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quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Quando plantei Cerejeiras (e comi Araçá, Goiaba Serrana e outras delícias do mato) - Gramadense Raiz sabe o que são elas





Quando era menino, eu vi um filme,muito antigo, que contava a história de um homem, na China, que foi buscar uma esposa na aldeia vizinha. Embora os atores fossem todos americanos, maquiados de forma muito caricata, o filme era muito lindo.

Butiá

Durante a viagem de volta, após haver encontrado sua esposa, passou na feira e comprou alguns belos pêssegos, e seguiram viagem de volta, a pé. Ela alguns passos à frente. Então ele deu um pêssego à ela, e seguiu em frente. Quando terminou de comer seu pêssego, jogou fora o caroço,mas ela juntou e guardou a semente da fruta. Ele viu, mas não fez nenhum comentário. Ao chegarem à casa, ela plantou todos os caroços que guardara.

Amora preta
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Os anos se passaram, e os pessegueiros floriram. Envelheceram, e ela morreu. Enfim, o filme termina com ele olhando os pessegais floridos que ela havia plantado, porque não deixou que fosse jogado fora um caroço de pêssego comido pelo caminho. Isso me sensibilizou muito, porque eu tinha já  uma grande afeição pelas coisas da roça, do mato, e da Natureza em geral.

Amora Branca

Não tínhamos terra mais, quando eu estava na idade de saber dar valor ao chão onde pisava. Mesmo assim, por crescer próximo aos matos, todos sabem que mato onde um menino sonhador adentra, é terra de ninguém,portanto, sua. Portanto minha. E foi nas matas que eu comi as mais deliciosas frutas que se pode comer quando menino. Goiabas serranas, verdinhas e suculentas, mais doces ainda quando tiverem bicho dentro. Araçás, então, conhecia cada pé desta frutinha, pelos matos onde brincava. Guabiroba, haviam apenas quatro ou cinco pés, mas carregavam e eram generosos com a gente. Ingás, então, eram um prêmio, conseguir um pezinho carregado. Haviam dois pés, que eu me lembro. E amora branca? Quem ja comeu amora branca? Por misericórdia! Que delicia. Que perfume! Claro que a amora preta tem também seu valor. Azedinha, mesmo madura, deixa a boca cheia d'água. 

 Araçá amarelo
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Morango silvestre ou (ou moranguinho de sapo) era outra iguaria de menino pobre. Um morango menos doce, que comíamos com açúcar e água. Só quem comeu sabe como são.

 Morangos silvestres (Moranguinho de sapo)

E Mixiricos (É Mixiricos com "I" mesmo)? Quem já ficou com a língua preta de tanta doçura, comendo punhados de Mixiricos pelos matos?  (Desta, infelizmente não encontrei imagens para ilustrar).

Mais uma fruta era o Maracujá do mato. Preferido por dez entre cinco sabiás. E guris também.

Maracujá do mato


Da Goiaba Serrana (Feijoa Sevillana), a gente comia até a pétala branca da flor. E quando mais bichada, mais doce era a fruta. As de casca lisa eram as melhores.

 Goiaba Serrana

Enfim, tantas e deliciosas foras as frutas de minha infância. Mais uma frutinha que colhíamos no mato, era o Esporão-de-Galo, confundido com outra muito parecida, o "Pula-Pula", que não era comestível. 



 Esporão-de-Galo

Porém, há uma que tem um lugar reservado na minha memória: São as Cerejas do Mato! Estas pequeninas frutinhas são umas espécie de prêmio pelo primeiro lugar, uma recompensa pela persistência e pelo respeito ao sabor das frutas de árvores que não plantamos. Quer dizer, aquelas que comemos quando crianças, nós não plantamos, porque isso pode ser corrigido a qualquer tempo. 
Não quero ser injusto esquecendo de alguma, porque eram muitas, mas as Gavirovas (Guabirobas) são inesquecíveis. Colher no pé amarelinhas, durinhas, e fazer espocar na boca o sabor sem igual, que só crianças pobres do interior conhecem.

Gavirova  (Guabiroba)


Então, lembrando do filme e dos pêssegos, adquiri o hábito de, na medida do possível, nunca destruir sementes (em apartamento fica complicado), e sim jogá-las no mato. Isso mesmo! Não estou falando de jogar lixo por aí, porque semente não é lixo. Tem vida dentro delas. Então eu jogo as sementes, porque se os pássaros as devorarem, devoradas estarão. Cumpriram seu papel na Natureza. Mas caso escapem dos bicos dos emplumados, elas germinarão, e novas árvores crescerão, que darão frutos, e destes, novas sementes.



 Ingá

Outra fruta do mato a quem presto meu tributo, são as Quaresmas, que alimentaram minha avó nos dias da fome, quando ela deixava a comida para nós, e saía pelo mato à procura de Quaresmas. Comia quantas encontrasse, mas as mais bonitas, ela trazia pra mim. Sim senhor,as quaresmas tem história comigo.
 Quaresma

Pois algumas destas sementes de Cereja do Mato, eu plantei. Foram três, na verdade. Na primeira, cuidei da plantinha por quinze anos. Foi na casa de minha avó. Os anos se passaram, e as casas foram alugadas. Mas os inquilinos sabiam de meu caso de amor com as árvores, e com aquela cerejeira. Um dia, fui chamado para ir comer as primeiras frutas da árvores, que já estavam maduras. Fui correndo, e fiquei sabendo que ninguém havia colhido nenhuma frutinha, sem que eu tivesse a honra de comê-las primeiro. Um tributo. Uma mostra de respeito e dignidade quase ímpar. Fiz então as honras: comi duas frutinhas e agradeci pela deferência, liberando o restante da colheita para os inquilinos de minha avó. O mesmo aconteceu com uma cerejeira que plantei na casa de minha mãe, que diz que eu tenho um tal de "Dedo Verde", em referência ao livro do francês Maurice Druon, que relata a história de Tistou, um menino que tinha um notável dom de fazer brotar toda árvore em que punha as mãos, por isso diziam que ele tinha dedo verde. Eu tenho então dedo verde, mas uma sorte incrível de encontrar pessoas de caráter que valorizam meu carinho pelas plantas. Plantas não são pessoas. Não as trato como tais. Não converso com as árvores, nem me amarro quando uma está por ser derubada. o máximo que posso fazer é usar minha habilidade em convencer pessoas, que as árvores possuem um atributo especial, de aproximar gente. Gente que gosta de árvores também.



*Todas as imagens foram retiradas da Internet




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