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terça-feira, 23 de novembro de 2021

A"Casa de Maria Elisa" - - "Te quebro uma perna se tu contar!" em GRAMADO de priscas eras

Maria Elisa Dias Cardoso

Nasceu em Gramado, no dia 28 de julho de 1911, em uma casa que ficava onde mais tarde veio a ser a sede do Instituto Balneo e Lodoterápico, ou Motel Balneário, na Avenida Borges de Medeiros, cujas terras, à época, pertenciam à sua mãe, maria Francisca, filha de Tristão de Oliveira.

Tais terras, compreendiam todo o morro central, desde a área do parque Knorr, ao sul, ao Mato Queimado, ao norte. Desconheço a precisão dos limites das terras, sei apenas que as terras que compreendiam o Morro dos cabritos e adjacências, pertencia à Maria Elisa, e a casa onde nasceu minha mãe, Ester, ficava no lugar onde hoje se encontra o Centro de Eventos. Cheguei a conhecer esta casa, mas a anterior, não mais. A terra foi vendida aos Nelz, e ali onde estava a casa, instalou-se o restaurante, que desenhei e irei descrever mais adiante.


 
Esta casa da imagem, até o momento em que escrevo isso, ainda está de pé, com a única alteração, da pintura, pois Maria Elisa nunca permitiu que sua casa fosse pintada.

Não sei dizer o motivo dessa negativa estética, mas o que ela dizia à mim era que, por morarmos num rancho feio, nunca sofreríamos de inveja ou cobiça, e que nenhum ladrão teria coragem de invadir nossa casa, pois seria bem capaz de condoer-se e ainda deixar algum donativo. Dizia isso, e dava risada, à solta.

As divisões da casa estão entre minhas lembranças

Gramado é uma cidade com características peculiares, e sua distinção remonta à esse tempo, aos dias de minha juventude, nos anos 70. Vivi nesta casa até os 21 anos de idade, e dela saí para casar e buscar outro rumo para minha vida. Porém, apesar de ser simples, feia, quase um rancho, jamais fui discriminado por morar ali, tampouco tive vergonha de levar amigos, ou convidados de outras classes sociais para compartilhar com eles, o cuscuz, os bolinhos fritos, o chá de mate, ou as iguarias rústicas que minha avó, de uma hospitalidade ímpar, oferecia à todos que cometessem a ousadia de passar à frente da casa, sem chegar para dois dedos de prosa, e uma infalível relação de respeito e amizade duradoura.

Em frente à casa, os meus barrigudinhos. Ao alto, a Vila Suíça.

Esta foto de Maria Elisa, foi tirada pela Marília Daros Franzen

A casa tinha três quartos, sala, cozinha, área de serviço, e banheiro. Isso mesmo! A casa tinha um banheiro. Isso era fantástico, pois pouco tempo antes, quando estava instalada em um terreninho de uns cem metros quadrados, onde depois foi construída um dos prédios do Artesanato Gramadense. Lá tinha só uma patente, do lado de fora, e o banho era de bacia, na cozinha, ou no quarto.

Nós morávamos num ranchinho de uns 40 m2 ou menos, num terreno emprestado, entre as terras de nossos primos. Maria Elisa, ou para os íntimos, "Tia Ilizia", voltou à Gramado, com uma carga viva de três filhos e um neto, e umas poucas "matalotagens", como ela dizia. Gramado, sua terra natal, e acreditem em mim: não é nada agradável voltar à terra em que nascemos e crescemos, quando saímos em uma condição e voltamos na outra.  Assim que foi. Maria Elisa então, engoliu o choro, arregaçou as mangas,e  foi á luta. Foi trabalhar como lavadora de pratos no restaurante do Motel Balneário, que nesse tempo estava aos cuidados Do Armando e Lourdes Rost, ou do Adelino e Teresinha (Nininha) Catucci. Não tenho certeza. Isso nem importa. O que importa é que ao voltar pra casa, ao final do dia, levava junto uma lata cheia de comida que sobrou na cozinha do restaurante. Comida boa, Ô. Minha memória olfativa me faz recordar do cheiro de galinha caipira (todas eram caipiras, pois nesse tempo nem se falava em galinha de granja), e manteiga no preparo dos alimentos. O perfume era percebido desde longe. Enfeitava o ar à volta do restaurante. Bailava em nossas narinas como um banquete do céu (embora há quem pregue que no céu não haverá galinha caipira, vá lá que seja, era um tipo de céu de pobre, de quem vê a presença de comida como uma oferta de anjos).

