AD SENSE

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

The creative Void, and the adventurers of Brazilian furniture


The creative Void, and the adventurers of Brazilian furniture

Pacard - Brazilian Furniture Designer since 1974, Teacher, Consultant*

 

Creating and innovating is not for bad people. It's not for the faint of heart. It's crazy. It is for unhappy people, discontented people, people with ants in their underwear, with animals on their entire bodies (some say "carpenter animals"). No carpenter: Joiner. And the good ones!


Understanding innovation is not for mediocre people. It is not for people with accommodated neurons. It is not for people unable to differentiate beige from yellow, nor purple from lilac. It is not for people with a small horizon and finite soul.


Innovating is for those who realize that the limit is already creating slime and sameness has already filled with mold. Innovating is for those who know that the world revolves, even if they don't realize it. Whoever looks at the ground, only sees his feet sinking into the earth, but the innovator looks upwards, in all directions, and sees that the sun does not stay at the same point during the hours of the day. It is the innovators who perceive that the world revolves, and do not do like the flowers and leaves, which always aim at the sunlight. The innovator does not wait for the sun to turn his face. He turns on a lamp and directs the light wherever he looks.

Brazilian furniture has not innovated its face since the construction of Brasília, and rather said, since the arrival of Cabral. Brazilian furniture is only Brazilian when it looks like Brazil, and the face of Brazil is not just the face of an Indian, the face of round wood, the face of bamboo. Brazilian furniture borrows the colors of the world, the shapes of the people, and the role of the accommodated.


Brazilian furniture is ashamed of itself. She is ashamed to hit her and show her body. She is ashamed to be beautiful, sensual, happy, and necessary. 

Brazilian furniture is a harlot that supports gigolos from old world design. It is selective and stupid, because it sucks in culture that it does not know. The Brazilian furniture industry and its mentors, act as monkeys that imitate others, and in this case, the others, are the ones that repeat lines, curves, colors, and shapes and fill, with voids, spaces full of nothing. And the Brazilians say: "Top!"

Brazilian furniture is poor, even though its products are made for the rich, and the furniture of the poor, is the result of what was left over from the design reuse of a decade ago, because the big manufacturers are not at risk of making mistakes. Therefore, they are not innovative, they are spreadsheet typists and button presses for robotic machines, those that scratch, cut and drill, sheets of hardened gum, to manufacture colored boxes, which they call furniture, and think that this is design, and think that this is Brazilian.


The furniture adventurers are not the ones who produce the utility boxes for consumers, but those who benefit from a certain wave, a certain economic movement and a certain trend, and immerse themselves in the production of that, until another wave comes and changes everything, but they don't change, because only those who knew how to start can change. They simply shipwreck, and the remains appear floating in the abandoned pavilions surrounded by weeds (before weeds were, as it is empty capoeira), full of expired titles and judicial pending due to fraudulent wages or deviated taxes, and remain, like monkeys, jumping from a branch on a branch, eating chepa bananas (fruits at the end of the fair), and complaining about the government, the employees, the unions, the vaccine they don't accept, the bumpy streets, and they come home to stumble in the living corners of the cupboards, and to sit on the lame chairs, because they didn't even know how to copy them.

Brazilian Design is in its moment of creative emptiness, and manufacturers are afraid to dare, as there is a crisis outside, without realizing that there is an even worse crisis, inside, of their empty minds and hopes buried in the past that they thought were entrepreneurs and innovators. They were not, and never will be.


There is a creative void, despite constantly hearing that creativity is the great urgency for them to survive.


There are voids within voids. A void filled with other voids, as someone said. (Okay, I said that, in the little book below. Click to buy).





terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

O Vazio criativo, e os aventureiros da movelaria brasileira



Criar e inovar não é pra gente ruim da cabeça. Não é pra fraco. É pra louco. É pra gente infeliz, gente descontente, gente com formiga na cueca, com bicho no corpo inteiro (uns dizem "bicho carpinteiro"). Carpinteiro, não: Marceneiro. E dos bons!

