AD SENSE

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Estado de Alerta - Capítulo 1 ( o que já é um bom começo)



Capítulo 1 ( o que já é um bom começo)

Esta obra foi vomit.., digo, escrita, durante o período de campanha eleitoral, primeiro mandato da inominável, que substituiu o abominável, ao calor da democracia bolivariana, lá por 2014. E continua atual. Moscas e estrume ainda são os mesmos.
Qualquer semelhança com alguma coisa que se conhece, não tem a menor importância e quem levar à serio o que eu escrevo aqui, precisa urgentemente reavaliar seus valores ou consultar um psicanalista. Ou ao menos um proctologista.

O Estado,
A Vida,
Os Políticos,
Os Seres Humanos,

E Eu


Um mau governo faz muito mal ao seu povo, o que em certas circunstâncias torna-se bom, pois poderia ser pior ainda.
Aprenda a se conformar.

E o reino dos Céus? Sem problema. Será dos pobres de espírito. Dessa forma, eles apenas dão um empurrãozinho para sua salvação. Pobre é pobre, pensam eles. Então temos que salvá-los, coitados.

De tesouro em tesouro, eles vão ficando ricos.
De grão em grão o saco se esvazia.
De saco em saco, o tesouro se esvazia.
De moeda em moeda, se funda uma igreja. De igreja em igreja, se funda um partido. De partido em partido, se estabelece no poder

Crês na justiça? Fazes bem. Contanto que não seja tu mesmo o juiz de tuas causas e o algoz de tuas sentenças.

Crês nos homens públicos? Fazes bem, contanto que o público a que sirvam seja todo o que paga seus salários.

Crês na educação? É bom que o faças. Só não se deixe confundir entre educação e conhecimento. Educação pressupõe ética. O outro, poder.

Todo político deveria levar uma “carraspana” (reprimenda) pública antes de assumirem seus mandatos. Nós não saberíamos por que estariam sendo repreendidos. Mas ELES saberiam.
Projeto de Lei criminaliza mentira em currículos. E na politica, vale também?

Quando os livros se fecham, fecha-se a alma cega-se a mente entardece a vida fenece o pensar.

Quando os livros se queimam há um fogo que não se apaga que não gera mais luz. E quanto mais livros se queimam trevas se incandescem que geram sombras e escurecem o espírito.

Quando os livros são abertos há palavras libertas que nem sempre são ditas algumas de bênçãos. Algumas malditas que bem e mal dizem a quem as queira ler.

Quando os livros são escritos há almas que se derramam sobre eles como chuva copiosa sobre a terra sedenta.

Quando os amigos partirem serenize a alma com todas as lembranças de tudo o que, unidos se permitiram fazer, mesmo que nada, embora juntos.

Quando os amigos calarem faça silencio

Quando os amigos chorarem não economize lágrimas e reguem juntos, os ombros, almofadas da alma

Quando os amigos sentarem, sente junto e conte historias que despertem as estrelas silentes e te façam sorrir.

Quando os amigos falarem faça silencio para ouvi-los e deixe que contem da vida.

Quando os amigos chegarem, volte a ser criança para abraça-los, feliz.

Eu escrevo para pessoas inteligentes. Se não entendeu o que eu escrevo, é porque me faltou inteligência.

Tira uma pedra do meio do caminho. No meio do caminho, uma pedra se atira. Atire a primeira pedra e o último a sair gerencia o apagão.

Há Chefes de Estado, de quadrilhas, e Estadistas. Um não pressupõe o outro.

Um bom Chefe de Estado, que tenha realizado uma boa gestão enquanto estava na governança, não o qualifica com isso apenas para que seja cultuado no Panteão dos grandes Estadistas.

O que determina um grande Estadista é sua contribuição para a formação de uma civilização. Ninguém é grande ou notável porque tem amigos, fez grandes coisas ou porque o diz ser.

O que faz com que um homem se torne um Estadista é o conjunto da sua obra somado à substância de seus pensamentos, de suas ideias. Da contribuição para que o cidadão cultue seu modelo de transformações e não apenas a forma com que geriu o erário.

Não se forma um Estado por um governo, mas por um montante de sucessões onde se cometem erros e se encontram caminhos para a cultura e o bem estar das sociedades vindouras.

É candidato e não deseja sofrer ataques diretos se tem algo a esconder?

Use bois de piranha para esse fim. Escolha alguém dispensável de teu clã, que tenha mazelas ocultas e seja ambicioso, ganancioso, corrupto, alguém que pensar ser importante, e dá-lhe por alguns tempos a importância que pensa ele ter. E no momento em que teu próprio pescoço estiver em risco, expõe desta pessoa o traseiro sujo. A oposição, ávida por sangue, logo sente o cheiro e se encarrega de fazer o serviço sujo por ti. Enquanto isso pode seguir com teus intentos até atingir teus objetivos.

Não acho isso correto. Mas em time que está ganhando não se mexe. (Qualquer coincidência é pura semelhança).

Em Brasília é comum o trocadilho de MINISTÉRIO por MISTÉRIO.

Mistério do ano: Titanic encontrado em Brasília afundando o Brasil

Filme do ano: Queda de Titãs

Livro do ano: Quem mexeu no meu voto?

Escândalos em Brasília: O último a sair, apague a luz. A luz que alguém apaga, o povo não paga.

Imoral não é subir a escada, mas usar pescoços como degraus.

Muitas vezes somos impedidos de crescermos em nossos sonhos porque temos a crença de que ter sucesso é imoral.

Não tenha nenhuma dúvida que o governo deva escolher melhor seus corruptos. Corrupto, sim, mas corrupto burro e dedo duro é imperdoável.

Já que temos que envelhecer e perder os dentes, Deus nos recompensa com netos para aparar a baba.

Tremo em pensar que as novas conspirações não brotam dos camponeses, mas nos palácios da nova América bolivariana. E nós estamos no meio.

Tremo em pensar que o Novo PT é o mesmo velho PT se perpetuando no poder. Todos temem o PT. Até mesmo o PT razoável.

