AD SENSE

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

O Desafio humano de Fedoca - Reforma administrativa



Quando era menino, excetuando as férias de verão, um dos períodos mais animados do ano, era o início das aulas. Era um misto de expectativa boa e ao mesmo tempo ruim, pelo início das aulas. A expectativa boa era imaginar como seriam os novos professores, colegas, estudos. Era ainda o cheirinho de plástico novo, aquele que encapava livros e cadernos. Também os apetrechos novos para enfrentar os rigores do inverno, como capa de chuva, guarda-chuva, boné, lanterna (para quem estudava à noite), os livros novos, os cadernos, lápis de cor, a caneta-tinteiro, tudo cheirava a novo.

Outra expectativa eram os professores: seriam bonzinhos, ou carrascos? A professora de ciências seria tão querida quanto à do ano anterior? E as aulas de português, seriam animadas, com muita literatura, ou chatas, com aquela verborreia gramatical, análise sintática, e  recitação de verbos?
O melhor e o pior era a expectativa quanto aos colegas. Seriam os mesmos do ano anterior? Aqueles meninos malvados continuariam na turma? Aquelas meninas empavonadas continuariam sentando lá na frente para puxar o saco didático dos mestres? Os amigos legais continuariam a sentar-se próximos para se protegerem das meninas arrogantes e dos malvadinhos da sala? Aquele abobado, metido a saber de tudo e se meter em tudo, continuaria na turma?  A merendeira, seria ainda a querida Dona Ermelinda? A Dona Hilda?

Começar o ano era um desafio, um êxtase, um luminar de vida e continuidade. Uma oportunidade para testar a maturidade. Tempo bom. O novo sempre tem tudo isso: dois lados , um bom, um ruim, e um terceiro obscuro.


Para escrever meus ensaios, faço pesquisas. Converso com pessoas, leio notícias recentes e antigas, e com estas informações e até mesmo opiniões, reestruturo minhas reflexões. O foco nesse momento continua sendo o novo governo em Gramado, até porque para falar mal do Temer e do Trump, além de execrar o Lula e o PT, já tem uns 200 milhões de pessoas. Não  faço nenhuma diferença. Vou escrever então para quem vá ler o que escrevo, e constato, com alegria e responsabilidade dobrada, que sou lido por muita gente. Lido e respeitado, o que me deixa feliz e expectante, como quando era pequeno e iniciava o ano letivo, com livros novos e uma capa de chuva estalando de nova também.

E em minhas pesquisas, leio um artigo publicado pela Rádio Gramado FM, a partir de uma reunião havida entre Fedoca e Evandro, então  candidatos, falando sobre os novos métodos de sua administração, no tocante aos servidores públicos, sejam eles concursados ou não. Aliás, temos uma péssima cultura de tratar com pesos diferentes um concursado e um comissionado, como se um fosse divino e outro satânico. Não são. Nem um caso e nem outro. A função exercida, se votada pelo Legislativo, e decretada pelo Prefeito, torna-se justa e Legal. Um e outro tem problemas e virtudes. Então penso que deveríamos dar um ponto final nessa questão. E qualquer um deles que agir fora de seu limite de civilidade e ética, que seja punido dentro dos rigores da Lei. E pelo bom cumprimento de suas funções, que seja louvado com os benefícios da Lei. A Lei e a capacidade apenas.

O texto diz assim:

"Na sua saudação, Fedoca disse que o Plano de Governo da Oposição é fruto de inúmeras consultas junto à comunidade e reflete o que querem e como irão dirigir os trabalhos, de uma maneira coletiva. “Nos apresentamos como Oposição exatamente por não concordarmos com os métodos de administração empregados até o momento”, destacou Fedoca."
http://gramadofm.com.br/gramadofm/fedoca-e-evandro-apresentam-plano-de-governo-para-servidores-municipais/

Pois bem. Já apresentei aqui as dificuldades iniciais da formatação dos quadros destes servidores, até porque não é apenas nos cargos comissionados que a dança das cadeiras acontece. Também entre os concursados, que, com exceções específicas, se encontram à disposição do humor e olhar crítico do novo Prefeito, que poderá tanto trazer novos assessores retirados do meio político e politiqueiro também (em geral os politiqueiros são bons "X-9", dedo-duros, e necessários para o olhar atento do Prefeito nas Secretarias para conferir com os relatórios oficiais), como promover em comissão os próprios servidores concursados. Isso deve, no entanto, ser uma exceção, pois um servidor concursado, em geral, está mais preparado para a transição e a continuidade do emprego das metodologias e rotinas administrativas, sem as quais, a Prefeitura quebra em poucos dias.


Uma política com sabedoria então, mesclaria um percentual destes servidores, pactuando com eles que sejam os "X-9") que mencionei, simplesmente porque seus empregos  não  dependeriam de bajulação, mas de seriedade. Isso seria, de um lado, uma forma legal (dentro da lei) de assegurar o bom cumprimento de tarefas pelos comissionados, mas por outro lado poderia estabelecer uma certa tirania por parte dos concursados sobre os pobres comissionados, que vestiram a camisa, fizeram "bandeiraços", brigaram com os vizinhos, tiraram "selfies" e lotaram seus perfis, para ampliarem suas chances de pagarem as contas nos próximos quatro anos, pois temos que combinar que o salário pago pela Prefeitura de Gramado, bate inveja em muito servidor de estados pobres neste país.


O que Fedoca não disse é  como pretende remodelar a gestão funcional. Que carta na manga ele tem, e que o tenha eu não ponho em dúvida, mas a única certeza que possuo é que será de todo "a priori", isto é, intuitiva, por modelo teórico, considerando que esse tipo de relação com grupos de colaboradores diz respeito a quem já está embrenhado na prática de mexer com o Ser Humano no dia a dia. E isso definitivamente Fedoca não está. É um Profissional Liberal, bem sucedido nos negócios, mas até onde tenho conhecimento, seus negócios são ligados ao setor imobiliário e independem de estrutura humana volumosa para geri-los. E caso eu esteja errando pouco, Fedoca irá necessitar de um Secretário de Administração que tenha efetiva competência para gerenciar esta promessa de campanha, que me parece justa, humanizar, dinamizar, potencializar, otimizar o fluxo ativo do patrimônio intelectual do Poder Público. Insisto em dizer que o grande patrimônio de uma administração não são as máquinas, as edificações, ou as ruas asfaltadas. O grande patrimônio que o gestor público tem a oferecer à comunidade são os serviços prestados por uma equipe entusiasmada, feliz, humanizada e honesta.


Então, sob este prisma, e insistindo que Fedoca está com dificuldade de formar sua nova equipe, pelas razões que expliquei no ensaio anterior (veja em: O Trilema de Fedoca, dia 14/11/2016), tenho duas coisas a imaginar: ou Fedoca está escolhendo a pente fino sua nova equipe, ou está disposto mesmo a fazer uma revolução no aspecto humano e administrativo, e está debruçado em listas de servidores e suas competências para remanejá-los entre si, até que seus apoiadores políticos ofereçam vítimas para satisfazer o apetite da nova oposição, que não  vai poupar ninguém de sacrifícios. Seu novo algoz chama-se Ubiratã, que ao que tudo indica, deverá ser o Presidente da Câmara, cuja oposição será maioria. A prudência diz que com Ubiratã, Fedoca não deva mandar recados, mas tratar olho a olho, conversas que poderão ser regadas a cafezinho formal, chimarrão, amistoso, ou papel e caneta, na fria letra da Lei.





terça-feira, 15 de novembro de 2016

E agora, Jose?




