Raramente eu assisto a uma sessão inteira da Câmara de Vereadores de Gramado, talvez pelo mesmo motivo (um deles) que eu nunca quis candidatar-me a nada, nem mesmo à vereança. Não assisto, porque acho muito chato, entediante até, aquelas leituras cheias de salamaleques, vírgulas, linguajar decorado, e tricotar de egos. Não estou desmerecendo quem esteja no cenário dos acontecimentos, e até teço rasgados elogios, mesmo com minha obscura e medíocre eloquência, ouso tecer uma ou duas palavras em favor dos notáveis e respeitáveis Edis, desinteressados debatedores das soluções ou desmazelos, de minha amada Gramado. Admiro-os mesmo, por sua incansável retórica, e inegável senso comunitário, posto que tudo dizem e fazem, o seja em benefício da comunidade. Nobre! Nobre demais.
A sessão desta segunda feira, 18 de Novembro, no entanto, pareceu-se dissonante do cotidiano respeitoso e calmo que predomina ao longo das plenárias daquela casa, e isso sei, porque fui perguntar aos Vereadores, se é sempre assim, e a resposta, para meu conforto, foi: "Não! Ontem foi atípico!" Vou descrever um pouco, para firmar meu comentário nos fatos.
Eis que o convidado, naturalmente é pressionado pelos Vereadores Volnei, Ubiratã, e Ronsoni, de forma bastante agressiva, e perde a compostura, partindo para o ataque, primeiro a ex Prefeito, Nestor Tissot, seguido por um vocabulário contido de adrenalina acima da dose habitual de um debatedor. Diante disso, a reação dos Vereadores mencionados, foi a de responderem não apenas no mesmo tom, mas o Próprio Ronsoni, ocupando a tribuna, destravou o verbo, em tom exageradamente agressivo, elevado, e nitidamente raivoso, não apenas contra o Secretário Convidado, como contra todo o Executivo do Município. Sem citar nomes, Ronsoni vociferou acerca do que considerou "incompetência, fracasso, e desleixo" do Governo de Fedoca, e Julio Dornelles, ali representando o Executivo.
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Ao final de sua fala, Ronsoni assumiu a Presidência da mesa, e encerrou os trabalhos, seguindo o protocolo da dia. Foi neste momento, aparteado pelo Vereador Daniel (PT), que solicitou, "Pela Ordem), permissão ao convidado para que fizesse suas considerações finais. Não teve jeito, Ronsoni, usando de suas atribuições e pelo protocolo elaborado pela manhã, não deu oportunidade, e encerrou os trabalhos, não sem antes arguir do Plenário, que prontamente negou o pedido de Daniel. Estes são os fatos aparentes, o vídeo mostra isso. Cheguei a comentar com um Vereador da oposição, que eles haviam pegado pesado com o convidado, e ele respondeu-me que há uma forte animosidade com este Secretário há mais tempo. Mais tarde, esclareceu-me as razões.
Ao que consegui apurar há um ódio visceral entre Ronsoni x Júlio Dornelles, Júlio x Nestor, e soma-se a isso o desentendimento completo acerca de duas matérias em curso:
1 - Projeto do empréstimo de 35 milhões para pavimentação de 30 Km de estradas do Interior.
2 - Projeto de venda de propriedades públicas, para investir os valores arrecadados em benfeitorias e obras sociais.
Vamos à reflexão dos fatos. Projeto do empréstimo de 35 milhões.
Minhas fontes dizem que a oposição fechou questão internamente e não aprovará o projeto, de forma alguma. No entanto, eu mesmo ouvi do vereador Luia Barbacovi, que o projeto passou com facilidade em sua comissão, na qual há mais integrantes do Partido Progressistas, e eu pode deduzir que, se a análise de mérito e outros pormenores de um projeto, é aprovada, nesta etapa, que esta comissão declararia abertamente que não seja um projeto "eivado de vícios" (termo que Fedoca gosta de usar), mas que sua aprovação ou reprovação, deva-se somente á uma questão política, no sentido de "gosto, ou não gosto". Assim, pela lógica, o voto de Luia (e mais alguém da oposição), seja suficiente para aprovação do projeto. isto é:| Seria, se não fosse o temperamento dos debatedores, de um e outro lado, pisando pelos calcanhares, o diálogo civilizado, necessário à negociação de um projeto sensivelmente necessário à comunidade, e ao mesmo tempo político, de um e de outro lados.