Entender inovação não é pra gente medíocre. Não é pra gente com neurônios acomodados. Não é pra gente incapaz de diferenciar beige de amarelo, nem roxo de lilás. Não é pra gente de horizonte pequeno e alma finita.

Inovar é pra quem percebe que o limite já está criando limo e a mesmice já se encheu de mofo. Inovar é pra quem sabe que o mundo gira, mesmo que não se perceba. Quem olha pro chão, só vê os pés afundando na terra, mas o inovador olha pro alto, em todas as direções, e vê que o sol não fica no mesmo ponto durante as horas do dia. São os inovadores quem percebem que o mundo gira, e não fazem como as flores e folhas, que miram sempre a luz do sol. O inovador não espera pelo sol para virar o rosto. Ele acende uma lâmpada e direciona a luz para onde quer que olhe.

A movelaria brasileira não inova sua cara desde a construção de Brasília, e antes disso, desde a chegada de Cabral. A movelaria brasileira só é brasileira quando tem cara de Brasil, e cara de Brasil não é só cara de índio, cara de pau roliço, cara de taquara. A movelaria brasileira pede emprestadas as cores do mundo, as formas das gentes, e a função dos acomodados.

A movelaria brasileira tem vergonha de si própria. Tem vergonha de bater em portar e mostrar o corpo que tem. Tem vergonha de ser linda, sensual, feliz, e necessária. A movelaria brasileira é uma meretriz que sustenta gigolôs do design do velho mundo. É seletiva e burra, porque suga cultura que desconhece. A movelaria brasileira e seus mentores, agem como macaquinhos que imitam os outros, e nesse caso, os outros, são os que repetem traços, curvas, cores, e formas e abarrotam, de vazios, espaços cheios de nada. E os brasileiros dizem: "Top!"

A movelaria brasileira é pobre, ainda que seus produtos sejam feitos para os ricos, e os móveis dos pobres, são a rapa do que restou no reuso do design de uma década atrás, pois os grandes fabricantes não correm riscos de errar. Portanto, não são inovadores, são digitadores de planilhas e apertadores de botões de máquinas robotizadas, aquelas que riscam, cortam e furam, chapas de goma enrijecida, para fabricarem caixas coloridas, ao que chamam de móveis, e pensam que isso é design, e pensam que isso é brasileiro.

Os aventureiros da movelaria não são os que produzem as caixas utilitárias para os consumidores, mas os que se beneficiam de determinada onda, determinado movimento econômico e de certa tendência, e mergulham com tudo na produção daquilo, até que venha outra onda e mude tudo, mas eles não mudam, porque só sabe mudar quem soube começar. Eles simplesmente naufragam, e os restos aparecem boiando nos pavilhões abandonados cercados de mato (antes mato fosse, pois é capoeira vazia), eivados de títulos vencidos e pendências judiciais por salários fraudados ou impostos desviados, e ficam, feito macacos novamente, pulando de galho em galho, comendo bananas de "chepa" (frutas do fim da feira), e reclamando do governo, dos empregados, dos sindicatos, da vacina que não aceitam, das ruas esburacadas, e voltam pra casa, para tropeçarem nos cantos vivos dos armários, e assenta O Vazio criativo, e os aventureiros da movelaria brasileira rem nas cadeiras capengas, porque não souberam sequer copiá-las.

O Design brasileiro está em seu momento de vazio criativo, e os fabricantes tem medo de ousar, pois há uma crise lá fora, sem perceberem que há uma crise ainda pior, lá dentro, de suas mentes vazias e esperanças enterradas no passado que pensavam serem empresários e inovadores. Não foram, e jamais serão.

Há um vazio criativo, apesar de ouvirem constantemente que a criatividade é a grande urgência para que sobrevivam.

Há vazios dentro de vazios. Um vazio repletos de outros vazios, como disse alguém. (Tá, eu disse isso, no livrinho aí abaixo. Clique para comprar).



domingo, 7 de fevereiro de 2021

O maledicente e as teologias opostas


Sou um árduo defensor da causa judaica, frente aos contínuos ataques antissemitas provenientes por parte do cristianismo, dos mesmos que batem no peito e dizem: "Obrigado, Senhor, porque não nasci judeu", mas acham ruim a oração judaica "Amidá", onde o devoto agradece por não ter nascido mulher.