Sempre gostei de Drummond, especialmente deste poema.
Isso não é um poema. É uma profecia. Nem é preciso comentar nada.



      JOSÉ
     Carlos Drummond de Andrade


                 E agora, José? 
              A festa acabou, 
              a luz apagou, 
              o povo sumiu, 
              a noite esfriou, 
              e agora, José? 
              e agora, você? 
              você que é sem nome, 
              que zomba dos outros, 
              você que faz versos, 
              que ama, protesta? 
              e agora, José?


              Está sem mulher, 
              está sem discurso, 
              está sem carinho, 
              já não pode beber, 
              já não pode fumar, 
              cuspir já não pode, 
              a noite esfriou, 
              o dia não veio, 
              o bonde não veio, 
              o riso não veio 
              não veio a utopia 
              e tudo acabou 
              e tudo fugiu 
              e tudo mofou, 
              e agora, José?


              E agora, José? 
              Sua doce palavra, 
              seu instante de febre, 
              sua gula e jejum, 
              sua biblioteca, 
              sua lavra de ouro, 
              seu terno de vidro, 
              sua incoerência, 
              seu ódio - e agora?


              Com a chave na mão 
              quer abrir a porta, 
              não existe porta; 
              quer morrer no mar, 
              mas o mar secou; 
              quer ir para Minas, 
              Minas não há mais. 
              José, e agora?


              Se você gritasse, 
              se você gemesse, 
              se você tocasse 
              a valsa vienense, 
              se você dormisse, 
              se você cansasse, 
              se você morresse... 
              Mas você não morre, 
              você é duro, José!


              Sozinho no escuro 
              qual bicho-do-mato, 
              sem teogonia, 
              sem parede nua 
              para se encostar, 
              sem cavalo preto 
              que fuja a galope, 
              você marcha, José! 
              José, para onde? 
      

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Apolônio Lacerda - o Gato




O pássaro e a Serpente




 
"Somos como passarinhos diante da serpente, gritando, pulando, mas sempre em direção ao fim. A serpente não se move. Apena observa. Fixa o olhar e torporiza os sentidos da pobre vítima. Não tem nem garras como os felinos. Não tem pernas ou patas para correr atrás. Tem apenas o olhar e o tempo. São as vítimas quem correm para a morte espontaneamente. Somos nós que corremos para os braços dos políticos e somos nós quem nos deixamos acariciar pela sua cantilena envolvente. Podemos voar e ser livres, mas não temos a vontade e a iniciativa necessária para fazê-lo no tempo devido.
 
Não precisamos deles. Não dependemos deles. São eles quem dependem de nós. São eles quem precisam nos buscar para que os mantenhamos na arena, e, no entanto entregamos nossos votos de forma tão barata, tão fácil, porque acreditamos que um voto não fará nenhuma diferença entre tantos mais.
 
Acreditamos que é apenas um voto e daqui a dois anos teremos outro, e outro. É de graça. Não temos que pagar por ele. Será? Quanto então, pagamos de impostos, porque entregamos de graça nosso voto? Ou pior que isso: porque vendemos esse voto por tão pouco, trocamos pela nossa cobiça, enquanto deveríamos tê-lo colocado na caixa de todos, para servir a todos, e nós entre todos?"
Estado de Alerta, Amazon.com, 2014, Paulo Cardoso
 
Não pensem que sou incoerente, se em meu livro, escrito no auge do petismo deslavado e durante a campanha da "presidenta", falo mal de políticos, e ao mesmo tempo proponho uma nova política. Não sou, pois não coloco na mesma cesta os bons e os maus políticos, embora seja muito difícil discernir um do outro. Não demonizo a política, assim como não endeuso o absenteísmo. O que busco é encontrar um ponto de equilíbrio entre um e outro. O equilíbrio está em algum lugar entre a mesa de refeições de uma família e a tribuna, pois o mesmo que ocupa a tribuna, também leva seus filhos à escola, e busca o pão para oferecer dignidade à sua família. O equilíbrio está na dignidade de doar-se pela sua comunidade, pelo seu Estado, pelo seu País, pela sua corporação, pelo seu emprego, pelo seu trabalho, pela sua crença. Política não diz respeito apenas aos palanques ou às repartições, mas ao modo de olhar nos olhos do seu vizinho. Ao modo de tratar com seu oponente.
 
O que discuto é a relação incestuosa que a má política tem com o poder, e este com ela. A má política gera o poder, que se engalfinha nos seios desta como um amante desesperado em inescrupulosa orgia.
 
O mundo está em convulsão política,  clamando por serenidade. Só que a quem deve ser honrado o manto desta serenidade senão aos que detém o poder e fazem a política? Queremos continuar desta forma? É a política nosso berço ou nossa lápide? Que política desejamos então?
 
 Pense. Pensar ainda é livre. Afinal amanhã é 15 de Novembro. Deveria significar muito para a política brasileira esta data. Afinal, ainda somos uma República.

Degraus


domingo, 13 de novembro de 2016

O Trilema de Fedoca



O ano era 1976. Gramado era aquilo que chamaríamos de pequena aldeia romântica, cercada de montanhas, vales, hortênsias e utopia. Éramos jovens, e cheios de sonhos. Alguém poderia dizer que todos os jovens são cheios de sonhos, mas eu, com tristeza digo que não, não são mais. Para ter sonhos é preciso ter também tempo para sonhá-los. Para ter esperanças, era preciso construir base para acreditar naquilo que não se pode ver, conhecida como fé. Então, éramos jovens e tínhamos tempo livre para sonhar. Eu era jovem, e eu também sonhava.



Eu era aquele menino conhecido vulgarmente como “um Zé Ninguém”. Sonhador, risonho, mas um “Zé Ninguém” mesmo assim. Pobre, não tinha nem um gato, pra puxar pelo rabo e chamar de meu. Era capaz de me apaixonar pela menina mais linda da sala, mas, ainda assim, ouvir dela que eu não tinha espelho em casa para me enxergar, e que eu não passava de um “comedor de pão velho”. Então, eu já não seria mais um “Zé Ninguém”, mas agora tinha um título: “Comedor de pão velho”” Fiquei feliz, pois descobri que ela me conhecia bem.



Um dia, era época de escolha do Presidente do Grêmio Estudantil. E o comedor de pão velho sonhava participar do grupo. Fui correndo então oferecer meus préstimos ao então presidente, que seria candidato, ou indicaria alguém para o cargo. Recebi uma negativa, dizendo que sua equipe já estava completa, mas que se vagasse um carguinho, eu seria convocado. Bem, está certo então. Devemos ser humildes, mas …. Ele que fosse catar coquinhos. Minha humildade havia aberto a porta que guardava meus brios, e naquele momento meu orgulho gritou lá do fundo: Levante a cabeça, “Zé Ninguém”! E levantei a cabeça, engoli o choro, e fui conversar com um colega mais experiente, o Eduardo Barros. Sugeri a ele que deveríamos formar uma chapa para concorrer, onde ele, Eduardo, seria o Presidente, e eu ocuparia um lugarzinho lá no fundo, talvez no departamento de arte do Grêmio Estudantil. Outra negativa. Eduardo olhou sério e disse: “Vamos montar uma chapa sim, mas TU será o Presidente nela”! Fiquei assustado e incrédulo. Eu, Presidente? Sou apenas o “Zé Ninguém”! Mas aceitei o conselho e fui à luta. Descobri que para ser eleito eu precisaria ter a maioria dos votos. Mesmo que fosse um apenas. Além disso, teria que montar uma chapa com membros eletivos, e formar antecipadamente minha diretoria. A escola tinha cerca de mil e cem alunos. Fui atrás daqueles que julgava os mais competentes para as funções. Descobri que meu adversário já havia arregimentado todos. Cerca de trinta alunos. Então, precisei encontrar alguém que fosse capaz de acompanhar-me ao abismo da derrota. Encontrei mais três suicidas, e os quatro “Zés”, formamos uma chapa chamada “Reorganização”, em oposição à chapa da situação chamada “Renovação”. Fizemos uma campanha sem pompas, apenas no corpo a corpo. E para nossa surpresa, vencemos a eleição, com cerca de oitocentos votos. Uma lavada, se o termo me permite.



