Imagem: Freepik internet
Quem não me conhece, pode até dizer que eu odeio políticos, e que talvez eu mesmo seja um político frustrado, porque nunca fui eleito na política convencional Vereador, Prefeito, deputado, Senador, Governador, Assistente de Palco, ou Presidente da república). Mas isso não corresponde à verdade. Eu não odeio os políticos e sou apaixonado pela boa política. O que eu desprezo são os maus políticos, e as más práticas da política para fins escusos.
Minha tarefa aqui neste espaço, escolhida, apresentada, votada e aprovada, é de levar aos leitores alguma reflexão sobre as atitudes dos políticos, sob a bandeira de servirem ao povo. Daí, analiso suas atitudes públicas, e jamais faço de minha literatura, instrumento de intromissão nas vidas privadas dos mesmos, até porque, o que muitos deles fazem na vida pública, deveriam mesmo é manter o feito na privada e dar descarga em seguida. Então, vamos analisar os perfis destes personagens da civilização. Considerarei a jornada política como um corredor cheio de portas, e dentro de cada porta há uma sala, que por si, tem também outras portas, que levam a outras salas e assim consecutivamente.
O Honesto
Vou partir da premissa de que todos nascem honestos e nessa vestimenta se lançam na vida pública. Suas intenções sempre são as melhores, e seu coração bate pela moralidade. Este estágio do caráter, pode durar por toda a sua carreira, ou pode poluir-se aos poucos, até que não sobre mais nada que lhes favoreça respeito, e muito menos admiração. Mas destes, falarei mais adiante. Aqui é a galeria dos probos, dos justos e dos dignos. Esta é a primeira porta, branca, com uma maçaneta metálica também branca, discreta, sem brilho.
Em algum momento de sua carreira, caso perdure, alguns destes políticos, sofrerão transformações sutis, paulatinamente, par e passo com sua carreira, até que encontra a segunda porta deste corredor de ambições.
O Vaidoso
Na segunda porta, dourada, com maçaneta dourada e bordas cintilantes, já há espelhos e luzes, e por ela adentram os honestos que além da honestidade, não veem mal algum em desejar o poder. Não o fazem por si mesmos, mas porque uma "força superior incontestável" os conduziu até aquele lugar, e é por sua livre e espontânea vontade que dizem sim à porta dourada e à maçaneta de ouro, com bordas cintilantes. Ali encontrarão ambientes festivos, recepções, inaugurações, tribunas com permanentes convites aos discursos floreados, ao espumante francês, aos queijos do Mediterrâneo, e aos aplausos. Este lugar é a ante-sala do Paraíso cristão, do Shamballa e do Nirvana orientais, de Valhalla nórdica, enfiam, a legítima casa da sogra, mas uma sogra muito generosa, culta, organizada. Vale tudo à pena se o brilho não for pequeno, para manter-se ali naquele lugar, e à medida em que os anos passam, necessita ele, o político vaidoso, acompanhar o sucesso da carreira em si próprio, e é nesse momento em que começa a entender de Lifting, esticamento facial, pilates, implante capilar e dentário, criogenia para tratamento de manchas da idade, fitness, Nike para o tênis que pisca, neoprene para surfar no raso, enfim, é um político dentro de seu tempo. Pelo menos no plano pessoal.
Ah, ele também já está apto a trocar sua esposa, que não conseguiu acompanhá-lo em tudo, por uma cerca de vinte a trinta anos mais jovem, mas que verdadeiramente o ama, com muita paixão e $entimento. É convidado como paraninfo em formaturas, porque a essa altura, já tem como dar um Iphone ou uma caneta MontBlanc aos formandos, não importando que seu discurso floreado seja completado por canhões de laser e efeitos estroboscópicos. Já o povo, bem o povo o ama, porque ele nunca o traiu. Nunca faltou ás sessões, porque sua presença era necessária ao brilho da casa a qual servia.
O Corrupto
Este é o mais conhecido, e ao mesmo tempo, o mais misterioso, pois ainda não foi sancionada a Lei que fornece "Carteira de Corrupto". Ela até existe, mas sob certos codinomes. Não que este tipo de político tenha entrado na vida pública pensando em roubar. Longe disso. Mas o povo que o elegeu, principalmente o que financiou sua campanha, tem umas continhas a acertar com o eleito, e nada cobra dele senão fidelidade aos amigos, que ao visitá-lo, nunca vão de mãos vazias. Há sempre um mimo, uma lembrancinha, que vai de uma caixa de chocolatinhos, a um sitio, um belo apartamento, um programa ilimitado de milhagem nos aviões da companhia que o apoiou, enfim, eu nem saberia descrever tantas as formas de gratidão, porque estes benefícios não são anunciados em rótulos de leite em pó ou cartazes em delegacias de polícia, que alías, ocorrem-e que além da delegacia de polícia, também deveri ter uma "Delegacia de Política", onde seriam tratados os crimes cometidos pelos investidos nesta fatióta, evidentemente.
