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quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Os Shows que não emplacaram em Gramado, e os que foram bem sucedidos


Foto: Página do Gaucho - Internet

Gramado não foi apenas palco de Festivais, Feiras, e Eventos técnicos, mas também grandes nomes da música brasileira já passaram pela cidade, isso falo, referindo-me ao período anterior aos anos 80. Alguns eventos foram exitosos, dentro da dimensão na qual foram projetados. Por exemplo, na década de 1970, havia um programa de apoio à cultura do Rio Grande do Sul, pelo Governo do Estado, durante o governo de Sinval Guazelli, que oferecia gratuitamente aos municípios, espetáculos culturais de música e teatro.

Havia um grupo de artistas cadastrados no DAC-SEC (Departamento de Assuntos Culturais da Secretaria de Educação e Cultura), que recebia cachê e despesas pagas, para apresentarem-se nas cidades onde eram convocadas. Já, na cidade, a Prefeitura era encarregada de organizar o evento, imprimir convites, reservar a sala ou auditório, divulgar pela cidade, preparar o palco em apoio aos artistas, cobrar os ingressos, e por fim, retirar as despesas, e o restante era dado ao artista, como complemento de receita.
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Durante o período em que trabalhei no Turismo, fui o responsável por organizar e promover estes shows, e a tarefa era trabalhosa. Mensalmente, quase, eu obtinha do saudoso amigo Odilon Renato Cardoso, o então Diretor do Cine Embaixador (eu tenho implicância em chamar de "Palácio dos Festivais"), a licença para utilizar o espaço mais nobre da cidade, para promover os espetáculos. Tudo arrumado, um dia antes do evento, eu alugava as cornetas de alto falantes do Décio Broilo, prendia na "Brasília" branca da Prefeitura, e saía por todos os bairros, apregoando os espetáculos. E sempre lotava a casa.

Destes lembro de Paixão Côrtes, com um belíssimo show de cultura e folclore gaúchos, danças, efeitos luminosos, e muita dança e poesia. Outro grupo que levei à Gramado foi "Os Muuripás", um dos maiores e melhores grupos de cultura artística do Rio Grande do Sul. Levamos ainda o grupo de folclore internacional "Os Gaúchos", com um repertório de danças que iam do Rio Grande do Sul à Rússia, um belíssimo espetáculo. Dimas Costa foi outro grande espetáculo que levamos à Gramado, no mesmo período. Todos estes com o cinema lotado.
O último espetáculo promovido, de minha lavra, foi o primeiro show de Gelson Oliveira, já mencionado no ensaio anterior.
Os Muuripás

No início da década de 1980, trilhei solitário, com ajuda de alguns amigos, como Gines Perini, Joel Masotti, João Carlos Caberlon (Gambinha), e outros, onde criei o "Projeto Orpheus de Música erudita", onde levei recitais á Gramado. Um destes, memorável, com o "Trio Porto Alegre", formado pelo Violinista Amílcar carfi, o Violoncelista Jean Jacques Pagnot, Spalla da Sinfônica de Paris, e Neil Fialkow, o virtuose médico-pianista. Não ganhei dinheiro, mas o salão do Hotel Serra Azul ficou lotado. O pitoresco do caso ficou comigo, pois pobre de tal monta, que não tinha um terno, e eu seria o apresentador do concerto. Isso foi resolvido com a generosidade do amigo Joel Masotti, que emprestou-me um elegante smooking, e o valor que faltou para o cachê dos músicos, foi doado pelo Caberlon. Vale dizer que jamais recebi um único centavo de dinheiro público para promover cultura em Gramado. Mas tive sim, apoio de empresários e amigos, e fiz pouco, mas pouco do que fiz, a mim valeu muito.
Neil Fialkow (Trio Porto Alegre)

Antes disso, o fenômeno da música brasileira, Agnaldo Rayol, fez um recital em Gramado, parece-me, no lago do Parque Hotel (hoje Lago Joaquina Rita Bier), e este sim, foi arrasador. As moçoilas afoitas rasgaram as roupas do cantor, e levou muitas delas ao delírio, durante sua estada em Gramado. Isso foi lé pelo fim dos anos 60.
Os Gaúchos

Mas, nem tudo são louros, vamos então ao que saiu errado. lamentavelmente, nenhum destes estava, sob minha responsabilidade. Sorte minha. Ainda em 1977, o produtor teatral Sandro Poloni,  e sua esposa, a atriz Maria Della Costa, gaúcha, de Flores da Cunha, levaram à Gramado, uma peça chamada  "Tome conta da Amelia", com participação dos atores Nestor de Montemar e Leonardo Villar. Lembro que quando foi oferecer a peça ao Esdras, o Secretário, eu estava próximo, e como era Presidente do Grêmio Estudantil a entidade que garantia o sucesso dos meus eventos, ofereci-me para divulgar aos estudantes, mas eles deveriam oferecer um desconto, além da meia entrada, porque o preço estava um pouco elevado.
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Esdras achou bom, mas o Polloni, com um ar extremamente "humilde" disse que "Maria Della Costa não precisava de estudantes para lotar uma casa!". Tá bem, pensei.  Eles não virão então.

Chegado o dia da apresentação, hora marcada para início, haviam precisamente. na plateia: Sandro Polloni, Esdras Rubim, este escriba, e Odilon Cardoso. Os atores estavam no palco aguardando um milagre, mas como eram ateus, acho que não rolou. Desesperado, Polloni virou-se para mim: "Está bem, traga os "seus estudantes!". Bem, os estudantes não eram exatamente "meus", e ainda que fossem, havia um protocolo para liberação das aulas, geralmente programado com semanas de antecedência. E não, eu não faria nenhum esforço para livrar meus colegas, cerca de mil mais ou menos, de suas obrigações estudantis.
Sandro Polloni e Maria Della Costa

Outro fiasco, imerecido, foi a apresentação do cantor Jessé. Não sei de quem foi a produção, pois neste período eu não fazia mais produção cultural. Minha esposa era fã do cantor, e foi assistir. Voltou decepcionada, não pelo cantor, que foi profissional e fez o espetáculo como se houvessem milhares de pessoas, mas eram ao todo, nove pessoas na platéia. Disse-me que um destes era o Prefeito atual, Fedoca. Este moço é um arquivo vivo e testemunhal de Gramado.
Jessé

Cine Embaixador

E para coroar os fracassos, também nesta mesma década, o "Justin Bieber das titias", Roberto Carlos, fez um show no pavilhão da igreja católica. Foram 40 pessoas. Aí a produção liberou a porta e quase dobrou. Ao todo, setenta pessoas recebiam rosas do "rei". Reza a lenda que ele nunca mais pôs os pés em Gramado, até que já no século XXI, um espetáculo, digno de sua realeza foi montado em outro lugar, e desta vez correspondeu ás expectativas do macróbio do Iê Iê Iê.
Emerson, Lake & Palmer

Este próximo show que falo, não era de meu conhecimento, e fui informado pelo amigo Cláudio Caberlon, o "Emerson, Lake, & Palmer", em um Festival de Cinema. Abaixo o Video completo, encontrado no Youtube.

Roberto Carlos, 1972

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segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Lembrança dos Festivais - Armando Bogus, e os "Chocolatinhos" de Ruth Escobar



Pois então! Estou de volta, assim de soslaio, despacito, como quem rouba, sorrateiro como gaudério de bombacha clara em dia de namoro, mas trazendo mais algumas reminiscências dos tempos de antanho, a saber, bastidores do Festival de Cinema de gramado. A propósito, o Esdras Rubim, que foi Secretário de Turismo por duas ocasiões, em Gramado, contou-me que está preparando um livro com suas memórias sobre o Festival. Vamos aguardar. Ele tem muitas. Mais do que eu. Vou contar uma hoje.

