AD SENSE

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Ele me faz deitar em verdes pastos



O SENHOR é o meu pastor, nada me faltará.
Deitar-me faz em verdes pastos, guia-me mansamente a águas tranquilas.
Refrigera a minha alma; guia-me pelas veredas da justiça, por amor do seu nome.
Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam.
Preparas uma mesa perante mim na presença dos meus inimigos, unges a minha cabeça com óleo, o meu cálice transborda.
Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na casa do Senhor por longos dias.
Salmos 23:1-6


Inspirei-me a escrever este ensaio enquanto assistia a uma reportagem sobre High Line-Skyline, uma modalidade medicinal sem ingestão de químicos para soltar o intestino. É uma mistura de equilibrismo com exibicionismo e falta do que fazer, senão ficar balançando sobre uma perna só no alto de um penhasco, com a única e exclusiva finalidade de colocar inveja em quem tem problemas com intestino rebelde, artrose, e um medo incontinenti de altura. Aquela falta absoluta de necessidade de atirar-se prazerosamente à beira de um riachinho tranquilo que cantarola versos úmidos para atrair borboletas e provocar a mata a liberar seus perfumes.

Esta impaciência humana em buscar o mais alto, o mais veloz, o mais forte, o mais violento, o mais perigoso, o que oferece mais riscos, é uma doença que se impregna na mente dos frustrados e dos que acreditam que superar seus limites significa obter credibilidade e respeito, ou admiração daqueles a quem eles próprios gostariam de ser.

Somos movidos por inveja oculta chamada de admiração, que nos impulsiona subir a escada, não importando onde leve, contanto que nos esgote as forças e faça tremer nossas pernas lá no alto. Somos desafiados por nossa ambição de subir a montanha, mesmo que lá do alto não tenhamos um lote pra carpir, isto é, sem utilidade alguma, mesmo sabendo que o que vamos encontrar seja apenas a ânsia por descer dali em busca de outra montanha para subir o mais rápido possível.

Não importa o subir, mas o subir com riscos. Não importa se a montanha é a mais alta, porque iremos subir pelo lado mais perigoso. Não importa se é ilegal, mas vamos acelerar no meio da noite apenas para provarmos que somos mais corajosos. Não importa se é errado o que estamos por fazer, mas vamos fazê-lo porque a adrenalina é uma prisioneira em constante desafio para se libertar. Vamos fazê-lo porque temos que provar que somos os melhores. Vamos correr os riscos porque sem riscos não há prazer na vitória. Vamos voar mais alto, porque é lá que iremos enfrentar os maiores ventos. Vamos beber mais na virada do ano, porque precisaremos nos gabar disso quando a ressaca passar. Enfim, vamos ignorar o que é certo para saborear o que é prazeroso. Vamos trocar o pudim pela pimenta, mesmo que esta seja mais amarga, simplesmente porque nossa ambição há muito que deixou de ser movida pelo prazer, mas porque o nosso prazer passou a ser dominado pela ânsia de conhecer a morte de perto.

Vivemos num tempo e num mundo onde a reflexão é tediosa, mas as palavras diretas nos fazem pular da cadeira para a ação. Vivemos num tempo e num mundo onde a imagem passa a valer mais do que mil palavras, porque é mais veloz, porque é mais forte, porque é mais agressiva. 

Vivemos num tempo onde um livro vale menos que um filme, e que um filme vale menos que um vídeo caseiro onde duas pessoas se maltratam, se agridem, e melhor ainda, se no vídeo houver muitas pessoas fazendo justiça fora da Justiça, e que o fim da história de três minutos seja um cadáver atirado ao chão chutado pela adrenalina, apenas para que possa ser disseminado aos milhões nas redes sociais dentro das próximas vinte e quatro horas, e que forme um fã clube de mentes vazias em busca de emoções até mesmo quando a emoção esteja em frente a um Smartphone num banco apertado da estação do metrô.

Fico muito feliz, quando vejo que trezentas (ontem foram mais de oitocentas) pessoas de uma única cidade, deixam sua adrenalina de lado por alguns minutos para ler o que eu escrevo, porque estou buscando um antídoto para a adrenalina chamado "reflexão".

Fico feliz quando percebo que caminhar no alto de uma cachoeira é para poucos, mas que ler e refletir sobre o que ético,sério, mesmo que bem humorado, pode ser para todos. Mesmo os que são obrigados a ler alguma coisa para afogar o tédio enquanto se recuperam  dos tombos desnecessários em busca de aventura radical.

às vezes perguntamos a razão de estarmos doentes. Nossa pergunta busca respostas à doença do corpo, quando a resposta está na pergunta sobre o porquê estarmos doentes da alma. Por isso o Salmo diz: Deitar-me faz em verdes pastos. D's é infinitamente sábio e conhece nossas limitações. E às vezes Ele permite que nossas pernas vacilem e nos faz deitar para que tenhamos tempo de refletir, raciocinar, pensar, lembrar, sentir saudade, e quem sabe também, agradecer porque nossos joelhos tenham artrose, que nos impede de caminhar feito uma saracura sobre uma corda bamba a mil metros de altitude. Arriscado é manter-se digno nos canyons da vida. O que passar disso é vaidade. Correr atrás do vento, dizia o Sábio.




segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Por que Caio no Turismo





E soltou um corvo, que saiu, indo e voltando, até que as águas se secaram de sobre a terra.
Depois soltou uma pomba, para ver se as águas tinham minguado de sobre a face da terra.
A pomba, porém, não achou repouso para a planta do seu pé, e voltou a ele para a arca; porque as águas estavam sobre a face de toda a terra; e ele estendeu a sua mão, e tomou-a, e recolheu-a consigo na arca.
E esperou ainda outros sete dias, e tornou a enviar a pomba fora da arca.
E a pomba voltou a ele à tarde; e eis, arrancada, uma folha de oliveira no seu bico; e conheceu Noé que as águas tinham minguado de sobre a terra.
Então esperou ainda outros sete dias, e enviou fora a pomba; mas não tornou mais a ele.
Gênesis 8:7-12


Tenho feito qual o velho marinheiro,lançando meus pássaros sobre as águas, ainda tempestuosas dos primeiros instantes da política gramadense, enquanto recebo as manifestações dos leitores de forma direta ou indireta. Ora são as estatísticas da movimentação do blog quem me orientam, ora são as pessoas que conversam comigo sobre minhas postagens. Ouço opiniões, troco ideias, e sobre o que ouço e conversamos, venho aqui e tomando meu mate, entrego-me à reflexão diária.