Acordei feliz no dia seguinte. Por algumas horas, pois descobri que eu precisava de uma equipe de umas trinta pessoas, competente, fiel, dedicada, para colaborar comigo no mandato. Meu sucesso dependia deles. Mais eu deles do que eles de mim. Pensei longamente por cerca de cinco minutos e resolvi o assunto: Convidei TODOS os componentes da chapa adversária para que se juntassem á mim. E quase todos aceitaram, menos dois: O candidato á presidente e seu vice. Pena, pois teriam sido grandes colaboradores. Mas eu entendi e ofereci o lencinho para que chorassem sua viuvez.

Não sei se minha gestão foi boa ou ruim. Mas sei que deixei um sucessor de minha escolha.



O que essa história lá do passado tem a ver com a realidade de Gramado? Acho que muito. Pensem comigo. O PMDB se dividiu em três: O que permaneceu fiel e votou num pedetista para comandá-los; o que votou no Pedro Bala, mas não saiu do armário; e aquele que votou em branco ou anulou seu voto em protesto.

O PDT não tem contingente. Já disse e insisto nisso. É um coringa que oportunizou um comandante que ainda restava no estoque. Está bem. Mas ficou aí, com uma ou outra exceção que sobe, mais por afinidade afetiva, do que por notória competência para qualquer função de destaque. Aí é no PMDB que vai precisar raspar a panela. Só que o PMDB, magoado, não vai deixar um tradicional adversário comer à sua mesa. Além disso, o PMDB tem outros planos: minar a liderança de Fedoca, para que Evandro cresça. Não me entendam mal. Isso é política apenas. Se o PMDB for mesmo o PMDB que todos conhecem, a experiência já deu certo com Sarney, e mais certo ainda com Temer. Não estou fazendo juízo disso. Apenas lembrando que o método não é estranho ao partido. Funciona. Então aquele PMDB que não quer partir pro confronto porque isso é desgastante, acompanha o confronto dos outros e fica posicionado estrategicamente num cantinho onde possa, no momento oportuno, ocupar sua vez na cadeira do chefe. Evandro já deu sinais disso, declarando publicamente que não quer cargo de Secretário, por desejo de ficar á espera de sentar-se na cadeira de Fedoca. Só que Fedoca, mesmo não tendo feito muito esforço pra isso, conforme já comentei antes, ganhou a cadeira nas “devas”, na justeza da coisa. Então ela é sua e ninguém tasca. Ele não foi lá se oferecer, mas já que insistiram tanto (e insistiram tanto para convencê-lo), que agora tem direito a ela.

Pois bem. Só que isso não resolve ainda a questão da governabilidade. Fedoca não pode ocupar os cargos necessários para a governança. Nenhum dos 255 que prometeu manter. Evandro não os quer também. E o PMDB não deu as caras para socorrê-lo. Já o auxiliaram a vencer. Não lhe devem mais nada. Onde estará o socorro de Fedoca agora? Na humildade! Mais que na humildade, na habilidade em negociar com a nova oposição que está machucada com o rescaldo das ofensas recebidas na campanha. É o trilema de Fedoca. Eu explico. Parafraseei o “Trilema de Epicuro”, que dizia: “Se Deus é Onisciente e Onipotente, e criou o mal, então sabia o mal que o mal causaria, então Deus é mau?” O trilema de Fedoca é mais simples então: ”Fedoca imaginava que não venceria, pois não tinha voto. Imagina que se vencesse, quem o apoiasse o capacitaria para cumprir o que prometeu. Descobriu que venceu, mas recebeu o apoio que esperava, e não teve saída senão rever suas estratégias, ou melhor, criar alguma, porque quatro anos pode se tornar uma eternidade, para ele, e para quem o elegeu. E uma eternidade e meia para quem deseja tomar seu lugar de novo.



A saída honrosa de Fedoca pode ser mais simples do que se imagina, pois assim falando, parece que estou vendo apenas as dificuldades dele. Não, estou levantando estas dificuldades e buscando uma solução, mesmo que não me paguem nada por isso. E a solução é encontrar algum nome dentro da comunidade que seja negociador. Que tenha trânsito com todos os lados. Que negocie com a UPG, que, pode não estar com a caneta do Executivo, mas está com a voz do Legislativo, e se fazer não pode, impedir que seja feito pode. E vai. Pois sabe que, goste ou não disso, quem está saindo, está levando consigo o grande patrimônio intelectual, toda a bagagem e a chave do cofre que guarda a Gestão do Conhecimento de dezesseis anos de trabalho árduo, com todas as encrencas a que tinha direito, mas também todos os louros que puderam receber por isso. Engana-se quem pensa que o patrimônio de uma cidade seja apenas ruas, praças, escolas e hospitais (esta é outra novela). O patrimônio de um lugar é sua inteligência. A América do Norte não rica e poderosa por produzir coisas, mas por criar as coisas que outros produzem e as vender para que outros as comprem.



Este nome, esta pessoa pode articular com os vencidos, propor uma trégua em nome da governabilidade e pelo bem da comunidade, e ajudar a montar a equipe que permitirá a continuidade do crescimento de Gramado, seja no campo econômico, comercial, turístico, mas sobretudo humano e humanitário. É o momento apropriado para Fedoca mostrar o líder que tinha guardado para esta ocasião. Em lugar de rivalidade, união. Em lugar de orgulho, humildade. Em lugar de revanche, cooperação. Em lugar de perseguição, a cuia de mate sincera. É difícil, tem que ser muito grande para tomar uma decisão dessas. Mas creio que ele seja capaz. E este mate deve ser servido por ele próprio. Não espere dos outros este gesto.



Que não caia Fedoca no repetido erro dos governantes que chamaram para perto de si, por primeiro, os puxa-sacos, os medíocres encostados, os que não tiveram capacidade de empreender e por isso brigaram com unhas e dentes pelos mais elevados cargos e salários. E se o fizer, vai errar mais que aqueles a quem criticou, pois criticou bastante, e agora vai ter que provar que é capaz de agir diferente. Vai ter que negociar com pessoas, com profissionais e não com partidos, porque está provado que partidos não entendem nada de governar. Por isso chegamos onde chegamos. A política precisa ser redesenhada, e Gramado pode e deve dar este passo.



E a minha história com o Grêmio Estudantil, como terminou? Bem. Continuo sendo um “Zé ninguém”. Mas não tive uma única voz de oposição durante minha gestão. E acabei sendo um “Zé Ninguém” mais conhecido. Nem sempre compreendido (dizem que eu falo difícil. Talvez. Se parece difícil o que eu falo, tente ler mais devagar, e eu tentarei escrever de forma mais convincente).

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Meu filho será Doutor! Será?





