Imagem retirada da internet
Se esta rua fosse minha....
As cantigas de roda eram parte de nossa educação, principalmente na escola, no intervalo chamado "Recreio", onde dividíamos a veloz meia hora entre devorar o lanche, chamado de "Merenda", e brincar com os amigos pelo pátio da pequena "brizoleta" (pequena edificação de madeira, pintada de cor alumínio, implantada durante o governo de Leonel Brizola, no Rio Grande do Sul, e carinhosamente denominada de "Brizoleta") onde a maioria das crianças do interior estudavam.
As brincadeiras eras as mais variadas, que iam desde o "pega-pega", "esconde-esconde", "mocinho e bandido", até aquelas onde todos brincavam juntos, formando círculos, de mãos dadas e entoando canções ritmadas, às quais chamávamos de "Brincar-de-Roda". Era a melhor parte, porque isso oportunizava ficar próximo daquela menina que gostávamos, e por alguns instantes, pegar em sua mãozinha gentil. Um a cada vez, recebia uma bolinha de papel secretamente por aquele que estava fora da roda, e passando de um em um, fingia que deixava a bolinha, até que de fato a colocava na mão de alguém, e voltava correndo ao seu lugar, perseguido pelo destinatário da bolinha, que, não conseguindo apanhá-lo, passava ele próprio a chegar de mão em mão e simular a entrega da tal bolinha, que ali naquele momento, não era uma bolinha, mas um tesouro capaz de fazer com que as aulas chatas de gramática e matemática fossem esquecidas e guardadas no mesmo baú onde eram também guardados os problemas do mundo. Pelo menos por meia hora.
Estas lembranças construíram nossos intelectos, nosso caráter, nossa civilidade, nossa religião, nosso espírito público, e sobretudo, as nossas boas lembranças de antanho. Não. Não pensem que escrevo estas reminiscências pessoais para falar mal da geração X, Y, X, ou de suas engenhocas eletrônicas e cibernéticas. Não é por isso. Onde quero chegar tem a ver com obras públicas necessárias ao bem estar da população, especialmente daquelas pessoas que ainda não tem liberdade para atravessar a rua desacompanhadas; O pimpolhos.
O lugar onde moro aqui numa capital, eu o considero um pequeno paraíso, não só pelas belezas que nos cercam, como por algo em especial: muitas opções de lazer para as crianças, e seus adultos de estimação. E uma coisa interessante aconteceu aqui, que me chamou à atenção, a forma com que foi conduzido politicamente, com Sabedoria do Prefeito que encerra seu segundo mandato, não sendo mais candidato, portanto, na eleição recente. No entanto, este Prefeito tomou uma decisão a respeito de abrir as portas de um jardim Botânico que atende à população de vários bairros, e da própria cidade em geral. Embora há muito tempo anunciado, o jardim Botânico fazia parte do acordo com um investidor papudo, que prometeu construir algo semelhante ao "Central Park", como parte de um mega investimento no setor portuário local, mas tendo falido, a área destinada ao Jardim ficou esquecida, criando mato e de portões fechados. O Prefeito então tomou rapidamente a decisão de entregar o projeto à uma empresa, responsável esta pela captação de resíduos urbanos, lixo, (Prefeito sabia que quem quer que vencesse, não daria continuidade ao Jardim Botânico tão cedo, e tratou de provocar sua instalação de uma vez, pois depois disso ninguém fecharia mais os portões)e esta que tratou de dar início ao projeto e colocou o parque a funcionar, simples, com poucos recursos, e colaboração de voluntários. Ainda não é o "Central Park", mas eu não trocaria esse daqui por aquele de lá. Simplesmente porque meus netos são apaixonados por esse daqui, e porque eu sou apaixonado pelos meus netos.
Gramado tem um grave problema de lazer infantil. Uma velha pracinha com equipamentos precários era um dos únicos espaços disponíveis para levar os pimpolhos, e que se sentissem inteiramente livres para escorregar e rodar sem preocupação. Deles nenhuma mesmo, mas pobres pais que não tinham nem onde sentar. Muito bem. Então, num acordo favorável ao Município, uma construtora fez alguma troca de caráter técnico em seu benefício, e como recompensa ou contrapartida, está construindo uma nova pracinha infantil, digna da beleza e pujança de Gramado. Muito bom. Mas não resolve o problema das cantigas de roda das crianças dos bairros. Não resolve mesmo.
Pense comigo. Como uma família vai sair de sua casa lá no Bairro Prinstrop, ou Piratini, Carniel, Dutra, e outros, e levar seus filhos para brincarem no centro da cidade? Está bem, de carro, aos que possuírem um veículo. Mas irão estacionar onde? Ah sim, nas vagas pagas. Mas, para exercer o direito ao lazer de seus filhos, precisam pagar por isso, e levantarem de hora em hora para renovarem o cartão, a dez quadras distantes? Está certo, se não cobrarem pelo estacionamento, aí mesmo que ninguém mais consegue andar. Então, o estacionamento gratuito ou não, não resolve o problema. Mais que isso, uma visita ao centro significa retocar a maquiagem, vestir uma roupa melhor, e gastar gasolina. Ou ônibus. Mas e alguém toma um ônibus com toda a família para irem ao parquinho? Quanto custaria isso? Quatro Reais por pessoa..pronto! Foi-se o jantar.
A solução está então em democratizar o lazer, isto é, esquecer grandes obras, e pulverizar pequenas praças por todo o município (inclusive interior), não apenas com equipamentos mais e conta para crianças, mas também, a exemplo de muitas cidades, equipamentos para adultos, terceira idade, quiosques para o mate amigo em ambiente apropriado para que os pequenos possam brincar de pega-pega, com as roupas que quiserem vestir, sem terem que tomar ônibus, ou gastar combustível. Um lugar onde possam encontrar-se com os vizinhos, a quem conhecem, porque o centro pressupõe certa formalidade. Dividir espaço infantil com filhos de estranhos muitas vezes cheira a intimidação social.
Quem sabe a administração Fedoca e Evandro possa ter sabedoria e sensibilidade para tratar do bem estar dos pitocos desde o primeiro dia de gestão, e estabelecer como meta levar a felicidade aos poucos, mas continuamente às pessoas desta cidade. Mesmo que seja limpando um terreno baldio e pendurando um balanço de corda, com um pneu na ponta, no galho de uma árvore, para que sirva de ponto de encontro das gerações que um dia poderão contar, assim como eu conto, as suas historias de infâncias felizes.
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