Eu era "aspone" do Esdras, e como tal, era encarregado de acompanhar os convidados da Prefeitura, em eventos e restaurantes de Gramado, que nesse tempo eram bem poucos, mas de boa qualidade já. Um destes restaurantes, abria só á noite, mas era o preferido da intelectuália de então: o Chez Pierre, do saudoso Pedro Gobbi, que era um anfitrião poliglota, atencioso, elegante, e depressivo, o pobre amigo. Isso no entanto não o impedia de prestar um atendimento cortês e com requintes europeus.
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Chez Pierre, era o lugar favorito dos artistas e intelectuais que visitavam Gramado, já mencionei isso, por três razões, em especial: Servia os melhores vinhos de Gramado; Os queijos, embora fedorentos, como todo bom queijo, eram especialíssimos; e finalmente, porque a boa música (99,999% do tempo era Jazz, mas quando eu digo "Jazz", eu digo: "JAZZ"! Ella Fitzgerald, Billie Holliday, Louis Armstrong, Milles davis, John Coltrane, Duke Ellington, e por aí vai, e não, definitivamente não tocava Roberto Carlos, Luís Miguel, nem tampouco Duduca e Dalvan. Entaõ, por estas razões, e principalmente porque não tocava Roberto Carlos, o "Justin Bieber" das tias velhas, os artistas corriam para o Chez Pierre, quase todas as noites, em sua estadia em Gramado.

Um produtor do Filme "As Filhas do Fogo", totalmente rodado em Gramado (Casa do parque Knorr), e Canela (Castelinho da Irene Franzen), dirigido pelo Walter Hugo Khoury, costumava ir ao restaurante e pedir a famosa "Tarraqueta", que não existia, pois como ele nunca lembrava do nome, inventou "Tarraqueta", e pefou entre a equipe de produção. Era uma "Raclette",

Mas, voltemos ao Bogus, que titulou o ensaio. Armando Bogus, ator bastante famoso, que adorava Gramado e em Gramado, sua paixão alimentar era ir ao Chez Pierre, e numa destas ocasiões, contou-nos uma história dos bastidores do movimento político contra o Regime Militar, que não sei que importância teve, se é que teve alguma, mas foi pitoresco ouvir.

Contou ele, que vindo de uma tournée de uma peça na Europa, ao olhar pela janelinha do avião, percebeu um forte aparato militar à espera de algum dos passageiros, e por sua experiência, presumiu que seria para prender a atriz e produtora teatral, Ruth Escobar. Rapidamente, sem que ninguém percebesse, ele enfiou a mão na bolsa de Ruth, e surrupiou alguns documentos, e os guardou em sua própria mala.

Dito e feito: Ruth desembarcou por primeiro, e imediatamente foi presa, isso tudo ao mesmo tempo em que os passageiros desembarcavam da aeronave. na época não havia os "minhocões", e todo  o desembarque era nas escadas móveis da SATA. Nesse momento, Bogus acelerou o passo em direção à Ruth, e disse, para que todos ouvissem:
- "Ruth! Seus "chocolatinhos" estão comigo!"
- " Ótimo! Guarde-os na geladeira pra que não estraguem. Quero comê-los quando eu voltar!"


O tais "chocolatinhos eram documentos que comprovariam a ligação da CIA com os militares brasileiros no poder.



As "Bandas" de Gramado, e os Animadores de Bailes dos anos 50/60/70

Foto: Arquivo

Eu sei que não adianta pedir para que identifiquem os garbosos varões da foto, porque eu mesmo precisei recorrer à meus amigos, levemente mais idosos do que eu, a fim de identificar cada uma. Então vamos lá: Começando da esquerda, o galalau do contrabaixo, vasta franja, óculos fundo de garrafa, e bem "dergadinho", é o que hoje atende pelo título de Prefeito de Gramado, mais conhecido pela alcunha familiar dada em priscas eras, Fedoca.
Já, á sua direita, soltando a voz quase visceral, aquela que nasce na pleura, o garboso escritor e historiador, poeta, e filósofo, Gilberto Drechsler, empolando a guitarra até seu mais agudo e esganiçado vibrato.
O Elegante também, guitarrista, ao centro, é o Alvari de Borba, que logo após o fiasco desta apresentação (nem houve fiasco algum, mas cumpro rigorosa tradição de esculachar amigos que vestem cuecas), foi embora para morar nos Estados Unidos e realizar o "Americam Dream! de ficar rico.
A terceira guitarra, torturada pelo magricelo à direita do trio, é destruída pelo, hoje arquiteto, Derson Casagrande, vulgo "Ratinho". E no cantinho a fundo, o saudoso amigo Ênio Grade. A banda era chamada de "Os Primitivos".
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Antes disso, relatou-me o contemporâneo e contador de causos, Altivo Becker (Pekinha), que havia outro conjunto, chamado: "Os Lenheiros", cujos integrantes eram: Fabiano Bertolucci (Irmão de Fedoca), Alexandre Bezzi, Fedoca, Beto Perini, na Bateria, e a Liege Zatti, era a cantora da Banda.

Depois dos Primitivos, surgiu um conjunto denominado "Die Fledermaus" (Os Morcegos), composta por Henrique Adolfo Ehms (Castelo), Gelson Oliveira (Pelé), Benno Raaber, Clarindo Sartori, e  Levino Raaber. Ensaiavam na casa do Clarindo, situada no Morro dos Cabritos, distante cerca de 300 metros, em linha reta, da Avenida Borges de Medeiros. Certo dia, enquanto ensaiavam, adentra um sujeito baixinho, já de certa idade, dirige-se ao guitarrista, toma-lhe a guitarra, afina ela, vira as costas, e vai embora. Era o Maestro Pablo Komlós, que ficou incomodado, ao ouvir o desafino da guitarra, de onde caminhava.

Gelson Oliveira, nesse tempo, desligou-se do Fledermaus, e criou, junto com Márcio Volk, Marco Antero (Bugiu), Kiko Caberlon, e Luis Ewerning (Vassoura), a "Batuka Blue Band", uma banda já mais sofisticada, e que a partir desta, deu a largada para a carreira solo, ou mais tarde, em vários grupos, de Gelson Oliveira.

É bom lembrar ainda das "Bandinhas" mais populares e folclóricas, animadoras de bailes, como "Irmãos Broilo", além de outras bandinhas do gênero no interior de Gramado, que espero, um dia, falar sobre estas também.
Também vale lembrar (e já solicitei material, para fazer uma matéria) da "Banda Tamoyo", liderada pelo querido maestro Egídio Michaelsen.

Não se pode deixar de falar Das duplas "Luar do Sertão" (Elias Moura e Isaías Abraão), ou Elias e Zacarias Moura.
Sou corrigido pelas redes sociais, e venho fazer reparos aqui. O amigo Cláudio sartor, lembra-me com propriedade, da dupla "Sertãozinho e Zé do Sul". Sertãozinho era violeiro, e Zé do Sul, era gaiteiro. Recordo ainda da dupla formada pelo Seu Liberato, com meu primo Elias de Moura.  Não lembro se a dupla tinha nome.

 A Dupla "Luar da Querência" era conceituada animadora de bailes pelo interior de Gramado e região. Lembro que Elias utilizava seu velho rádio com válvulas, como amplificador do violão, para ensaiar. Uma de suas composições, eu lembro apenas do refrão:
"Quando partir
Do sul para o norte
Eu vou levar minha boiada pro sertão
Eu vou tropeando, de oeste para leste
Vou levar gado pra vender, pro meu patrão!"

 Do centro, em sentido horário: Decio Broilo (bateria), Zacarias Moura (Violão), Elias Moura (Violão e voz) Isaías Abraão, à esquerda (Acordeon), e não identifiquei o percussionista.