Difícil imaginar que exista um único pai ou mãe no mundo que deseje como profissão para seu filho "limpador de fossa", ou "recepcionista de banheiro de rodoviária". Não desejam, e se disser que deseja isso, mente, por conveniência social, por vergonha. Na verdade, nem passa pela cabeça de alguém nessa fase da civilização moderna ocidental que deseje ver seu filho ou filha engalfinhados de traseiro para cima esfregando chão de banheiro público, ou enrolando mangueira de sucção que acaba de sair de uma tubulação de esgoto sanitário.

Filho de ninguém foi colocado no mundo para que fosse objeto de desejo de pais que sonham uma carreira de glória e fama, nestas condições. Não mesmo. O filho de todo mundo que conheço, mais dos que não conheço, mas imagino, tem um lugar reservado pelos pais no pódio da glória. Só que nem sempre alguns pais lembraram de combinar isso com a vida, com as oportunidades. nem sempre guardavam consigo as chaves do sucesso. Nem sempre foram capazes de fehar negócio com sua própria capacidade de convicção e convencimento de outrem para que este sonhado sucesso lograsse êxito.

O tempo passa, e começam as decepções. As notas baixas, a falta de interesse nos estudos, a falta de oportunidade no meio social em que buscam participar, e finalmente, a aparência de fracasso se estampa no rosto destes pais. Tornam-se infelizes, amargurados, pessimistas com o próprio sucesso pessoal, e finalmente, resignados à sorte, jogando sobre D's a culpa sob a máscara de destino. E quando percebem, veem os filhos, antes imaginados eminentes doutores, médicos, magistrados, juristas, investidores, enfim, a lista da imaginação é interminável, não vestirem toga e beca na memorável noite de formatura da turma que nunca existiu. O sucesso tem muitas gavetas, especialmente quando ainda está em ebulição na mente dos pais.

Vamos então falar um pouco de sucesso. Posso dizer com convicção que desejei tudo isso para meus próprios filhos. Mas não desejei exatamente isso. Desejei muito mais. Desejei que fossem felizes. Desejo ainda, que sejam felizes. Desejo mais que isso. Desejo que além de felizes, continuem sendo dignos, éticos, corretos, mas sobretudo, humanos.

Mencionei meus próprios filhos para dar peso à esta reflexão, até porque, nenhum deles passou perto daquilo que eu próprio sonhava para suas carreiras, talvez no íntimo, porque não lembro de ter revelado tal sonho. Sonhar uma carreira para alguém pressupõe estar absolutamente seguro da possibilidade de sucesso desta escolha ou indicação. E se tem algo que eu não tenho nenhuma certeza nessa vida, é de ter certeza de coisa alguma, a não ser, repito, que meus filhos sejam felizes, e façam felizes aqueles ao seu alcance de fazê-lo.

Desejamos intensamente o brilho, mas nem sempre estamos preparados para para a obscuridade. Temos orgulho dos filhos bem sucedidos, mas escondemos a nossa vergonhade não levá-los para o pódio em noite de gala. Assim como desejamos nosso próprio sucesso, e temos vergonha de assumirmos nossos fracassos, e desta forma, projetamos nos nossos filhos todos os rejeitos de nossa insatisfação, para que levem eles sozinhos a carga de pagarem pela nossa própria falta de capacidade de subir as montanhas que desejamos para nós.

Que tipo de sucesso desejamos para os nossos filhos? Um sucesso que para alcançá-lo os faça carregar um peso além de sua capacidade e de sua vontade, ou um sucesso que os leve à frustração quando não os alcançam, não por si mesmos, mas pela culpa de não nos agradar o suficiente?

Antes de concluir, quero contar duas historias. A primeira, um breve relato da constatação que o rapaz que limpa as fossas sépticas pelos condomínios cobra quase mil Reais para enfiar a mangueira, ligar a bomba, e encher uma carga de dejetos. Isso demora cerca de meia hora. Durante o dia ele cheira a merda, mas sua conta bancária faz inveja a muito executivo de multinacional.

A segunda historia é do Seu Davi, que um dia me contou que havia um imponente hotel à venda lá em Gramado. Interessado, foi conversar com o dono do hotel. Foi recebido de pé, no balcão de recepção, olhando de cima abaixo para a maneira de vestir-se do seu Davi, respondeu antes de ser perguntado:
- O senhor não tem dinheiro para comprar meu hotel.

Deu meia volta e sumiu.

Seu Davi me contou isso e acrescentou:
- Seu Paulo! Eu tenho recursos para comprar dois hotéis iguais ao dele. Paciência. Comprei outro então. A propósito, Seu Paulo, o senhor sabe qual é a minha fonte de renda? Sou concessionário dos banheiros da Estação Rodoviária de uma Capital. Ganho cinquenta mil dólares por mês, com apenas quatro funcionários.

O que é sucesso então?

Direita ou Esquerda: A multidão dos perplexos





Já tem alguns dias que estou silencioso. De butuca. Cafifado. Soturno. Só examinando o terreno.  É muito fácil escrever e comentar o óbvio. Mais fácil ainda é apontar o dedão e levantar defeitos dos desafetos, dos adversários. É confortador observar o sentido de movimentação da multidão, e lá na fila de trás, criticar quem vai á frente. Só que agora a coisa está ficando esquisita, pois a multidão está se organizando em blocos e direcionando seu andar rumo ao desconhecido. Ao incerto, buscando o paraíso, mas se afunilando no abismo dos antagônicos. Não temos mais uma multidão, mas três multidões.

A primeira multidão é aquela vitoriosa, não em sua ideologia, mas em seus candidatos. Depois explico melhor isso. A segunda multidão, tão numerosa quanto á primeira, é a multidão derrotada, traída em seus anseios, desmotivada, decepcionada, carente de colo, e desiludida com a política. E há uma terceira multidão crescente, que é a multidão dos perplexos. Esta multidão é aquela que está definindo as eleições, não por sua postura, mas exatamente pela falta dela. Como disse, está perplexa, e definitivamente desiludida com qualquer tipo de promessa, tanto dos políticos, quanto das religiões ou até de si própria.

Durante muito tempo, falar em Direita ou Esquerda era visto com ceticismo. Desvio da realidade. Era falar de um tempo que não fazia mais sentido à civilização caminhar sob esta dualidade ideológica. Acreditava-se que o Homem estava próximo de chegar ao apogeu da civilidade. Daí veio a "Primavera Árabe" e derrubou a parede fina que escondia o que de mais escuro havia nas cavernas da maldade humana. Depois disso,  a Rússia incorpora um novo sentimento de poder, desta vez revestido de capitalismo, mas com olhar firme na obsessão de colocar novamente seu urso frente a frente com a águia americana, e estabelecer novas bases de negociações no mundo, a partir da certeza do apoio deste ou daquele, tal como acontece na prática na Síria, com Assad no comando de um genocídio sem precedentes na historia moderna. E sabemos o que acontece depois: um dia, ninguém mais acorda naquelas ruínas, Assad nada mais tem a oferecer à Rússia, e sua  cabeça é entregue numa bandeja para julgamento, assim como foi  feito com Saddan e Kadhafi. Eram os demônios úteis. Aquela guerra acaba (até porque só  tem guerra enquanto houver gente para ser morta), os grandes apertam as mãos, e saem vendendo as novas tecnologias do horror a outros malucos pelo mundo. Ganha o mundo das armas. Perde a humanidade. Mas ainda assim, não há aqui Direita nem Esquerda. Há apenas a multidão dos perplexos à espera de um amanhecer sem bombas. De ouvir novamente o ´trinar dos pássaros e os alegres gritinhos das crianças pulando corda.

