Este caso é sigiloso. Não deveria estar contando isso aqui. Mas vou falar em códigos então. Isso. Serão códigos e segredos. Mas depois que ler, ponha fogo no seu computador ou celular para apagar as provas. Caso conte para alguém depois, ponha fog...Não" Nem pense nisso. Mas por favor, mantenha em sigilo,porque foi muito humilhante pra família da pessoa que deu-se o acontecido. Eis o caso:
Menelau Quaresma era aparentado do bolicheiro "Dedão". Coisa de um primeiro casamento de uma prima lá de Brejo Bermêio, dos tempos de escolinha. Quaresma foi agregado dum tal de Ataliba, que cuspia enquanto falava, e falava enquanto comia, e ainda gostava de comer revirado de couve com farinha de mandioca, e contar vantagem na cara das pessoas. Tinha por isso, poucos amigos.
Pois Quaresma apareceu na calada da noite na casa do Dedão, pedindo pouso. Trazia consigo um peçuêlo, uns "mijado", e uma quarta de farinha pra contribuir com as despesas do pouso. Entrou desconfiado e fechou imediatamente a porta, olhando de revesgueio pela fresta da janela, fechando-a em seguida. Só então estendeu a mão pra dar "adeus" de boas vindas, como manda o respeito.
- Se chegue, vivente! Conte as novidades!
- Nenhuma, cumpadre! Fale baixo, por obséquio!
Dedão não contradisse o visitante, mas arregalou o olho e esticou o pescoço em diagonal, o que significava desconfiança súbita. Quaresma assentou-se, quieto, ensimesmado e de olho arregalado de revesgueio, como que implorando para que o anfitrião insistisse mais no assunto. estava entalado. Tinha que falar com alguém. Dedão percebeu, e puxou assunto.
- Não sou intramitido, cumpadre, mas se o varão quiser confiar num amigo pra uns concêio, não se apoquente e abra o verbo com seu amigo aqui!
Quaresma arregalou o olho, encolheu os ombros, como que concordando, mas envergonhado e com dificuldade de dar início à prosa. Dedão entendeu e propôs:
-Fazemo ancim, cumpadre: Aperpáro um cuscuis mexido e um chá de mate, e enquando tirêmo o bucho da miséria, o amigo me conte o que se passa com vosmecê...
Ah pra quê..mas PRA QUÊ ele tinha que que usar esta palavra:Bucho! Nem terminou a frase e Menelau caiu no choro convulso. Os ombros do amigo se tornaram almofadas e a coisa veio. Chorava aos prantos e soluçava parecido com um peru inticado pela piazada. Erguia o pescoço e dava dois ou três gritinhos, e voltava ao choro. Isso foi por um bom tempo, até que Dedão foi se esgueirando de fininho,porque tava demais a coisa.
- O cumpadre continue aqui no choro, que vou ali mexer o chá de mate porque tá quaje derramando.
Duas cambucas de cuscuz depois, ambiente mais calmo, e Quaresma começa a contar:
-Não faça pagodeira de mim, cumpadre, mas a côsa é cabulosa. Nem sei como foi acontecê, mas eu to prenho!
Não é comum que uma cumbuca caia sozinha da mão da pessoa, mas Dedão tremeu. Pensou: "Eu deixei que ele chorasse no meu ombro...". E saiu se esfregando e cuspindo, sapateando e batendo a poeira do pala véio, na parte que tinha enconstado no chorão.
- Não é o que o cumpadre tá pensando, não! Eu sou um Ôme dereito. Não faço essas côsa. Foi um milagre.
Instintivamente Dedão correu o olho dereito ao santo na parede, benzeu os dedos, e fez o sinal da cruz. Bandaiêra até dava de entender, mas heresia é demais.
- Não cumpadre. Eu lhe digo. Foi a madrinha Carsulina mesma quem atestou a prenhez. Cumpadre Apolônio tava junto. Foi quando me cramei de inchaço no bucho e pedi um chá pra madrinha. Ela mandou o Apolônio na lavoura buscar umas ervas, e disse a ele que era porque eu tava embuchado de fratulênças.
Dedão segurou o riso. Não entendeu o significado da tal "Fratulênça", mas quando Carsulina tinha um dedo no assunto, era bandaiêra. E da braba. Continuou ouvindo.
- Pôus então, bebi o chá, mas falei pra ela que não sou ôme afeito a essas bobajada que anda por aí. Ela se riu e me disse que justo por isso, era um milagre com minha peçôa. E vim embora proseá com o amigo e contá a maravía...
Dedão se segurava e espremia o beiço já roxo para não rir. Fingia que ia ali beber um caneco d'água e ria aos frouxos, bebia a água e voltava vermelho, mas controlado. E Quaresma lá num canto segurando a pança como uma mãe, arqueado pra frente, e a outra nas "cadeiras", já se sentindo uma mamãe. "UM mamãe", melhor dizendo, porque ele não era mesmo ôme de fazer bobajada por aí. Mas a revolução no bucho continuava, até porque Carsulina deu-lhe um chá de folhas de umbuzeiro para resolver as flatulências do efebo. Num dado instante, a coisa anunciou, e Quaresma berrou:
-É agora, cumpadre! Veja panos limpos, uma gamela d'água e uma carneadêra afiada pra tosá o imbigo da cria! E foi à capoeira....
- Dedão se finava de rir la dentro, assim, de faltar o fôlego, enquanto lá fora se ouvia os gemidos do Menelau, falando dengoso com seus gases:
- Increnca do mamãe! Venha logo, criatura! Força no imbigo, que o mamãe aqui dá conta do recado, chê!
E a coisa veio. Eram gases de muito tempo. Foi um estrago no miarálhi.... Quando percebeu o que estava acontecendo, voltou envergonhado pra dentro, mas não deu o braço a torcer. Encontrou o Dedão com olhos vermelhos de tanto chorar de rir, mas mais controlado, perguntou:
- Cadêle a cria, vivente?
Quaresma não se deu por vencido e lascou:
-Era um milagre, cumpadre. Era só ispríto. Saiu cantando e foi-se pro mundo!
Pelo sim, pelo não, Carsulina apareceu logo depois com um caneco de Lambança de café com mandioca, procurando pelo Menelau Quaresma. Com aquele olhar de quem fez o que não devia...
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