Um e outro tem suas implicações que vão bastante além do que é dito em resumidas palavras, mas um e outro realmente sentem-se gratos por não terem nascido na condição que, em sua leitura, seja desfavorável no convívio humano cotidiano.

No tempo em que foi escrita a Amidá, a mulher ocupava um papel inferior aos animais, em todas as culturas. Era lixo, e lixo e propriedade, e a punição por maltratar um cabrito era maior do que espancar uma mulher de "sua propriedade". Assim, a oração reconhece esse estado triste da mulher (criança, então, nem se fala, era deplorável a situação civil de uma criança naqueles tempos), e ao agradecer à D-s pela condição menos desfavorável, reconhece que há algo por melhorar na sua companheira, irmã, mãe, ou filha.

Da mesma forma, hoje, vejo o tratamento teológico dado aos judeus, com uma generalização esdrúxula, e com argumentação que ultrapassa os limites da estupidez, da ignorância completa. Destratam os judeus de todos os tempos, com o mesmo ímpeto que destrataria aqueles poucos indivíduos, que dentro de um contexto específico, e em um tempo único, votaram a favor de enviarem à morte o Líder de um dos grupos sectários contemporâneos (Jesus não era o único proclamado Messias em seu tempo, mas se quiserem saber mais sobre isso, leiam Flávio Josefo, Heródoto, Plínio O Velho, e outros historiadores daquele tempo), e que num contexto amplificado pelos romanos, estabeleceram, não uma religião de adoração ao D-s Único, mas de ódio aos judeus de todos os tempos, tornando-os malditos por continuidade.

A construção de teologia do ódio é buscada dentro das próprias Escrituras, sendo que fixam-se sempre no histórico dos erros da Israel bíblica, mas deixam de ler, muitas vezes, o verso seguinte, onde D-s promete restauração e consolo ao seu povo eleito. Senão vejamos: O livro de Isaías, 41:14, chama Israel de "Verme de Jacó, vermezinho de Jacó, verme de Israel" (de acordo com cada tradução), e desata todos os erros cometidos pelos governantes, com apoio de grande parte do povo, que de fato, usou e abusou do direito de errar, coisa que nós fazemos também, continuamente. Então, segundo essa parte do texto, sim, Israel estaria condenado e seria extinta de pronto. 

O que as pessoas leem e fixam a mente é exatamente na expressão: "Vermezinho de Jacó", mas esquecem que esta expressão está em uma única frase, que, completa diz assim: "Não tenha medo, ó verme Jacó, ó pequeno Israel, pois eu mesmo o ajudarei", declara o Senhor, Redentor, o Santo de Israel".

Sigo adiante, e sugiro outra leitura com o mesmo contexto: Oséias, capítulo 11, onde todos os pecados de Israel e Efraim (uma das doze tribos), são desnudados, todas as vísceras abertas são expostas, e ainda assim, contém a mais bela declaração de amor que um Pai pode fazer à seus filhos, descrevendo a trajetória deste relacionamento:

"Quando Israel era menino, eu o amei; e do Egito chamei a meu filho. (vs 1). Mas, como os chamavam, assim se iam da sua face; sacrificavam a baalins, e queimavam incenso às imagens de escultura".

Vejam que primeiro, diz como era Seu relacionamento afetivo. A seguir, aponta aquilo que os separava d'Ele, que O entristecia. É aqui que sorriem os inimigos de Israel e perseguidores dos judeus. Porém, de tanto rirem dos deslizes registrados, se cansam de ler e não leem o que vem a seguir:

Todavia, eu ensinei a andar a Efraim; tomando-os pelos seus braços, mas não entenderam que eu os curava. Porque o meu povo é inclinado a desviar-se de mim; ainda que chamam ao Altíssimo, nenhum deles o exalta.

Como te deixaria, ó Efraim? Como te entregaria, ó Israel? Como te faria como Admá? Te poria como Zeboim? Está comovido em mim o meu coração, as minhas compaixões à uma se acendem.