Escrevo sobre muitas coisas: religião, ética, comportamento, humor, gente, biografias, e sobre a própria vida e o pensamento. Sou um livre pensador. Não sou jornalista, nem filósofo, nem filiado a partido algum. Sou apenas um filho de Gramado, que pelas circunstâncias da vida, família e trabalho, necessitou ausentar-se fisicamente, mas que guarda no recôndito do coração, no lugar de honra da alma, o amor por esta terra onde construí minha história, meus sonhos, e meu caráter. Sinto-me, portanto, muito à vontade para tecer minhas considerações sobre os personagens desta terra, dado ao fato que não são medíocres, mas podem ser polêmicos.

Tomo sempre o cuidado de provocar reflexões dos leitores, sem estabelecer ou finalizar minha própria opinião sobre a maioria dos assuntos. Quando falo sobre este ou aquele personagem, na maioria políticos, de modo algum estou mexendo com a honra destas pessoas, antes pelo contrário, estou trazendo-os para a vitrine dos debates, e possibilitando que sejam lembrados pelo que pensam e fazem, ou em alguns casos, pela possibilidade do que venham a fazer, seguindo vetores lógicos,tratando o assunto à certa exaustão.

Já disse, mas nunca é demais repetir, que se qualquer um dos personagens citados direta ou indiretamente estiver incomodado com minhas análises, com absoluta certeza, estarei ouvindo o contraditório, e neste blog há um espaço livre para estas manifestações, aos que desejam ter suas opiniões publicadas, ou ainda há meios para que se comuniquem comigo inbox, seja pelo whatsapp, e-mail ou chat do facebook.

Isso esclarecido, volto ao caio Tomazelli. Por que em minha análise há indicadores que apontem sua nomeação para a pasta do Turismo de Gramado, uma vez que Caio não demonstrou nenhum envolvimento com a campanha desde os primeiros dias? E por que Caio participaria de um governo, ao qual ele próprio tenha postulado a pré-candidatura, fato que nem chegou a termo, dadas questões internas de seu partido, o PMDB? Vamos aos fatos então.

Há prós e contras sua nomeação, segundo minhas fontes. Vou considerar sobre alguns então. Primeira motivação contrária, é que Caio tenha mudado de partido algumas vezes em sua carreira política. Esta é a principal acusação de seus desafetos. Realmente, mudar de partido é algo que precisa ser bem analisado, especialmente para quem deseja fazer uma carreira política. O contraditório, no entanto está em perguntar sobre a questão ideológica dos partidos da atualidade no Brasil. Só em Gramado, devem existir uns vinte partidos políticos, isto é, uns vinte registros de agremiações político-partidárias registradas no Cartório Eleitoral. Mas, se selecionar numa peneira fina, teremos apenas três ou quatro partidos atuantes, que são o PP, PMDB, PSDB, PDT e, até bem pouco tempo atrás, o PT. Não vou ao mérito das ideologias, mas da representatividade ideológica que cada um representa no coletivo político de Gramado. Todos eles tem posturas próprias, e se alternam com os coligados, muito mais para obter tempo em rádio do que por afinação ideológica. Desta forma, encontramos na UPG da última eleição candidatos dividindo o mesmo palanque de comícios, do PP, Progressista, e da Rede, de tendência declaradamente socialista. Então, não cabe apontar se uma pessoa é desta ou daquela afiliação, mas de que lado ela se posiciona durante o pleito.; E Caio não se desfiliou do PMDB, seu partido atual. Mas manteve sua postura pessoal de não apoiar este ou aquele candidato. Optou por manter uma postura discreta, mas não pode ser considerado um traidor. Na mesma postura, vamos encontrar outros coligados, que por esta ou aquela declaração no ardor dos discursos, feriram seu partido no âmbito nacional, como aconteceu com o PT. Ficou em silêncio e respeitou o acordo. Então, desta forma, até mesmo Gilnei Benetti poderia ser uma das opções de Fedoca, se for analisada sua biografia e proximidade com o Turismo. Mas não tem o peso de Caio. Gilnei não é uma figura polêmica. Caio é. E assume esta postura sem problema.

Na favorável condição de sua possível nomeação ao Turismo, Caio tem muitos pontos favoráveis. E eu tenho absoluta moral para comentar isso aqui, uma vez que em um passado muito distante, já fomos desafetos, peso que não carregamos mais. Somos amigos hoje, mesmo que haja quem deseje que as mágoas não sejam superadas e continuem semeando a discórdia. São uns infelizes, pois minha convicção religiosa, e também a de Caio, nos ensina que apagar as mágoas e plantar perdão onde havia discórdia, é a certeza de dormirmos em paz, agora, e na Eternidade. Então digo, com absoluta convicção que se existe alguém, dentre os filiados ao atual governo, seja o ex-Presidente da CRT, ex-Secretário de Assuntos Internacionais do Rio Grande do Sul, e uma pessoa do coração do Governador Collares, de quem ouvi, numa prosa fortuita, esta declaração nos tempos em que éramos rivais políticos.

A Biografia de Caio corresponde às necessidades e exigências técnicas e políticas que a Secretaria de Turismo, assim como a própria Gramadotur necessitam. O Secretário de Turismo é o segundo cargo em importância e projeção da Prefeitura de Gramado, não diminuindo a importância dos demais, mas é o Turismo quem dá esta visibilidade ao Brasil e ao Mundo. O Secretário de Turismo, mais que um Secretário, é um Embaixador de uma história e de uma cultura que Gramado exporta. Tem a tarefa de ser a mente do Prefeito, os Braços da Prefeitura, e o coração do Povo, ao desempenhar esta função. Portanto, não cabe, sob nenhuma hipótese legar à quem desconheça ou não tenha este espírito e caráter profissional.

Sou testemunha dos defeitos e das virtudes do Caio, com quem trabalhei, e muito aprendi. Na condição de adversário, experimentamos momentos pitorescos, amargos, mas respeitosos. Pactuamos o perdão como pessoas, e retomamos a amizade que começou a ser construída a partir de nossas mútuas admirações pessoais e profissionais. 

Então, sinto-me confortável em acreditar que, dentro do partido que acreditou em Fedoca, ao qual Caio também pertence, haja interesse em fortalecer-se, avalizando seus signatários e fortalecendo sua participação no novo governo. Ou então, sou levado a crer que o PMDB esteja assinando incondicionalmente ao crescimento do PDT, que hoje é aliado, mas amanhã pode ser oponente. Da mesma forma, soa-me estranho imaginar que o PMDB, por ter desafetos internos com Caio, opte pelo canibalismo de seus integrantes,a buscar fortalecer sua presença no Governo que compõe. 