Maria Elisa, nesse tempo, caminhava pela mata, comigo pendurado nela, e colhia frutas, cada qual a seu tempo: Quaresma preta, araçá, cereja, ingá, o que tivesse. Ela deixava as sobras de comida pra mim e meus tios e mãe. E ela comia o que sobrasse, e as frutas do mato. Nunca reclamou. E nem tinha do que reclamar. Éramos ricos. Só faltava dinheiro.

Foi logo adiante disso, creio que uns dois ou três anos à frente, que ela conseguiu comprar um bico de terreno, com, talvez, uns 80 metro quadrados, não passava disso, e mudar a choupana para lá. Melhorou muito. Nesse lugar, a casinha já tinha um sótão, onde dormíamos, meus tios Esaú (a quem minha tia Lina chamava de Izáu, que em hebraico é Izav) Samuel Isaac e eu. Esaú, logo saiu de casa, e foi morar em Joinville, no distrito de Garuva (hoje município), e lá, infelizmente, emprestou nova tragédia à Maria Elisa, ao sofrer um acidente e perder a vida. Jovem, muito jovem, aos 24 anos de idade. Chorei muito com minha avó. Por dez anos, tínhamos hora e dia para o choro. E saber chorar é uma virtude, mas ter com quem chorar, é um privilégio. Isso nos fez determinar a existência de laços perpétuos. Quer ter boas lembranças? Dê risadas com os amigos. Quer ter uma ligação por toda a vida, chore junto. Maria Elisa nunca mais deixou de chorar, mesmo quando abria um largo sorriso, seus olhinhos pequenos mentiam. Ela chorava ao sorrir. Chorava pelo filho e pelo marido, e ao mesmo tempo (vejam só que paradoxo), o sorriso lhe dizia que tinha mais dois filhos e um neto no estoque para investir o coração. Foi o que ela fez.


Maria Elisa era perspicaz, tinha visão de longo alcance, embora houvesse sido cegada em um olho, ao cair sobre um toco de hortênsia, seco. Mas ainda assim, via de olhos fechados. Ensinou-me a comprar livros. Imagine só,. velha perdulária, comprar livros pra quê? De que serve o fato de eu ter lido Os Lusíadas, Capitão Tormenta, ou Dom Quixote? Pra que serviu minhas leituras de Monteiro Lobato, Machado de Assis, José de Alencar, e Jorge Amado? Me digam? Ajudou em alguma coisa eu ter gasto dinheiro na coleção inteira de Hermann Hesse, pra descobrir que ao final da vida ele teria sido um pedófilo, condenado e preso? Mas eu gastei dinheiro, muito dinheiro, comprando livros, por influência de Maria Elisa. Aliás, muito bem lembrado que em 1921, 80% da população brasileira era analfabeta, e que bem nesse tempo, Maria Elisa estudou até o quinto ano do primário. Leram bem o que eu disse? O quinto ano do primário, provavelmente na escola Santa Teresinha (aguardem, pois já está desenhada também). E sabe o que significa uma menina, ter a quinta série do primário, em 1920? Isso era praticamente um mestrado, quase doutorado então. A propósito, Maria Elisa leu mais de 100 (cem) vezes as sagradas Escrituras. Não é exagero. Ela lia duas, quase três vezes ao ano, a Bíblia, de Gênesis ao Apocalipse. E não foi uma nem duas vezes que vi ela deixar pastores e pregadores numa saia justa, por corrigi-los durante uma pregação. Aliás, ela detestava sermão, e saía da igreja quando começava o sermão, em desagrado, pois nesse momento o rito não permite manifestação da congregação, a não ser dizer amém. Minha vó Maria Elisa, nunca disse "amém" para asneiras.