Não executarei o furor da minha ira; não voltarei para destruir a Efraim, porque eu sou D-us e não homem, o Santo no meio de ti; eu não entrarei na cidade.

Esta é a parte que me faz tremer: "Porque Eu Sou D-s e não homem", isto é, D-s não julga sentimentos humanos com justiça humana, mas oferece justiça aos humanos com misericórdia divina.

 Então, a profecia sempre finaliza desse modo: Primeiro o amor d'Ele com Israel, depois a impiedade do povo, depois o juízo sobre esta impiedade, e por fim, a misericórdia, movida pelo imenso amor com que os amou." Está comovido em mim o meu coração, as minhas compaixões à uma se acendem". Outra tradução diz que "D-s treme e se contorce de emoção, de alegria, ao manifestar e descrever o tamanho do amor que sente por Seu povo".

E finaliza dizendo que "Tremendo virão como um passarinho, os do Egito, e como uma pomba os da terra da Assíria, e os farei habitar em suas casas, diz o Senhor. Efraim me cercou com mentira, e a casa de Israel com engano; mas Judá ainda domina com Deus, e com os santos está fiel". Oséias 11:11,12

Contato de Palestras, Cline na imagem



 

Congregar ou sobreviver? Qual é o papel dos templos em tempo de cautela?

Sabedoria não é apenas aquilo que se aprende lendo a Bíblia, ou livros de cunho religioso, mas aquilo que se põe em prática, dentro do que é ético, saudável, e necessário, com aquilo que se aprendeu, lendo os livros sagrados.

Diariamente tenho notícias de quem, por congregar-se, seja em templos ou reuniões de natureza espiritual, foi contaminado, e alguns até não vivem mais, e nem vou mencionar as festivas e sociais, ou ajuntamentos políticos, mas aquelas que buscam uma aproximação com a adoração, louvor, e enriquecimento espiritual, por meio da "koinonia", isto é, do ajuntamento fraterno de conforto e esperança no mundo vindouro.

É bastante nobre a ideia e a experiência de orar juntos, cantar juntos, chorar juntos, e juntos se confortarem com as promessas bíblicas de salvação e cuidados de D-s para com seus fiéis e obedientes filhos. Mas também não deixa de ser reconfortante saber que, em meio a um inimigo quase tão invisível quanto o próprio satã (pois o vírus é um inimigo detectável), haja um modo quase seguro de evitar contágio, assim como também o pecado tem seus limites para quem se resguarda de cometê-lo, e tal como a doença, aquele que é deles acometido, ainda tem um certo percentual de esperança de ser resgatado, se houver verdadeiro arrependimento, e no caso do vírus, de recuperação, ainda que com as duras cicatrizes que um, e outro deixam em que sucumbiu ao contágio e à tentação.

Um, e outro: pecado e contaminação, antes de serem curados e transformados em cicatrizes, oferecem riscos e maltratam quem deles é atacado. Assim, é de grande importância o cuidado com o isolamento necessário, o suficiente para esconder-se do vento até que a tempestade vá embora, pois, tal como num vendaval, as pessoas não irão morar definitivamente nas fendas das rochas, ou nos porões, mas serão abrigos seguros para o ápice dos ataques.

Motivar cuidados é não apenas tarefa individual, como principalmente dos líderes, sejam eles políticos, religiosos, ou empresariais, e comete grave atentado à saúde e liberdade, aqueles que motivam seus liderados a quebrarem regras sugeridas pelos dedicados cientistas, e responsáveis autoridades, que estabelecem critérios e protocolos para que se administre o perigo até que seja efetiva e definitivamente solucionado.
Se o que importa é "A Palavra", esta pode ser ouvida por meio eletrônico, cibernético, e até ilustrada por canções e imagens, e o abraço virtual é quase tão bom quanto o real, e contagia bem menos.

Repudio lideranças que fomentam agrupamentos físicos no tempo crucial para a resposta sanitária da crise do Corona Vírus, e apesar de saber que não existe cem por cento de segurança, o mínimo percentual que se consiga, será de grande valor à todos. E o céu agradece.