Creio então que o problema agora não esteja mais com Fedoca, mas com o próprio PMDB em dizer a que veio, oferecendo seus integrantes ao governo que prometeu apoiar, lá nos palanques e comícios. Acho que temos uma queda de braço. Façam suas apostas.




domingo, 1 de janeiro de 2017

Caio Tomazelli no Turismo?






Não vou comentar nada. Só que acho que está aqui o melhor nome disponível para ocupar a Secretaria de Turismo de Gramado.
Caio Tomazelli

Palpitar eu posso. É meu palpite e estou dando a cara.
Quem discorda? Quem concorda?

Opiniões aqui no blog, 
ou pelo whatsapp: 48 999 61 1546

PS* Amanhã eu detalho as razões de meu palpite. 

As promessas do primeiro discurso de Fedoca



O gerador de lero Lero foi ligado e os discursos vazios e retóricos transbordaram nas posses pelo Brasil afora. Já distantes da campanha, mas como que prestando satisfação de suas promessas, os novos prefeitos ainda estão embriagados pelas novidades dos braços do poder, que começam a se tornar reais. São discursos muito retóricos, filosóficos, ideológicos, e profundamente cheios de coisa nenhuma.

Fedoca diz duas coisas em seu primeiro discurso: Vai ouvir os calados (?), e limpar a cidade. Vou comentar por primeiro a última afirmação, limpar a cidade. Faz bem. É um clamor e uma promessa de qualquer candidato que buscou votos. A bela Cidade Jardim das Hortênsias cheira a esgoto na porta dos fundos, ou nem tão dos fundos assim. Urge então que chame ambientalistas competentes e já na semana que vem comece a delinear duas coisas fundamentais: Como será feita esta despoluição, o tratamento das águas, para erradicar o problema; e que projeto será oferecido para que o problema não volte. Que modelo de despoluição será utilizado, sabendo que em nenhum caso será barato. Limpeza ambiental custa muito, muito dinheiro, mesmo as soluções mais simples, sustentáveis, tem custos elevados. Naturalmente, alem de chamar especialistas, irá pessoalmente visitar as soluções encontradas em outros países, onde o problema foi resolvido, e aqui entram Israel, que não tem água, mas retira e purifica água do mar, tornando-se autossuficiente em abastecimento hídrico. Outros modelos ainda estão em Nova Iorque, ou na Itália, Inglaterra ou Alemanha, que despoluíram rios historicamente sujos. É lá que está a solução, e não em Cuba, Venezuela ou Moscou. Só mencionei, porque como todos empunham uma rosa vermelha, nunca se sabe.  Tivemos exemplos muito recentes de parcerias internacionais equivocadas.

A primeira parte do discurso é a subjetiva, onde Fedoca diz, segundo o que leio na imprensa, que vai ouvir o calados.  Faz bem, porque durante a campanha, não foram os calados quem vomitaram ofensas de ordem moral e pessoal contra candidatos, e continuam fazendo, como tripúdio aos vencidos, o que também corresponde ao modelo medieval de vitórias, onde à frente da realeza eram largados os bufões que destilavam impropérios em forma de bobice e eram aplaudidos pela plebe extasiada. Então, aqui temos de fato um grande número de calados, sérios, decentes, que optaram pela elegância do silêncio e do voto para expressarem seu descontentamento pela gestão anterior, ou em detrimento da que daria continuidade. Confesso que, embora parecendo uma demagogia, devo concordar que foi um gesto inteligente do Prefeito empossado, e que certamente deverá trazer à luz estas vozes, uma vez que as audiências de uma autoridade sempre são públicas, mesmo que à portas fechadas.

Aliás, instituído por Pedro Bala há quatro gestões atrás, o atendimento à portas abertas, presumo que deverá ser aprimorado pelo Prefeito Fedoca, uma vez que não tenha ele nenhum problema de acesso ao povo. Volto então a imaginar como irá Fedoca ouvir os calados, e o que tem este silêncio a dizer aos vencedores e vencidos? Naturalmente é uma pergunta retórica, porque sei exatamente o que estas pessoas, numa leitura geral e não particular, irão reivindicar ao Prefeito. E uma pergunta será feita com insistente interesse: Gramado se renova, se reforma, se transforma ou será redesenhada à nova realidade brasileira pós PT e seus coligados?

Ainda mais uma dúvida quanto à ouvidoria do Prefeito: as vozes desejadas serão às que se calaram. mas o que fará com aqueles que despejaram ira em linguagem que coube inúmeros processos por calúnia e difamação. Serão estes contemplados com cobiçados cargos públicos como prêmio por merecimento, ou fará ouvidos moucos aos apaixonados difamadores, com o receio que seriam maçãs podres no meio do cesto de frutas saudáveis?





Nutícia de Campanha - Mais um causo da Carsulina



Era primeiro dia do ano. No Cêrro do Bassorão, a fumacinha já tremulava com timidez em alguns ranchos, aqui e ali, acordando ao som do garnizé, que quase nem dormiu, pelo barulho das bombinhas e rojões que a piazada soltou lá pelas cercanias do Bolicho do Pistola.

Encostado num barranco, meio enviesado, um borracho ronca feito um tatete sendo castrado, por ter bebido e comido demais, embora ele nunca vá lembrar se comeu mais que bebeu, ou bebeu mais que comeu, ou os dois ao mesmo tempo.

Ainda se esfregando atrás dum galpão, Beiço e Gertude se engalfinham em abraços sebosos e beijos estalados, daqueles em que o fiozinho de baba se estica entre uma beiçada e outra. Um diálogo de paixões é ouvido entre grunhidos e dengos, declarando amor incondicional e eterno, mesmo que tenha começado naquela mesma noite, poucas horas antes, e muito provavelmente depois que a ressaca acabar, não irão lembrar nem do nome, um do outro.

- Buenas! Posso sentá?
- Às moda! Se achegue!