Volto do cardiologista, daqueles exames todos. Só viu cinco aneurismas no saco. Se assoprar forte demais, pode fazer BUM!

Tive que preencher uma ficha que me questionava sobre alergias. Tenho sim. Alergia à poeira, ácaros e corruptos. Os últimos são os piores alergênicos, pois são hospedeiros dos anteriores.

Já que sou vadio para fazer exercícios físicos, estou anabolizando meu cérebro e colocando-o sob treinamento de guerra fazendo-o pensar.

No meio do povo havia um político. Havia um político no meio da política. Entre o povo e a política havia um político. Já não se constroem mais muros como antigamente.

Diz-me em quem votas e te direi quão tolo és. Pra que ver pornografia pela internet ou TV a cabo, se tem o horário eleitoral, onde mostram figuras que deveriam aparecer com tarja preta?

Quem é o melhor amigo do homem? O silêncio!

Já chorei de emoção na vitória de meus candidatos. Tudo bem.
Quando morreu meu cachorro, eu chorei ainda mais. Ele nunca traiu ninguém.

Admiro o político que consegue sorrir apenas com os olhos.
Falar com o coração e abraçar com a alma. Quando encontrar um assim, voto nele.

Já fui politico, mas jamais fui candidato. Acho que até eu próprio seria contraditório. Melhor o lado de cá.

Por que todos os candidatos se apresentam sempre sorridentes?

Primeira mentira está nas fotos de campanha. Nada falam e dizem tudo.

Quer conhecer um governante? Chegue depois da hora no palácio onde governa. Difícil não ser verdadeiro de portas fechadas.

Sou favorável ao aborto politico. Nada mais justo que jogar pela janela os que entraram pela porta, mas negociam pelo alçapão do porão.

Pense rápido: em vez de votar no que dominar melhor a arte de enganar, não seria melhor deixar que todos eles governassem juntos... de graça?

Sou favorável ao celibato e voto de pobreza aos eleitos.
Deveria governar numa cela franciscana e comer em tigelinha de barro todos os dias.

Não sou de direita, centro ou esquerda. Tenho muito caráter para me deixar subverter por facções.

Eu jamais poderia ser petista. Já tenho outra religião.
O PT é tudo aquilo que disseram que é, somado ao que ainda não se sabe, e reduzindo o que os petistas dizem ser. Um mistério. Digno de ser respeitado. Digno de ser temido. Digno de ser detestado.

Que fique claro que meu medo e repulsa é pelo PT. Não pelos petistas. Estes são objeto de minha profunda admiração, porque são capazes de crer numa doutrina, se alinhando às suas fileiras de batalha com uma paixão que só encontrei nos marxistas e torcedores do “parmêra”. Tenho entre eles grandes e queridos amigos.

Posso um dia mudar de ideia quanto a isso tudo. Daí terei que escrever outro livro explicando os porquês.

Ó homens da ciência: tendes comigo paciência e respondei-me se a democracia petista é mensurável, ou apenas um mito?


Ó oráculo que apavoras os mortais, abri do futuro os portais e dizei-me: Haverá vida após a dinastia petista?

Caramba! Sou profeta!!!





terça-feira, 29 de novembro de 2016

Governo Fedoca - As primeira insônias




Foto: Facebook


Governo Fedoca - As primeira insônias

Não! Não tenho nenhuma informação privilegiada, portanto não vou adiantar nenhum nome da nova equipe. Tudo o que sei é aquilo que se conjetura pela imprensa. Problema que a imprensa pode ser apaixonada. De um lado, e de outro. Não existe imprensa independente. Pelo menos em Gramado. Então o que sou, se fiz oposição durante a campanha, e por algumas décadas tenho me identificado favorável a um grupo, e crítico a outro? Que credibilidade posso ter ao criticar, sugerir, elogiar, analisar este ou aquele, sem pender para um lado, ou tecer críticas sem ser injusto com o alvo de minhas ponderações?

Não posso. Evidente que quando levanto um assunto, tenho opinião formada, ou que pode pender para minha visão apaixonada pelo assunto, e involuntariamente, pender para este ou aquele lado. Confesso que é uma tarefa delicada. Tudo que escrevo, pondero com minha consciência, e analiso minhas fontes, e também consulto meus amigos. Alguns deles, os próprios personagens destas análises. Jogo limpo. Discuto com eles algumas nuances de minhas ponderações, e certas opiniões, que certamente dariam alguma notoriedade temporária ao meu texto, comento abertamente, de forma mais direta, objetiva, contundente. às vezes tenho aparente razão. Às vezes também deixo claro que é opinião, elucubração, "chute" meu. Atiro verde para colher maduro. E destas informações e até opiniões contrárias, formulo minhas reflexões, que as trago à apreciação dos leitores. Muitos já fiéis. Agradeço por isso. E peço à D's que me inspire com sabedoria, mas me revista com o manto da humildade, para que meus acertos não se tornem tropeços de minha conduta. Procuro distanciar minhas análises de boataria. São longos, às vezes, mas não tenho objetivo de vender artigos baratos em feirão de praia. Quero levar as pessoas à refletirem, formularem perguntas. São as perguntas quem abrem as portas para as soluções.

Vamos ao que interessa. A equipe de Fedoca. Só mistério. Durante essa semana, deixou escapar uma informação da indicação de uma menina, apaixonada militante, que no calor da campanha opinou algumas bravatas sobre seu desinteresse em cargos, desejando apenas  ver seu candidato eleito, porque em seu entender Gramado teria o melhor, que sua visão de militância teria para oferecer ao eleitor. Uma vez vencedores, a mesma menina é agraciada com um convite para prestar sua lealdade à futura Primeira Dama. E ela aceita a indicação. Mais que aceitar, sente-se orgulhosa e feliz, e promete à Gramado que honrará o cargo. E paga o preço amargo por esta indicação. Vou explicar porque houve erro tático e onde este erro expôs a fragilidade do momento. 