É, Maria Elisa nasceu de família rica, e ainda que o destino lhe reservasse tantas tragédias (Vamos enumerar: Aos 8 meses de idade, no colo do pai, Victor Pereira Dias, teve a ação de um anjo que desviou os estilhados que partiram de uma pistola, no telhado, e atingiu em cheio seu pai, na cabeça; Tornou-se, por isso, filha mais nova, responsável pelos cuidados com a mãe, Maria Francisca de Oliveira, e só se casa por volta dos trinta anos de idade. Com meu avô, Assis Brasil Cardoso. E foi uma enorme coincidência isso, pois ele também casou-se com ela, e no mesmo dia. Mas não quero filosofar muito sobre isso, para não por em descrédito a minha credibilidade enquanto contator de causos, e contar causo exige responsabilidade. É o que eu tenho.

Antes dos 50 anos de idade, ficou viúva, por conta da estupidez de um cretino, no caso, meu progenitor, que matou Assis (que na ocasião prestava serviços de sogro ao meu pai), numa briga de foice (literalmente), mas poupá-los-ei dos detalhes. O fato é que Assis, o Assisão, com seus 1,95m, ou coisa que o valha, foi levado às pressas ao Hospital Santa Teresinha, em Gramado, a 80 km de onde moravam, e lá, expirou.

Mas, ainda seguindo a trilha da dor, Maria Elisa, então, por volta dos 55 anos, perde o filho do meio, Esaú. Por conta dessa dor, ela instituiu uma linha de pensamento que pregava aos casais: "Não tenham poucos filhos! Tenham muitos filhos, pois, se perder um, a dor é menor." Não é como eu penso, mas é sobre ela que escrevo, então era assim que pensava. É assim que é a vida para alguns. Assim foi para Maria Elisa.

Ela via longe, barbaridade, como via longe. Eu, na tenra idade das traquinagens, tinha certo afeto pelo uso do martelo e suas complexidades construtivas, e viva catando um prego torto pelos cantos, para enfiá-lo nas paredes da casa. Era útil, mas não servia pra nada, exceto ampliar a área de ferro enriquecido pelas paredes. Foi então que Maria Elisa deu-me um dinheiro, e encarregou-me de ir até à madeireira dos Cardoso, na Rua Theobaldo Fleck, onde meu primo Geremias de Moura, era o gerente, e comprar uma tábua de pinheiro, que media 5,40m de comprimento, por 30cm de largura, e uma polegada de espessura, que foi serrada em cinco partes, colocadas no carrinho de mão, e assim, atravessei a cidade, não sem passar na loja do Argemiro Moschem, e comprar martelo, prego, serrote, e outras ferramentas. Tudo pago à vista. Tudinho.

Tempo de cabeludo

Chegando em casa, ela disse: Pronto. Agora isso tudo é seu. Construa um armário. Pura verdade! Eu fiz um armarinho de cerca de 30x30x1,50, que consumiu exatamente dois quilos de prego. Sabe como é, segurança em primeiro lugar.

Muito de priscas eras, com minha mãe

Maria Elisa jamais me censurou pelas maluquices que empreendi. Ela apenas dizia: "Meu filho! O importante é ter um raminho de vida pra ter o que comer e onde morar!"

Eras menos priscas um pouco, o varão que vos tecla

O tempo andou, e fomos morar naquela casa no terreninho em cima do morro. Subimos na vida. Isso foi lá por 1964, ano em que ingressei na escola, no Santos Dumont (que também já está desenhado e se D's permitir, terá uma matéria muito especial). Foi também nesse tempo que Elisabeth Rosenfeld começou a construir a casa onde morou o restante de seus dias. Ali ao lado. Que privilégio teve ela em conhecer Maria Elisa. E a recíproca é verdadeira. Assim, maria Elisa ganhou o seu primeiro emprego formal, com carteira assinada. Lavava lã. E pouco tempo depois, aposentou-se por invalidez, pelo olho perdido em serviço. ganhou também uma pensão pela perda do filho, e assim teve certa paz até o seu último sorriso, segurando a mão do "nenê" dela, a quem chamava, enquanto bebezinho de: "Meu dilique!", o Samuel Isaac. (Ainda contarei alguma barbaridade que sei sobre ele. Só não faço isso agora, porque estou negociando uma propina pra não contar o que sei, e outra pra não inventar o que não sei).

Esta foto do casamento de Maria Elisa, reuniu a elite do vilarejo. A foto está muito apagada, pois existe uma foto em bem melhor qualidade, que foi solicitada por uma parente, para fazer cópias, e nunca mais foi devolvida. Então, uso a que tenho.