- Solita?
- Que pergunta indescreta pruma donzela pura!
- Respondido entonces! Bamo bebê umas Brahma da Escól?
- Pois óia! 
- Permite um galanteio?
- Vancê é apressadinho!
- Nâo podemo perdê tempo com pagodêra!
- Pous faça!
- Vancê é a frô más prestimóza do jardim da minha inzestênça!
- Ai, como vancê é galanteadô! Mãns eu sô inté meio gorducha! O qué cocê viu nimim?
- Os zóio, todos dois! Verde feito o premêro guspe do mate!
- Mêmo ancim, inda sou meio redondinha!
- Nisso nóis demo jeito, dona! o nêgo véio chega cheio de amor e carca os dois dentão nas banha da patroa, que fica lôca de facêra.
- Vancê fala isso pra todas!
- Só cando bebo, dona! Paremo de fala e comecemo a bebê as Brahma da Escól, dona!

E assim o romance começa. Longe do bafo de canha que permeia o ambiente, um cusco passa por ali e mija nas botas do apaixonado, que nem arrepara no feito. Segue a lambança até que o sono abrace os dois, e a baba escorra pelo canto do queixo, num sono largado até o meio da tarde.

No ranchinho de Carsulina, a fumacinha subia vertical, e o velho fogãozinho de chapa já cozia uma panela de mío verde, enquanto outra aquentava a costela gorda pra comer com pirão. A velha benzedeira preparava a bóia de festejo, pois sabia que neste dia o rancho se enchia de convidados para a bóia e uns consêio.

O mate estava feito, e um naco de rapadura acompanhava os goles da erva perfumada que acolhia o choro da velha chaleira preta. O cusco mijão acabara de chegar ao rancho, e Carsulina apinchava um osso buco do ensopado de treisontonte. O guaipeca abocanhava a fartura e se aninhava num canto debaixo da casa, onde passaria o resto do dia dormindo e roendo o prêmio.

Ao longe, uma nuvenzinha de poeira indicava movimento. Carsulina serve um mate, e fica bombeando pra ver o que é. Em poucos instantes, divisa ao longe um cavaleiro à galope, em direção do rancho. Bombeia mais um tanto, estica o pescoço e faz um gesto de sombra com a mão sobre os zóio, e bota mais um pau de lenha pra mór de mió fritar a costela. Negaceia, negaceia, e o tropel já é ouvido. É o Tuiúco, irmão do Cebôla, que chega divereda e ainda no lombo do pingo anuncia:
- Madrinha! Madrinha! Lê traigo uma nutícia!
- Apeie, filho! Conte o aconticido!
- Minha patroa, madrinha! Bateu cas gamba e se foi-se, a pobre!

Carsulina franze a testa, passa a mão no queixo magro, penteia o bigode com a ponta do fura-bolo, mexe mais uma vez no pau de lenha do fogão, serve um mate, estica o braço e alcança a cuia ao Tuiúco, e diz:

- Filho! Fizemo ancim: O filho se acomode aqui e tomemo umas chaleira de mate. Dispois, bamo cumê essa custela aí, com pirão e umas espigas de mío verde....E dispois. Se atraquêmo no choro|!





sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Prêmio Consolação - O PDT é unido



Vou ter que contar uma coisa de natureza pessoal, para abrir meu comentário, e para que faça sentido o que vou dizer. Se refere ao que tenho pregado aqui sobre pacificar Gramado, resgatar talentos, deixar pra lá divergências, e fortalecer a equipe contratando opositores, não por gesto de bondade, mas por questão de inteligência e respeito ao patrimônio turístico que Gramado representa.

Fui recentemente sondado sobre a possibilidade de assumir uma Secretaria de uma Grande cidade, em território brasileiro. Fiquei estupefacto, por diversas razões. Primeiro, porque eu não conheço a cidade, e para chegar ao escritório do Prefeito eleito, precisei usar o GPS para levar-me ao centro do Município. Segundo, porque eu era completamente desconhecido ao Prefeito ou à pessoa que fez a busca por currículos, e entendeu que o meu portfólio poderia oferecer algo ao Município. 

Já na primeira reunião, foi requerido que eu montasse minha equipe, levando pessoas talentosas comigo, e óbvio, que as procurei em Gramado, além de solicitar indicações do próprio Município. Mas, ao mesmo tempo em que eu tentava assimilar esta situação, completamente fora de minha referência pessoal, pois o único cargo público que exerci até hoje, foi de Chefe de Gabinete em Gramado, na década de 1970, eu procurava organizar minhas ideias para ser produtivo e corresponder ao chamado. Nada mais. Então, a ideia era estranha demais pra mim. E enquanto eu negociava com a equipe, e procurava identificar talentos e ajustar possibilidades, eu também consumia o outro lado da razão em imaginar até quando iria durar aquela situação. E eu estava certo. Infelizmente para minha equipe, e felizmente para o nobre povo daquela cidade, que sabendo da situação, voou no pescoço do Prefeito e perguntou á ele se naquela cidade tão rica em todos os sentidos, não haveria uma pessoa capaz de ocupar o cargo que ele destinara a um alienígena. E sim, claro que havia, e o Prefeito soube ouvir mais o coração do que a razão, e como foi pelo coração que foi eleito, educadamente desfez o convite, e nomeou um talentoso gestor local. Assunto resolvido.

O que tem aqui, no meu caso, e por isso posso comentar com cabeça erguida, é que meu portfólio e currículo foram avaliados exaustivamente, e foi por eles que fui chamado. Alegro-me com isso. Portanto, ficou claro para todos que não havia ali nenhum prêmio consolação à minha pessoa, e muito menos gesto de amizade para comigo, pois amigos mesmo nos tornamos foi depois disso, epla justeza dos fatos.

Gramado está com a mesma cara do Brasil: Expectante, e por vezes, estupefata! Tenho batido e rebatido na tecla que Fedoca não tem equipe, e pelos critérios que tem demonstrado, não conhece bem a sua própria cidade, pois não sabe onde buscá-los perto de sua própria casa.

Não me entendam errado, mas procurem entender o lado dele. Fedoca vem de uma remanescente política populista de uma esquerda que busca valorizar a sigla, acima dos próprios interesses e acima, ao que se pode perceber, dos interesses da comunidade. Desta forma, o PDT, vem se esfacelando a cada eleição que passa, tendo começado essa derrocada pela traição que a Ex- Secretária de Minas e Energia de Olivio Dutra, que recebeu este cargo por trair seu partido, o próprio PDT, e consequentes problemas que foram minando os pilares do partido, relegando-o ao plano de comer pelas beiradas de partidos maiores. 