Zacarias Elias de Moura

Mas haviam mais músicos de ocasião, como o saudoso amigo, Arlindo de Oliveira, que tocava acordeão.
Foto: Áureo de Oliveira (Facebook)

Alguns videos de Gelson Oliveira, o mais conhecido artista gramadense, na MPB


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quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Crônicas de Gramado - O Mistério do Subterrâneo do Dr Nelz, e as perseguições aos alemães em Gramado

Foto: Dr Carlos Nelz - Arquivo Público de Gramado

Tínha eu doze ou treze anos, quando ouvi minha avó Maria Elisa, contar sobre a existência de um "Subterrâneo" existente nas terras da Família Nelz, em Gramado. Rezava a lenda que dois caçadores de tatus, caminhando sorrateiramente à luz do luar, ouviram um barulho, e de pronto se esconderam atrás de uma árvore. Aguardaram em silêncio, até que ouviram vozes de conversas, guiadas por uma lanterna, a iluminar o caminho entre as pedras e a capoeira. Em dado momento, as vozes silenciaram, e eles espiaram, mas não viram mais ninguém. Haviam desaparecido subitamente, misteriosamente.

Assustados, voltaram, e no dia seguinte, procuraram o delegado local, e relataram o que tinham visto. O delegado, então visitou o casal Nelz, e eles "confessaram" que tinham, de fato, um esconderijo para proteger-se de perseguições, que eram comuns naqueles dias, após a guerra, onde os alemães em solo brasileiro, sofreram retaliações por parte de "patriotas" mais exaltados.

Sobre estas perseguições, foram de fato cruéis, e embora o caso seja da lenda do bunker dos Nelz, vale saber que muitos descendentes de alemães, gente simples, na maioria colonos, da roça, foram os que mais sofreram tais retaliações. Lembro de minhas tias-avós, que moravam no interior de Gramado, contando de um caso de um "alemão" apanhado falando na sua língua de origem, fora preso e acorrentado em um chiqueiro, até que a polícia chegasse para levá-lo para prestar depoimento. Contava ela, a Tia Lina Pereira Dias, moradora na Serra Grande, que ouviu os gritos e foi à janela ver do que se tratava, e viu que seus vizinhos arrastavam o pobre colono, debaixo de pauladas e coices, pelo caminho, e depois soube que o haviam acorrentado junto ao chiqueiro, pelo crime de ter sido flagrado falando em alemão. Nunca soube quem era ele, e nunca mais ouvi contarem esta história.

Minha sogra, dona Lilli Boone, jamais aprendeu a falar em português. Minha comunicação com ela era por palavras avulsas, que ela fazia esforço em lembrar, para comunicar-se comigo. Isso aconteceu, porque quando viam gente estranha chegando, sendo ela ainda pequena, a mãe juntava os filhos pequenos e fugia para os matos, onde permanecia por horas, ou por vezes, dias, com o coração acelerado, imaginando ser alguém à procura de "traidores" da pátria, porque não sabiam falar a língua portuguesa.
Bem verdade é que sim, haviam núcleos nazistas no Brasil, durante a guerra, mas Gramado, Nova Petrópolis, apesar de terem grande percentual de colonos, entre seus habitantes, não houve manifestações nesse sentido. Eram gente pacata, ordeira, trabalhadora, amavam o Brasil honravam a bandeira nacional. Porém, em todos os tempos, em todos os lugares, onde havia uma faísca de perseguição, havia junto algum mal intencionado com um galão de gasolina disposto a ver tudo incendiando. Mas não era o caso dos Nelz.

Dr Carlos Nelz, Médico, casado com dona Tereza, conhecida como  Dona Medy Nelz, eram pessoas queridas pela comunidade. Nesse tempo, Gramado contava com dois médicos apenas, e a preferência por um ou outro, dividia também a cidade, assim como dois partidos políticos ou times de futebol o fazem. Metade da cidade, era paciente do Dr Carlos Nelz, e a outra metade, frequentava o consultório e hspital do Dr Erico Albrecht. Isso durou anos, até que começaram a aparecer outros médicos, mas ainda assim, quem atendia no Hospital Santa Terezinha (Dr Erico), não atendia no Hospital Arcanjo São Miguel (Nelz).

Durante muitos e muitos anos, o famoso "Túnel" ou "Subterrâneo" do Dr Nelz, preencheu o imaginário da cidade, e desconheço quem tenha sido contemporâneo meu, que não tenha vasculhado, de ponta a ponta, esquadrinhado o terreno, à procura da entrada secreta do tal bunker. Eu mesmo, seria capaz de desenhar, de memória, o mapa inteiro das terras dos Nelz, onde sabia localizar cada ceio d'água, cada gruta, caminho, pé de araçá, daquelas terras. Eram o meu imaginário, além de excelente lugar para pescaria escondida, onde deliciosas (só sei de ouvi falar, é dE VerdAdE Este Bilete) trutas podiam ser pescadas nos dois lagos do alto do morro. Mas nunca foi encontrado, e a lenda permaneceu.

Há alguns pares de anos atrás, fui consultar-me com Dr Hermann Ulrich Nelz, ou "Dr Ulli", filho do Dr Carlos Nelz, e perguntei a ele sobre a tal lenda.
- "Não é lenda!" - Respondeu-me com firmeza. Existiu mesmo. E então contou-me a história que eu sabia, em parte, mas enriqueceu com estes detalhes:
- "Eu estudava em Porto Alegre, e voltava para casa nas férias. Um dia, meus pais levaram-me a um lugar, e disseram para que eu fechasse os olhos, e contasse até dez. Aí poderia abrir os olhos. Fiz, e quando abri os olhos, olhei por todos os lados, e eles haviam desaparecido, como mágica. Procurei por horas e não os encontrei, até que eles apareceram atrás de mim, e me revelaram o segredo. Uma pedra falsa, cheia de musgo, era revolvida, e por ali entravam, e fechando a entrada, desapareciam completamente. Lá dentro, havia mantimentos, provisões, para que minha família pudesse permanecer escondida por até seis meses, em caso de perseguição. Então, apareceram os caçadores , que viram, denunciaram ao delegado que foi visitar meus pais, e eles mostraram a ele o que era e qual o motivo de sua existência. O Delegado então os aconselhou que soterrassem o lugar, e o assunto permaneceu como lenda. Seria este o fim da historia, porém, descobri que o lugar não foi fechado, pelo menos não naquele tempo, e as crianças brincavam por lá, e iam esconder-se numa espécie de bunker, com muitos mantimentos, um almoxarifado da casa."

Se era o mesmo, não sei dizer, mas teria sido bem mais interessante se nunca tivesse sido revelado. para que o imaginário continuasse, assim como continuam outras lendas sobre porões misteriosos, ou salas que guardavam tesouros. Por mim, continuarão como lendas, até que se prove o contrário. No caso do bunker dos Nelz, a palavra do Dr Ulli, pra mim vale mais que um achado arqueológico.

Era bastante comum que as casas de imigrantes europeus, tivessem um lugar separado para guardar mantimentos. Na casa de Elisabeth Rosenfeld, havia uma torre da caixa d'água, e dentro dela, havia um depósito de ferramentas de jardinagem. No chao, escondido, havia um alçapão, onde os netos dela e eu descíamos para abrir potes de compotas, geleias, que ela guardava lá. Molecagem, mas era divertido. Assim como era divertido vasculhar as terras dos Nelz, para tentar achar o túnel. No caminho, haviam muitas recompensas: Araçás, amoras, cerejas, goiabas serranas, peixes do lago (só ouvi falar, já disse, e a exuberante visão dos lagos floreados com ninfas nas manhãs de primavera.

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sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Entre Baionetas e Gravatas - Um Homem, Um Rabino, Um Adeus!