A primeira Multidão, a urbe dos vitoriosos, também está perplexa ainda. Não sintonizou com o que alcançou pela vitória. Lembra a cachorrada que corre latindo atrás dos automóveis, mas quando estes param, também os cães dão meia volta e procuram outro para correr atrás. Não sabem o que fazer com a conquista. Dispersam em busca de mais uma aventura. Isso aconteceu com Che Guevara  (aquele barbudo fedorento estampado na camiseta dos playboys ricos metidos à esquerdistas), que terminada a revolução, não suportou a gravata e pegou de volta o fuzil para se embrenhar pela selva boliviana e lá encontrar sua glória, mesmo que tenha sido com as mãos cortadas e os olhos arregalados pelo horror da morte anunciada pelo seu carcereiro da CIA. A primeira multidão, que se juntou para vencer, venceu, com a promessa de mudar o mundo e reescrever a civilização, descobriu, já no dia seguinte, que o buraco que muda  a civilização é bem mais embaixo, mas suas contas de água, luz, e condomínio, estão abarrotando a caixa de correio, acumuladas durante sua ausência gloriosa para fazer uma revolução.

A segunda multidão está apática, ferida, chorosa, magoada, infeliz, decepcionada, porque de maneira geral, foram poucas as situações, tanto no Brasil e agora, comprovadamente na América racista, em que diferenças substanciais demarcariam território para os vencedores. Literalmente rachada ao meio. Mesmo Trump, que venceu, ao estilo de Bush, pelo número de delegados, perdeu no voto popular. Hillary foi bem no voto popular, mas não convenceu nos estados onde precisava poucos votos. Enfim, a democracia americana mostra pro mundo que o povo não  vale dois dedos de mel coado, nesta matemática mais complicada que as regras de futebol também americano. Então esta segunda multidão sai agora às ruas, tal como fez o PT, com seus cinquenta e três milhões de votos, com os quais contavam, para fazer uma revolução e defenestrar o Temer, acabou esvaziando os balões por descobrir que às vezes as minorias podem ser esmagadoras.

A terceira multidão, é a soma das duas primeiras, em sua perplexidade, mas cria um território livre para os indecisos, que embora tenham todas as desculpas do mundo para se eximirem da responsabilidade nos debates sobre este ou aquele, não consome energia útil em discutir sexo dos anjos, muito menos em defender este ou aquele, por acharem que nenhum dos dois lados  vale as tais duas colheres de mel coado.
Esta é a multidão que não deixou acumular as contas na caixa do correio, porque não  gastou seu tempo em tentar mudar o mundo, fazer uma revolução, e muito menos comprar briga por quem não quer ver governando em seu nome. Mas é  também a multidão que decididamente não  vai  fazer nada para mudar o mundo, fazer uma revolução, ou semear uma floresta para as próximas gerações. É a multidão dos vira-latas, que não  aceitam coleira nem dono. É a multidão do vinho sem rótulo, que tanto pode ser um suco, quanto um péssimo vinagre. É a multidão mencionada por Jesus, que as compara a sal insípido, para ser cuspido, ou a água morna, para ser vomitado na terra.

O mundo está perplexo com tudo o que  vem acontecendo, e neste comentário vou eximir a questão profética, de cunho religioso, que eu acredito ser o pivô principal deste palco, onde somos personagens e espectadores, mas jamais autores ou diretores. Somos como um cardume de sardinhas, ou  um espetáculo de estorninhos, pequeninos pássaros que oferecem um bailado em bandos de milhões, que desenham evoluções nos céus, sem que haja um líder visível. Esta multidão se esquiva e se protege pelo anonimato de seus pensadores, sem generais, e principalmente, sem candidatos a nada. Eles não têm consciência de política, e certamente  desconhecem regras de marketing, ou a arte da guerra de Sun Tzu, mas instintivamente sabem que se deixarem o bando, o cardume, não sobreviverão mais que poucas horas fora do bailado coletivo.

Somos multidões perplexas: primeira, segunda ou terceira. Por ter vencido (mas vencido o que?); por ter perdido (mesma pergunta), ou por saber que tem tudo a perder, aconteça o que acontecer, governe quem governar, morra quem morrer, ou viva que já nasceu. Mesmo que seja uma vida sem sentido algum.
De que multidão fazemos parte, você e eu?



segunda-feira, 7 de novembro de 2016

O voto em branco



O voto em branco



O Mapa Mundi tem dois hemisférios: Sul e Norte, embora sempre começamos pelo Norte, porque quem desenhou os mapas foram os europeus, e a Europa fica no norte, portanto, segundo juízo deles próprios, do lado de cima, algo como se eles vivessem no alto da montanha, e os do lado de baixo fossem assim, tipo, uns "porcos latinos". E desde então, olhamos para o norte como se olhássemos para um altar cheio de deuses, e aqui uso o termo plural, posto que vale o comparativo pela metáfora que de lá foi gerada.
Pedro Simon, quando governador, voltou um dia feliz da vida de uma viagem, onde foi presenteado com um mapa invertido, onde o Rio Grande está no alto e o polo norte na parte inferior, e depois disso já se revestiu de Bento Gonçalves e desde então quer porque quer separar o Rio Grande. Vai sonhando, vai.

Mas esta doença terminal e incurável de achar que quem palanqueou o pingo num bolicho, na parte inferior do mapa não é gente, ou se for, ainda está na escala intermediária da evolução, apenas cresce e se alastra cada dia mais. Nem preciso gastar muito atlas de geografia para comprovar minha dedução. Basta ver a Europa jorrando água gelada nas hordas de bárbaros que invadem seu território com a desculpa de serem refugiados. Uma ova que são,e pensam os do lado de cima do mapa. Tal como Roma que foi invadida e dominada pelos bárbaros, os bárbaros de hoje são estes refugiados (estou entrando na linha de pensamento dos senhores da guerra para tentar entender até onde pensam em chegar com tais façanhas).

A América também tem os seus próprios bárbaros para que lhe tirem o sono: somos nós, míseros porcos latinos que trememos de medo de um fanfarrão mimado, e nos jogamos nos braços de uma tiazona que promete dar colo e até deixar que seu marido amamente os inferiores, contanto que não invadam sua privativa caixa de emails, nem se metam com sua nefasta religião inspirada no bruxo britânico que ensinou catecismo ao Raul Seixas e a gurizada do Kiss. Todos estão na parte de cima do mapa. Nós estamos na parte de baixo. E ainda assim, brigamos pelas ruas em defesa de um ou de outro. Mas não importa. Um deles vai se assentar no trono da Besta que emerge da Terra, e os porcos latinos, ou afro serviçais serão sodomizados por um, ou dar-se-ão à felação por outro. Não  temos como escapar. E o que é pior: nem votar nós podemos, porque caso pudéssemos votar em algum deles, não teríamos a liberdade de escolher a terceira opção, que é votar em branco. Sim senhor, foi isso mesmo que eu disse: votar em branco!

Mas votar em branco não é omissão? Ficar em cima do muro? Ou um protesto? Perdi o juízo, ou o respeito pela possibilidade de escolha que alguns ainda tem? Mas tem mesmo? Nós tivemos escolha quando votamos em Temer que ainda se assinava como "Dilma"? Tivemos escolha quando tivemos que escolher entre Lula ou Collor? Foi nossa escolha ter permitido que Sarney se tornasse cada dia mais Sarney,  até que já se tivesse botando Sarney pelo ladrão, de tanto Sarney que suportamos? Tivemos escolha quando Cunha se aliou com Renan para defenestrar Dilma (até aplaudimos), mas logo em seguida voltamos ao chão da realidade e desejamos que as pulgas de mil camelos se enfiasse na cueca dele enquanto estivesse algemado para que não pudesse se coçar? Tivemos escolha?