Não há que se negar que o PDT ainda guarda grandes nomes, individualmente, entre seus líderes. Fedoca é um destes nomes. Mas está perdido. Está começando a gerar desconforto na sua base Peemedebista, como venho afirmando desde o primeiro artigo que escrevi aqui neste blog. Fedoca está começando a ficar só. O PMDB está sentindo na pele um gosto de jiló. Um gosto de arrependimento. Não aquele arrependimento por ter enfrentado o campeão do PP, Pedro Bala, mas o arrependimento por não ter ido sozinho, ou com os demais partidos que não tem tanta presença de votos, mas ajudam a esticar o tempo de rádio. É pra isso que servem os pequenos partidos, porque nem cargos relevantes eles recebem depois.

Quem sou eu para dizer quem Fedoca tem ou não tem que nomear. longe de mim. E se ele quer premiar um companheiro socialista de outro planeta e absolutamente desconhecido para comandar aquilo que Gramado sabe ensinar o Brasil a fazer, que é Turismo, que o faça. A caneta é dele. O poder é dele. O comando é dele. Nem eu, nem o PMDB, e muito menos os que perderam a eleição, tem direito de dar pitacos. Afinal, Gramado chegou no seu apogeu, no que diz respeito ao Turismo. Então, qualquer um pode tocar a pasta e a Autarquia. Não precisa sequer saber o nome dos lugares preferidos pelos turistas. Sendo do Partido, está blindado.

Fico pensando que Gramado tem cerca de trezentos hotéis e pousadas? mais que isso? Que tem milhares de estabelecimentos comerciais que prestam serviços ao turismo. Que tem duas faculdades próximas preparando gestores de turismo. Que o PMDB tem um exercito de bons nomes dentro deste elenco, mas o Prefeito tem que dar abrigo a um político que perdeu a eleição em um município que não tem absolutamente nada de parecido com Gramado, no que diz respeito ao turismo.

Não estou com isso dizendo que o homem seja incompetente. Longe disso. Até acho que seja, e que possa levar à Gramado uma bagagem que Fedoca sonha em resgatar: A Indústria. De fato, cerca de oitenta por cento da economia de Gramado é firmada no Turismo, seja de serviços ou de comércio. Daí o Prefeito está correto em buscar uma diversificação para esta economia, que naturalmente deverá ser muito bem estudada, saber se Gramado oferece esta vocação, enfim, Fazer bem feito para não transformar Gramado no equivalente à periferia de uma Capital.

Penso, como Gramadense, que Gramado merece esta consideração. Penso como político pensante, que o PMDB está sendo traído. Penso como cidadão, que o novo Prefeito deva ouvir mais quem O elegeu. Antes que seja tarde demais.



A Felicidade e as Obrigações Sociais



Já contei aqui que Natal nunca me deixou feliz. A culpa não é do Natal, mas das circunstâncias em que a combinação da felicidade pela data não sincronizavam com meu estado de espírito e condições sociais, financeiras, ou familiares em que eu me encontrava, lá nos tempos da infância, quando a data, presumo, deveria ter mais importância social.

Outro prazer comum, que para mim é quase alienígena, é praia. Isso mesmo. Praia! Eu não gosto de praia, mesmo vivendo por quase duas décadas em uma ilha com quarenta e duas belíssimas e convidativas praias. Também já morei a uma quadra da praia por outras três oportunidades. Ali do ladinho, de ouvir o barulho do mar ao dormir. Pois bem. Mesmo assim, eu não gosto de praia. Não entendam errado, porque eu acho lindo isso tudo. Acho saudável gostar de praia. Acho prazeroso caminhar na praia e dar um ou dois mergulhos na água fresquinha, e sendo isso possível, também limpa e balneável.

O que eu não gosto, não é o ambiente em si, mas as circunstâncias, e isso está indefectivelmente associado também às circunstâncias de minha infância. Mas não pensem que minha infância tenha sido parva, sombria, soturna. Não. Não foi não. Foi maravilhosa. E uma infância maravilhosa não é aquela vivida num conto de fadas, dentro de um castelo perfumado, sendo servido por fadas e se empanturrando de arroz doce. Não é só isso que faz uma infância feliz, prazerosa, saudável, mas ainda assim, passível de desprazeres comuns. E praia é um destes desprazeres, talvez incomuns, enquanto desprazer, mas frustrante, enquanto prazer não consumado.

Praia está associada a outra efeméride social que mexe com meu capítulo entediado: o feriadão!É aqui que meu capítulo íntimo extrema meu egoísmo e minha extrema insensibilidade ao prazer e satisfação alheios, porque sei que noventa por cento das pessoas que dependem do dia a dia para sobreviver, que vivem longe do litoral, odeiam praia e feriadões prolongados, e dez por cento, mentem! Eu explico.

Feriadão é ótimo quando você tem um bom emprego; quando você é funcionário público (bom emprego também); quando você mora em uma casa bem grande no interior, e nestas datas, pode receber parentes queridos e amigos de lugares distantes, para matar a saudade, jogar conversa fora, e rir muito, comer muito, brincar muito, então sim, feriadões são um pedaço do céu antecipado.

Gostar de praia, gostar de festas com multidões, ser feliz em datas determinadas, isso nunca coube em minhas opções de felicidade. Ser feliz é um estado individual, e promover a felicidade de outras pessoa, é um estado social. Mas bem diferente de proporcionar felicidade, e impor alegria fácil de bebedices e gritos vazios em festas que não condizem com aquilo que desejamos ser naquele momento. 

Gostar de praia só porque outros gostam, deixa o mar muito salgado na alma,e não nos deixa felizes. Gostar de festivais iluminados, só porque convencionou-se entrarmos em Êxtase naquele momento, é mais vazio que esvaziar-se de mundo e preencher-se de Universo ao contemplar a noite estrelada. O estase é mais pleno que o êxtase, quando somos plenos de coisas a sonhar, quando somos repletos de planos e perguntas, e principalmente quando nos entregamos ao sono na mesma hora que nosso corpo nos solicita repouso. Assim então somos livres. Assim então podemos ser felizes.

Praia é ótima, quando você mora longe do litoral, na serra, que tem que suportar dez meses de frio intenso em sua casa, na Serra, mas tem sua vida organizada financeiramente, para que possa separar um mês com a família e alguns amigos dos filhos, e levá-los junto à sua casa de praia, confortável, arejada, pertinho do mar, e ali, à sombra de uma bela garagem aberta, comer melancia, tomar chimarrão, sua cervejinha (sua, e não minha, porque odeio bebida alcoólica), seu refresco (esse sim, faça um pra mim também)e depois de um lauto churrasco, com arroz doce de sobremesa, possa esticar-se numa rede embalada pela brisa do mar, e deixar-se levar pelo ócio prazeroso, chamado "Férias na praia".

