpente, gritando, pulando, mas sempre em direção ao fim. A serpente não se move. Apena observa. Fixa o olhar e torporiza os sentidos da pobre vítima. Não tem nem garras como os felinos. Não tem pernas ou patas para correr atrás. Tem apenas o olhar e o tempo. São as vítimas quem correm para a morte espontaneamente. Somos nós que corremos para os braços dos políticos e somos nós quem nos deixamos acariciar pela sua cantilena envolvente. Podemos voar e ser livres, mas não temos a vontade e a iniciativa necessária para fazê-lo no tempo devido.
 
Não precisamos deles. Não dependemos deles. São eles quem dependem de nós. São eles quem precisam nos buscar para que os mantenhamos na arena, e, no entanto entregamos nossos votos de forma tão barata, tão fácil, porque acreditamos que um voto não fará nenhuma diferença entre tantos mais.
 
Acreditamos que é apenas um voto e daqui a dois anos teremos outro, e outro. É de graça. Não temos que pagar por ele. Será? Quanto então, pagamos de impostos, porque entregamos de graça nosso voto? Ou pior que isso: porque vendemos esse voto por tão pouco, trocamos pela nossa cobiça, enquanto deveríamos tê-lo colocado na caixa de todos, para servir a todos, e nós entre todos?"
Estado de Alerta, Amazon.com, 2014, Paulo Cardoso
 
Não pensem que sou incoerente, se em meu livro, escrito no auge do petismo deslavado e durante a campanha da "presidenta", falo mal de políticos, e ao mesmo tempo proponho uma nova política. Não sou, pois não coloco na mesma cesta os bons e os maus políticos, embora seja muito difícil discernir um do outro. Não demonizo a política, assim como não endeuso o absenteísmo. O que busco é encontrar um ponto de equilíbrio entre um e outro. O equilíbrio está em algum lugar entre a mesa de refeições de uma família e a tribuna, pois o mesmo que ocupa a tribuna, também leva seus filhos à escola, e busca o pão para oferecer dignidade à sua família. O equilíbrio está na dignidade de doar-se pela sua comunidade, pelo seu Estado, pelo seu País, pela sua corporação, pelo seu emprego, pelo seu trabalho, pela sua crença. Política não diz respeito apenas aos palanques ou às repartições, mas ao modo de olhar nos olhos do seu vizinho. Ao modo de tratar com seu oponente.
 
O que discuto é a relação incestuosa que a má política tem com o poder, e este com ela. A má política gera o poder, que se engalfinha nos seios desta como um amante desesperado em inescrupulosa orgia.
 
O mundo está em convulsão política,  clamando por serenidade. Só que a quem deve ser honrado o manto desta serenidade senão aos que detém o poder e fazem a política? Queremos continuar desta forma? É a política nosso berço ou nossa lápide? Que política desejamos então?
 
 Pense. Pensar ainda é livre. Afinal amanhã é 15 de Novembro. Deveria significar muito para a política brasileira esta data. Afinal, ainda somos uma República.

Degraus


domingo, 13 de novembro de 2016

O Trilema de Fedoca



O ano era 1976. Gramado era aquilo que chamaríamos de pequena aldeia romântica, cercada de montanhas, vales, hortênsias e utopia. Éramos jovens, e cheios de sonhos. Alguém poderia dizer que todos os jovens são cheios de sonhos, mas eu, com tristeza digo que não, não são mais. Para ter sonhos é preciso ter também tempo para sonhá-los. Para ter esperanças, era preciso construir base para acreditar naquilo que não se pode ver, conhecida como fé. Então, éramos jovens e tínhamos tempo livre para sonhar. Eu era jovem, e eu também sonhava.



Eu era aquele menino conhecido vulgarmente como “um Zé Ninguém”. Sonhador, risonho, mas um “Zé Ninguém” mesmo assim. Pobre, não tinha nem um gato, pra puxar pelo rabo e chamar de meu. Era capaz de me apaixonar pela menina mais linda da sala, mas, ainda assim, ouvir dela que eu não tinha espelho em casa para me enxergar, e que eu não passava de um “comedor de pão velho”. Então, eu já não seria mais um “Zé Ninguém”, mas agora tinha um título: “Comedor de pão velho”” Fiquei feliz, pois descobri que ela me conhecia bem.