Imagem: internet
Henry Sobel era um sujeito engraçado, pitoresco, exótico, de um sotaque absurdamente arrastado, o qual, confessa o próprio, em seu livro: "Henry Sobel - Um Homem, Um Rabino ", nunca desejou abandoar - Era sua marca registrada. Uma de tantas. "Em suas memórias, Henry Sobel revela episódios decisivos que testemunhou ou protagonizou, expõe suas contradições, dúvidas e temores. E seus deslizes. Mostra-se ao leitor como é: um líder religioso de extraordinário carisma, um homem de fé comprometido com os embates de seu tempo, um ser humano com a grandeza de reconhecer seus erros e acertos" - descreve desta forma o site "Estante Virtual" sobre o autor, não apenas do livro, mas de um dos episódios mais marcantes, e um dos capítulos mais vergonhosos da história política brasileira - A tortura!

Seria suspeito em escrever o que irei escrever aqui, considerando que seria um "judeu falando de outro judeu", porém, considerando que sou judeu de herança, de alma, de prática, de sentimento, mas não sendo reconhecido como tal pelos caminhos tradicionais do judaísmo, senão um apaixonado pela cultura e pelo povo judeu, coloco-me inteiramente à vontade para descrever um pouco sobre a importância que o Rabino Henry Sobel *Z"L, representa, não apenas para o senso de liberdade e exercício pleno do Livre Arbítrio que caracteriza o povo judeu, como para a reviravolta do movimento político dos anos da repressão política, e pelos excessos cometidos por alguns, onde culminou pela tortura e assassinato cruel do jornalista, judeu, Wladimir Herzog, declarado morto em 25 de outubro de 1975, "supostamente por suicídio", em uma cela do DOI-CODI, o braço opressor da Revolução de 1964.
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Aqui faço um breve parêntesis, onde relato os fatos e não minha relação com fato algum, tanto no passado, quanto no presente. Não entro em particularidades se foi golpe, se não foi golpe, quem foi e quem permanece culpado, e quem foi e permanece vítima ou inocente. Meu comentário diz respeito à ousadia de um Homem que ousou enfrentar as baionetas, e chamar de "mentirosas" as afirmações de suicídio do jornalista Herzog. Segue o comentário.

No judaísmo, assim como em qualquer outra cultura e religião, há certos princípios de conduta pessoal e pública, chamados de "Halaká", ou no plural, "Halakot", que determinam certos procedimentos de comportamento da vida religiosa e civil no tocante à este povo.  E uma destas normas, estabelece que os suicidas não podem ser sepultados do modo convencional em um cemitério israelita. E não é apenas o judaísmo que tem estas regras. Diversas religiões cristãs seguem normas semelhantes, no tratamento com suicidas de suas congregações.

Deste modo, como era o Rabino da CIP, Congregação Israelita Paulista, cuja Sinagoga era frequentada, tanto por Wladimir, judeu religioso, quanto por sua mãe, sendo ambos  íntimos amigos do Rabino Sobel, natural que o Rabino deveria providenciar o enterro, e todos os preparativos comunitários para tal. Ao ser informado de que Herzog havia cometido suicídio, a preocupação de Sobel aumentou, pois como trataria do assunto com uma mãe, que acabara de perder o filho, de forma violenta, em um ambiente maldito? 

Ao examinar o corpo, atestou de imediato: "Não foi suicídio! Ele foi torturado e assassinado. Irei sepultá-lo entre os justos!" Qualquer Pastor diz isso, para conforto da família e dos amigos, mas Sobel não ousaria chamar de "Tsadic" (justo), um suicida, diante de fuzis, fardas e baionetas, se não estivesse absolutamente seguro do que afirmava. O caso logo tomou proporções gigantescas, e à ele, aliou-se Dom Paulo Evaristo Arns, Arcebispo da Catedral da Sé, onde organizou um manifesto de apoio ao Rabino, cercado com mais de 500 policiais, onde reuniu cerca de cinco mil pessoas em favor do ato, e desta forma, com este aparato (os tempos do ato e sepultamento são distintos, mas destaco a ação em si e os objetivos da mesma no relato) o judeu iugoslavo, Wladimir Herzog, foi sepultado dentro, e não fora do cemitério israelita de São Paulo.

Dali em diante, Henry Sobel tornou-se um destaque mundial, tanto a favor do Sionismo, quanto da volta á Democracia e Anistia no Brasil, país do qual nunca foi cidadão, senão honorário, pois jamais abdicou da cidadania norte-americana (o que o manteve a salvo), como de seu pronunciado sotaque.

Uma frase dita por Sobel, em uma palestra a um grupo de jovens Adventistas, no Rio De janeiro, onde foi o convidado de honra foi: "Não foram os judeus quem protegeram o Sábado, mas foi o Sábado quem protegeu os judeus". Apaixonado por sua religião, pela Democracia, pela cultura judaica e também pela cultura brasileira, Sobel transitou com intimidade entre São Paulo, Jerusalém, e Nova Iorque, onde será sepultado.

Não há, no entanto, como descrever um Ser Humano, sem lembrar seus erros, e o grande erro que descreve Sobel, é como "O Rabino que roubava gravatas". Ele próprio descreve este episódio como uma mancha execrável na sua belíssima e corajosa biografia. Desnuda-se na verdade para vestir-se na honra. Ninguém que conheça uma biografia tão imponente, ousará manchar esta história com algo tão sem significado, cometido por um homem velho, doente, completamente dopado por medicamentos, seria capaz de finalizar uma história desta forma. Mas Sobel não foi perdoado por seus adversário, que encontraram uma brecha para jubilá-lo, retirar suas prerrogativas de Rabino, e defenestrá-lo com "honra". E ele aquiesceu, e sublimou-se em vida, recolhendo-se à significativa vida dos que pouco significado deram para seu legado. 

Sobel perde a luta contra um câncer, mas o que é um câncer, contra todas as baionetas que ele enfrentou? Pois foi o câncer, a baioneta que o venceu. Em paz, na Shalom dos justos que esperam pelo Mashiach (Messias).

Le shana hava virushalayim, Rav Henry.

Gmar Chatima Tová l'Olam Habá!

*Z"L - Zicharon L'Brachá (De abençoada Memória)
Baruch Dayan HaEmet

terça-feira, 19 de novembro de 2019

Bastidores de Gramado - O Barraco se armou, e Executivo e Oposição se distanciam cada vez mais




Raramente eu assisto a uma sessão inteira da Câmara de Vereadores de Gramado, talvez pelo mesmo motivo (um deles) que eu nunca quis candidatar-me a nada, nem mesmo à vereança. Não assisto, porque acho muito chato, entediante até, aquelas leituras cheias de salamaleques, vírgulas, linguajar decorado, e tricotar de egos. Não estou desmerecendo quem esteja no cenário dos acontecimentos, e até teço rasgados elogios, mesmo com minha obscura e medíocre eloquência, ouso tecer uma ou duas palavras em favor dos notáveis e respeitáveis Edis, desinteressados debatedores das soluções ou desmazelos, de minha amada Gramado. Admiro-os mesmo, por sua incansável retórica, e inegável senso comunitário, posto que tudo dizem e fazem, o seja em benefício da comunidade. Nobre! Nobre demais.

A sessão desta segunda feira, 18 de Novembro, no entanto, pareceu-se dissonante do cotidiano respeitoso e calmo que predomina ao longo das plenárias daquela casa, e isso sei, porque fui perguntar aos Vereadores, se é sempre assim, e a resposta, para meu conforto, foi: "Não! Ontem foi atípico!" Vou descrever um pouco, para firmar meu comentário nos fatos.