Mas eu nunca tive nada disso. E a grande maioria das pessoas com quem cresci, também não tinham, porém, se assim fosse, estaria bem, porque os amigos não seriam segregados pela condição social, haja vista que dentro do grupo, sempre havia quem contava com brilho no olhar, de sua expectativa das férias,da casa de praia, dos amigos de outras cidades, enquanto os mais pobrezinhos ficavam de olhinhos tristes, olhando para o infinito, e imaginando se eles não poderiam ser os convidados da vez para este farnel de delícias veranescas.

Mas não pensem que tudo era tristeza, repito, não era não. Depois que os mais abastados já tinham ido embora, sobrava para nós, os mais pobres, a fartura das matas, as frutas silvestres, as guabirobas, araçás, cerejas, goiabas (cada uma a seu tempo e estação, para nos confortar do feriadão de época também), e outras delícias, como nadar nos açudes, correr da cachorrada enquanto apanhava frutas nos pomares alheios (pronto, descobriram que para ser feliz um menino pobre precisa ser meio ladrãozinho de frutas suculentas em pomares de vizinhos), cujos donos espiavam em segredo e riam à "tripa forra", aguardando o momento em que estávamos já fartos, para sair do esconderijo e dar-nos um "cagaço", vendo de longe a gurizada que respingava barranco acima, barranco abaixo, e deitava cabelo mundo afora para escapar do "tiro de sal na bunda".

Fui conhecer praia aos treze anos de idade. Nesse tempo, não se construiu em mim apego pela água salgada e areia grudenta, tão intenso quanto o cheiro da água do rio onde aprendi a pescar, ou do trinado de pássaros misteriosos pelas matas onde deitava sem medo à sombra de uma caneleira, e sonhava com fadas, princesas, Julie Andrews, e um pé de goiaba serrana bem carregado, só pra mim. Sim senhor. Dá pra ser feliz sem praia ou feriadão. Basta fechar os olhos à uma sombra de uma árvore frondosa, e construir castelos para conquistá-los, montado num alazão branco, levando na garupa uma princesinha de voz suave e braços macios. E eu encontrei a minha, quase assim. Quase ali, a poucos dias depois da infância. E nem precisei de casa na praia para ser feliz. Busquei a felicidade por puro interesse. E continuo interessado.



quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

A Roda Fiel - Fedoca e o número 12



Eu dirijo como um velho (Dãaar..). Sou aquele sujeito que lê as placas, que ultrapassa com extremo rigor na cautela, que cumprimenta o guarda, que fala do tempo com a velhinha na mercearia. Sou aquele tipão que demonstra interesse em ouvir as queixas dos velhinhos, e ainda estimulo a que abram o coração, se rasguem de falar mal do governo, das noras, dos genros. Sim senhor. Sou quadradinho, quadradinho. Só não uso bigodinho "demodê" (aquele fininho, na ponta do beiço), porque aí seria demais. Outro dia resolvi deixar, e passei o dia ouvindo Orlando Silva e Nelson Gonçalves, às lágrimas. Raspei de vereda e segui a faina e continuei matutando sobre a vida. 

Mas em suma, tenho cara de sério. Muita gente acha até que sou brabo, com essa cara que mistura Jerry Lewis, com o Papa Francisco, e vem me pedir bênção, ou me pedem uma imitação do "Professor Aloprado". Mas tenho que confessar: Nem católico eu sou, portanto não aperfeiçoei a imitação do velho Bergoglio, e já faz muito tempo que vi o filme, e nem lembro mais dos trejeitos do maluquinho de Hollywood. Se fosse o Mazaropi, até vai, mas era requebrado demais pro meu gosto.

Contei essa lorota toda para ilustrar o quanto eu sou observador da vida alheia, das coisas, como gosto de construir metáforas para ilustrar coisas do cotidiano e do comportamento humano. Faço isso também com meus ensaios Teológicos. Uso metáforas. Elas explicam tudo direitinho aquilo que os eruditos não foram capazes de ilustrar. Daí, se meu leitor não puder entender o que eu escrevo aqui, é porque eu não fui suficientemente inteligente para me fazer entender. Não se turbe vosso coração, pois.

O que eu observei desta vez, que estou embromando tanto para contar? Um caminhão! Isso mesmo. Um enorme caminhão. Acho que deveria ter uns seis eixos. Isso significa doze rodas. Não apenas doze rodas, mas doze rodas enormes, que assobiam quando o caminhão anda. Coisa impressionante. Daí, numa destas viagens que fiz, cuidando das placas, dos pardais ( e mesmo assim foram mais ágeis que eu, pois as multas apareceram como num passe de mágica), eu vi, numa autopista,uma destas enormes carretas, tombada. Lá estava ela, com a bunda à mostra e as doze rodas viradas pra cima. O pneu dianteiro furou, ou o eixo quebrou. Algo assim.

Não sei como terminou a tragédia. Não fico parado em cenário de desastre para saber detalhes. Sou fraco demais pra isso. Mas soube que fora o pneu furado. Fiquei pasmo. Um único pneu, entre doze, foi capaz de promover tamanho estrago. Pense bem. UM pneu apenas. E os outros doze pneus enormes, não levantaram UM DEDO que fosse para mudarem o comportamento daquele pneu rebelde.

Pensando bem, essa historia não é nova. Houve um caso onde de doze pessoas,uma fez um estrago tão, grande, mas tão grande, que mudou a historia da humanidade. Um só. Só um.

Antes disso, outros doze irmãos, bancaram os velhacos com um dos doze. Pensa bem: irmãos sacaneando irmãos. Isso deve ser uma fábula. Nunca vi um irmão sacanear outro irmão, nem de brincadeira, que fosse. Pois bem, nesse caso, o único irmão que prestava, livrou o couro dos outros onze, mesmo tendo motivo para tirar-lhes o couro e fazer deles tapetes para seu palácio. Mas não fez.

Aí eu penso em Gramado. Hoje tem, algo como umas dezessete Secretarias, a Prefeitura, pois não? Aí eu penso de novo, que o novo prefeito prometeu diminuir o numero de Secretarias e Cargos Comissionados, os CCs. Muito bem. Então, vai que o homem tenha lampejos duodecimais e pense que se tiver doze Secretários, Ele se tornaria...não. Isso não é do estilo dele. Sejamos justos, embora imperfeitos.  Não tem características messiânicas.  Mas vamos, imaginar que sim, que deixe o belo número de doze Secretarias. Bem. Se minha lógica estiver certa, e ele queira prestar uma homenagem ao cabalístico número do seu Partido, então, doze é o número ideal. Dá bom marketing. Porém, sempre é bom lembrar, que mesmo com doze boas rodas rodando, se uma apenas estiver com eixo trincado, ou furar durante a viagem, nenhuma das outras onde vai ser capaz de segurar.

