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sábado, 26 de novembro de 2016

Qual é a identidade de Gramado?



Gramado chegou à sua fase de maturidade com brilho e glamour. Belas casas, ruas limpas, ornamentadas e charmosas. Está atravessando uma crise nacional sem precedentes com relativa tranquilidade. Houve baixa de empregos sim, como também caíram as vendas, e o faturamento das empresas. Em consequência disso, o Poder Público também cortou despesas e investimentos, e de maneira discutível, as verbas foram remanejadas para prioridades escolhidas a critério do Prefeito e sua equipe de governo. A bola de neve cresceu, mas não está, ao que sabemos, descontrolada.

Posso presumir então que no aspecto econômico, Gramado definiu sua identidade e relação de amor e fidelidade com os investimentos no Turismo, como unidade geradora da energia de que necessita para sua máquina funcionar. Esta máquina tanto pode ser política, administrativa, pública ou privada. Aliás, embora a política aqueça os brios e promova certas bravatas durante sessenta dias, morro na primeira semana após o pleito. O gramadense tem consciência de suas responsabilidades com os negócios, a família, a própria vida, não necessariamente nesta ordem. E o Poder Público, isto é, o Prefeito e seus comandados que se virem e cresçam Gramado, pois são muito bem pagos por isso. Pagos tanto em espécie quanto em prestígio. Dentro e fora de suas fronteiras. Se reclama, o fazem por dengo e sem razão que justifique.

Volta e meia surge um novo produto, uma nova oferta, e cercam-se círculos concêntricos de sustentação e suporte ao novo empreendimento, seja ele uma festa, uma exposição, uma nova guloseima, que pode ser doce ou salgada, líquida ou congelada, tanto faz. É uma inovação, e isso mantém a roda desta economia girando. Fecho então a questão econômica concluindo que Gramado tem sua identidade formada e há muito não tem mais cordão umbilical que o amarre a nada, senão a se gerir com ou sem crise.

Há, no entanto, outra questão que, em minha leitura, está começando a corroer Gramado. Um vazio existencial que só pode ser percebido por quem esteja de fora. E eu estou de fora. Mas é precisa estar de fora, sendo de dentro. Pois eu estou de fora, mas sou de dentro. Portanto conheço o antes e o depois de cada circunstância que descrevo. É importante conhecer a geografia física e humana para poder mapear este vazio, pois no rebuliço do dia a dia  de quem vive para servir ao turista, é impossível estacionar na dúvida do autoconhecimento, porque ninguém pode lamber a própria testa para saber se é salgada ou doce, assim como não pode beijar o próprio cotovelo, por mais contorcionista que possa ser. Então, pode parecer tão absurdo buscar uma identidade no meio da jornada quanto seria absurdo alguém lamber a testa que beijar o cotovelo. Pode parecer absuro que alguém só procure por um mapa depois estar no meio da jornada. Mas é isso mesmo que Gramado precisa fazer. Gramado precisa pensar sobre a sua identidade. Assim como fazem os mineiros, com suas três perguntas existenciais: Quemcoçô; Oncotô, Proncovô. Já escrevi sobre isso, mas agora esmiúço um pouco mais, e pergunta: Quem somos nós? Onde estamos, no processo civilizatório? Onde desejamos chegar, no destino desta jornada?

Gramado há muito que perdeu o matiz de suas cores ancestrais. Quem é o gramadense? Qual sua origem? Qual sua etnia? Qual sua história? Minha avó costumava conversar comigo por longas horas, e contar de suas lembranças dos tempos antigos, de seus ancestrais. Era capaz de  recitar de memória até cinco gerações de nossa família. Conhecia pormenores da vida de seus pais, tios e avós. Orava duas vezes ao dia por cada filho, neto, bisneto, tetraneto, sobrinho, irmão e irmãs, e quem mais cruzasse seu caminho. Sua avó conta histórias de sua família para você? Você sabe recitar o nome de seus ancestrais até que geração? Qual o sotaque de sua família? Qual a origem de seu sotaque? Você é de origem italiana, alemã, portuguesa, indígena, espanhola, árabe, judia? Quem é você? Que historias vai contar aos seus filhos e netos? E na história que vai contar, até onde você também faz parte do enredo?

Alguma vez você parou para pensar sobre seus gostos culinários? Você descende de italianos e é especialista em Sushi? nenhum erro há nisso, mas além de um bom Sashimi, você sabe como se prepara uma polenta? Sabe cantar as canções de seus avós? Ou é  daquelas pessoas que acha ridículo se preocupar com o passado e os que nele ficaram? Acha que não tem nenhuma importância e pouca diferença faz na vida de seu filho se você outorga à escola, creche ou Poder Público a responsabilidade de educar seus filhos? Quais são os valores que você passa aos seus filhos, quando escolhe a creche em lugar da sala de estar para deixar seu filho brincar em dias de chuva? Não estará você antecipando ao fato que ele escolherá o seu asilo, uma espécie de creche para idosos, cujos filhos optaram pelo conforto de trabalhar dobrado e pagar bons profissionais que emprestem abraços aos seus velhos?

Que tipo de cultura tem Gramado? Será cultura apenas as manifestações poético-musicais ou artísticas de alguns gatos pingados que mendigam espaço para vender seus rabiscos em praça pública de Gramado, ou esganiçarem suas gargantas em saraus mecânicos oferecidos como atos de bondade para que se diga que Gramado tem preocupação com a cultura?

Não será cultura também a canção de ninar que a mãe canta, aprendida de sua avó, ou o modo de temperar a comida que vem de gerações passadas? Não será também cultura o abraço e a forma de aperto de mão, ou o hábito do cafezinho pingado com um farroupilha no boteco da esquina? Não será cultura a horta na frente da casa, cercada de jardim, como se via nas casas das avós alemãs? Ou os sobrenomes de família,não serão um valioso patrimônio cultural a ser resgatado para a solidificação de nossa civilização? 

Qual é a iconografia de Gramado? Que símbolos representam a memória gráfica de nossos valores culturais e arquitetônicos? 

Qual é então a identidade cultural de Gramado?





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