Publicado no livro "Estado de Alerda, Pacard, 2014, Amazon.com)
Era
tão feio que se sentava ao espelho e se achava mais feio ainda. Era
mais feio que ele próprio. E mais baixinho também.
Era
tão burro que conseguia trocar seu próprio nome com o de seu irmão,
mesmo sendo filho único.
Era
tão baixinho, que se sentava no chão e ainda assim as perninhas
ficavam balançando.
Era
tão medroso, que saltava de susto, toda vez que respirava.
Era
tão pão duro que quando bebia água ainda lambia o copo para não
deixar sobrar nada.
Era
tão fofoqueiro, que falava mal até de si mesmo.
Era
tão corrupto, que de todo dinheiro que ganhava, roubava de si mesmo
uma parte.
Era
tão incompetente, que emprestava dinheiro e pagava juros ao devedor.
Era
tão mentiroso, que de tanto que mentia, mentia sobre o que mentia.
Aí falava a verdade. E isso o entristecia.
Quando
viu que tinha tantas virtudes, se aliou a um partido e saiu
candidato.
E
foi eleito!
Quando
tomou posse, não sabia onde estava. Não sabia o que fazia lá. Não
sabia o que dizer. Foi logo esquecido. Menos na folha de pagamento
Recebia
salário pelo cargo. Recebia jeton. Recebia por fora e carregava por
dentro. Da cueca. E passou a ser chamado de
"Seu
dotô".
*
Qualquer coincidência é mera semelhança.
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