Aí a dor de cabeça do Prefeito vindouro em formar seu quadro, pois já descobriu que mesmo entupindo o alto escalão de amigos mais chegados, tem mais cargos que amigos em seu partido. E o resto do caminhão, leia-se PMDB, tem que ir para o lado que as duas rodas da frente direcionarem a carreta.
Vale lembrar que mesmo que tenha duzentas rodas em cem eixos, serão sempre as duas rodas dianteiras quem orientarão o veículo, mas que se uma única roda se desviar do eixo, o desastre é certo.

Agora é bom pensar, pois há duas rodas neste carro com marcas e padrões diferentes. Qual será a normativa que ajustará ambas para o equilíbrio e segurança da carga? PDT e PMDB podem ser aliados em algumas coisas, mas suas ideologias e modelos de gestão são absolutamente diferentes. São inimigos históricos no Rio Grande do Sul. Será que Gramado pode dar esta lição ao Brasil, de água e azeite amalgamados tão harmoniosamente?



terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Ênio, Topo, e Eu





Ênio, Topo e eu.

Éramos três. Ênio, Topo e eu. Ênio era cerca de uns oito a dez anos mais velho que eu, que era uns dois ou três mais velho que Topo. Este apelido era a forma econômica de “Topo Gigio”, um personagem que era um ratinho muito esperto, criado por uma professora italiana, e que fazia muito sucesso com a criançada por suas maneiras dengosas de falar, além de ser muito engraçado também. Então, como meu amigo não era de muito elevada estatura, ou sei lá por que razão, deram-lhe, entre outros apelidos, o de “Topo”. Pegou.

Ênio, o mais velho, era um sujeito soturno, sinistro, misterioso, mas não era má pessoa. Ao contrário, tinha um coração generoso. Certa ocasião fomos caçar passarinhos (naquele tempo caçar passarinho era uma ocupação de afirmação de virilidade aos meninos, e também próprio da cultura italiana que colonizou a região. Então, sem nenhum constrangimento, caçávamos passarinhos. E sem nenhum constrangimento, eu tinha uma espingardinha de pressão, que atirava chumbinhos. Ênio foi comigo caçar os passarinhos. Teria caçados muitos passarinhos, se meu parceiro não tivesse sido justamente o Ênio. Ele prestava atenção em mim e via quando eu mirava num passarinho. Ele fazia o mesmo, mas atirava antes, e a uns dois metros do bichinho, espantando-o. Espantou todos, e voltamos pra casa “sapateiros”, expressão usada para definir alguém que não logrou resultado em alguma coisa, zerou. Assim era então Ênio.

O que tinha de exótico eram seus estudos. Mexia com assuntos que não permitia que perguntássemos nada. Coisa de guri bobo. Estudava assuntos esotéricos, deixava meio que transparecer que fazia isso, para garantir o respeito por si, mas não permitia que ninguém mais soubesse do que se tratava. Não era proselitista. Fora isso, Ênio era um “bon vivant”. Gostava duma cerveja, uísque e duma farra. Era parceiro em tudo. Menos em matar passarinho. Jogava futebol, era, parece, goleiro. Tocava guitarra (e como tocava mal), e bateria (um pouco menos pior). Fez parte de uma banda na cidade, que durou pouco.

Ênio era um notável desenhista projetista. Numa época em que não havia arquitetos na cidade, apenas engenheiros (e engenheiro treme ao ver um lápis, segundo os arquitetos, e estes, segundo definição dos engenheiros, é um sujeito que não foi bicha o suficiente para ser decorador, nem macho o bastante para se tornar engenheiro), Ênio, que não era bicha, engenheiro, arquiteto e nem decorador, tornou-se o melhor desenhista do gênero da cidade.

Tinha ainda uma virtude, que ninguém jamais decifrou o método: era capaz de entrar se pagar em qualquer lugar, principalmente bailes de interior, bailes da colônia. o homem era dotado de uma habilidade de convicção tão grande, que chegávamos ao baile, um grupinho, duros, só tínhamos uns trocadinhos para um refrigerante ou uma cerveja, mas se pagássemos o ingresso, passaríamos a noite à base de água da torneira do banheiro fedorento. De olho arregalado, em silêncio, 

Observávamos com atenção os movimentos dignos de um malandro junto aos porteiros. Ele gesticulava, ria, fazia movimentos, e logo já ganhava um cigarro de um, fogo de outro, dava umas três ou quatro tragadas, virava-se para onde estávamos e fazia um geste de chamamento com a mão. Íamos em fila, cabeça baixa e olho arregalado, reverente e respeitoso com os porteiros que nos apressavam para disfarçar a desobediência aos patrões da festa. Uma vez lá dentro, em pouco tempo, Ênio aparecia com cerveja e refrigerante para todos. Sem dinheiro.

Topo era o amigo sério do grupo. Moderado, ponderado e exageradamente honesto. Ético até o fígado e um pedaço da pleura. Não admitia um passo em falso de ninguém. A pobre alma vivia como coração na mão em nossa companhia, pois tudo o que não se pode encontrar num grupo de guris metendo os pés pelas mãos é ética. Honestidade até sim, mas ética, assim ética mesmo, deixava-se a desejar. Seria pior, se não fosse o “grilo falante” ao nosso lado. Ríamos muito. De tudo e também de nada. Ríamos de tão bobos que éramos. Aí quando não havia do que rir, ríamos disso. Só pra ter do que rir.

Topo trabalhava em um Banco. Era o queridinho dos colegas por esta seriedade. na idade, tinha lá os seus dezesseis anos. No juízo, uns cinquenta. Na sabedoria, oitenta e cinco ou oitenta e seis. Isso o tornava o chato do grupo. Adorável xarope. Mas era o nosso xarope. onde íamos, ia junto. Se fosse para subtrair frutas em algum quintal, ia junto, mas não sem antes nos prevenir de possíveis consequências, do pecado do roubo e especialmente do que fazer se fossemos mordidos pelos cachorros da casa. E depois o fruto da façanha era dividido igualmente, tudo com ética, sob a observação dele, que já era versado em contabilidade na época.

