Se eu não for por mim, quem será por mim?
Se eu for só por mim, o que serei eu?
Se não agora, quando?
(Hilel, o Ancião, 30 a.e.c)
Jerusalém é uma cidade que desperta nossas mais profundas inspirações e aspirações de natureza espiritual. Nem é preciso ser religioso, místico, ou sensitivo para perceber alguma coisa sobrenatural pairando por cima daquelas pedras milenares, pelas ruas estreitas de portas altas e tão antigas quando a própria existência da cidade, e pelos sítios arqueológicos, a maioria verdadeiros, outros nem tão confiáveis assim, mas ainda assim Jerusalém tem inspirado cânticos ao longo de mais de três mil anos em louvor à sua escolha, pelo D-s Criador do Universo. Parece tão distante do entendimento, imaginar que O Mesmo D-s que criou a imensidão do cosmos, quase infinito, tenha também orientado linha por linha, pedra por pedra, a construção daquele lugar. Esta é a visão mística, espiritual, religiosa do lugar.
Já a informação arqueológica nos diz que Jerusalém é um grande "Tel", e não, Tel (ou Tal) não é abreviatura de telefone, mas uma situação arquitetônica, de engenharia, na verdade, onde uma cidade que era dominada por outra, eram feitos de suas casas, monturos, e estes monturos eram espalhados, e sedimentavam a plataforma de outra cidade, que seria construída sobre aquele aterro. Jerusalém, em hebraico ירושלים é na verdade um amontoado de 14 civilizações, a começar pelo atual Muro das Lamentações, o Kotel, que tem, abaixo de si, por cerca de 20 metros, as escavações que mostram o primeiro Templo, de Salomão (as ruínas que estão lá são dos muros de Herodes). Isso significa que depois de Salomão, temos aproximadamente seis ou sete aterros, o que significa que debaixo disso, ainda há mais seis ou sete (talvez mais) cidades soterradas, histórias perdidas, de pessoas vencidas. Assim, o fim da história é o começo dela mesma.
A política é uma coisa muito, mas muito suja, e não, não são os políticos quem a emporcalham. Somo nós mesmos quem damos lavagem e nos esfregamos nessa porquice, quando reclamamos deles, dos maus, que fique bem claro, mas vamos lá, fazemos campanha, votamos neles, e ainda celebramos sua vitória, como se nossa tivesse sido, sobejando e pisoteando sobre os vencidos, que em muitos casos, são nossos próprios amigos, membros de nossa família ou congregação, colegas de trabalho. Começa aí a bandalheira da política, e vai além. Muito além.
A bandalheira começa dentro de nossa casa, quando nos aquietamos no comodismo de acreditarmos que se existem apenas dois ou três candidatos, é porque tenham sido estes, predestinados a perpetuar-se no poder, alternado-se entre um e outro clã, e não permitindo que haja alguma renovação na política e na forma de governar. Afunilamos nossas esperanças neste ou naquele, ainda que os desprezemos, e não abrimos espaço para outros que não circulam nas esferas do poder, e por isso tornam-se preteridos, e aqueles, preferidos, porque "conhecem política". Sim, conhecem política e políticos, mas desconhecem o povo. Desconhecem a ética. Pisoteiam antecessores, como se o que há de incompleto, seja por pequenez moral, e o que há de bom, é incorporado ao seu próprio trabalho, como se fossem louros seus.
Pisoteiam os feitos de outrem e sobre os entulhos constroem sua própria cidade, como se apenas e só apenas por seus méritos, algo de bom tenha sido feito pelos cidadãos. Desprezam o que lhes é diferente e tornam-se indiferentes aos que lhes são opostos. Manipulam e desfazem aquilo e aqueles que lhes é inaceitável, por não estarem atrelados às suas fileiras. São hipócritas, manipuladores, e disputam apenas quem é mais capaz de mentir e manipular a opinião alheia, e esta, sabe que está sendo manipulada, mas acomoda-se na ideia nefasta de que já que só tem esses, devem ao menos procurar algo de bom e adotar um dos lados.
Não sei se viverei para encontrar um candidato que não tenha rabo preso com este ou aquele grupo, mas que seja de fato comprometido com a população. Não sei se viverei tempo suficiente para encontrar um eleitor que diga: "Eu serei candidato, apesar de não ser político", para mudar e quebrar este paradigma de que só quem está em certa liderança seja capaz de confrontar os desafios que uma pequena República, chamada cidade, apresenta a cada dia de governo que virá.
Desafio você, meu querido leitor, minha perfumada leitora, a mudar em si mesmo, em si mesma, esta mentirosa verdade, de que só quem tem cheiro de bosta nas mãos é capaz de cuidar de uma fazenda. Não é. Ninguém nasce pronto para nada, mas aperfeiçoa-se naquilo para o qual foi chamado, e somente são chamados os bons, mas quando estes se escondem, os esdrúxulos tomam a frente. E governam você! Portanto, se você e eu somos governados por aqueles que só são capazes de construir uma cidade, destruindo a outra que estava lá, e não reagimos a isso, é porque merecemos o jugo que nos impõem os que sabem que os bons permanecem calados e os maus se apresentam para a conquista, porque sabem que existem batalhas cujos despojos são a cabeça dos fracos, dos tímidos, dos indiferentes.
Você não precisa tornar seu antecessor um incompetente, para que você seja reconhecido como alguém bom. Sua obra não será mais grandiosa se você auto-elogiar-se ou pagar alguém para que o faça. Pelo contrário: o auto elogio escancará ao mundo a sua estupidez, seu hedonismo, sua egolatria. Eis o mal dos maus políticos: o narcisismo! Então, eu, cidadão, você, pessoa de bem, precisa urgentemente rever seus conceitos sobra a arte e a ciência de fazer política, e começar a apoiar quem verdadeiramente seja capaz de comandar a sua vida, em dizer sobre qual rua você deve passar, em qual calçada pode pisar. Se der este poder a um hedonista, alguém que cultua seu próprio senso de estética e virtude, estará entregando a chave da sua consciência à esta pessoa, a este grupo, à este princípio sem princípios.
Somos tímidos, calados, indiferentes, ou temos mente capaz de discernir o certo do errado, o bom do mau, e o oportunista, do herói? Quem é você? Quem sou eu?
Quem sua cidade irá escolher? Alguém que pisa em pescoços para firmar sua autoridade, ou alguém, ainda sob as sombras, que poderá surgir ao amanhecer de sua inquietude, talvez você mesmo? Acha que não pode vencer grandes leões numa batalha corpo a corpo? Junte forças e perceberá que até mesmo os leões nunca caçam sozinhos. Perceberá que numa floresta há mais do que leões, e que numa civilização há muitos valentes dispostos a segui-lo, se seu caminho for direito, se sua determinação for transparente. A hora é agora. Não há ontem mais e ainda não aconteceu o amanhã, que você mesmo pode mudar.
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