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quinta-feira, 4 de março de 2021

Nas casas que tem Camélias

















Imagem gerada por IA*

Aposte comigo, se quiser, mas na casa onde tem um antigo pé de Camélia, os quartos cheiram a Maçanilha; a sala é perfumada com chá de Maçã com Canela, e a cozinha tem um velho fogão com a chapa brilhando, assim como brilham as bem areadas panelas penduradas no velho paneleiro esmaltado.

Na casa onde tem camélias no jardim, também não faltam flores antigas, como Cravos e Rosas, Cravinas, e Brincos de Princesa que brincam feito crianças ao embalar do vento.
Na casa onde tem Camélias, um velho gato dengoso se lambe, na janela da varanda, onde vasos pendurados exibem Gerânios e Samambaias vaidosas, em velhas panelas pintadas com outras delicadas flores, assim como delicados são os ornamentos das floreiras das janelas, cuidadas por uma velhinha que veste um longo vestido surrado, de estampa xadrez cinza-chumbo e fios vermelhos em contraste com a cor tristonha do avental.
Na casa que tem camélias, uma panela ferve ao fogo, exalando aroma de frutas sendo transformadas em alguma geleia, para adornar e temperar o pão que assa no velho forno de barro, logo ali, do lado de fora da porta.
Na casa que tem Camélias, tem retratos antigos emoldurados em delicados quadrinhos, cuidadosamente arranjados pelas paredes dos corredores e da sala de estar, ainda que pequenina, muito acolhedora.
Na casa que tem Camélias, tem histórias, causos e lembranças.
Tem até mesmo saudade de tempos que foram guardados juntos com os vidros de conserva, em prateleiras ornamentadas, sobre a mesa de jantar.
Na casa que tem Camélias, tem um bule de café fumegando sobre a mesa, e um velho fazendo graça com sua amada, enquanto ela o repreende pelo excesso de açúcar no café, e estende à ele um pratinho de biscoitos que acabou de tirar do forno.
Na casa que tem Camélias, tem um lugar sempre vago à mesa das lembranças.
Na casa que tem Camélias, as horas andam muito devagar, quanto o tempo corre depressa.
Na casa que tem Camélias, sopra uma suave brisa que embala as velhas cortinas, as cortinas puídas e perfumadas de lavanda, que serviam de esconderijo para as crianças, nos velhos tempo em que ainda haviam crianças se escondendo debaixo da mesa, e correndo pelo jardim atrás das galinhas, acompanhadas pelo velho vira-latas zarolho, que vinha lamber a mão em troca de um afago ou um pão seco.
Na casa que tem Camélias, tem vida, ainda que quase no passado.
Que saudade, da casa que teve Camélias em minha vida.
(Pacard, 2021 - Cadeiras na Varanda)





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Um comentário:

Unknown disse...

Gostei não texto e me lembrou a casa da minha vó amei assim que der vou adquirir o teu livro 😊😊

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