Não tivemos nenhuma possibilidade de escolha, nem mesmo quando milhares de candidatos entupiram nossas horas de descanso com suas imbecilidades no horário gratuito. Aliás, temos escolha de não ver horário político? Não temos, a não ser pagando por um pacote de TV a cabo.

Então quando não há mais possibilidade de escolha, ainda assim há uma escolha, a melhor e mais prudente das escolhas: o voto em branco. Por uma razão muito simples: se confiamos em D's (Deus) como dizemos que confiamos, ou desejamos confiar, por que não confiar à Ele o privilégio de fazer a escolha que nós não somos capazes de fazer? Quando  não  temos mais escolha, temos então, nesta leitura, a melhor das escolhas. Votar em Quem nunca nos colocaria no lado de baixo de um mapa qualquer.

*PS
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domingo, 6 de novembro de 2016

Entardecer com Paz



Quando era menino, com minha avó, uma senhora austera e religiosa, mas doce e divertida também, tomei gosto pelo estudo de profecias. Não estudava apenas por curiosidade, nem por medo, mas por necessidade, e por esperança.  E também, sim, porque gostava muito.

Hoje, não posso mais dizer que gosto, porque conhecer profecias é uma necessidade. Não se pode mudar uma única linha daquilo que está escrito para que aconteça, mas podemos mudar nossa atitude em relação aos acontecimentos, para nos preservarmos de sofrimentos, e também, pelo conhecimento, para prevenção de angústias desnecessárias.

Quando falava das profecias, quando menino, falava com autoridade de quem tinha certeza compreender cada passo da história que ainda não havia acontecido. Quando falo de profecias hoje, falo como meio de prover  algum conforto, pela certeza que tudo que está acontecendo, estava escrito nas profecias.

Quando era menino, via com esperança e medo os fatos que presumiriam a vinda do Messias. Hoje, vejo com perplexidade e perplexo fico ao perceber que tudo aquilo já esteja acontecendo, e eu ainda estou aqui para ver todas estas coisas acontecendo.

Quando eu era menino, acreditava que poderia e deveria fazer minha parte para convencer e converter pessoas para que acreditassem da mesma forma que eu acreditava, e passassem a viver da mesma forma que eu presumia ser a correta para ser vivida, embora eu mesmo não fosse capaz de vivê-la, posto que tudo que eu tinha era um pouco de conhecimento, pelo estudar e ouvir, mas não tinha suficiente convicção que tivesse a capacidade e argumentação necessária para convencer e converter pessoas, para que abraçassem a minha própria fé.

Quando eu era menino, acreditava que eu conhecia a única religião certa e a única capaz de salvar pessoas para a eternidade, contanto que se submetessem às normas que eu próprio contestava, porquanto não era a religião ou as doutrinas, ou muito menos as profecias que eu pregava, mas um modo de vida que nem eu mesmo era capaz de suportar, e por isso, muitas foram as vezes em que me rebelei contra isso ou aquilo, e ao fim, sentia-me culpado, acreditando que estava me rebelando contra o próprio Deus, a quem eu tanto amava.

Quando eu era menino eu tinha sonhos, tinha fé, e tinha ânsia de arrebanhar o mundo pelas minhas palavras, para que o Messias viesse de uma vez. Queria que Ele viesse, mas tinha medo das coisas que antecederiam a Sua vinda. Como alguém que quer ser curado, mas não quer tomar o remédio, por ser às vezes amargo.

Hoje não sou mais menino. Deixei um pouco de lado o afã por saber minúcias dos acontecimentos, cruzando profecias com historia, matemática, teologia, apologetica, escatologia, e todas as ciências relacionadas com as profecias e com a iminente vinda do Messias.

Hoje não sou mais menino, e o saber se multiplicou, da mesma forma que dizia o profeta Daniel. A ciência foi esquadrinhada. Terror, guerras,e terremotos, destruição de famílias, a maldade se assenhorando do coração das pessoas, fome generalizada, sofrimento, dor, morte, desespero, angústia, o tempo sendo roubado da nossa vida, a vida se escoando pelo ralo da insignificância, e eu assistindo isso tudo enquanto caminho pelas ruas absorto na leitura dinâmica e nervosa de meu celular, traçando estatísticas nervosas e comparando os gráficos do temepo, percebendo que os acontecimentos são mais velozes do que minha capacidade de acompanhá-los, mesmo apenas para atualizar minha linha cronológica reversa, contando o tempo que falta para que isso tudo tenha fim.

O mundo chegou no seu ocaso. Não são os profetas quem dizem, mas a ciência. O mundo não cabe mais no mundo, e isso não é a Bíblia quem diz, mas os noticiários nervosos. O mundo, que foi feito para acolher o Homem, abraçou e sufoca o Homem, como vingança por estar sendo sufocado pela incontinência da ganância, onde o Homem é o lobo do Homem, o algoz do Homem, o túmulo do Homem.

Hoje não sou mais menino, mas algo aconteceu comigo nesta  caminhada furiosa por vencer o mundo, e quando vi que meus passos eram curtos  demais para o acelerado compasso do avanço do futuro que nos varre igual a mil tsunamis com suas novidades, percebi que estava, igual à uma serpente que  rasteja, perdendo a casca, e me reconhecendo novamente um menino.

Nesta desenfreada luta pela sobrevivência, matando feras a cada instante, descobri que é capaz de atravessar um dia de tempestades, e fruir do entardecer com serenidade e relativa paz.

Mas como posso falar de paz, se acabo de citar que o mundo está em convulsão, gemendo as dores de um parto sem fim? Será que fui anestesiado e passei a hibernar a consciência para a dor alheia, envolto em minha capa de fé, estribado no meu conhecimento acerca das profecias, e sabendo que tudo o que esteja acontecendo estava assim previsto, e que esta certeza também entorpece a minha consciência, em relação aos  demais?

Não! O meu entardecer de paz é semelhante a cada entardecer do povo hebreu no Egito, durante as pragas que assolavam seus algozes. Não eram atingidos, e ainda assim oravam por seus senhores. O meu entardecer de paz é a certeza que tenho que mesmo diante do cumprimento de todas estas coisas diante dos meus olhos, sei que tenho que  fazer apenas aquilo que posso  fazer, de acordo com as minhas forças, com o melhor de minha  capacidade de fazê-lo, e assumir minha responsabilidade de primeiro mudar aquilo que pode ser mudado dentro de mim mesmo, e depois,, fortalecido, levar esta mudança ao que estiver mais próximo de mim, não do meu jeito, mas do jeito de Deus. Meu entardecer de paz é saber que minha força é humana, e que minhas mãos e pernas são limitadas, mas que minha oração pode ir além. É ilimitada em poder, inabalável em magnitude, inatingível pelas fagulhas do mal.

No meu entardecer de paz, reconheço as minhas limitações em subir apenas um degrau por vez, mas é sempre acima. Reconheço que minha carga não pode ser erguida além das minhas forças, então busco forças com Quem não tem limite para suportar peso algum. E meu entardecer será sempre de paz, mesmo que o mundo desabe ao meu lado, até mesmo porque o mundo está cheio de cupins. Não suporta mais seu próprio peso. Então daqui nada mais espero, mas mesmo assim, ainda tenho responsabilidade de cuidar daquilo que tenho.

