AD SENSE

quarta-feira, 17 de novembro de 2021

A saturação mental dos tempos do fim


Não escolhi este título para impressionar, nem aterrorizar ninguém, até porque tudo tem um fim, enquanto estivermos nesse mundo, onde ainda se discute o início, e mal nos damos conta que, enquanto discutimos a origem, estamos chegando ao destino. Mas o que é o destino, se nem aproveitamos ainda o cenário da jornada? Seria o destino aquele fim dramático preconizado pelo medievalismo recorrente em muitas doutrinas? Ou será que é aquela paisagem de flores e nuvens, ansiosamente desejada por outros, ainda dentro da mesma linha medieval puritana de conforto às almas sedentas por um lenitivo espiritual que possa justificar tanto sofrimento pelos espinhos e pedras da jornada?

Definitivamente eu não sei, e já que não sei, entro na porta ao lado, que é a porta da crença, que nela entrando, ainda há outras duas portas, por escolher: A porta da esperança e a porta da descrença. Na porta da descrença, não há interruptor de luz, e o caminho que se encontra é de escuridão completa. Já a porta da esperança é repleta de luzes e pela soma de todas as cores, que é o branco absoluto, cintilante, sonoro, perfumado, e climatizado em vinte graus de temperatura. E daí pra frente, o grande mistério das luzes e melodias que nos acompanha até o infinito (é claro que não estou criando nenhuma definição teológica a respeito, até porque cada orientação denominacional já tem o seu próprio mapeamento dos caminhos da eternidade. Só uma coisa é unânime: Depois daqui, nada é empírico. É tudo "a priori", o que é bom também, pois abre as salas vazias da imaginação que podem ser abastecidas pela fé.

Mas, sinto dizer que não é sobre o além que eu quero falar aqui e agora. Quero falar sobre o momento em que vivemos, em que há muitos, religiosos e cientistas, e qualquer um que tenha um mínimo de capacidade de reflexão e com olhar filosófico histórico do cenário, que sim, estamos sapateando e fazendo barro, em idas e vindas, nos tempos do fim, e para impressionar mais, no fim dos tempos. Isso é o que é. Sendo assim, urge que deixemos um pouco de lado os grandes projetos para a construção de Babel, e pensemos na edificação da torre de nossas vidas: a presente e a futura (em uma daquelas portas que mencionei há pouco). O tema proposto é sobre a tal saturação mental, essa que você está começando a sentir porque meu texto está começando a se esticar, e ainda não fui ao ponto. Tenha paciência, e leia mais um pouquinho, pois já chego lá.

Recebo uma enxurrada de e-mails e anúncios a cada instante, de empresas ligadas à tecnologia, que me fazem pensar que acreditam que, por eu saber ligar e desligar um computador, que não seja por pauladas e chutes, eu seja capaz de entender o interminável novo léxico de termos técnico aterrorizantes que despejam em mim, e me oferecem cursos para que eu me atualize nessa linguagem, que pelo acelerado das coisas, está transformando magistralmente e tão avassaladora quanto um Tsunami (olha aí outra palavra que só aprendi depois que um aconteceu), e sim, não estamos percebendo, mas estamos trocando de civilização da mesma forma que uma serpente, ou uma cigarra, trocam de casca. Quanta ironia. A serpente mata e come a cigarra, se puder, mas ambas atravessam a mesma situação para seu amadurecimento. Assim estamos nós, trocando de casca, de pensamento, de atitudes, acumulando medos que antes não existiam, e nos sentindo dominados por quem jamais imaginou dominar, de um modo tão veloz, como veloz é o vento de uma tempestade.

Diante da avalanche de propostas que chegam à mim, imediatamente deleto (se dissesse apago, estaria sendo classificado como antiquado) o arquivo, antes que me contamine a tentar entender o significado daquela terminologia tão barulhenta para meus ouvidos sensíveis, acostumados a ouvir palavra por palavra das canções, e assimilar a poesia das melodias.  Expressões como "Backup, browser, bug, crack, hacker, download, data-base, entre tantas, se eu não souber do que se trata, é melhor que eu nem passe perto da máquina eletrônica que governa nossas vidas, então. Eu não recebo mais cartinhas de instituições oferecendo planos de saúde, mas "Healthcare planes", com um linguajar que absolutamente eu não tenho mais capacidade para assimilar na velocidade em que são despejados na minha mente. É aí que eu travo. É nesse amontoado de palavras e estrangeirismos que nosso cérebro satura, e é no amontoado de informações que nossas decisões se tornam confusas.

O excesso de conhecimento satura o campo cognitivo (aquela parte do miolo em que a gente aprende alguma coisa), e as decisões tornam-se automáticas, pelo comparativo de fontes, isto é, quando recebo uma notícia interessante, não sento mais à sombra de uma árvore, para refletir sobre o assunto, mas percorro o Google para saber o que outras fontes disseram sobre isso, e estabeleço uma estatística que me facilite a tomada de decisão pela média favorável. Não sou mais eu quem decido em que devo acreditar, mas a estatística faz isso por mim. Assim, não importa se eu compreendo ou não as palavras velozes do estrangeirismo tecniquês que me cobre de verbetes, mas importa que eu perceba, em algum momento, que chegou a hora de me desligar, porque o infeliz do computador não se desliga sem que meus olhos já estejam absolutamente fechados, e minha mente lacrada para o exercício da razão.

Paralagramabundas perengtemptas. Não isso não significa absolutamente nada. Eu só escrevi isso para ter certeza de que você nem leu até aqui, e já voou para o Tik Tok, que dá pra rir mais e pensar menos.




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