Outra leitura que faço de tal projeto é que, se quase todo o asfaltamento, que foi feito, segundo minhas fontes, todo na gestão Nestor e Luia, e isso colocaria Fedoca em condição de inferioridade no tocante aos pavimentos no interior, pois, alega a oposição, que tudo o que tem feito até aqui, sejam apenas reparos. Pois bem! Se Fedoca quer reparar essa lacuna, e para isso necessita de um empréstimo desta envergadura (vale dizer que poucos municípios do porte de Gramado conseguem este valor e nas condições oferecidas, de pagamento em 240 parcelas, o que vale dizer que a conta seria paga pelo próximo Prefeito, que pode ser o próprio Nestor, e que também, segundo análise feita pelo Jornalista Miron Neto, teria oportunidade de inaugurar a maior parte das obras), para avançar as obras que, pelas denúncias feitas aos berros, de Ronsoni, não fez ainda nenhuma.
Eu não seria o Pacard, se não provocasse um pouco de reflexão sobre o que está acontecendo nos dois poderes eletivos de Gramado, e o que está acontecendo é absolutamente desnecessário ao exercício de ambos os poderes: um descompasso total. Se de um lado, o Prefeito precisa de aprovação dos vereadores, para avançar seu planejamento e execução de obras, o que prometeu aos eleitores fazê-lo, se eleito, de outro lado, a população, que optou por dividir estes poderes, fazendo justiça de Salomão, partindo os poderes ao meio e equilibrando as forças, vê um jogo de revanches interminável, levando ao que descrevi, quase como um teatro de horrores, que por muito pouco, não levou os protagonistas às vias de fato. E não pensem que vai parar por aí, porque não vai mesmo.
Vamos entender o que acontece, de acordo com o que ouvi de todos os lados (tem mais que dois envolvidos). É política, e politicagem. Basta saber que se Fedoca não conseguir aprovação para o empréstimo antes do encerramento do ano Legislativo, que tem apenas mais quatro sessões, o interior não terá asfalto. Falo daquelas localidades contempladas na proposta. Fedoca precisa ainda da aprovação para venda de imóveis, tema amplamente debatido já, mas de resultado incerto, mesmo porque a oposição apareceu com uma "carta na manga", o Registro de um dos imóveis listados para venda, que não pertence à Prefeitura, de acordo com a oposição, e corroborado pelo documento do Registro de Imóveis, atualizado.
A explicação de um Vereador é que este terreno foi doado ao "Roupeiro da Criança Pobre", uma instituição que existiu de fato até algum tempo atrás, mas que, ainda que inativa, ainda pertence à esta entidade, e que não existe nenhuma cláusula que diga que tal imóvel volte automaticamente ao Município, em caso de extinção da instituição.
Não vejo como imoral a eventual venda deste imóvel, e nem tampouco a venda de qualquer imóvel pertencente ao Município. Trata-se apenas de questão opinativa, de natureza política, da qual desejo eximir-me, porque minha opinião é o que menos importa nesse momento. Importa é entender a motivação para tal. Então vejo que se Fedoca não conseguir as obras que prometeu, Nestor volta com forte argumento de campanha que ele realizou tais obras, e que será ele a concluir o que seu (eventual) adversário não fez. O marketing e a propaganda de um e outro durante a campanha, decidirá em quem os eleitores irão aceitar como verdadeira: Se Nestor é de fato o Prefeito capaz de pavimentar o interior e realizar obras da envergadura do parque dos Pinheiros, ou se será Fedoca, que teve boa vontade, mas não teve articulação política para negociar com seus opositores.