Minha mãe, Ester, formou-se professora, em 1968.

Nesse tempo, minha mãe Ester Cardoso, já professora, dava aulas em escolas do município. E eu, ainda solteiro, levava a vida, sonhando com possíveis viagens à lua, abraçado na Mary Poppyns, e tomando cuidado para não ser mordido pelo tigre que eu imaginava existir perto de casa.

Maria Elisa e Joanão

CPI de Maria Elisa

Maria Elisa descendia de judeus, Cristãos-Novos, aqueles judeus "convertidos", na marra, pelos guardiões do "Santo ofício", vulgo, "Inquisição". Tinha uma memória fantástica. Era capaz de nominar e enumerar nomes de casais, paternidades, e situar cada um deles, desde sua origem: França, Portugal, Alemanha, Jerusalém, e foi assim que pude montar, junto de meus primos, nossa árvore genealógica, que nos remete à nomes como; Gamaliel, Hilel, Ezequias, e Salomão.  Até uma vovozinha que tivemos, denominada "Índia carijó", por volta do século 17. Essa é a parte que me desgosta, pois não deixaram pra mim nem um tesourinho, um biscoito que fosse, nada.

Eu e Decio Basei, meu primo

Mas o fato de ter essa ascendência judaica, a transforma em alguém que muito especula sobre as coisas, as pessoas, pois é bem próprio dos descendentes de judeus, em terras estranhas (Gramado era uma terra muito estranha, ainda é), e procuram descobrir tudo sobre o interlocutor, para compreender o grau de confiabilidade que possa passar. Aqui mora o segredo de um bom interrogatório: Maria Elisa obrigada a vítima a entrar em casa, sentar, e contar sua vida, enquanto ela, Maria, preparava bolinho frito, chá de mate, ou cuscuz, ou feijão mexido, enfim, qualquer coisa que distraísse a atenção do réu, me este despejasse tudo o que sabia, enquanto sentia o cheiro das guloseimas, e desatava a falar no modo automático. Contava tudo.

Em 1972, Samuel Isaac e Ester, formandos em Contabilidade, no Cine Embaixador. Ao centro, maria Elisa

Nessa casa, Maria Elisa plantava couves, favas, e uns temperinhos. Eu colaborava e plantava árvores. Do mato. caminhava pelos matos e voltava com mudas. Lá plantei cereja, goiaba serrana, guaco, camélias, e outras perfumadas e frutíferas. Tem até hoje um enorme Cedro (ou Cajarana, nunca soube o que era ao certo) que eu plantei.

Minha mãe, Ester Cardoso

Bom humor

Maria Elisa ria à toa. Era debochada, e não perdia uma boa piada. Contava causos, ah como contava causos, barbaridade. Quem me dera ter quem ouças uma pequena parte dos causos que ela contava, contados por mim. Peguei dela o gosto por contar causos. Como esse que estou contando.

Esse era o tamanho da família em 1968

Minha mãe e Samuel, estudavam à note, e daí a casa era nosso território, de Maria Elisa e eu. Ela começava contando uma lambança (fofoca) com a seguinte frase: "Te quebro uma perna se tu contar, mas vou te vender pelo preço que paguei!" E contava. Também contava fábulas. Barbaridade, como ela sabia fábulas, lendas portugueses (como a Velha do Poronguinho, por exemplo). Contava as fábulas conhecidas, mas com nomes portugueses arcaicos: "Gata Borralheira", era a "Maria do Borráio", Cinderela, Rapunzel João e Maria (estes permaneciam) tinham nomes adaptados. E não poupava detalhes nem tinha o tal do "politicamente chato". Dava nome aos bois e às tetas da giganta, servidas como iguarias ao gigante, pelo João Pequeno (um Pedro Malazartes português). Nas fábulas dela, o macaco era rival do tigre, e assava os picuá do bichando, dando pros filhotes do tigre comerem. Sim senhor. ela contava isso. Contava fábula atrás de fábula, mas olha que interessante: Com a mesma versatilidade, contava a historia da Bíblia, sem omitir nem emendar nada. E eu nunca fiz confusão entre fábula e fé. Sempre separei as coisas. Ela me ensinou isso. O humano falho pode coexistir com o divino perfeito, sem tornar-se maçante.

