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domingo, 12 de janeiro de 2020

A Serenata de Joãozinho Morais - Crônicas de Gramado



Pois João Alves de Morais, ou Joãozinho Morais, era, se não estou enganado, o filho pimpolho da Tia Virginia de Morais, filha de Tristão de Oliveira, e irmã do já mencionado aqui neste espaço, por duas vezes, José Tristão, ou Zé Tristão.


CRÔNICAS DE GRAMADO - O LEGADO E CRIME DO ZÉ TRISTÃO PARTE 1



Mas é sobre o sobrinho de Zé Tristão de quem eu quero falar agora, o Joãozinho. Audacioso jogador do Centro Esportivo Gramadense, não saberia posicioná-lo em campo, porque tudo o que eu conheço de técnica de futebol, não passa de saber que tem onze em campo de cada lado, e uma bola, que não teve nada a ver com essa divisão, tomando coice pra todo lado (aliás, vegano não deveria torcer pra time nenhum, pois a bola é de couro). Mas Joãzinho batia um bolão, segundo seus contemporâneos, maioria já falecido, então não tenho como comprovar, mas também ninguém pode me desmentir, e segue o causo.

Joãozinho era muito melhor do que Neymar pra cavar falta, e mais esperto, porque enfiava, discretamente o dedo no furico dos melhores adversários, e a reação era imediata: o que teve a honra manchada, disparava atrás do baixinho, para meter-lhe uns tabefes, e não percebia que o juiz já prestava atenção à sequência, expulsando o agressor de campo. Depois outro, e mais outro, e finalmente, o time adversário estava desfalcado, e o Gramadense ia lá e metia gol atrás de gol. Depois, na hora da cerveja, era só risada, e ficava tudo certo.

Noutra feita, Orlando Morais, irmão de joãozinho, convidou o irmão, para pelarem umas varas de vime bem compridas. Depois de peladas, as varas ficavam naturalmente molhadas de seiva, e com jeito no braço, eram atiradas sobre a rede de alta tensão (atenção, piazada maleva, não façam isso sem a presença de um Joãozinho Morais), isso apenas para ouvirem os estouros causados pelo curto circuíto fechado pela condutividade dos minerais e água das varetas. A esta altura, já haviam se enfiado pelos matos, voltando a caçarem passarinho, bem longe dali.

Joãozinho tinha um coração de manteiga. Tinha mesmo. Como era padeiro, não faltava pão para os pobres que o procuravam. Minha avó passava lá e pedia para comprar pão amanhecido, mas quem diz que João a deixava pagar? Enchia um saco com pães do dia anterior e outros ainda quentinhos, e depois de bons momentos de prosa, entre dois grandes amigos, além de primos, minha avó voltava à nossa casa sorridente e orando pela bênção, enquanto Joãozinho enchia outras sacolas de outras pessoas, dia após dia. Vivia falido. Mas acho que terá ele um lugar na Eternidade. É o que eu acho.

Se Joãozinho será feliz na Eternidade, isso eu não sei dizer, mas o que sei dizer é que ele se divertiu muito na curta vida que esta existência lhe permitiu. E não era egoísta, não senhor, senhora ou senhorita. Joãozinho fazia questão de rir com os amigos. E este é o causo do título. 

Certa dia, Joãozinho convidou seus amigos: Almiro Drechsler, que tocava violino,  Gercy Accorsi, um grande Tenor, Adail de Castilhos, tocador de violão, e mais alguém, de quem não lembro o nome agora, para que o ajudassem em uma conquista de amor. Ocorre que havia uma belíssima veranista na Vila Planalto, nas proximidades do antigo Posto Ipiranga, da família Bezzi. Por aquelas imediações mais ou menos, que passava as férias em Gramado, com a família. Então a ideia de Joãozinho era bastante comum naqueles tempos: Uma serenata! isso mesmo, um recital de poemas, canções, por volta da meia noite, na janela da amada, para que ela acordasse ouvindo a voz de seu pretendente ao som de belas canções. Isso era uma serenata. Combinado então! Naquela noite fariam a serenata para a donzela (eu sei lá se era donzela, mas achei oportuno, para ilustrar a linguagem de época).

Meia noite em ponto, e começa p grupo a entoar melodias debaixo da janela da moça. Cantam uma, cantam duas e era chegada a vez do próprio Joãozinho declamar um poema à pretendente. Depois de um dedilhado de violão e algumas notas de violino, ele começa:

-" Ò minha amada querida,
amada do coração
sua puta ordinária
sua porca vagabunda
que nunca limpa a bunda
que tem bafo de leitão!"*

Nem é preciso que eu diga que quando ainda na parte da .."puta ordinária", o bando já havia se espalhado pelos banhados afora (era tudo banhado até quase no centro), rasgado terno de linho no arama farpado do potreiro, quebrado violão, pisoteando na bosta das vacas e banhado, enfim, um caos tremendo...enquanto Joãozinho permanecia na casa cantarolando asneiras e rolando de rir.

Acontece que como ele era padeiro e entregava o pão em todas as casas, ele sabia que naquele dia, naquela noite em especial,  não haveria ninguém em casa...


Poema fictício ilustrativo*
Foto montagem de internet


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