Antes de explicar o erro, vou descrever o panorama de um recém eleito. Isso tanto pode ser em Gramado, Florianópolis, São Paulo, ou Brasília. Até mesmo na América do Norte acontece isso, nesse momento: O assédio dos partidos nanicos à volta dos despojos. Fedoca tem um foguete que tenta pegar pelo rabo, que é escapar dos palpiteiros advindos destes partidos sem voto, problema que também teria Pedro Bala, se tivesse vencido. O problema dos partidos nanicos, começa por sua falta de ideologia. Nascem para acomodação de políticos que não encontraram guarida em partidos maiores. Então juntam outros descontentes, conseguem assinaturas, e fundam um partido. E na campanha, vão de candidato em candidato, negociando (ou pensando que irão negociar) benesses pelo apoio. E o Prefeito eleito precisa administrar, junto com a prática que se distancia do discurso, como ouvi de um amigo,ajustar pessoas com suas capacidades aos cargos, e suas necessidades. E ali do lado, como abelhas no mel ( desisti de usar outra metáfora, pois crianças leem o que eu escrevo), a companheirada de toda a grei de ideologias disputando cargos e posições, salas, cadeiras, e placas na porta, porque afinal, ajudaram o homem a vencer o pleito. 

Várias vezes repeti aqui que o PDT não tem voto em Gramado. É um partido pequeno e com pouca expressão no contingente político. Só que preciso ser justo. Não é um partido nanico, por uma razão simples: tem uma ideologia, uma historia, e militantes fiéis, apaixonados, sisudos. E devo dizer também que eu não tenho nenhuma afinidade com este partido. Por isso mesmo minha isenção em dizer isso. Então o que é um partido nanico? É um agrupamento formado por descontentes, e muitos deles (não todos), por terem pouco ou quase nada a perder, valem-se de malucos úteis, que vão para a linha de frente durante a campanha se ofendem, disparam infâmias, fazem bravatas, servem de "bois de piranha" para que a caravana continue intacta, e a ira recai sobre estes pobres quasímodos morais, que acabam levando algumas dezenas de processos por danos morais, e acabam se recolhendo após as eleições, até que outra oportunidade apareça, ou quem sabe, a possibilidade de uma revolução, para que possam extravasar seu arsenal de maluquices.

Vou explicar agora o erro tático (ou estratégico, ainda não cheguei a uma conclusão) que se cometeu em anunciar a assessora da Primeira Dama antes de todo o elenco do novo governo. Há algumas hipóteses. Uma delas é que quis dar uma demonstração de preocupação com a opinião pública, que tem o direito de conhecer seus novos governantes, e começa pela parte elegante e social de seu trabalho, talvez enviando um recado de que o coração vai falar à frente da razão, fato que o eleitor muito tem cobrado dos governantes. Outra hipótese é que tenha sido cometido um deslize, e que uma informação vazou antes do tempo, expondo a jovem sozinha às pedras que estavam reservadas ao alto comando da equipe. Então a falha não foi na escolha da menina, e nem no aceite dela ao cargo, mesmo tendo negado esta possibilidade em campanha. As pessoas mudam de opinião. Eu mudo de opinião. O erro está em expor um membro de sua nova equipe sozinho, e não emitir uma única palavra em solidariedade à ela diante dos ataques de seus adversários, que certamente tem os seus motivos pessoais ou partidários para despejarem a ira das ofensas sofridas no calor da campanha.

Errou a coordenação de montagem da equipe em não compor regras antes de expor seus membros. E a principal regra que estão demonstrando, o silêncio, quebraram-na da forma mais inoportuna possível. E expuseram sua fragilidade em hora imprópria.

Esta reflexão não tem por intenção desconstruir a boa vontade política que foi escolhida pelo gramadense como favorita para redesenhar Gramado. Mas tenho a clara intenção de buscar um ponto de equilíbrio entre aquilo que se diz e aquilo que se faz. Esta não será a última campanha, e os personagens continuarão e se encontrar pelas ruas e lugares comuns. São amigos, colegas de trabalho, aula, esportes ou nas baladas. Fazer oposição, ou defender a situação, criticar, elogiar ou defender posições, não precisa ser com ofensas, desmoralizações, armadilhas verbais. Gramado tem problemas sérios. Pedro os teria que enfrentar. Fedoca os enfrentará. Nestor os enfrentou. Pedro cometeria erros. Fedoca cometerá erros. Nestor cometeu erros. Você e eu também cometemos erros. nem por isso saímos nos ofendendo. Fazer oposição é fiscalizar o governo. Governar é edificar a historia. O que passar disso, é picuinha barata. Falta de inteligencia. Carente de sabedoria.


segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Se esta rua fosse minha

Imagem retirada da internet

Se esta rua fosse minha....

As cantigas de roda eram parte de nossa educação, principalmente na escola, no intervalo chamado "Recreio", onde dividíamos a veloz meia hora entre devorar o lanche, chamado de "Merenda", e brincar com os amigos pelo pátio da pequena "brizoleta" (pequena edificação de madeira, pintada de cor alumínio, implantada durante o governo de Leonel Brizola, no Rio Grande do Sul, e carinhosamente denominada de "Brizoleta") onde a maioria das crianças do interior estudavam.

As brincadeiras eras as mais variadas, que iam desde o "pega-pega", "esconde-esconde", "mocinho e bandido", até aquelas onde todos brincavam juntos, formando círculos, de mãos dadas e entoando canções ritmadas, às quais chamávamos de "Brincar-de-Roda". Era a melhor parte, porque isso oportunizava ficar próximo daquela menina que gostávamos, e por alguns instantes, pegar em sua mãozinha gentil. Um a cada vez, recebia uma bolinha de papel secretamente por aquele que estava fora da roda, e passando de um em um, fingia que deixava a bolinha, até que de fato a colocava na mão de alguém, e voltava correndo ao seu lugar, perseguido pelo destinatário da bolinha, que, não conseguindo apanhá-lo, passava ele próprio a chegar de mão em mão e simular a entrega da tal bolinha, que ali naquele momento, não era uma bolinha, mas um tesouro capaz de fazer com que as aulas chatas de gramática e matemática fossem esquecidas e guardadas no mesmo baú onde eram também guardados os problemas do mundo. Pelo menos por meia hora.