Enfim, o corrupto é como água da nata, que quando muito batida, sobre para a superfície, e dali pode ser separada a manteiga. Então, se der certo o método, ao bater muito num corrupto, a água da sacanagem sobre e resta a gordura localizada pronta pra passar no pão. Ou pela porta do xadrez. Pelo sim, pelo não, político corrupto, sempre deixa rastros. Encontrando um, e identificando o espécime, não vote nele, pois se o fizer, estará chancelando, corroborando (ou co-roubando) suas atitudes nefastas, e será vossa senhoria (ops, agora não pode mais), digo, você, tão ou mais corrupto do que aquele que corrompe, porque vai continuar corrompendo e corrompido com a sua (tua mesmo) assinatura embaixo. Aí, nada de jogar culpa no corrupto, porque nesse caso, o corrupto é você.
O Messias
Oh glória! Ele chegou, vindo do alto (mora em uma cobertura, com piscina e seguranças na portaria), cercado de anjos (as messietes, uniformizadas e sorridentes, distribuindo santinhos impressos em lâminas de plástico aluminizado cintilante, e que brilham no escuro), sorridente, de braços abertos, expondo seu relógio Patek Phillipe 24k, e cordão dourado com um pingente de cristal gravado em 3D a sua foto que pisca conforme gira a pedrinha, trazendo seu abraço, um amplo sorriso, palavras de otimismo, invocando as "energias do universo" para que conspirem a seu favor (dele), e que olham no seu (agora é no teu) olho, enquanto o segura pelos ombros, imobilizando-os, e diz palavras de esperança em dias melhores, e que ele veio para servi-lo (agora não sei se é ele ou você a quem se refere), ainda que com o sacrifício da sua (agora tenho certeza que fala de você) própria vida e recursos.
Ele anda só com roupas sóbrias, e quando recebe convidados em casa, veste um camisolão cor de pérola do Mar da Índia, , com gola alta, e segura no colo uma cãozinho que não para de lamber-lhe a cara e o saquinho (do cão), em alternância. Sorri com toda a brancura da porcelana da dentadura matematicamente retilínea e reluzente, e o ambiente exala perfume de sândalo, enquanto ouve-se suave música de cítara e pífaro, enquanto você caminha ao seu (dele, né) encontro sobre uma alcatifa de pétalas de rosas almiscaradas do Tibete.
Abraça duas joviais messietes e a uma terceira, entrega o seu (dele, já disse) cãozinho, não sem que antes o peludinho dê-lhe (nem vou falar em quem)uma última lambidinha na orelha. Isto feito,, o tamborete onde se encontra é elevado vagarosamente, enquanto luzes feéricas e canhões de laser flutuam imagens dele próprio sobre uma nuvens de gelo seco, e em sua infinita bondade, ele faz uma live para todas as redes possíveis, falando em justiça social e paz infinita. E é até perdoável aquela lágrima que escorre de seu (é com você, sua besta) rosto, porque, de fato, a cena é comovente e você esteve lá, ao vivo, sorvendo a graça infinita de seu político messiânico, ao vivo, ao vivo!
O político ativista
Este vem dos movimentos sociais, dos sindicatos, das associações, ou da classe artística, embora, dificilmente consiga esquivar-se de uma das opções anteriores, por conta da facilidade de acesso á todas elas. Mas ele representa a plebe, o proletariado, a turba, os movimentos ativistas, os Direitos Humanos, animais, vegetais (daqueles que odeiam veganos), e do movimentos de todos os movimentos. É desinibido nos debates, e sabe como movimentar as massas. O fato de ter sido padeiro e pizzaiolo, antes de militar nos movimentos, foi de grande serventia, de utilidade mesmo. Mas este, além de honesto e de princípios, não curte isso de festas tântricas regadas a néctar de calda do universo, pois acha tudo uma tremenda viadagem, embora acha que viado também é gente, e só por respeito à eles, vai na tal recepção do mesotriático (aqui eu queria usar o neologismo "Messiático", que criei, mas o Google sugeriu este outro nome, que nem sei pra que serve, mas já que o Google sugeriu, quem sou eu pra contrariar a pessoa, ou a nuvem), onde cumprimenta um e outro, enche os bolsos de guloseimas e canapés, e sai de fininho, na primeira oportunidade que tem. E ele é raiz,come em marmita, come a marmita, descartável e biodegradável, e se é biodegradável, se vai ser comida por minhoca, então por que não pode ser devorada pela pessoa? E taca o dente valendo no pratinho e no copo de bagaço de centeio. Usa a mesma roupa a semana inteira, claro, de que precisa gastar água e sabão para lavar o que amanhã vai sujar de novo? E assim segue a festa, isto é, a luta. Festa não. Festa é burguesa.Importante: nenhum político foi suficientemente maltratado para compor esse texto*
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