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quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Meu filho será Doutor! Será?





Difícil imaginar que exista um único pai ou mãe no mundo que deseje como profissão para seu filho "limpador de fossa", ou "recepcionista de banheiro de rodoviária". Não desejam, e se disser que deseja isso, mente, por conveniência social, por vergonha. Na verdade, nem passa pela cabeça de alguém nessa fase da civilização moderna ocidental que deseje ver seu filho ou filha engalfinhados de traseiro para cima esfregando chão de banheiro público, ou enrolando mangueira de sucção que acaba de sair de uma tubulação de esgoto sanitário.

Filho de ninguém foi colocado no mundo para que fosse objeto de desejo de pais que sonham uma carreira de glória e fama, nestas condições. Não mesmo. O filho de todo mundo que conheço, mais dos que não conheço, mas imagino, tem um lugar reservado pelos pais no pódio da glória. Só que nem sempre alguns pais lembraram de combinar isso com a vida, com as oportunidades. nem sempre guardavam consigo as chaves do sucesso. Nem sempre foram capazes de fehar negócio com sua própria capacidade de convicção e convencimento de outrem para que este sonhado sucesso lograsse êxito.

O tempo passa, e começam as decepções. As notas baixas, a falta de interesse nos estudos, a falta de oportunidade no meio social em que buscam participar, e finalmente, a aparência de fracasso se estampa no rosto destes pais. Tornam-se infelizes, amargurados, pessimistas com o próprio sucesso pessoal, e finalmente, resignados à sorte, jogando sobre D's a culpa sob a máscara de destino. E quando percebem, veem os filhos, antes imaginados eminentes doutores, médicos, magistrados, juristas, investidores, enfim, a lista da imaginação é interminável, não vestirem toga e beca na memorável noite de formatura da turma que nunca existiu. O sucesso tem muitas gavetas, especialmente quando ainda está em ebulição na mente dos pais.

Vamos então falar um pouco de sucesso. Posso dizer com convicção que desejei tudo isso para meus próprios filhos. Mas não desejei exatamente isso. Desejei muito mais. Desejei que fossem felizes. Desejo ainda, que sejam felizes. Desejo mais que isso. Desejo que além de felizes, continuem sendo dignos, éticos, corretos, mas sobretudo, humanos.

Mencionei meus próprios filhos para dar peso à esta reflexão, até porque, nenhum deles passou perto daquilo que eu próprio sonhava para suas carreiras, talvez no íntimo, porque não lembro de ter revelado tal sonho. Sonhar uma carreira para alguém pressupõe estar absolutamente seguro da possibilidade de sucesso desta escolha ou indicação. E se tem algo que eu não tenho nenhuma certeza nessa vida, é de ter certeza de coisa alguma, a não ser, repito, que meus filhos sejam felizes, e façam felizes aqueles ao seu alcance de fazê-lo.

Desejamos intensamente o brilho, mas nem sempre estamos preparados para para a obscuridade. Temos orgulho dos filhos bem sucedidos, mas escondemos a nossa vergonhade não levá-los para o pódio em noite de gala. Assim como desejamos nosso próprio sucesso, e temos vergonha de assumirmos nossos fracassos, e desta forma, projetamos nos nossos filhos todos os rejeitos de nossa insatisfação, para que levem eles sozinhos a carga de pagarem pela nossa própria falta de capacidade de subir as montanhas que desejamos para nós.

Que tipo de sucesso desejamos para os nossos filhos? Um sucesso que para alcançá-lo os faça carregar um peso além de sua capacidade e de sua vontade, ou um sucesso que os leve à frustração quando não os alcançam, não por si mesmos, mas pela culpa de não nos agradar o suficiente?

Antes de concluir, quero contar duas historias. A primeira, um breve relato da constatação que o rapaz que limpa as fossas sépticas pelos condomínios cobra quase mil Reais para enfiar a mangueira, ligar a bomba, e encher uma carga de dejetos. Isso demora cerca de meia hora. Durante o dia ele cheira a merda, mas sua conta bancária faz inveja a muito executivo de multinacional.

A segunda historia é do Seu Davi, que um dia me contou que havia um imponente hotel à venda lá em Gramado. Interessado, foi conversar com o dono do hotel. Foi recebido de pé, no balcão de recepção, olhando de cima abaixo para a maneira de vestir-se do seu Davi, respondeu antes de ser perguntado:
- O senhor não tem dinheiro para comprar meu hotel.

Deu meia volta e sumiu.

Seu Davi me contou isso e acrescentou:
- Seu Paulo! Eu tenho recursos para comprar dois hotéis iguais ao dele. Paciência. Comprei outro então. A propósito, Seu Paulo, o senhor sabe qual é a minha fonte de renda? Sou concessionário dos banheiros da Estação Rodoviária de uma Capital. Ganho cinquenta mil dólares por mês, com apenas quatro funcionários.

O que é sucesso então?

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