Estas lembranças construíram nossos intelectos, nosso caráter, nossa civilidade, nossa religião, nosso espírito público, e sobretudo, as nossas boas lembranças de antanho. Não. Não pensem que escrevo estas reminiscências pessoais para falar mal da geração X, Y, X, ou de suas engenhocas eletrônicas e cibernéticas. Não é por isso. Onde quero chegar tem a ver com obras públicas necessárias ao bem estar da população, especialmente daquelas pessoas que ainda não tem liberdade para atravessar a rua desacompanhadas; O pimpolhos.

O lugar onde moro aqui numa capital, eu o considero um pequeno paraíso, não só pelas belezas que nos cercam, como por algo em especial: muitas opções de lazer para as crianças, e seus adultos de estimação. E uma coisa interessante aconteceu aqui, que me chamou à atenção, a forma com que foi conduzido politicamente, com Sabedoria do Prefeito que encerra seu segundo mandato, não sendo mais candidato, portanto, na eleição recente. No entanto, este Prefeito tomou uma decisão a respeito de abrir as portas de um jardim Botânico que atende à população de vários bairros, e da própria cidade em geral. Embora há muito tempo anunciado, o jardim Botânico fazia parte do acordo com um investidor papudo, que prometeu construir algo semelhante ao "Central Park", como parte de um mega investimento no setor portuário local, mas tendo falido, a área destinada ao Jardim ficou esquecida, criando mato e de portões fechados. O Prefeito então tomou rapidamente a decisão de entregar o projeto à uma empresa, responsável esta pela captação de resíduos urbanos, lixo, (Prefeito sabia que quem quer que vencesse, não daria continuidade ao Jardim Botânico tão cedo, e tratou de provocar sua instalação de uma vez, pois depois disso ninguém fecharia mais os portões)e esta que tratou de dar início ao projeto e colocou o parque a funcionar, simples, com poucos recursos, e colaboração de voluntários. Ainda não é o "Central Park", mas eu não trocaria esse daqui por aquele de lá. Simplesmente porque meus netos são apaixonados por esse daqui, e porque eu sou apaixonado pelos meus netos.

Gramado tem um grave problema de lazer infantil. Uma velha pracinha com equipamentos precários era um dos únicos espaços disponíveis para levar os pimpolhos, e que se sentissem inteiramente livres para escorregar e rodar sem preocupação. Deles nenhuma mesmo, mas pobres pais que não tinham nem onde sentar. Muito bem. Então, num acordo favorável ao Município, uma construtora fez alguma troca de caráter técnico em seu benefício, e como recompensa ou contrapartida, está construindo uma nova pracinha infantil, digna da beleza e pujança de Gramado. Muito bom. Mas não  resolve o problema das cantigas de roda das crianças dos bairros. Não resolve mesmo.

Pense comigo. Como uma família vai sair de sua casa lá no Bairro Prinstrop, ou Piratini, Carniel, Dutra, e outros, e levar seus filhos para brincarem no centro da cidade? Está  bem, de carro, aos que possuírem um veículo. Mas irão estacionar onde? Ah sim, nas vagas pagas. Mas, para exercer o direito ao lazer de seus filhos, precisam pagar por isso, e levantarem de hora em hora para renovarem o cartão, a dez quadras distantes? Está certo, se não cobrarem pelo estacionamento, aí mesmo que ninguém mais consegue andar. Então, o estacionamento gratuito ou não, não resolve o problema. Mais que isso, uma visita ao centro significa retocar a maquiagem, vestir uma roupa melhor, e gastar gasolina. Ou ônibus. Mas e alguém toma um ônibus com toda a família para irem ao parquinho? Quanto custaria isso? Quatro Reais por pessoa..pronto! Foi-se o jantar. 

A solução está então em democratizar o lazer, isto é, esquecer grandes obras, e pulverizar pequenas praças por todo o município (inclusive interior), não apenas com equipamentos mais e conta para crianças, mas também, a exemplo de muitas cidades, equipamentos para adultos, terceira idade, quiosques para o mate amigo em ambiente apropriado para que os pequenos possam brincar de pega-pega, com as roupas que quiserem vestir, sem terem que tomar ônibus, ou gastar combustível. Um lugar onde possam encontrar-se com os vizinhos, a quem conhecem, porque o centro pressupõe certa formalidade. Dividir espaço infantil com filhos de estranhos muitas vezes cheira a intimidação social.

Quem sabe a administração Fedoca e Evandro possa ter sabedoria e sensibilidade para tratar do bem estar dos pitocos desde o primeiro dia de gestão, e estabelecer como meta levar a felicidade aos poucos, mas continuamente às pessoas desta cidade. Mesmo que seja limpando um terreno baldio e pendurando um balanço de corda, com um pneu na ponta, no galho de uma árvore, para que sirva de ponto de encontro das gerações que um dia poderão contar, assim como eu conto, as suas historias de infâncias felizes.





sábado, 26 de novembro de 2016

Qual é a identidade de Gramado?



Gramado chegou à sua fase de maturidade com brilho e glamour. Belas casas, ruas limpas, ornamentadas e charmosas. Está atravessando uma crise nacional sem precedentes com relativa tranquilidade. Houve baixa de empregos sim, como também caíram as vendas, e o faturamento das empresas. Em consequência disso, o Poder Público também cortou despesas e investimentos, e de maneira discutível, as verbas foram remanejadas para prioridades escolhidas a critério do Prefeito e sua equipe de governo. A bola de neve cresceu, mas não está, ao que sabemos, descontrolada.