Eis que o convidado, naturalmente é pressionado pelos Vereadores Volnei, Ubiratã, e Ronsoni, de forma bastante agressiva, e perde a compostura, partindo para o ataque, primeiro a ex Prefeito, Nestor Tissot, seguido por um vocabulário contido de adrenalina acima da dose habitual de um debatedor. Diante disso, a reação dos Vereadores mencionados, foi a de responderem não apenas no mesmo tom, mas o Próprio Ronsoni, ocupando a tribuna, destravou o verbo, em tom exageradamente agressivo, elevado, e nitidamente raivoso, não apenas contra o Secretário Convidado, como contra todo o Executivo do Município. Sem citar nomes, Ronsoni vociferou acerca do que considerou "incompetência, fracasso, e desleixo" do Governo de Fedoca, e Julio Dornelles, ali representando o Executivo.
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Ao final de sua fala, Ronsoni assumiu a Presidência da mesa, e encerrou os trabalhos, seguindo o protocolo da dia. Foi neste momento, aparteado pelo Vereador Daniel (PT), que solicitou, "Pela Ordem), permissão ao convidado para que fizesse suas considerações finais. Não teve jeito, Ronsoni, usando de suas atribuições e pelo protocolo elaborado pela manhã, não deu oportunidade, e encerrou os trabalhos, não sem antes arguir do Plenário, que prontamente negou o pedido de Daniel. Estes são os fatos aparentes, o vídeo mostra isso. Cheguei a comentar com um Vereador da oposição, que eles haviam pegado pesado com o convidado, e ele respondeu-me que há uma forte animosidade com este Secretário há mais tempo. Mais tarde, esclareceu-me as razões.

Ao que consegui apurar há um ódio visceral entre Ronsoni x Júlio Dornelles, Júlio x Nestor, e soma-se a isso o desentendimento completo acerca de duas matérias em curso:

1 - Projeto do empréstimo de 35 milhões para pavimentação de 30 Km de estradas do Interior.
2 - Projeto de venda de propriedades públicas, para investir os valores arrecadados em benfeitorias e obras sociais.

Vamos à reflexão dos fatos. Projeto do empréstimo de 35 milhões.
Minhas fontes dizem que a oposição fechou questão internamente e não aprovará o projeto, de forma alguma. No entanto, eu mesmo ouvi do vereador Luia Barbacovi, que o projeto passou com facilidade em sua comissão, na qual há mais integrantes do Partido Progressistas, e eu pode deduzir que, se a análise de mérito e outros pormenores de um projeto, é aprovada, nesta etapa, que esta comissão declararia abertamente que não seja um projeto "eivado de vícios" (termo que Fedoca gosta de usar), mas que sua aprovação ou reprovação, deva-se somente á uma questão política, no sentido de "gosto, ou não gosto". Assim, pela lógica, o voto de Luia (e mais alguém da oposição), seja suficiente para aprovação do projeto. isto é:| Seria, se não fosse o temperamento dos debatedores, de um e outro lado, pisando pelos calcanhares, o diálogo civilizado, necessário à negociação de um projeto sensivelmente necessário à comunidade, e ao mesmo tempo político, de um e de outro lados.

Outra leitura que faço de tal projeto é que, se quase todo o asfaltamento, que foi feito, segundo minhas fontes, todo na gestão Nestor e Luia, e isso colocaria Fedoca em condição de inferioridade no tocante aos pavimentos no interior, pois, alega a oposição, que tudo o que tem feito até aqui, sejam apenas reparos. Pois bem! Se Fedoca quer reparar essa lacuna, e para isso necessita de um empréstimo desta envergadura (vale dizer que poucos municípios do porte de Gramado conseguem este valor e nas condições oferecidas, de pagamento em 240 parcelas, o que vale dizer que a conta seria paga pelo próximo Prefeito, que pode ser o próprio Nestor, e que também, segundo análise feita pelo Jornalista Miron Neto, teria oportunidade de inaugurar a maior parte das obras), para avançar as obras que, pelas denúncias feitas aos berros, de Ronsoni, não fez ainda nenhuma.

Eu não seria o Pacard, se não provocasse um pouco de reflexão sobre o que está acontecendo nos dois poderes eletivos de Gramado, e o que está acontecendo é absolutamente desnecessário ao exercício de ambos os poderes: um descompasso total. Se de um lado, o Prefeito precisa de aprovação dos vereadores, para avançar seu planejamento e execução de obras, o que prometeu aos eleitores fazê-lo, se eleito, de outro lado, a população, que optou por dividir estes poderes, fazendo justiça de Salomão, partindo os poderes ao meio e equilibrando as forças, vê um jogo de revanches interminável, levando ao que descrevi, quase como um teatro de horrores, que por muito pouco, não levou os protagonistas às vias de fato. E não pensem que vai parar por aí, porque não vai mesmo.

Vamos entender o que acontece, de acordo com o que ouvi de todos os lados (tem mais que dois envolvidos). É política, e politicagem. Basta saber que se Fedoca não conseguir aprovação para o empréstimo antes do encerramento do ano Legislativo, que tem apenas mais quatro sessões, o interior não terá asfalto. Falo daquelas localidades contempladas na proposta. Fedoca precisa ainda da aprovação para venda de imóveis, tema amplamente debatido já, mas de resultado incerto, mesmo porque a oposição apareceu com uma "carta na manga", o Registro de um dos imóveis listados para venda, que não pertence à Prefeitura, de acordo com a oposição, e corroborado pelo documento do Registro de Imóveis, atualizado.


A explicação de um Vereador é que este terreno foi doado ao "Roupeiro da Criança Pobre", uma instituição que existiu de fato até algum tempo atrás, mas que, ainda que inativa, ainda pertence à esta entidade, e que não existe nenhuma cláusula que diga que tal imóvel volte automaticamente ao Município, em caso de extinção da instituição.

Não vejo como imoral a eventual venda deste imóvel, e nem tampouco a venda de qualquer imóvel pertencente ao Município. Trata-se apenas de questão opinativa, de natureza política, da qual desejo eximir-me, porque minha opinião é o que menos importa nesse momento. Importa é entender a motivação para tal. Então vejo que se Fedoca não conseguir  as obras que prometeu, Nestor volta com forte argumento de campanha que ele realizou tais obras, e que será ele a concluir o que seu (eventual) adversário não fez. O marketing e a propaganda de um e outro durante a campanha, decidirá em quem os eleitores irão aceitar como verdadeira: Se Nestor é de fato o Prefeito capaz de pavimentar o interior e realizar obras da envergadura do parque dos Pinheiros, ou se será Fedoca, que teve boa vontade, mas não teve articulação política para negociar com seus opositores.

Aqui a questão, nesta leitura, não está na capacidade de execução de obras, vomitada às cusparadas por Ronsoni, ou defendida por quem defende a atual administração, onde se diz que Nestor só entende por obra aquilo que se pode empilhar tijolos, ou  espalhar asfalto, sendo que há obras não palpáveis, como qualidade da educação, da saúde, da cultura, da segurança pública, e outras mais.

Não são estas opiniões minhas. São apenas constatações manifestadas por simpatizantes (ou antagonistas) de um e de outro lado. Mas torna-se minha opinião o formato de política que percorre os canais entre um e outro poder. Se de um lado, o Secretário Julio, tem liberdade para seu destempero diante de autoridades que estão, hierarquicamente acima de seu cargo, ainda que sem ingerência direta, por outro lado, a liderança Progressista tem se mostrado sonolenta, ondem, ainda segundo seus opositores, não sabe fazer oposição, pois entendem que oposição se faz à ideias e propostas, mas que esteja a oposição de Fedoca, ainda guardando ranço da eleição perdida, e fazendo oposição à Gramado.

Eu quis entender a origem deste rancor, e fui perguntar diretamente aos personagens deste imbróglio todo, e a resposta que obtive de Dornelles foi que, durante a administração de Nestor, ele, Dornelles, era Diretor Técnico da Corsan, e foi convidado por Nestor, juntamente com a ex-Senadora Ana Amelia Lemos, para filiar-se ao PP. Por ser alinhado com à Esquerda, o PT, Dornelles declinou do convite, e segundo ele próprio, dede então, sentiu o distanciamento de Nestor e seus parceiros políticos.