Se o mundo onde vivo não é o mundo dos meus sonhos, devo preservá-lo para que o mundo que nem mesmo meus mais elevados sonhos são  capazes de descrever, seja guardado para mim. É neste mundo que eu  creio de verdade. É deste mundo que as profecias que conheci quando menino contavam, lá no final, sempre. Minha história então, acaba de começar pelo fim daquilo que não é bom, para recomeçar pelo princípio daquilo que será eterno. Era disso que falavam as profecias que eu tanto amava estudar.

Shalom!

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

O caso da sogra

Demerval não era cego. Demerval não era louco. Demerval sabia exatamente o que acontecia na sua vida, a começar pela casa onde morava. Ou melhor, a casa da sogra.

Nos tempos bicudos em que vivia, com o salário de professor de geografia em uma escolinha pública, Demerval sabia que era um abençoado por ter onde morar sem pagar aluguel, condomínio ou IPTU. Por isso, nunca reclamava. Tinha uma rotina rígida: chegava sempre no mesmo horário, saía na mesma hora e comia as mesmas coisas. Sempre. Todo dia. Exceto aos domingos, quando a sogra preparava salada de maionese, carne de panela e spaghetti. Afinal, ele morava na casa dela.

Mas sua sogra não era ruim. Pelo contrário, era uma mulher excepcional. Diferente do conceito pré-definido que se costuma ter de todas as sogras. Ainda jovem, esbelta, bem cuidada, fina e delicada. Suas mãos continuavam macias, a pele firme e o sorriso encantador. Um sorriso que não era qualquer sorriso. Sorria com o olhar, sorria ao andar, sorria no silêncio. E Demerval percebia isso. O que o fazia sorrir também, com um orgulho discreto.

E assim os dias de Demerval se passavam. Embora vivesse na casa da sogra, a doçura dela o fazia feliz. Sim, Demerval era feliz. Mesmo depois de ter sido deixado pela esposa há mais de cinco anos. O que lhe restara era o verdadeiro amor de sua vida: a sogra.

Ela tinha sido sua professora no primário. Sempre linda e meiga. Um encanto. Aos oito anos, Demerval ousou pedi-la em casamento. Ela respondeu com um esperançoso "talvez, um dia". E ele acreditou.

O tempo passou. Ela se casou... com outro. Um homem mais velho, rico, dono de um carro. Demerval, na época, só tinha uma bicicletinha aro 24. Não havia como competir. Mas ele esperou. O tempo, afinal, era o senhor da razão. Choveria na sua horta.

Os anos seguiram seu curso. Demerval nunca se casou. Sua professora teve uma filha. Uma menina linda, loira, de olhos azuis, que cresceu e se tornou uma mulher deslumbrante. Atrevida, levada, cheia de vida. Tudo saía conforme o planejado por Demerval.

Ele era um homem maduro, cheiroso, educado e já conhecido desde a infância pela professora. Nada mais perfeito. Com o tempo, depois de muitas flores, presentinhos e gestos gentis, casou-se com a filha da sua professora.

Um gentleman. Um impagável cavalheiro. Cavalheiro demais. Cercava a esposa de flores, mas ela queria mais. No âmago da sua juventude, ansiava por emoção. Ele dava presentes — para a esposa e para a sogra. Convidava a esposa para jantares românticos à luz de velas: ele, ela... e a sogra.

A sogra adorava. Aquele menino de ouro não a enganara. Doce e cavalheiresco, como sempre fora desde a primeira série. O genro perfeito.

Mas não era o marido que sua filha sonhara. Não que ele falhasse em suas obrigações. Pelo contrário, era pontual, servil, gentil e delicado. Até que um dia, a esposa não aguentou mais e foi-se embora. Queria mais. Queria aventura. Queria um homem normal.

Puxa vida. Por que ele não podia ser só um pouquinho como os outros? Deixar a cueca jogada no corredor, as meias na mesa de jantar, arrotar, roncar, dizer palavrões. Por que ele não errava pelo menos uma vez para que ela tivesse o prazer de jogar tudo na cara dele?

Mas não. Demerval era metódico. Matemático. Amoroso. E nem queixar-se à mãe podia, porque diria o quê? E para quem? Então, foi embora. Ferida na sua dignidade, deixou apenas uma carta de despedida... em branco.

E Demerval ficou só. Com a sogra.

Não, ele nunca mais ousou pedi-la em casamento. Ela já havia dito seu "talvez". E esse "talvez" era a certeza de que Demerval precisava para ser feliz. Mesmo que ao lado da sogra.





O mundo é dos doidos


O mundo é de todos: doidos, loucos, loucos varridos,  loucos de atar em poste, imbecis, fortes, fracos, ricos, miseráveis, feios, muito feios, bonitos, e todos os qualificativos que possam ser descritos no glossário. A cada Ser Humano podemos encontrar muitos adjetivos, e cada um deles cabe aqui. Então nestes primeiros,  faço representar todos os demais, não por falta de espaço, mas de tempo, paciência e necessidade mesmo. Fique portanto registrado que o mundo é mesmo de todos. Só que nem todos o governam. Alguns governam um tanto. Outros, outro  tanto. Alguns não governam nem a si próprios, e já outros sentem-se plurais e majestáticos quando definem seus territórios de poder.

Tenho muitas certezas, embora nenhuma delas em definitivo, pois certeza definitiva ninguém tem. Nem mesmo da morte, pois ninguém voltou ao cartório para provar que não morreu. Ninguém que eu conheça pessoalmente, pelo menos. Aqui não  falo de fé, pois minha fé me leva a crer que alguns já voltaram sim. Mas não cabe neste contexto contemporâneo. Portanto, nem mesmo a morte é certeza de nada, porque quem morreu não sabe que morreu, daí não pode estar aqui para defender sua certeza, ou reivindicar suas incertezas. Portanto, volto à única certeza que tenho: são os doidos quem governam o mundo.

~Mas não são apenas os doidos não. Há demarcação de territórios entre doidos, mal educados, arrogantes, prepotentes,e mentirosos, brutamontes, descompensados, e toda espécie de gente que ocupa espaço à guisa de empurrões, de colocar o pé na porta, de gritar e falar alto, disputando no grito posição de comando, de mentir, dissimular, fraudar, ameaçar, usar, enfim, toda sorte de expedientes para ocupar espaços, que de outra forma, pela elegância, pela civilidade, jamais ocupariam.

São os doidos também que abrem espaço para os ambiciosos, que dissimulam sua própria loucura para salvarem o mundo de uma loucura maior, estampada pelo doido varrido que ameaça a sanidade dos doidos mais tímidos.

Todos somos doidos. Todos somos gananciosos. todos somos loucos varridos, e todos ansiamos pelo poder, pelo ocupar, pelo conquistar, pelo varrer do mapa, pelo determinar a vida e a morte dos outros a quem consideramos ainda mais doidos que nós. Então, apenas não dominamos o mundo, não é porque nos  falte loucura para tal façanha, mas é porque somos tímidos demais para expor nossa loucura, e aquiescemos aos corajosos. Corajosos e doidos.

Eu tenho medo dos doidos, portanto tenho medo de mim mesmo. O que nos faz frear nossa loucura é esse medo. Felizmente. Porque misturar loucura e coragem, pode causar danos ao meio ambiente, à sociedade e à própria integridade. Então, minha consciência de loucura eme permite identificar outros doidos, porque os iguais se conhecem, e evitar contato com eles. Talvez isso nos preserve, mas talvez isso os preserve também, pois quando diagnosticamos loucura alheia, espelhamos nos outros doidos nossa própria loucura.