Posso presumir então que no aspecto econômico, Gramado definiu sua identidade e relação de amor e fidelidade com os investimentos no Turismo, como unidade geradora da energia de que necessita para sua máquina funcionar. Esta máquina tanto pode ser política, administrativa, pública ou privada. Aliás, embora a política aqueça os brios e promova certas bravatas durante sessenta dias, morro na primeira semana após o pleito. O gramadense tem consciência de suas responsabilidades com os negócios, a família, a própria vida, não necessariamente nesta ordem. E o Poder Público, isto é, o Prefeito e seus comandados que se virem e cresçam Gramado, pois são muito bem pagos por isso. Pagos tanto em espécie quanto em prestígio. Dentro e fora de suas fronteiras. Se reclama, o fazem por dengo e sem razão que justifique.

Volta e meia surge um novo produto, uma nova oferta, e cercam-se círculos concêntricos de sustentação e suporte ao novo empreendimento, seja ele uma festa, uma exposição, uma nova guloseima, que pode ser doce ou salgada, líquida ou congelada, tanto faz. É uma inovação, e isso mantém a roda desta economia girando. Fecho então a questão econômica concluindo que Gramado tem sua identidade formada e há muito não tem mais cordão umbilical que o amarre a nada, senão a se gerir com ou sem crise.

Há, no entanto, outra questão que, em minha leitura, está começando a corroer Gramado. Um vazio existencial que só pode ser percebido por quem esteja de fora. E eu estou de fora. Mas é precisa estar de fora, sendo de dentro. Pois eu estou de fora, mas sou de dentro. Portanto conheço o antes e o depois de cada circunstância que descrevo. É importante conhecer a geografia física e humana para poder mapear este vazio, pois no rebuliço do dia a dia  de quem vive para servir ao turista, é impossível estacionar na dúvida do autoconhecimento, porque ninguém pode lamber a própria testa para saber se é salgada ou doce, assim como não pode beijar o próprio cotovelo, por mais contorcionista que possa ser. Então, pode parecer tão absurdo buscar uma identidade no meio da jornada quanto seria absurdo alguém lamber a testa que beijar o cotovelo. Pode parecer absuro que alguém só procure por um mapa depois estar no meio da jornada. Mas é isso mesmo que Gramado precisa fazer. Gramado precisa pensar sobre a sua identidade. Assim como fazem os mineiros, com suas três perguntas existenciais: Quemcoçô; Oncotô, Proncovô. Já escrevi sobre isso, mas agora esmiúço um pouco mais, e pergunta: Quem somos nós? Onde estamos, no processo civilizatório? Onde desejamos chegar, no destino desta jornada?

Gramado há muito que perdeu o matiz de suas cores ancestrais. Quem é o gramadense? Qual sua origem? Qual sua etnia? Qual sua história? Minha avó costumava conversar comigo por longas horas, e contar de suas lembranças dos tempos antigos, de seus ancestrais. Era capaz de  recitar de memória até cinco gerações de nossa família. Conhecia pormenores da vida de seus pais, tios e avós. Orava duas vezes ao dia por cada filho, neto, bisneto, tetraneto, sobrinho, irmão e irmãs, e quem mais cruzasse seu caminho. Sua avó conta histórias de sua família para você? Você sabe recitar o nome de seus ancestrais até que geração? Qual o sotaque de sua família? Qual a origem de seu sotaque? Você é de origem italiana, alemã, portuguesa, indígena, espanhola, árabe, judia? Quem é você? Que historias vai contar aos seus filhos e netos? E na história que vai contar, até onde você também faz parte do enredo?

Alguma vez você parou para pensar sobre seus gostos culinários? Você descende de italianos e é especialista em Sushi? nenhum erro há nisso, mas além de um bom Sashimi, você sabe como se prepara uma polenta? Sabe cantar as canções de seus avós? Ou é  daquelas pessoas que acha ridículo se preocupar com o passado e os que nele ficaram? Acha que não tem nenhuma importância e pouca diferença faz na vida de seu filho se você outorga à escola, creche ou Poder Público a responsabilidade de educar seus filhos? Quais são os valores que você passa aos seus filhos, quando escolhe a creche em lugar da sala de estar para deixar seu filho brincar em dias de chuva? Não estará você antecipando ao fato que ele escolherá o seu asilo, uma espécie de creche para idosos, cujos filhos optaram pelo conforto de trabalhar dobrado e pagar bons profissionais que emprestem abraços aos seus velhos?

Que tipo de cultura tem Gramado? Será cultura apenas as manifestações poético-musicais ou artísticas de alguns gatos pingados que mendigam espaço para vender seus rabiscos em praça pública de Gramado, ou esganiçarem suas gargantas em saraus mecânicos oferecidos como atos de bondade para que se diga que Gramado tem preocupação com a cultura?

Não será cultura também a canção de ninar que a mãe canta, aprendida de sua avó, ou o modo de temperar a comida que vem de gerações passadas? Não será também cultura o abraço e a forma de aperto de mão, ou o hábito do cafezinho pingado com um farroupilha no boteco da esquina? Não será cultura a horta na frente da casa, cercada de jardim, como se via nas casas das avós alemãs? Ou os sobrenomes de família,não serão um valioso patrimônio cultural a ser resgatado para a solidificação de nossa civilização? 

Qual é a iconografia de Gramado? Que símbolos representam a memória gráfica de nossos valores culturais e arquitetônicos? 

Qual é então a identidade cultural de Gramado?





sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Silêncio - Entardecer com Paz



- Silêncio! deixa-me só. A Primavera me chama!
- Por quê teu silêncio assim, de repente?
- Cala-te para o vento! Ele sussurra em mim palavras que apenas minha alma compreende. Olha novamente aquela árvore que embala a manhã. Ela sabe do que estou falando.
- Podes ouvir minha alma? Aqui, vem..aconchega teu rosto e ouve meu pulsar...podes ouvir?
- Não ouço mais teu coração! Que aconteceu contigo? É música que pulsa vida em teu peito agora? Deixa-me ouvir então pelo resto da vida...
Silêncio...apenas o vento pode discursar numa manhã tão linda. Apenas o vento.

(Entardecer com Paz - Pacard)

Véio Tristão (Não é historia. É apenas um causo com uma pitada de verdade)




CAPÍTULO IX

Velho Zé Tristão era um indivíduo sinistro. Por alguns, caduco. Por outros, doido. Por todos: um xarope!