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sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

Liberdade criativa - Qual é o limite de ser livre?

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Conversando com um amigo, da área criativa, que recentemente ficou desempregado, falávamos sobre o "tempo livre", Sugeri à ele que use o tempo "livre" como um tempo especial, destinando-o ao andar criativo, buscar soluções.

Mas o que é um "andar criativo", e o que é a liberdade, no campo das ideias? Quais são os seus limites aceitáveis? É bom ser livre? Ou que é ser livre? O quando de liberdade contribui com nosso crescimento pessoal, ético ou profissional?

Não me entendam errado, pois não estou apregoando a servidão como ideal de vida, nem fazendo apologia à perda (alguns gostam de dizer "perca") de autonomia no processo criativo. Veja que nem na arte há uma liberdade absoluta, pois há um conjunto de regras do uso dos materiais, das técnicas, do conhecimento dos estilo, e a ideia principal, pois sem uma ideia não há arte.

Minha construção temática está no limite entre o excesso da liberdade, e o conjunto de vetores (ok, chame de regras) para aproveitamento criativo. Claro que você pode criar algo sem utilidade, completamente "non sense", e pode chamar de seu. Porém, se aceita a máxima de que tudo tem um propósito, a criatividade também tem o seu, e o propósito criativo do Criador, foi estabelecer um ambiente criativo e construir um "coautor" daquilo que ainda havia por ser criado. Assim, colocou D-s, O Homem num privilegiado posto avançado de natureza criativa, reativa, proativa, e por fim, muito viva. Porém..... Com parâmetros para que tal criatividade pudesse fluir sem limite de tempo e espaço.

Um rio que não tem margens, torna-se um charco. Até o mar, delimita o ir e vir de suas águas. Tudo está sujeito às normas, para que não perca seu rumo, seus objetivos. As normas, ainda que na liberdade da criatividade são a essência do direcionamento criativo. Sem regras, a própria essência criativa deixa de existir, porque se o que está estabelecido é o velho, o que há de ser criado, é o novo, então para que seja denominado novo, a regra diz que haja o parâmetro do antigo. Para que se caminhe, a regra ensina que é necessário o movimento, o deslocamento, contrário ao que está estático. Então, se houve quebra de ação pela reação, o novo é a regra de ação do velho.

Ser livre não algo ilimitado, nem estacionário, pois liberdade pressupõe movimento, ação, interação e modificação. Assim, ser livre é ser atrelado à regra de ação e reação, portanto até mesmo a liberdade tem limites e normas a seguir, para que se efetive como verdadeiramente livre.

Criar é o ato de acionar a liberdade de mudar, interagir, transformar. Agir é continuar a agir, reagir, interagir e resultar em transformação. Então, é verdadeiramente livre a criatividade?

 

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

Todas as manhãs em Gramado - Giuseppe Bardini, e a mesa de Cerejeira




Todas as manhãs em Gramado

Os nomes são fictícios, mas as histórias podem ser reais.

Pacard
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Giuseppe Bardini, e a mesa de Cerejeira

Giuseppe Bardini era um velho carpinteiro, daquele “das antigas”, que carregava consigo uma serra de arco, arco de púa, martelo de orelhas, daqueles quadrados, que nem se fazem mais, cuja cabeça amassada se esparramava sobre o aço puído pelo desgaste dos anos; um velho cutelo polido pelo uso, além de uma plaina com “corpo” de madeira, e pequenos acessórios que se juntavam à uma caixa de pregos, novos, ou reciclados, obtidos nas reformas das velhas casas, por onde passava para reformá-las.

Era um homem metódico, dócil, e cordato. Descendente de italianos, Giuseppe se ocupava da faina desde sua tenra infância, quando, ainda lá na “Colonha” (como era chamada a roça, e seus moradores, eram chamados, por uns, orgulhosamente, mas pelos moradores do Centro, por troça, deboche, “Colonos”), ajudava o pai e o avô, nas tarefas de manutenção das cercas, galpões, e casas da circunvizinhança. Deste princípio, deu andamento à atividade, e tornou-se um respeitado carpinteiro na sede do município, onde foi morar em definitivo.