Os piores doidos não são os que berram e espumam quando falam. estes são apenas doentes mentais. os piores doidos são os que se disfarçam de sóbrios, e se alçam à vida pública como se fossem "messias" libertadores, e arrastam consigo todos os doidos que a letargia da vida os relega à condição de seguidores. Nesse caso, a fidelidade é o combustível aos doidos. Roma incendiou mártires, porque muitos eram seus prisioneiros, frágeis doidos de então. Hoje há mais prisioneiros com alta capacidade de combustão.

Os doidos usam muitas armas, mas a língua, o olhar e as próprias mãos são as piores.  Só falta o doido que vista uma toga romana e risque o primeiro fósforo. E acho que já há candidatos ao cargo. Quem viver verá.

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Quemcoçô? Oncotô? Proncovô?



Quemcoçô? Oncotô? Proncovô?

Estes três estranhos vocábulos mineiros definem nossa busca pelo sentido da vida. Quem eu sou? Onde estou? para onde vou?
Bem antes de Minas existir, um antigo sábio, Hilel, já dizia: "Se eu não for por mim, quem será por mim? Se eu for só por mim, quem sou eu? Se não agora, quando?"
Sem querer ser mais chato que pensam que sou, ainda vou mexer mais um pouquinho no assunto "eleições". Até porque estamos naquele limbo existencial onde as feridas já foram lambidas, os egos acariciados, mas o trabalho ainda não começou de direito. Só de fato, pelas beiradas, nas equipes transitórias, que perambulam pelos gabinetes fazendo reconhecimento e saboreando o gostinho das últimas lambidas no panelão da vitória recente. De um lado, os que vão, aquele gosto de jiló. Os que chegam, o cheiro das uvas que estão perfumadas, mas ainda não estão doces para serem saboreadas. É assim que é.

Mas quero voltar à dois tipos de campanha, isto é, dois tipos de promessas feita, que, embora de lados opostos, garantiam a mesma substância de modo geral: "Mudanças". De um lado, a UPG (estou falando de Gramado), prometia mudanças bastante radicais na estrutura de Gramado. prometia descentralizar os serviços públicos, desafogar as ruas do centro, pulverizar as atividades pelos bairros, oferecendo com isso também as mesmas vantagens (e desvantagens) que possuem aqueles que usufruem dos espaços centrais da cidade.

De outro lado, a oposição oferecia a mesma coisa: "Mudanças". Não exatamente na estrutura da cidade, mas no modo de governar, e implantando sua visão de "certo ou errado" no trato com a coisa pública. cada um com seu estilo, e por cinco dúzias de votos a mais, ganhou o privilégio de propor e impor seu estilo de administração. Está bem então. É assim que funciona a democracia. Lógico que junto com esta apertada vitória, zera a conta e tanto faz se tenha sido por um voto ou dez mil, a diferença, vitória é vitória, e não se discute mais isso.

Mas há algo muito importante que ouvi durante a campanha, e que considero de fundamental importância para o que poderá ser feito em Gramado a partir de agora: Pensar Gramado para os próximos dez anos ou mais. Em meu livro, "Tendências e Empreendedorismo - Gramado como modelo", faço um balanço do histórico que construiu Gramado desde sua fundação, passando pelos diversos ciclos comerciais, e com base neste viés, estabeleço um vetor que aponta para possíveis caminhos de uma Gramado nos próximos dez anos, desconsiderando as variáveis, evidentemente.

Por que bato nesta tecla de pensar Gramado daqui pra frente, se está dando certo o que vem sendo feito até aqui, com necessidade de pequenos ajustes apenas, numa visão imediata? Porque Gramado chegou no seu apogeu mais uma vez. De tempos em tempos, este apogeu é baseado no sucesso de determinados eventos, ou de uma economia avantajada, se comparada com a média nacional, principalmente em tempos de crise.

Para este "pensar Gramado", uso como mote de introdução, uma história que presenciei certa ocasião, quando acompanhei o então Senador, Paulo Brossard de Souza Pinto, em um comício no interior de Três Coroas, lá por 1982. Nesta época, o vale do Paranhana estava no seu apogeu do  calçado, e sua visão empresarial rumava nesta direção. Mas, desinformado e caudilho que era, Brossard resolveu criticar a "morosidade política" da Prefeitura, e evocou os tempos da "pujança econômica da criação de suínos de Três Coroas". Perderam a eleição.

Ouvi candidatos em Gramado lamentando a evasão das indústrias manufatureiras de Gramado, e consequente crescimento de desemprego em consequência disso, e que se eleitos, resgatariam a "pujança econômica da movelaria" que Gramado já fruiu. Ora. Além de ser uma bravata, é de total irresponsabilidade prometer o que não será capaz de cumprir, por algumas razões muito simples. A primeira razão é que a economia mundial há muito tempo foi  redirecionada, e a indústria moveleira fez parte deste processo. O Mercado moveleiro no Brasil, há muito tempo foi modificado. E o mercado moveleiro de Gramado também passou por este processo, embora por  razões diferentes, uma vez que a tecnologia que modificou a indústria da movelaria nacional tenha se qualificado para a automatização e desmontabilidade dos processos e produtos,  o que aconteceu em Gramado não foi a perda de mercado, até porque o volume de vendas para fora do eixo Gramado-Porto Alegre, é completamente pífio. O problema de Gramado está na carência de mão de obra especializada para o tipo de movelaria que Gramado oferece, de alta qualidade, personalizada, e com design arrojado. Não encontra mais interesse dos jovens em aprenderam uma profissão que exige deles que "paleteiem madeira" às sete horas de uma manhã a zero grau, num ambiente insalubre, e com ronco de máquinas nos ouvidos o dia inteiro.

Gramado cresceu. Não apenas no tamanho, mas na maturidade profissional. Os jovens são bem informados. Instruídos, ambiciosos. Aquele espírito pioneiro onde a família era representada pelos pais à ponta da mesa, e os filhos cantarolando alegres canções de saudade da mãe Itália ou Alemanha, ficou apenas no folclore mostrado aos turistas pelos museus espalhados pelo município. Folclore para turista fazer "selfie". nada mais. Os jovens querem tecnologia, hotelaria, turismo, intelectualidade. Querem muitas coisas. Menos política. Aí a coisa pega.

Gramado foi dividida ao meio na escolha dos governantes. Mas não foi dividida ao meio no tocante ao que deseja deles: Mudanças! Gramado quer um novo desenho de sua estrutura social, econômica, empresarial, mas também política. E não se jactem os  vencedores, nem se encolham os vencidos, porque esta mudança desejada, Gramado não a quer de forma radical. Metade quer ao modo tradicional, mas contente-se esta metade, que não foi convincente com os sessenta e dois que foram o fiel da balança, para que os vencedores não subam mais degraus que suas pernas possam suportar em um único passo. Mudança e cautela. Nem mudança demais, nem cautela demais. Equilíbrio. Mas equilíbrio com sabedoria. Com criatividade.

Resta saber se quem entra é criativo, produtivo, vingativo, ou sábio. Gramado espera que pelo menos seja justo, porque Perfeito só D's.

Livro Tendências e Empreendedorismo - Gramado como Modelo

Olá
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Este blog é gratuito e sem anunciantes. Sua manutenção depende da venda dos livros. Se aprecia este trabalho, adquira um exemplar digital.
Obrigado
Paulo Cardoso

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A Serpente e o Gambá (Fábula)

  **A Serpente e o Gambá – Fábula** Pacard No tempo em que os bichos falavam, vivia um velho gambá em sua toca, que passava os dias dormindo...