Um dia, era época de escolha do Presidente do Grêmio Estudantil. E o comedor de pão velho sonhava participar do grupo. Fui correndo então oferecer meus préstimos ao então presidente, que seria candidato, ou indicaria alguém para o cargo. Recebi uma negativa, dizendo que sua equipe já estava completa, mas que se vagasse um carguinho, eu seria convocado. Bem, está certo então. Devemos ser humildes, mas …. Ele que fosse catar coquinhos. Minha humildade havia aberto a porta que guardava meus brios, e naquele momento meu orgulho gritou lá do fundo: Levante a cabeça, “Zé Ninguém”! E levantei a cabeça, engoli o choro, e fui conversar com um colega mais experiente, o Eduardo Barros. Sugeri a ele que deveríamos formar uma chapa para concorrer, onde ele, Eduardo, seria o Presidente, e eu ocuparia um lugarzinho lá no fundo, talvez no departamento de arte do Grêmio Estudantil. Outra negativa. Eduardo olhou sério e disse: “Vamos montar uma chapa sim, mas TU será o Presidente nela”! Fiquei assustado e incrédulo. Eu, Presidente? Sou apenas o “Zé Ninguém”! Mas aceitei o conselho e fui à luta. Descobri que para ser eleito eu precisaria ter a maioria dos votos. Mesmo que fosse um apenas. Além disso, teria que montar uma chapa com membros eletivos, e formar antecipadamente minha diretoria. A escola tinha cerca de mil e cem alunos. Fui atrás daqueles que julgava os mais competentes para as funções. Descobri que meu adversário já havia arregimentado todos. Cerca de trinta alunos. Então, precisei encontrar alguém que fosse capaz de acompanhar-me ao abismo da derrota. Encontrei mais três suicidas, e os quatro “Zés”, formamos uma chapa chamada “Reorganização”, em oposição à chapa da situação chamada “Renovação”. Fizemos uma campanha sem pompas, apenas no corpo a corpo. E para nossa surpresa, vencemos a eleição, com cerca de oitocentos votos. Uma lavada, se o termo me permite.



Acordei feliz no dia seguinte. Por algumas horas, pois descobri que eu precisava de uma equipe de umas trinta pessoas, competente, fiel, dedicada, para colaborar comigo no mandato. Meu sucesso dependia deles. Mais eu deles do que eles de mim. Pensei longamente por cerca de cinco minutos e resolvi o assunto: Convidei TODOS os componentes da chapa adversária para que se juntassem á mim. E quase todos aceitaram, menos dois: O candidato á presidente e seu vice. Pena, pois teriam sido grandes colaboradores. Mas eu entendi e ofereci o lencinho para que chorassem sua viuvez.

Não sei se minha gestão foi boa ou ruim. Mas sei que deixei um sucessor de minha escolha.



O que essa história lá do passado tem a ver com a realidade de Gramado? Acho que muito. Pensem comigo. O PMDB se dividiu em três: O que permaneceu fiel e votou num pedetista para comandá-los; o que votou no Pedro Bala, mas não saiu do armário; e aquele que votou em branco ou anulou seu voto em protesto.

O PDT não tem contingente. Já disse e insisto nisso. É um coringa que oportunizou um comandante que ainda restava no estoque. Está bem. Mas ficou aí, com uma ou outra exceção que sobe, mais por afinidade afetiva, do que por notória competência para qualquer função de destaque. Aí é no PMDB que vai precisar raspar a panela. Só que o PMDB, magoado, não vai deixar um tradicional adversário comer à sua mesa. Além disso, o PMDB tem outros planos: minar a liderança de Fedoca, para que Evandro cresça. Não me entendam mal. Isso é política apenas. Se o PMDB for mesmo o PMDB que todos conhecem, a experiência já deu certo com Sarney, e mais certo ainda com Temer. Não estou fazendo juízo disso. Apenas lembrando que o método não é estranho ao partido. Funciona. Então aquele PMDB que não quer partir pro confronto porque isso é desgastante, acompanha o confronto dos outros e fica posicionado estrategicamente num cantinho onde possa, no momento oportuno, ocupar sua vez na cadeira do chefe. Evandro já deu sinais disso, declarando publicamente que não quer cargo de Secretário, por desejo de ficar á espera de sentar-se na cadeira de Fedoca. Só que Fedoca, mesmo não tendo feito muito esforço pra isso, conforme já comentei antes, ganhou a cadeira nas “devas”, na justeza da coisa. Então ela é sua e ninguém tasca. Ele não foi lá se oferecer, mas já que insistiram tanto (e insistiram tanto para convencê-lo), que agora tem direito a ela.