A mesma pergunta, fiz a Nestor, que optou por não participar do debate, e apenas frisou que o que foi dito na sessão de ontem, na Câmara, traduz seu sentimento e dos Progressistas.

A conclusão é que não há conclusão, e que temos apenas uma pequena amostra do que Gramado irá enfrentar durante a campanha que se aproxima. Que visão terá o meu querido leitor, e minha perfumada leitora, da cidade que tem o oitavo lugar entre os dez municípios com melhor desempenho no índice FIRJAN de Gestão Fiscal de 2019, avaliado por 2018, a cidade que tem o maior e mais belo espetáculo natalino do mundo? A cidade que tem o requinte de uma metrópole de alto nível, desejável de nela morar por oitenta por cento dos brasileiros, e tantas outras maravilhas publicadas todos os dias pelo mundo afora, e que nas suas entranhas abriga dois poderes incapazes de conversarem entre si, sem que ofensas, gritos, menosprezo, seja a tônica destes embates, em lugar de sóbrios debates?

Que triste ter que escrever esse tipo de reflexão. Não gosto disso. Prefiro escrever meus contos, minhas crônicas, meus "causos", mostrar a humanidade que pontua minhas letras, os amigos que ajudaram a construir este patrimônio moral. Que tristeza perceber que a vaidade e a falta de modos no diálogo termine por revanchismo sobre revanchismo, e que aqueles que necessitam das obras, dos recursos, da fiscalização, das boas Leis, das ideias, sejam esquecidos e desprezados a cada encontro entre um e outro poder, ou entre cada sessão da Câmara.

Não foi isso que ouvi durante a campanha. Ouvi ambos os lados prometeram conciliação, paz, harmonia. Isso é conciliação, paz e harmonia? Então o mundo está girando para outro lado e eu perdi a vez de entrar nele.

Quanto à aprovação do projeto dos 35 milhões, a situação fica assim: Os Progressistas não estão dispostos a aprovarem o projeto, e a bancada da situação, e o Líder do Governo, Vereador Professor Daniel, diz que fará de tudo para que o projeto saia aprovado, e para mobilizará todas as comunidades envolvidas na atenção do projeto, para que lotem e superlotem a Câmara no dia da votação, e vê que é muito difícil que a oposição saiba dizer não diante desta pressão. Vamos ver o que acontece.

Fica desde já aberto o espaço desta página para respostas. E tomara que as tenha.



segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Crônicas de Gramado - O Legado e Crime do Zé Tristão PARTE 1



Corria solto, feito traque em bombacha, o "Anno da Graça de Nº.Sr. Jesus Christo" de 1912, penso que lá pelo mês de Março, eu presumo, porque a "edade da creança" era de cerca de oito meses, e considerando que a lactente havia nascido no mês de Julho de 1911, chega-se à março de 1912. Isto dito, sigo o relato.

Estamos no Quinto Distrito de Gramado do Mundo Novo, ou apenas Mundo Novo. o lugar era um rancho, onde durante muitos anos foi o "Motel Balneário", ou "Tênis Clube", como era chamado, por abrigar, por empréstimo, as dependências do clube com o mesmo nome. Ali vivia o próspero "garanhão", cujo nome de "baptismo" era Vítor Pereira Dias, genro do afamado Intendente, Tristão José Francisco de Oliveira, ou como diz a rua que leva seu nome, "Tristão de Oliveira".
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Tristão tinha uma penca de varões e varoas, de sua prole com a Senhora Dona Leonor Gabriel de Souza. Uma de suas filhas, então, era a Dona Francisca de Oliveira, nome dado, possivelmente em honra à Princesa Dona Francisca, Princesa de Bourbon e Bragança, filha de Dom Pedro II. Outro Filho era um tal de José Francisco de Oliveira, mas que em razão do pai, Tristão, era chamado também de José Tristão. Costume judaico, ainda seguido pelos "Cristãos Novos" (judeus convertidos ao cristianismo, para fugirem do duro braço da inquisição), ainda que subjetivos.

José Tristão, ou aqui, na economia de letras, "Zé Tristão", era um moço de singular sapiência, inteligentíssimo, e talentoso em muitas artes e ciências.. Um erudito, para o seu tempo. Notabilizou-se no ofício de "Agrimensor", ou "Topógrafo", como queiram chamar. Homem de bem, e um devoto cristão exemplar.

Já sua elegante "senhôra", ao que declinarei o nome, tinha certa fraqueza no quesito de individualidade do matrimônio, e caiu na lábia do supracitado Vítor, seu concunhado. E foi então, aquele "aqui-te-pego-aqui-te-largo", de tal monta, que a coisa vazou dos pelegos e foi parar nos ouvidos de Zé Tristão. É o que passou a saber-se depois do feito que relatarei com fidelidade ao ocorrido.

Certa hora do dia, que não saberei precisar, mas creio que tenha sido à noitinha, após a dura faina, que Vítor abandona-se ao aconchego sagrado do seu lar, e toma nos braços, a pequenina Maria Elisa, sua caçula, com então, já mencionado, a "edade" de oito meses (aqui trava minha memória imaginativa, pois não consigo ver Maria Elisa como um bebezinho fofo, mas como uma velhinha, debochada que era, envolta em um cueiro, fazendo gracinhas, e pequenina, de colo).

A alegria de Vítor, e da inocente esposa, "Senhôra Dona Francisca" terminava naquele momento, pois um estampido vindo do telhado (de tabuinhas) do rancho, de modo certeiro no crânio de Vítor, cujo anjo da guarda foi de prestimosa ação, protegendo a inocente de um fragmento do tiro. E ali, sem saber o porque, nem quem, chega ao fim a jornada pecaminosa, mas também justa (este paradoxo é o que nos mantém pela vida), do Don Juan, que saboreava voluptuosas curvas, da mulher do cunhado Zé Tristão.

O atirador fugiu rápido como quem mata (desculpem o trocadilho, mas achei ótimo), e o cadáver foi levado para autópsia, em Taquara, sede do Distrito. O tempo passa e as horas correm. A notícia se espalha, e como era de costume, os homens se reuniam no galpão, onde o mate corria solto, e a prosa também. Estre estes, estava Zé Tristão, consternado pela morte do "Ente Querido", e em dado momento comentou:
- A cabeça do morto deve estar cheia de pregos, coitado!"
E estava mesmo. A carga utilizada foi de cabeça de pregos e fragmentos de metais. O problema é que isso não havia sido divulgado ainda, mas quando chegou pelo Delegado, o resultado da autópsia, lá estavam os pregos prenunciados por  Zé Tristão. Ele era o assassino! Foi então condenado, passou alguns anos em uma cela chamada de "17", que pingava água, e quando saiu da cadeia, a família foi recomendada pelo Delegado, que tirassem o rapaz daquele lugar, para evitar vingança. Eram tempos duros. Mas pensa que termina aqui o caso? Pois não termina aqui!

.....Acompanhe nova publicação com a sequência dos fatos.

domingo, 17 de novembro de 2019

Seitas, Partidos, ou Religiões?