Não que tenha relevância alguma, mas essa turma de amigos e colegas do Artesanato Gramadense. O pinguço do meio era Samuel Isaac. Pronto, falei.
Airton Brombatti (In memorian, Remi galgaro, Samuel Isaac, Paulo Wiltgen, e fazendo cocô, Ivo Niclotti (Gringo)

Mesmo que nunca havia entrado em sua casa, mas feia que velha, conhecia Maria Elisa. Uma ida ao centro (morávamos no centro, mas era mais ao centro ainda), era uma epopeia, pois parava ou era parada uma a uma das pessoas que encontrava para trocar uns dedos de prosa. Era conhecida por todos e sabia da vida de todo mundo. Isso me favorece agora, quando escrevo as memórias de Gramado.

Quase me tornei pastor. esta foto era exigida para enviar ao seminário. Fui aceito. Mas me apaixonei, e a teologia ficou pra posteridade.

Sobrinhos, primos, amigos de priscas eras, todos tinham um compromisso existencial de visitá-la de tempos em tempos. Todos, sem exceção. Conheci a parentada toda lá em casa. Casa velha e feia. Sem pintura. Que acolhia uma riqueza imensurável, chamada de Maria Elisa. "Tia Ilizia", para todos.

Religião

Maria Elisa nasceu católica. Era afilhada do major José Nicoletti, intendente do 5º Distrito de Taquara. Neta do Tristão de Oliveira, e Leonor Gabriel de Souza. Ainda na juventude, por influência de seu tio, José Francisco de Oliveiro, vulgo "Zé Tristão", toda a família dela, tornou-se luterana (IELB), para desgosto de seu avô, Tristão. Mais tarde, João Victor, seu irmão mais velho, descobriu, numa localidade em Rolante, próximo de Taquara, uma família que "guardava o Sábado e não comia porco", mas eram cristãos. Como Em casa, tinham esse costume, de abster-se de carnes impuras, segundo mandamento bíblico, embora não compreendessem bem isso, pois liam na Bíblia que assim deveria ser, mas sua religião (tanto luterana quanto católica), não faziam tal exigência. Isso os incomodava. Assim, quando descobriram a tal religião, imediatamente se converteram ao adventismo, ajudando a criar, junto com outros prosélitos locais, um pequeno grupo, mais tarde transformado em igreja. teremos uma ilustração também desta igrejinha, desmanchada em 1968, e construída no atual endereço, à rua São Pedro, em frente à extinta Ortopé.

Cabelos

Parece exagero, mas Maria Elisa jamais teve seu cabelo cortado. Chegava quase na cintura. Ela tinha um rito diário, ou melhor, duas vezes ao dia. Ao acordar, muito cedo, ela se ajoelhava, e orava demoradamente, e enquanto orava, trançava o cabelo. Uma trança de cada lado. Isto feito, atava as duas tranças em forma de coroa à cabeça, e seguia para as lides do dia. Orava balbuciando, e tinha um roteiro de pessoas pelo bem de quem dedicava suas preces. Nome por nome, iam se perfilando nas palavras, até tecer um longo fio até o céu.

À noite, antes de recolher-se a dormir, repetia o gesto, e de joelho, orava, balbuciando, e desmanchando as tranças. Cuidadosamente, e dormia com os cabelos soltos, livres. Recolhia-se para o seu "Catre véio", como dizia.
Nesta parceria dos primeiros anos de minha infância, à noite, enquanto meu tio e minha mãe iam para a escola noturna, minha vó e eu desatávamos a conversar, e ela, a contar-me suas fábulas, intercaladas com lembranças, e relatos bíblicos. Também, ouvíamos, por um pequeno rádio portátil, nas ondas curtas da noite, os programas de humor da Rádio Globo do RJ, como: A Turma da Maré Mansa, e Balança mas não Cai. Ouvíamos ainda a Rádio Voz da América, e a Rádio Nacional de Moscou. Até o sono chegar.

Minha vó Maria Elisa acreditava na Volta de Jesus. Eu acredito na vinda do Messias, que penso ser O mesmo. Então, quero apresentá-la à vocês todos. Um dia.




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