Pois bem. Só que isso não resolve ainda a questão da governabilidade. Fedoca não pode ocupar os cargos necessários para a governança. Nenhum dos 255 que prometeu manter. Evandro não os quer também. E o PMDB não deu as caras para socorrê-lo. Já o auxiliaram a vencer. Não lhe devem mais nada. Onde estará o socorro de Fedoca agora? Na humildade! Mais que na humildade, na habilidade em negociar com a nova oposição que está machucada com o rescaldo das ofensas recebidas na campanha. É o trilema de Fedoca. Eu explico. Parafraseei o “Trilema de Epicuro”, que dizia: “Se Deus é Onisciente e Onipotente, e criou o mal, então sabia o mal que o mal causaria, então Deus é mau?” O trilema de Fedoca é mais simples então: ”Fedoca imaginava que não venceria, pois não tinha voto. Imagina que se vencesse, quem o apoiasse o capacitaria para cumprir o que prometeu. Descobriu que venceu, mas recebeu o apoio que esperava, e não teve saída senão rever suas estratégias, ou melhor, criar alguma, porque quatro anos pode se tornar uma eternidade, para ele, e para quem o elegeu. E uma eternidade e meia para quem deseja tomar seu lugar de novo.



A saída honrosa de Fedoca pode ser mais simples do que se imagina, pois assim falando, parece que estou vendo apenas as dificuldades dele. Não, estou levantando estas dificuldades e buscando uma solução, mesmo que não me paguem nada por isso. E a solução é encontrar algum nome dentro da comunidade que seja negociador. Que tenha trânsito com todos os lados. Que negocie com a UPG, que, pode não estar com a caneta do Executivo, mas está com a voz do Legislativo, e se fazer não pode, impedir que seja feito pode. E vai. Pois sabe que, goste ou não disso, quem está saindo, está levando consigo o grande patrimônio intelectual, toda a bagagem e a chave do cofre que guarda a Gestão do Conhecimento de dezesseis anos de trabalho árduo, com todas as encrencas a que tinha direito, mas também todos os louros que puderam receber por isso. Engana-se quem pensa que o patrimônio de uma cidade seja apenas ruas, praças, escolas e hospitais (esta é outra novela). O patrimônio de um lugar é sua inteligência. A América do Norte não rica e poderosa por produzir coisas, mas por criar as coisas que outros produzem e as vender para que outros as comprem.



Este nome, esta pessoa pode articular com os vencidos, propor uma trégua em nome da governabilidade e pelo bem da comunidade, e ajudar a montar a equipe que permitirá a continuidade do crescimento de Gramado, seja no campo econômico, comercial, turístico, mas sobretudo humano e humanitário. É o momento apropriado para Fedoca mostrar o líder que tinha guardado para esta ocasião. Em lugar de rivalidade, união. Em lugar de orgulho, humildade. Em lugar de revanche, cooperação. Em lugar de perseguição, a cuia de mate sincera. É difícil, tem que ser muito grande para tomar uma decisão dessas. Mas creio que ele seja capaz. E este mate deve ser servido por ele próprio. Não espere dos outros este gesto.



Que não caia Fedoca no repetido erro dos governantes que chamaram para perto de si, por primeiro, os puxa-sacos, os medíocres encostados, os que não tiveram capacidade de empreender e por isso brigaram com unhas e dentes pelos mais elevados cargos e salários. E se o fizer, vai errar mais que aqueles a quem criticou, pois criticou bastante, e agora vai ter que provar que é capaz de agir diferente. Vai ter que negociar com pessoas, com profissionais e não com partidos, porque está provado que partidos não entendem nada de governar. Por isso chegamos onde chegamos. A política precisa ser redesenhada, e Gramado pode e deve dar este passo.



E a minha história com o Grêmio Estudantil, como terminou? Bem. Continuo sendo um “Zé ninguém”. Mas não tive uma única voz de oposição durante minha gestão. E acabei sendo um “Zé Ninguém” mais conhecido. Nem sempre compreendido (dizem que eu falo difícil. Talvez. Se parece difícil o que eu falo, tente ler mais devagar, e eu tentarei escrever de forma mais convincente).

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