Eu estava saindo de Israel, já no portão de embarque, quando um agente do Serviço de Defesa do aeroporto Ben Gurion abordou-me e pediu meu Passaporte. Examinou por alguns segundos, olhou pra mim, e fez uma pergunta em hebraico. E só soube responder: "Ani lo ivrit" (eu não falo hebraico). Perguntou-me então em inglês, quantos idiomas eu falava. "Um tantico só de inglês, um bocadinho de espanhol, e se falar bem devagarinho, talvez eu conheça alguns palavrões em italiano" (Evidente que respondi apenas "inglês, e um pouco de espanhol, e italiano, bem serio). Não se brinca com um agente da Mossad, com quase dois metros de altura, uma metralhadora a tiracolo, dentro de um aeroporto mais guardado que filha de estancieiro, cujo país precisa de uma redoma de mísseis e tecnologia para proteger, sob ameaça real de guerra por mais de vinte países à sua volta. Não se brinca mesmo. Então eu disse que era brasileiro, que estava no país à convite de uma empresa, para receber um treinamento, e que o dono da empresa era a pessoa que estava ao meu lado, um brasileiro, que vive em Israel há cerca de 40 anos. O varão examinou mais uma vez meu passaporte, olhou pra mim, apontou pra minha cabeça, e perguntou, de chofre: "Por que você está usando Kipá?" (Aquele chapeuzinho redondo, usado por judeus religiosos (ou não). Fiquei completamente estático, o sangue circulou ao contrário, e dava pra ouvir meu coração disparado, ecoando pelo imenso hall do aeroporto. Meu amigo então, percebendo que eu teria que trocar de cuecas logo a seguir, interviu, e disse ao agente: "Ele é de uma seita judaica, no Brasil!" O moço deu um sorriso, balançou a cabeça, e desejou-me uma boa viagem, devolvendo meu passaporte. É que na cabeça dele, é impossível imaginar que um judeu, fora de Israel, não saiba falar hebraico. Mas encerro aqui o relato, e digo, que pela primeira vez, na vida, fiquei feliz por dizer que eu pertencia a uma "seita".

Não guardo segredo da minha fé. Nunca guardei, mas também, nunca senti-me confortável em fazer proselitismo. Nunca gostei de debate doutrinário, e se em algum momento da minha vida, flertei com a apologética, já lembro pouco disso, porque defesa de doutrina nunca foi do meu agrado, defender aquilo que milhares de renomados teólogos o tenham feito de formas tão diversas e inteligentes, que qualquer coisa que eu disser a favor, ou contra, estaria apenas repetindo jargões, que deixar-me-iam em trapo, ao primeiro argumento desconhecido por, de alguma outra escola teológica contrária. Até mesmo dentro de minha própria convicção religiosa, percebi que existia uma apologética dentro da apologética, que defendia então minúcias dentro de minúcias, e tão bem argumentadas, que faziam-me parecer um idiota, culpado por minha absoluta ignorância, e inferior no proceder de minha conduta. Assim, esquivei-me tanto, que ao largo de certo tempo, dei-me por conta que estava cada dia mais e mais emaranhado numa teia de conceitos e preconceitos, que estava me esquecendo de D-s. Foi desta forma, que tirei o manto, outrora branco, mas agora encardido e amarelado, de minha busca pela santidade e pureza espiritual, e descobri que debaixo dele, havia um homem desnudo. Peladão, se quiserem fazer gracinha. Era eu. Sem roupagem religiosa, nem tampouco partidária, para proteger minhas vergonhas, do mundo.

De modo algum quero que seja interpretada esta leitura sobre intimidade com o debate em círculos, que é o debate apologético, com minha relação com o conjunto de doutrinas pelas quais entreteci minha trajetória moral e espiritual. São coisas absolutamente diferentes. Um coisa é o "modo de ser", e outra é a "razão por crer". Aqui estou no plano religioso, no qual sinto-me absolutamente confortável em me pronunciar, porque procuro manter a coerência entre o que eu penso, o que eu digo, e o que eu tento fazer. Então, não estou trazendo nenhuma doutrina nova, nenhuma nova "verdade", antes estabeleço que as verdades que construíram minha formação espiritual, sejam suficientes para manter-me em voo solo, como faço, sem a interferência mastigada de que "por pertencer à este ou aquele grupo deva pensar deste ou daquele modo". Absolutamente não. Quero meu livre arbítrio desimpedido para quando eu tiver que prestar contas de meus atos e de minha consciência diante do Criador, eu o faça com a solenidade do momento e com a esperança de uma vida inteira. Simples assim.

Estou, com isso, dizendo que aquilo que faz bem pra mim, deva ser do mesmo modo para meu querido leitor, ou minha perfumada leitora? De modo algum. A beleza do pensamento está na originalidade, ainda que seja esta orientada por esta ou aquela forma de agir, viver ou pensar. Não há demérito algum buscar modelos de outrem para consubstanciar nossas experiências, e como nosso tempo é exíguo, nada melhor do que ter outras experiências para agregarmos, e as chamarmos de "nossas". Então, sempre iremos encontrar uma causa à tudo o que vivemos, e causa, não no sentido de motivo, mas no sentido de origem, ato causador. E isso pode ser encontrando tanto em lições de contemplação na Natureza das coisas, quanto em exemplos deixados por quem tenha vivido da forma que desejamos viver.