Aqui a questão, nesta leitura, não está na capacidade de execução de obras, vomitada às cusparadas por Ronsoni, ou defendida por quem defende a atual administração, onde se diz que Nestor só entende por obra aquilo que se pode empilhar tijolos, ou espalhar asfalto, sendo que há obras não palpáveis, como qualidade da educação, da saúde, da cultura, da segurança pública, e outras mais.
Não são estas opiniões minhas. São apenas constatações manifestadas por simpatizantes (ou antagonistas) de um e de outro lado. Mas torna-se minha opinião o formato de política que percorre os canais entre um e outro poder. Se de um lado, o Secretário Julio, tem liberdade para seu destempero diante de autoridades que estão, hierarquicamente acima de seu cargo, ainda que sem ingerência direta, por outro lado, a liderança Progressista tem se mostrado sonolenta, ondem, ainda segundo seus opositores, não sabe fazer oposição, pois entendem que oposição se faz à ideias e propostas, mas que esteja a oposição de Fedoca, ainda guardando ranço da eleição perdida, e fazendo oposição à Gramado.
Eu quis entender a origem deste rancor, e fui perguntar diretamente aos personagens deste imbróglio todo, e a resposta que obtive de Dornelles foi que, durante a administração de Nestor, ele, Dornelles, era Diretor Técnico da Corsan, e foi convidado por Nestor, juntamente com a ex-Senadora Ana Amelia Lemos, para filiar-se ao PP. Por ser alinhado com à Esquerda, o PT, Dornelles declinou do convite, e segundo ele próprio, dede então, sentiu o distanciamento de Nestor e seus parceiros políticos.
A mesma pergunta, fiz a Nestor, que optou por não participar do debate, e apenas frisou que o que foi dito na sessão de ontem, na Câmara, traduz seu sentimento e dos Progressistas.
A conclusão é que não há conclusão, e que temos apenas uma pequena amostra do que Gramado irá enfrentar durante a campanha que se aproxima. Que visão terá o meu querido leitor, e minha perfumada leitora, da cidade que tem o oitavo lugar entre os dez municípios com melhor desempenho no índice FIRJAN de Gestão Fiscal de 2019, avaliado por 2018, a cidade que tem o maior e mais belo espetáculo natalino do mundo? A cidade que tem o requinte de uma metrópole de alto nível, desejável de nela morar por oitenta por cento dos brasileiros, e tantas outras maravilhas publicadas todos os dias pelo mundo afora, e que nas suas entranhas abriga dois poderes incapazes de conversarem entre si, sem que ofensas, gritos, menosprezo, seja a tônica destes embates, em lugar de sóbrios debates?
Que triste ter que escrever esse tipo de reflexão. Não gosto disso. Prefiro escrever meus contos, minhas crônicas, meus "causos", mostrar a humanidade que pontua minhas letras, os amigos que ajudaram a construir este patrimônio moral. Que tristeza perceber que a vaidade e a falta de modos no diálogo termine por revanchismo sobre revanchismo, e que aqueles que necessitam das obras, dos recursos, da fiscalização, das boas Leis, das ideias, sejam esquecidos e desprezados a cada encontro entre um e outro poder, ou entre cada sessão da Câmara.
Não foi isso que ouvi durante a campanha. Ouvi ambos os lados prometeram conciliação, paz, harmonia. Isso é conciliação, paz e harmonia? Então o mundo está girando para outro lado e eu perdi a vez de entrar nele.
Quanto à aprovação do projeto dos 35 milhões, a situação fica assim: Os Progressistas não estão dispostos a aprovarem o projeto, e a bancada da situação, e o Líder do Governo, Vereador Professor Daniel, diz que fará de tudo para que o projeto saia aprovado, e para mobilizará todas as comunidades envolvidas na atenção do projeto, para que lotem e superlotem a Câmara no dia da votação, e vê que é muito difícil que a oposição saiba dizer não diante desta pressão. Vamos ver o que acontece.
Fica desde já aberto o espaço desta página para respostas. E tomara que as tenha.
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