Eu o conheci, quando deveria ter, pelos meus cálculos, uns sessenta anos. Eu trabalhava com projetos para interiores, que nesse tempo era chamado de “Decoração”, e mais tarde, passou a ser conhecido como “DI, ou Design de Interiores”. Dá no mesmo. O fato era que eu era contratado pelas pessoas para desenhar o interior e os móveis de suas casas, e como tal, também coordenava a execução dos trabalhos, contratando, ou supervisionando o trabalho destes especialistas. Giuseppe era um destes, que foi chamado pelo cliente, e apresentado a mim para que trabalhássemos juntos naquela obra.

Uma pessoa, como mencionei, cordata, doce, e manso no falar, educado, e respeitoso, Giuseppe me tratava por “senhor”, apesar de que eu tivesse cerca de trinta e poucos anos, a metade de sua idade. Mas ele não abria mão desse tipo de cortesia, o que, de certa forma, me constrangia, mas ao memo tempo me ensinava que cortesia vai muito além de saber montar uma mesa e puxar a cadeira para uma senhora (alguém ainda puxa a cadeira para uma senhora? Tenho que rever isso urgentemente, eu mesmo), ou bater à porta com delicadeza, ao visitar alguém. Pois Giuseppe era desse jeito: cortês!

Uma das peças a serem trabalhadas, era uma mesa de churrasco, de madeira maciça, com pranchas enormes, espessas, e de uma madeira muito bem preservada. Eram pranchas de “Cerejeira”, uma madeira já extinta, de cheiro forte e adocicado, de cor amarala e rajada com pintas escoras, como uma galinha carijó.

A mesa deveria ter cerca de três metros de comprimento, por um metro de largura, o que significava o uso de três pranchas inteiras para essa tarefa. Acontece que a madeira tem suas peculiaridades, e eu digo que, ainda que morta a árvore, a madeira tem “vida própria”, uma “segunda vida”, isto é, um comportamento físico que, quando exposto à variações de temperatura, tente a expandir-se, de forma desigual, por conta dos materiais dos quais é composta: Fibras e resinas. As fibras são porosas e possuem elasticidade aceitáveis, o que permite à árvore contorcer-se pela ação dos ventos, e variações climáticas, sem quebrar, ou romper-se durante seu ciclo de vida. O outro material, as resinas, são os fluidos que alimentam as células da árvore, e com a variação do tempo, se solidificam, e dão a solidez necessária à árvore, como se fosse o concreto, e as fibras, o ferro e o cascalho. É assim que a Natureza trabalha, no comum acordo de funções dos elementos.

O que acontece é que, ao interromper-se o ciclo vivo das árvores, os materiais, por razões físicas de sua formação celular e molecular, tendem a repetir “instintivamente” os movimentos que ocorriam, quando a árvore estava viva. Por exemplo: Quando uma madeira é colocada ainda “verde”, recém cortada, hidratada, numa estufa de secagem, o ambiente de elevada temperatura, vento, e umidade, forçam estes movimentos, e a madeira sai toda retorcida, o que é corrigido com engradamento, empilhamento espaçado por certo tempo (cada madeira tem suas regras), para que assuma a forma ereta desejada para seu uso industrial. Esse efeito é chamado de “Canostro”, do italiano “Canestra – Cesta”, porque forma uma “concha” na tábua afetada.

Outro modo de secagem, é o modo natural, chamado de “Air Dry”, isto é, secada ao vento, em um local protegido da luz solar e das intempéries. Leva mais tempo, mas obtém resultado satisfatório também. Porém, é sempre necessário respeitar os limites dos materiais, bem como prover recursos físico-mecânicos que deem estabilidade à madeira, no ambiente em que for utilizada.

O cliente solicitou que eu desenhasse uma mesa de churrasco, então, com as tais pranchas de Cerejeira, que estavam guardadas havia muito tempo, mais de três anos, em um depósito de uma velha marcenaria.

Orientei, no projeto, que as pranchas fossem seccionadas na parte de baixo, com um corte de serra transversalmente, de até metade da espessura da tábua, a cada cinquenta centímetros, para romper a resistência das fibras, e desta forma, evitar o empenamento das tábuas.