Perambulava pelas ruas à noite, se esgueirando pelas madrugadas no meio dos matos à procura de um tesouro, ao qual chamava de “Cabedal”.

Nos idos das revoluções passadas, lá no Rio Grande, era crença corrente que bandos de revolucionários desgarrados assaltassem fazendas, ou casas de camponeses por onde passavam, e quando amealhassem em suas pilhérias ouro, prata ou joias, e mesmo algumas “platas”, os escondiam embaixo de grandes árvores pelo caminho, às quais poderiam ser facilmente localizadas após a guerra, e garantir um recomeço com certa dignidade e fartura. A questão era que muitos morriam na peleia e o tesouro ficava escondido, caindo na lenda e no esquecimento.

Velho Zé Tristão acreditava piamente nestes relatos ( e quem sabe ele próprio pudesse ter sido um dos venturosos que escondera tais pilhérias) e contava que tivera um sonho, onde um grande cabedal estava oculto sob a raiz duma caneleira lá pelas bandas do Bassorão.

A única referencia que tinha do lugar, era, além da tal caneleira, uma grande pedra em forma de batata que servia de coarador,a trás do rancho de Carsulina.

Certo dia, apanhou seus “aparêio”, um emaranhado de fios de cobre, que segurava com ambas as mãos, de onde pendiam duas varetas e um pêndulo de metal (uma argola ou porca de ferro amarrada a um fio de crina de cavalo), e se bandeou pros lados do rancho da velha amiga.

- Ó de casa! Venho em paz, cumadre!
- É tu, Arcaide véio – respondeu Carsulina)
- Em carne e osso, mais osso do que carne, cumadre. Prenda o doga, que vou entrar!
-O doga é manso, arcaide! Foi capado!
- Só tenho medo que me morda, o táli, cumadre”. Aprendi isso com o ermão Apolônio.

Esta era uma velha piada, mas as pessoas simples são assim mesmo: repetem as anedotas, os jargões, aquilo que lhes diverte. As pessoas simples não sentem necessidade de inventarem coisas novas o tempo todo. Não que não sejam criativas, mas as pessoas não comem pão, tomam café, bebem água todos os dias? E isso as incomoda, por ser repetitivo? De modo algum. Riem sempre que ouvem o gracejo. Talvez não do gracejo, não do inusitado, que é o que faz rir, mas do jeito que é contato, expressado, pelo momento em que expressam.

Zé Tristão cometera um crime, em sua juventude.  Por desconfiança de traição, não buscou um entendimento com o pretenso amigo da “alheia”, e partiu para a ignorância. Deu um balaço na cabeça do infeliz e acabou com a festa. Foi condenado e preso por muitos anos. Ao sair da prisão, mudou de lugar e foi morar lá pelas bandas de São Joaquim, em Santa Catarina. Enriqueceu, pois era um homem inteligente e bom nos negócios, e lá se casou de novo. E como, diz o adágio popular: “aqui se faz, aqui se paga”, a vingança veio à galope: por estar com o nome sujo com a justiça, e por ser ajuntado e não casado, pois esta era a segunda mulher, e a Lei não permitia divórcio, viveu os anos em companhia desta mulher, em concubinato. Colocou em nome dela todos os bens, ao que ela foi imensamente grata, pois lhe passou a perna, deixando-o com uma mão na frente e outra atrás. Levou, desde então, uma vida errante. Envelheceu e acabou morrendo como um andarilho, um mendigo orgulhoso, que vivia da caridade da família: irmãos e sobrinhas (isso mesmo, das filhas do homem que havia matado anos antes).

Ele andava arqueado pra frente, apoiado numa bengala de camboim, e uma “mala”, espécie de sacola de pano de duas partes, carregada ao ombro, distribuindo o peso entre uma parte e outra, geralmente feita de pano de riscado, um tecido forte de algodão. Na cabeça, um pano branco amarrado ao queixo, como uma “vovozinha”, denunciava uma dor de dente incurável. E nos pés, um par de “pracatas”, um chinelo feito com pneus e couro cru. Quando usava, pois na maior parte do tempo, pendurava-los também ao ombro e andava de pés descalços.

- O arcaide arrepare só neste mogango que colhi ontem na lavoura. Tenho um doce guardado do úrtimo que colhi. Coma um bocadinho. Este foi feito com açúcri do povoado (açúcar branco). Adoçadô uma barbaridade. 
Zé Tristão comeu o doce com avidez, quase sem respirar. Não comia algo bem feito havia muitos dias, e os doces e “goloseimas” de Carsulina eram um convite à gula. Coisa campeira, feita em fogão de chapa, em tacho de cobre e mexido vagarosamente com colher de pau.

- Cumpadre ,e conte o que lhe traz aqui no rancho desta véia peleadora?
- Ando abichornado, cumadre. Essas cousas da mudernidade me tiram do serio.
- Ah, cumpadre. Os tempos mudernos  são uma janela que se abre para o Apocalípes. Temos que tomar tenência e cuidar do coiro antes que a mudernidade nos tire ele.
- Vosmecê pensa ansim também, cumadre? Então eu não sou solito nestas conjeturações cabulosas?
- Não, arcaide. Eu memo vejo côsas que assombram a pessoa. Ainda bem que sou uma pessoa esclarecida, tive estudo. Fiz inté a terceira série e sei ler tudo sem gaguejar. Não se apoquente, arcaide. É pra ser ansim mêmo. Leio muito e as côsas que leio me dizem côsas que assombram, arcaide.
- Foi ansim, cumadre. Andava eu, solito, campiando ouro do cabedal dos Medeiros lá na volta do arroio, quando parei pra mór de comer um naco de pão com queijo, e sentei em riba de uma pedra. Solito, matutando, cafifando aqui e acolá, já entardecia, ouvi um baruio no mato. Garrei o o facão  e passei a mão na pistola. Tava carregada, pórva, chumbo e bucha, tudo firme. Garrei uma ispuleta e engatei no ouvido da garrucha, engatilhei, e fiquei iscuitando os baruio. 
Percurei, pé ante pé, cuidando pra não pisá nos graveto, que estralando, denunciavam a minha presença.  Caminhie, caminhei, em direção ao ronco.  O passaredo se alevantava num gritedo só, e inté os bicho de pelo corriam pelos matos assutados..

