Corria solto, feito traque em bombacha, o "Anno da Graça de Nº.Sr. Jesus Christo" de 1912, penso que lá pelo mês de Março, eu presumo, porque a "edade da creança" era de cerca de oito meses, e considerando que a lactente havia nascido no mês de Julho de 1911, chega-se à março de 1912. Isto dito, sigo o relato.
Estamos no Quinto Distrito de Gramado do Mundo Novo, ou apenas Mundo Novo. o lugar era um rancho, onde durante muitos anos foi o "Motel Balneário", ou "Tênis Clube", como era chamado, por abrigar, por empréstimo, as dependências do clube com o mesmo nome. Ali vivia o próspero "garanhão", cujo nome de "baptismo" era Vítor Pereira Dias, genro do afamado Intendente, Tristão José Francisco de Oliveira, ou como diz a rua que leva seu nome, "Tristão de Oliveira".
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Tristão tinha uma penca de varões e varoas, de sua prole com a Senhora Dona Leonor Gabriel de Souza. Uma de suas filhas, então, era a Dona Francisca de Oliveira, nome dado, possivelmente em honra à Princesa Dona Francisca, Princesa de Bourbon e Bragança, filha de Dom Pedro II. Outro Filho era um tal de José Francisco de Oliveira, mas que em razão do pai, Tristão, era chamado também de José Tristão. Costume judaico, ainda seguido pelos "Cristãos Novos" (judeus convertidos ao cristianismo, para fugirem do duro braço da inquisição), ainda que subjetivos.
José Tristão, ou aqui, na economia de letras, "Zé Tristão", era um moço de singular sapiência, inteligentíssimo, e talentoso em muitas artes e ciências.. Um erudito, para o seu tempo. Notabilizou-se no ofício de "Agrimensor", ou "Topógrafo", como queiram chamar. Homem de bem, e um devoto cristão exemplar.
Já sua elegante "senhôra", ao que declinarei o nome, tinha certa fraqueza no quesito de individualidade do matrimônio, e caiu na lábia do supracitado Vítor, seu concunhado. E foi então, aquele "aqui-te-pego-aqui-te-largo", de tal monta, que a coisa vazou dos pelegos e foi parar nos ouvidos de Zé Tristão. É o que passou a saber-se depois do feito que relatarei com fidelidade ao ocorrido.
Certa hora do dia, que não saberei precisar, mas creio que tenha sido à noitinha, após a dura faina, que Vítor abandona-se ao aconchego sagrado do seu lar, e toma nos braços, a pequenina Maria Elisa, sua caçula, com então, já mencionado, a "edade" de oito meses (aqui trava minha memória imaginativa, pois não consigo ver Maria Elisa como um bebezinho fofo, mas como uma velhinha, debochada que era, envolta em um cueiro, fazendo gracinhas, e pequenina, de colo).
A alegria de Vítor, e da inocente esposa, "Senhôra Dona Francisca" terminava naquele momento, pois um estampido vindo do telhado (de tabuinhas) do rancho, de modo certeiro no crânio de Vítor, cujo anjo da guarda foi de prestimosa ação, protegendo a inocente de um fragmento do tiro. E ali, sem saber o porque, nem quem, chega ao fim a jornada pecaminosa, mas também justa (este paradoxo é o que nos mantém pela vida), do Don Juan, que saboreava voluptuosas curvas, da mulher do cunhado Zé Tristão.
O atirador fugiu rápido como quem mata (desculpem o trocadilho, mas achei ótimo), e o cadáver foi levado para autópsia, em Taquara, sede do Distrito. O tempo passa e as horas correm. A notícia se espalha, e como era de costume, os homens se reuniam no galpão, onde o mate corria solto, e a prosa também. Estre estes, estava Zé Tristão, consternado pela morte do "Ente Querido", e em dado momento comentou:
- A cabeça do morto deve estar cheia de pregos, coitado!"
E estava mesmo. A carga utilizada foi de cabeça de pregos e fragmentos de metais. O problema é que isso não havia sido divulgado ainda, mas quando chegou pelo Delegado, o resultado da autópsia, lá estavam os pregos prenunciados por Zé Tristão. Ele era o assassino! Foi então condenado, passou alguns anos em uma cela chamada de "17", que pingava água, e quando saiu da cadeia, a família foi recomendada pelo Delegado, que tirassem o rapaz daquele lugar, para evitar vingança. Eram tempos duros. Mas pensa que termina aqui o caso? Pois não termina aqui!
.....Acompanhe nova publicação com a sequência dos fatos.
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