Desenhei, detalhei, expliquei, justifiquei, e passei o projeto ao velho e bom Giuseppe, que concordou com tudo, e pôs-se a fabricar a tal mesa. Passados alguns dias, voltei à obra, e lá estava ela, bela, majestosa, imponente e muito bem acabada, mesa de churrasco, em Cerejeira maciça.

Como fazia sempre, instintivamente passei a mão por baixo do tampo, para conferir a presença das fendas que projetei. Não estavam lá. Olhei, e as tábuas estavam lisinhas, sem nenhuma marca de serra. Não falei nada. Nem foi preciso, pois o meu querido parceiro percebeu minha preocupação, e falou, educadamente, como sempre:
- O senhor pode ficar tranquilo. O Francisco, contramestre da marcenaria disse que “agarante” a qualidade das madeiras, pois estavam guardadas secando, havia muito tempo, e que era besteira cortar as fendas que o senhor sugeriu!

- Bem! Disse eu: se o Francisco “agarante”, quem sou eu para duvidar. Parabenizei Giuseppe, e segui adiante.

Dois dias depois, voltei lá, e meus olhos correram automaticamente para os topos da mesa, e percebi que dos dois lados, haviam fendas de cerca de vinte a trinta centímetros, rachaduras mesmo. Não falei nada, apenas sorri (penso eu que com brandura, sem maldade), e nem foi preciso dizer nada, pois o velho Giuseppe, com olhos arregalados, começou a contar:

-Pois é, seu Paulo! Eu estava trabalhando aqui, e ouvi: “TUM!”...dali a pouco, ouvi novamente: “TUM!”...e foi “TUM TUM TUM!”, uma atrás do outro, e quando vi, todas as pontas estavam rachadas. Acho que foi o calor!

- Claro, seu Giuseppe! O calor faz coisas estranhas!

Mas não falei nada. Mais alguns dias, voltei lá, e a mesa estava reparada (ele era um exímio artista no trato com a madeira, apesar de ter confiado no contramestre que “agarantia”. Coisa da vida. Instintivamente passei a mão debaixo da mesa, e lá estavam as minhas ranhuras, meticulosamente seccionadas.

Naquele dia, eu aprendi uma lição: Humildade é tudo. Ele tinha por nós dois. Ele aprendeu algo que desconhecia e que na minha juventude, aprendi que quando chegasse à idade dele, gostaria de aprender muito dos jovens. Levei isso a serio e até hoje, os jovens são meus conselheiros. Cada um sabe o que sabe. Ninguém sabe tudo. E aprender é sempre bom.



quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

A Ética e a óptica – Os desencontros da verdade



A Ética e a óptica – Os desencontros da verdade


Óptica é parte da Ciência que estuda os efeitos da luz sobre as coisas. Ética é a parte da filosofia que estuda os efeitos da elegância sobre as pessoas.


Ser ético é ser elegante sem que ninguém veja. A palavra provém do grego, e significa: “Proteção”.


A óptica é o resultado da percepção sob determinado ambiente. Na água, a visão pode ser distorcida, e aquilo que nos parece estar em determinado lugar, está noutro.


A óptica é enganosa, se não estiver acompanhada da métrica.


A ética jamais oferece versões antagônicas da verdade.


Ser ético significa jamais determinar uma verdade sob opinião pessoal, sob a óptica pessoal. Significa que, mesmo que determinada verdade contradiga minha vontade, eu serei fiel aos fatos, e não ao que penso sobre os fatos, ainda que os fatos desfavoreçam minha estima sobre determinada verdade.


A óptica constrói doutrinas. A ética, constrói liberdade para escolher doutrinas.


Ser ético é o domínio da razão sobre a emoção. A óptica é o ajuste da razão pela emoção.


Você é ético ou óptico?




O erro da Inteligência Artificial (IA) - Um diálogo quase absurdo com uma IA

Pergunta -  IA! a IA poderá criar outra inteligencia artificial mais evoluida que a atual, a partir do conhecimento e da capacidade que já p...