Zé Tristão  narrava tudo isso com os olhos pequenos bem arregalados, agachado, num  vai-e-vem dramático, onde encena seus passou sorrateiros pela mata. Ora arregala os olhos e direciona a narrativa para um vazio. Outras vezes, olha para Carsulina e procurar maximizar o drama, tornando-se shakespereano na narrativa.

Carsulina ouvia a tudo com atenção. Uma atenção maliciosa é preciso que se diga. A velha marota já ouvira tantas e boas lorotas, que uma a mais apenas engrossaria o caldo da sopa dos queimadores de campo.  Mas não era a lorota que importava e sim a atenção ao velho amigo. Ninguém gostava de Zé Tristão. Ele próprio não gostava de si mesmo.  E não  se pode dizer que Carsulina também preferisse sua companhia, muitas vezes ao silêncio da reflexão. Era porem uma dama, elegante, à moda do Bassorão, também é importante ressaltar. E daí? O Cêrro do Bassorão era um lugarejo esquecido do mundo, mas neste esquecimento, preservada bons monos, cavalheirismo e certos maneirismos dos tempos de antanho. 

Carsulina era uma dama afável e de bom sizo, e sabia que ouvir as lorotas fazia parte de sua faina compreensiva e apaziguadora de ânimos, fossem do Zé Tristão, do Birruga, do Tuiuco, do pároco de Santa Creusa do Malacara, de onde Bassorão era a sede, da Paroquia de São tenente da Venta Xuja, Parde Uomo, ou de quem quer que seja. Mas Frei Uomo, este sim era um queimador mór de campo. Misericórdia! Mas sobre ele, falarei depois. Então, ouvia e ainda dava pitacos aqui e ali, demonstrando atenção total.

Zé Tristão pigarreava, cuspia janela afora, e continuava:
- Garri mato adentro negaceando, bombeando aqui e ali. Quando percebi, era noite
. Então acendi um lampião de corozena, e continuei campiando. O ronco, que era uma parte ronco, uma parte uivo, continuava, e chegando mais perto.  Senti um cheiro forte de ovo podre. Pensei: tomei banho não fais nem treis sumanas, então não sou eu que tou catingando ansim.
Nisso, Zé Tristão dá um salto, abre braços e pernas, arregala os olhos, se vira num pulo só em direção à Carsulina, e dá um berro:
- CUMADRE DO CÉU! O que eu vi...Cumadre, eu lhe juro pelo que há de mais sagrado. Eu vi, tava lá, de zóio arregalado, agachadinho e gemendo, incuído, incuidínho, incuidinho, esfregando o fiofó num toco de carrapicho, quem? Quem?..... (Zé Tristão arregala os olhos e faz um bico apontado para Carsulina), e trava no ar, tranbca a respiração em suspense, e balança a cabeça duas vezes, naquele conhecido gesto de questionamento sem palatras, tipo: Ham, hum?

Carsulina também arregala os olhos, e esticando o pscoço em direção ao arcaide, devolve as perguntas:
- Ham, hum?
- BIRRUGA, cumadre! (Dá uma enorme gargalhada e repete) o arcaide do BIRRUGA, cumadre Carsulina. O arcaide em pessoa, obrando,  e aos prantos porque se alimpou com urtiga, cumadre...




O entardecer do Cêrro do Bassorão é único, solene, ensimesmado. O silêncio do crepúsculo é quebrado pelo vento que sussurra canções nos ouvidos da noite e entoa cantilenas para as estrelas. É isso que se pode ouvir lá naquele lugar. 

Isso, e as gaitadas (gargalhadas) de Zé Tristão e Carsulina, entre goles de chá de mate e mordidas em bolinhos de farinha de milho.



Gramado Nativa - As raízes esquecidas

foto nauro jr clic rbs

Tenho quase sessenta anos de idade. Nasci em Cazuza Ferreira, embora nunca tenha ido lá. Fui levado para Gramado, minha terra ancestral, com um ano de idade e por lá amarrei o pingo. E fiquei. Como vento pampeano, me desgarrei pelo mundo, mas minha estância do peito sempre foi e será Gramado. Ali engordei minhas primeiras lombrigas. Cacei de funda. Mijei na cama. Colhi Gavirova (a qual insistem em chamar de Guabiroba) e cereja, goiaba serrana e araçá pelos matos, e joguei "bulita" nos fins de tarde. 

Foi em Gramado que aprendi a cevar um mate, dançar " O pezinho", e cultivar o amor pelas coisas do Rio Grande do Sul. Cresci ouvindo Teixeirinha, e cheirando bosta de cavalo.  Aprendi a declamar, escrevia versos, e gostava de cantar "Negrinho do Pastoreio". Até presenciei uma cena, já contada em algum outro causo, onde o autor de "Negrinho", Barbosa Lessa, estava presente quando sua canção foi apresentada como "folclore", fato que muito irritou sua esposa e quase desceu a tamanca na orelha de quem dissera tal afronta. Isso tudo dentro do CTG.