A pergunta que abre este ensaio é se você segue uma Seita, um Partido, ou uma Religião? Vamos entender cada uma destas manifestações ideológicas, e saber em quais nós nos encaixamos, então.
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1 - Seitas
Aqui, irei transcrever a definição clássica de seita, mesmo porque não estou buscando locupletar-me em originalidade plena textual, mas trazer ao estudo as definições estabelecidas, para adiantar meu trabalho.
"Seita (latim secta = "secionar", "dividir", "sectar) de forma geral é um conceito complexo utilizado para grupos que professem doutrina, ideologia, sistema filosófico, religioso ou político divergentes da correspondente doutrina ou sistema dominantes.
O termo “seita” é usado amplamente e é aplicado a grupos que seguem um líder vivo que promove doutrinas e práticas novas e não-ortodoxas.
Segundo Peter L. Berger, seita seria a organização de um grupo contra um meio que consideram hostil ou descrente. O grupo então se fecha em um corpo de doutrinas e vê o restante da sociedade como inerentemente má ou pecadora, passível da ira divina, que inevitavelmente sobrevirá sobre eles. As seitas de orientação cristã usam as noções de pecado e santificação como forma de dar legitimidade discursiva aos neófitos e manter os que já são seguidores. A saída do grupo pode acarretar diversos efeitos psicossociais em decorrência do sentimento de solidão, de autoculpabilização e da hostilidade advinda do grupo que se está deixando. Sair de uma seita nunca é fácil porque ela exerce controle sobre toda a vida individual e coletiva dos indivíduos. As seitas, assim como as religiões instituídas, são agências reguladoras do pensamento e da ação, mas com a diferença de que na seita a regulação tende a ser mais totalizante, devido ao rígido controle que exercem sobre os sujeitos.
Embora o termo seja frequentemente usado apenas às organizações religiosas ou políticas, estende-se também à adesão a grupos militantes minoritários em tensão com a sociedade ampla."
Aqui quero discordar de Berger, quando diz que apenas pode ser chamado de "Seita" aqueles grupamentos, cujo líder ainda vive. Não é assim. Grande parte das seitas, nasce como tal após a morte de seu líder, e que em muitos casos, começa com doutrinas bastante mais simplicidade do que aquelas empregadas por seus sectários. O autor abraça firmemente a ideia que o cristianismo seja uma seita, e aqui preciso concordar, porque nasce a partir de um Líder, a quem denominam de Messias, e não vou entrar neste mérito, mas comprovar que é a partir desta referência que brotam todas as demais vertentes, e estas, sim, com seus ícones, vivos ou não. Os sectários constroem um "calvário", falso, ou verdadeiro, enaltecem o martírio, em lugar das vitórias, para com isso, constrangerem seus prosélitos, neófitos ou não, a ignorarem as ofensas, e enfrentarem os desafios, com bravura, ou com doçura, seja qual for a circunstância, ou o modelo empregado. Estes sectários chegam à extremos, e muitos deles chegam a provocar a ira dos antagonistas, para que os façam sofrer pelas injúrias, sejam elas físicas, ou morais, e este sofrimento é o fermento que ativa a massa, e as massas, dispostas a qualquer sacrifício, já não mais pela causa, mas pelo líder supremo que gerou a causa.
2 - Partidos
Partido político é um grupo organizado, legalmente formado, com base em formas voluntárias de participação numa associação orientada para ocupar o poder político.
É um grupo organizado de pessoas que formam legalmente uma entidade, constituídos com base em formas voluntárias de participação, nessa "democracia", segundo professor Lauro Campos da Universidade de Brasília; quando faz referência ao espectro ideológico, em seu livro, História do Pensamento Econômico, em uma associação orientada para influenciar ou ocupar o poder político em um determinado país politicamente organizado e/ou Estado, em que se faz presente e/ou necessário como objeto de mudança e/ou transformação social. Porém, segundo Robert Michels, em seu livro publicado em 1911, Sociologia dos Partidos Políticos, por mais democráticos sejam esses partidos, eles sempre tornam-se oligárquicos, esses partidos estão sempre sociologicamente ligados a uma ideologia, porém, nem sempre essa ideologia é pragmática e/ou sociologicamente exequível ou viável, pois muitas vezes carece de ambiente para seu desenvolvimento, o que demonstra segundo Lauro Campos, que os chamados Líderes partidários não se sintonizam perfeitamente com o povo e como que, como diz: "… tentam governar de costas para o povo e suas necessidades…".
Acho suficiente o conceito, e apenas esclareço, que nem todo Partido é uma "Seita", e nem toda "Seita" torna-se em Partido. Classifico aqui duas situações de atuação dos Partidos; Na primeira, os Partidos agregam militantes espalhados, que defendem determinada causa, ou candidato do momento, em caráter nacional ou regional, e que depois de passada a paixão da campanha, sublima-se sem alarde, e cada um volta pra sua função, ao seu "status quo ante", ou, como estava antes da eleição. Vou além, e na minha leitura não encontro mais partidos com ideologia plena, senão ajuntamento de políticos que buscam o poder, seja direto, ou de forma periférica, e que segundo a lei exije, há necessidade da criação de uma agremiação, à qual dava-se o nome de Partido, e hoje nem mais isso.
A ideia de "Partido" parece-me configurar motivo de vergonha, senão me digam, por que o Partido Progressista, agora se chama apenas "Progressista? Ou outros, a saber: Podemos? Patriotas, MDB, e por aí segue? Não são os mesmos integrantes, as mesmas lideranças, o mesmo estatuto, a mesma ideologia de antes, com apenas alguns ajustes? Não estou dizendo que está errado, apenas estou fortalecendo que a política começa a levantar as velas para outros ventos, onde os velhos costumes estão sendo, aos poucos, substituídos, modernizados, melhor ajustados com as novas tendências do povo de quem se servem.
Já partidos com ranço de tradição, fazem questão de manter o "P" para começar suas siglas: PDT, PRN, e por aí segue. O PDT mesmo, já nasceu como uma mágoa de não ter sido PTB, o Partido de Brizola e de Getúlio Vargas, criado por este último, como "um anteparo entre sindicatos e comunistas", segundo suas próprias palavras, e que foi extinto em 1964, com a Ditadura Militar, vindo ressurgir após a Anistia de 1982, onde Brizola perde a sigla para Ivete Vargas, sobrinha de Getúlio, e desde então seguem separados, onde aqui os classifico como seitas da "sociedade dos poetas mortos", porque cada um destes partidos tem o seu próprio panteão de divindades, mas não conseguiu prosperar, apesar de manterem suas ideologias intactas desde que foram criados.
3 - Religiões
"Religião (do latim religio, -onis) é um conjunto de sistemas culturais e de crenças, além de visões de mundo, que estabelece os símbolos que relacionam a humanidade com a espiritualidade e seus próprios valores morais. Muitas religiões têm narrativassímbolostradições e histórias sagradas que se destinam a dar sentido à vida ou explicar a sua origem e do universo. As religiões tendem a derivar a moralidade, a ética, as leis religiosas ou um estilo de vida preferido de suas ideias sobre o cosmos e a natureza humana.
A palavra religião é muitas vezes usada como sinônimo de  ou sistema de crença, mas a religião difere da crença privada na medida em que tem um aspecto público. A maioria das religiões tem comportamentos organizados, incluindo hierarquias clericais, uma definição do que constitui a adesão ou filiação, congregações de leigos, reuniões regulares ou serviços para fins de veneração ou adoração de uma divindade ou para a oração, lugares (naturais ou arquitetônicos) e/ou escrituras sagradas para seus praticantes. A prática de uma religião pode também incluir sermões, comemoração das atividades de Um Deus ou vários deuses, sacrifícios, festivais, festas, transe, iniciações, serviços funerários, serviços matrimoniais, meditação, música, arte, dança, ou outros aspectos religiosos da cultura humana."
Neste formato de agrupamento, posso acrescentar que quando um grupo de prosélitos, que tanto podem ser chamados de fiéis, ou militantes, age em defesa de suas crenças fundamentais (a cartilha de um partido, por exemplo, é uma crença fundamental),tendo, ou não um líder máximo, mas mata e morre por aquela filosofia (não sei se cabe aqui a palavra filosofia, que por si só não reconhece algo como verdade única, enquanto que uma religião defende sua apologética como redentora, única, e virtuosa), torna-se uma religião, mesmo porque, no extremismo da militância político-religiosa, viver ou morrer, tem o mesmo peso de importância, e quando prefere que outros morram para que sua causa sobreviva, e não existe uma crença fundamental ancestral entre o "certo e errado", nada se pode esperar que diga respeito à civilidade, no tocante ao respeito ao Ser Humano na sua integralidade, senão que ele é apenas humano enquanto servir à sociedade, trabalhando pelo Partido, e sendo necessário, morrendo pela causa. Nas religiões, os prosélitos matam e morrem por, e em nome de seus deuses e suas doutrinas. Na política acontece o mesmo. Por isso, talvez, que o adágio popular diz que "política e religião não se discute".
Quem é você neste contexto? Um sectário? Um político, ou um religioso? Ou ainda apenas alguém que faz parte dos três grupos, e espera ansiosamente pelo início da próxima campanha para vingar-se de seu político odiado, ou extorquir seu político generoso, ou finalmente, identificar-se com aquela pessoa que sintoniza com suas aspirações, e o representará junto aos demais, no lugar adequado para chamar de "Casa do povo"?
Está você disposto a empunhar uma bandeira, e cerrar os dentes em batalha por alguém que nem sabe o seu nome, onde você mora, ou quantas colheres de açúcar põe no café? Está disposto a defender com unhas e dentes uma agremiação que tem um perfil na sua comunidade, e outro completamente diferente no cenário nacional? Sabe você quanto está contaminado este candidato, pela ideologia que você mesmo abomina? O quanto irá beneficiá-lo, com seu envolvimento comunitário, a saber, trabalhando para tornar realidade as suas aspirações?
Seita, Partido, ou Religião? À qual delas você vai dedicar seu tempo, sua honra, seus valores, seus bens, e sua integridade, a defender?
Nas sociedades de pensamento totalitário alinhado ao antropocentrismo individualista, contrária ao Teocentrismo Universalista, não é muito pensar em que ou o indivíduo serve à causa, ou a causa defenestra o indivíduo, condenando-o ao ostracismo, tornando-o um pária, ao ponto de expropriar-lhe bens, valores, e família, como medida protetiva dos valores constituídos pelo Partido, tornando-o neste ato, e nos demais mencionados, como uma religião, cujos clérigos não passariam nem na grande porta da esperança, quanto menos no fundo de uma agulha.


O Shabat: Um Tempo de Encontro com Deus, na Perspectiva de Heschel e Jesus

  Ilustração: Seaart AI   O Shabat: Um Tempo de Encontro com Deus, na Perspectiva de Heschel e Jesus Paulo Cardoso* 1. ...