Um dia, Ênio tomou um tiro bem no meio da cara. Lógico que foi pra sacanear os amigos. Morreu poucas horas depois, por gozação. E a cena que lembro é de nós dois, Topo e eu, sentados num banco da praça, os dois, onde antes sentávamos três, olhando o vazio da noite, os carros que cruzavam indiferentes, e a noite que desfez o trio.

Memórias dos eventos de Gramado - I





Memórias dos eventos de Gramado - I

Festival de Cinema - Fearte - Festival de Teatro Estudantil - Grêmio Machado de Assis


Não tenho o menor interesse em me tornar historiador minucioso dos Festivais de Cinema de Gramado. Nem lembro com exatidão das datas que ocorreram alguns episódios, mas lembro dos episódios em si. Lembro também de outros eventos com os quais tive alguma relação, seja na condição de coordenador ou colaborador, ou como participante convidado ou pela porta de trás (penetra). São histórias pitorescas, que não tem nenhuma intenção de macular os personagens, antes um divertido compêndio de recordações de minha juventude em Gramado.

Os primeiros eventos de que lembro ocorreram nos verões perfumados de Gramado, onde passei a maior parte da vida. O principal era a Festa das Hortênsias, que ocorria creio que nos meses de Dezembro ou Janeiro, em datas alternadas. Não me saem da memória o perfume das hortênsias azuis que alcatifavam as colinas, as ruas, as frentes das casas em toda a cidade. Associo o clima temperado, as manhãs frescas e as tardes quentes ao gosto de melancia, cujo perfume quando cortada também era lembrado ao cortar a grama dos jardins.

Um dos espetáculos de que mais gostava era da Esquadrilha da Fumaça desenhando hortênsias no céu, enquanto misses desfilavam sobre carros alegóricos para delírio da multidão em torno da avenida principal. Penso que os anos eram por volta de 1967, 68. 

Outro evento pertencente à programação eram as corridas de carros antigos, as "baratas" ou "carreteras". Lembro de um nome de piloto famoso: Catarino Andreatta. Um "às", ídolo da mulherada e da rapaziada que sonhava pisar fundo numa "carretera", pois o máximo que conseguiam era acelerar as DKW's, os Simca Chambord, os Aero Willis, as Vemaguetes e claro, os "Fucas". Rural Willis era o carro de passeio das familias medianas e como eu gostava de andar nelas. Lembro do Marcilio Cardoso (Tio Março), pai do Alexandre, Caetano e Manoel Inácio, que enchia sua Rural com a garotada e saía a passear pela cidade. 

E as inesquecíveis provas hípicas na Carriére Municipal, eram belíssimas. O local era todo adornado com nilhares de hortensias que floresciam á volta do prado onde eram realizadas as provas, além dos ornamentos burlescos próprios do evento em si.

Era montado um pórtico à entrada da cidade, que recebia um séquito de cavaleiros, frenteados pelos Dragões da Guarda da Brigada Militar, seguido pelos cavaleiros dos CTG's.

Os sorvetes eram vendidos em dois lugares: Café Brasil e Café Cacique. À noite de um dos sábados, artistas famosos se apresentavam no Lago do Parque Hotel (Joaquina Rita Bier), junto com um balé da capital. Agnaldo Rayol é um de quem lembro bem. As mocinhas quase despedaçaram as roupas do pobre cantor.

Lá por 1969, começou o Festival de Cinema, como um evento complementar da Festa das Hortênsias. Primeiro foi uma mostras, mas quando se tornou oficial, passou a ser um centro de interesse cultural dos artistas e intelectuais brasileiros, por causa da Ditadura Militar. Nesse tempo, a Censura Federal era temida e odiada, pois eram grupos de civis e militares sem nenhuma formação cultural, que detinham o poder de permitir ou estraçalhar com as manifestações artisticas e culturais da sociedade. O Festival de Cinema era uma espécie de refúgio temporário, pois nesse evento, os filmes ainda não haviam sofrido cortes, e também os próprios artistas aproveitavam o encontro para manifestarem suas bizarrices, como desfilarem nus pelos corredores do hotel, pelas ruas, pelas piscinas da cidade. Ou ainda cometerem mais sandices, como a de um diretor gaúcho que foi apanhado urinando na lareira do Hotel Serra Azul (este mesmo diretor depois foi processado pelo poeta Mário Quintana por ter invadido sua privacidade, que o poeta declarava ser seu apartamento no Hotel Majestic, hoje Casa de Cultura Mário Quintana em Porto Alegre, o "Último refúgio de minha virgindade").

No mesmo período, começaram os coquetéis, desfiles e eventos paralelos, muito concorridos dos festivais (creio que até hoje o são. Não sei mais.  Estes eventos eram patrocinados por grandes empresas, que apresentavam desfiles belíssimos e mostravam suas coleções.

Num destes desfiles, acho que da antiga "Casa Masson", de porto alegre. Acho que isso foi já em 1977. Eu era "aspone" da Secretaria de Turismo, e nessa função tinha que trabalhar muito. Era o leva-e-traz oficial do evento e minha tarefa era resolver os incômodos e minuciosos pormenores técnicos do evento (leia-se: de tudo). Isso me dava certo prestígio também, e era respeitado pela equipe, pois mesmo bastante jovem, nunca me prevaleci da função para pisar em quem quer que fosse. Daí tinha certas regalias também. Pois voltando: nesse desfile, eu estava passando pela porta principal do Hotel e vi dois personagens de nariz colado no vidro da frente, mãos nas costas, olhando com curiosidade, a mesma de um menino pobre diante de uma confeitaria. Fui em direção a eles, saí la fora e perguntei por que não estavam lá dentro assistindo ao desfile. "Porque não fomos convidados", foi a resposta! Não tive a menor dúvida. Me investi de autoridade, fiz uma certa reverência e já abrindo uma porta, com voz e olhar firme para o porteiro respondi: "Pois agora são MEUS convidados!" E entraram sem cerimônia, assistindo á programação. Ninguém me chamou atenção por aquilo, embora tivesse circulado pelos bastidores a tal façanha. Quem eram eles? Horst Volk e Romeu Dutra. Criadores do Festival de Cinema e desafetos políticos dos meus chefes.





O inexorável caminho da perplexidade - Como ficamos diante das tragédias?

Os dias de ontem e hoje (1º e 2 de maio de 2024), serão lembrados pela truculência da Natureza cobrando a conta deixada pela imprudência hum...