Era péssimo dançarino, eu. Desconcentrado, sem ritmo, não conseguia dar dois passos sem errar três. Não segui carreira, e dançar "Chula" tornou-se um sonho distante. Dança dos facões, nem pensar. E assim, aos dezoito anos de idade, já metidinho na política, ocupava a elegante função de "Aspone-em-chefe" da Secretaria de Turismo, oficialmente denominado de "Chefe de Gabinete", função, aliás, que foi criada para me dar emprego. Meu passado é sujo. Mas tentei ao menos fazer jus ao cargo. Trabalhei muito. mesmo porque éramos três na Secretaria, para tudo. Festival de Cinema, Fearte, e todos os eventos de natureza cultural, que eu era encarregado. Um destes eventos, a FEARTE, tinha atividades culturais paralelas.  Sugeri então ao então Patrão do CTG Manotaço, Jorge Corrêa, ue montasse um acampamento nativista, e mais que isso, que organizasse uma "Missa Crioula", que, mesmo não sendo católico, eu achava linda a manifestação nativista que ela oferecia. O padre, um tal de Paulo  Aripe, contador de causos, principalmente se abastecido com uma costela gorda e uma guampa de canha, era divertido "pra mais de metro". Deste feito até fui convidado a ser sócio do CTG. Convidado de honra, acrescento. Sem ter que pagar "Jóia". Fiquei pouco  tempo. Inveja de quem sabia  dançar.

Apesar disso tudo, nunca havia vestido uma Bombacha. Achava muita grossura. Dizia que CTG era o resumo de "Cemo Tudo Grosso". Assim pensava eu das coisas da minha terra. Só fui tomar gosto e me aprofundar um pouco mais na alma de nossas raízes, com o movimento  telúrico que brotou dos festivais, da Califórnia da Canção de Uruguaiana, e fomentada diariamente pela qualidade e seleção musical da recém fundada Rádio Liberdade, de Viamão.

Os anos se foram. Gramado sofisticou-se. A música gaúcha se agigantou. Ganhou o Brasil e o mundo. O chimarrão deixou de ser deboche (exceto dos  cariocas, que são um belo modelo cultural e com essa bola toda, abusam das gracinhas contra os de bombacha), e o churrasco ganhou o glamour do mundo inteiro. Menos em Gramado.

Participei de uma reunião de cunho político, com os representantes da Cultura de Gramado, dentro de um restaurante muito semelhante aos outros sei lá, trezentos restaurantes, da cidade, com uma diferença agravante: no CTG. Não  era um restaurante típico  gaúcho. Era um restaurante dentro do espaço antes destinado ao ensino e ao cultivo das tradições gaúchas em Gramado. Nesta reunião vi alguns gaudérios tremendo o beiço ao  falar de seus sentimentos nativistas, e vistos como se fossem personagens que saltaram de um museu para uma vitrine de shopping em Nova Iorque.

Juntando a isso, vejo uma belíssima praça dedicada à memória das etnias que formaram Gramado desde sua primeira colonização. Belíssimo!  Tem lá inclusive uma pequenina casa denominada de "Casa Portuguesa", dedicada à etnia açoriana. Muito bem. Eu descendo de açorianos. Judeus açorianos, bem explicado. Tem também a casa italiana e a casa alemã. Ótimo. Certo mesmo. Foram estas as etnias que formaram Gramado e precisam resgatar suas origens, o que alemães e italianos não ficam devendo nada. Cumprem o  dever de casa. Italianos criaram um museu e uma belíssima senhorita recebe uma contribuição simbólica, e pacientemente acompanha o visitante contando passo a passo da historia que contaram á ela. A casa alemã não tem nada disso, mas tem coisa muito melhor: Vende comida gostosa. Nem precisa falar nada. Comer é uma aula de civilização. E a casa portuguesa...bem, a casa portuguesa...tem eventualmente algumas simpáticas pessoas que contam historias rebuscadas sobre os antigos açorianos que colonizaram Gramado, falam de suas festas típicas, mostram as roupas coloriras que usavam, e expõem fotografias das antigas casinhas coloridas típica da Ilha dos Açores. Você se sente dentro dos Açores mesmo...Opa..desculpe...isso é Florianópolis, Santo Antônio de Lisboa, Tapera, Barra da Lagoa, Laguna...mas Gramado? Olha: Minha avó era uma contadora de causos. E eu ouvi todos eles, Milhares de vezes. Minha avó nasceu em Gramado. Os pais dela  também nasceram. Meu tetravô fundou o povoado. Mas nunca ouvi  falar de nenhuma destas coisas que contam lá dentro.

Mas, não pare de ler aqui, para não pensar que que estou chamando os queridos zeladores daquele patrimônio adventício de mentirosos. Não estou. Eles realmente estão buscando bravamente isolados, desbravar a muralha que foi construída na separação das culturas, e sim, há muito da cultura portuguesa, espanhola, indígena e também açoriana nas velhas paredes das casas antigas já tombadas pelas lembranças, que edificaram Gramado. Mas não será pela boa vontade dos parcos recursos e membros de uma  casinha semi abandonada na imponência da bela arquitetura de Gramado, que este resgate será feito, e sim por uma política cultural que possa reunir aqueles valores nativos e nativistas do Rio Grande do  Sul, com a imponência e o reconhecimento que Gramado alcançou pelo mundo afora. Gramado  deve isso ao  Rio Grande. o  Rio Grande está quebrado, mas Gramado ainda não, e queira D's que jamais chegue a isso. O Rio Grande tem orgulho de Gramado, mas Gramado esconde o Rio  Grande atrás de vitrines cintilantes. o  Rio Grande é mais que boa música e bom churrasco, embora uma coisa chame outra, Gramado tem muito mate a oferecer a quem a visita, mas muito mais a servir aos que por lá se edificam. Ser gaúcho é bem mais que saber cantar o Hino Riograndense na Semana Farroupilha, e trabalhar pilchado acentuando a silaba tônica.

Penso que agora não há mais porque fazer promessas de campanha, mas há algo que o novo Prefeito e sua equipe (que ainda não disse qual será) possam fazer para resgatar este pulsar gaudério que construiu nossa historia. Penso que não seria desaprovado por ninguém, se o Centro de Cultura destinasse um espaço e uma diretoria que se dedicasse a restabelecer o gauchismo que foi perdido na mais bela cidade do Rio Grande, mas que poderá ser, se assim o desejar, a mais  gaúcha e hospitaleira querência do Brasil.




O que faz a tua mão direita....

Evitem fazer alarde quando ajudarem alguém, não fiquem contando vantagem diante das pessoas, para  que sejam admirados e elogiados; aliás, s...