Na foto, uma pessoa genial, simpática, exuberante, detalhista, animada, e o cara do lado é o Iotti
Ele assinou seu nome (no caso, sobrenome) nas páginas do melhor e mais inteligente humor do Rio Grande do Sul, e até mesmo em uma de suas melhores províncias, o Brasil. Tal como disse Tolstoi, ele imortalizou sua aldeia, seus tipos humanos, seus trejeitos e maneirismos, o sotaque italiano na crueza de sua originalidade, e fez-nos voltar aos tempos de infância, onde nossos vizinhos italianos, colonos, eram exatamente assim, do jeito esdruxulo e querido, acolhedor e divertido, que ele descreve.
Iotti saiu da casca e adentrou na alma de todos os que de alguma forma já deram risada do jeito grotesco que falam os gringos velhos de nossa infância. E fez isso com um talento único para expressar em cada tirinha, em cada quadrinho, ou traço de movimento e expressão (desculpe a redundância, mas é isso mesmo) que dispensa até mesmo algumas falas, mas que quando são acrescentadas, tornam impecável a mensagem do humor que só pessoas sérias possuem, porque humor não é brincadeira, e fazer humor com a seriedade que Iotti faz, bate a sensação de que somos bem representados na história desta terra abençoada pelos colonos que semeia a terra, e pelos filhos dos colonos, vagabundos, que trocam a enxada pelo lápis e saem fazendo troça dos noninhos e dos tchucos que esta Serra e esta Terra nos legaram.
Tive o prazer de uma entrevista do Iotti, e ainda de lambuja, acrescentou suas tiras para ilustrar este espaço (e quem sabe comova patrocinadores para que anunciem também, pelo elevado nível daquilo que estou publicando). Vamos à entrevista então. Em lugar de iniciar dizendo que é o Blog do Pacard, e ele o Iotti, basta ver a numeração e a resposta abaixo que irão entender. Ninguém é tão burro assim, sei lá, eu acho.
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1 - Como você se interessou por charges (cartoons)?
Sempre gostei de desenhar. Desde criança . Então, foi uma coisa natural, uma continuidade.
2 - Você cursou desenho, artes, ou coisa pior, ou é autodidata?
Autodidata não. Estudioso. Cursei Jornalismo da UFRGS FABICO só para deformação acadêmica.
3 - Você desenhou muito "para ganhar cliente, de graça", no início da sua carreira?
Sim, as primeiras a gente dava de graça. Depois de viciado, o cliente tinha que pagar.
4 - Leon Tolstoi disse certa vez que se você quiser ser um autor de alcance universal, fale de sua aldeia. É o que voce fez. Isso foi de propósito, de caso pensado, em traduzir em humor o cotidiano do "gringón" da sua região, com seus trejeitos, maneirismos, e identidade cultural, ou foi alguma encomenda específica, a criação deste personagem o Radicci?
A pergunta já é a resposta. Exatamente assim que foi criado. Uma professora me disse essa frase do Tolstoi e me marcou muito. O Radicci foi uma encomenda do meu primeiro editor, Paulo Cancian, para o jornal PIONEIRO, em 1983. Os dinossauros ainda andavam pela terra.
5 - Para quantos veículos você envia suas tirinhas atualmente?
Três, Pioneiro, ZH e Diário do Sudoeste no PR.
6 - Você acaba de conquistar um prêmio por seu trabalho. Fale deste premio, e você recebeu outros prêmios?
Foi o Prêmio ARI de Charge. Primeiro Lugar. Foi muito importante. As charges , bem como boa parte do Jornalismo, estão sendo atacadas, proscritas e nunca foram tão necessárias nesses tempos onde o obscurantismo tenta voltar. Ganho poucos prêmios por que participo de poucos concursos.
7 - Você tem uma equipe de trabalho, um atelier de criação, com roteiristas, desenhistas, tia do cafezinho, ou trabalha sozinho?
Tenho todos esses cargos ocupados por mim. Também coloquei a minha mulher como editora gráfica e ghostwriter
8 - Radicci pode ser considerado um personagem voltado ao público infantil?
Não, o Radicci não tem público específico.
9 - Radicci tem um posicionamento político ou ideológico? Você utiliza o personagem para fazer protestos?
Sim, o Radicci é um reacionário de grande potência. Uso as tiras não para fazer protesto, mas para escancarar essa realidade.
10 - Caso afirmativa a questão anterior, já teve algum tipo de censura, ou leitura negativa por parte de autoridades?
Sim, mas não prosperou nenhum processo. As duas vezes que fui interpelado judicialmente fui vencedor sem nenhum problema.
11 - Você tem outros personagens, excluindo a mulher, pai, e filho do próprio Radicci?
Sim,já tive o Frederico e Fellin, um menino e um gato. Tenho também o Deus & o Diabo e a Jaquirana Air, um empresa aérea bagual. www.jaquiranaair.com.br
12 - Você já teve algum convite para trabalhar fora do Brasil?
Só trabalho escravo ou outra hipóteses piores.
13 - Algum convite para exportar e traduzir o Radicci?
Sim, uma vez. Lancei o Radicci na feira do livro de ROMA, traduzido, se isso é possível, e a edição esgotou.
14 - Você é natural de onde?
Caxias do Sul RS Brasil Terra Via Lactea
15 - Você tem pública predileção por pescaria de trutas, e até algumas vezes tem usado o argumento dos pescadores em suas tirinhas. Que outras preferencias tem o Radicci (personagem agora), alem de se emborrachar de vinho?
Menos,menos. Aprecio tudo que o Radicci aprecia ( menos o Mussollini! ) mas com moderação.
16 - Você já produziu alguma animação do Radicci? Pensa em fazer?
Ainda não. Não fiz pois não sei como fazê-la mas aceitaria que alguém para essa empreitada.
17 - Como este blog tem uma grande afinidade com Gramado, tenho que perguntar se você já fez alguma coisa tendo Gramado como cenário, considerando a grande influência italiana no lugar?
Sim, algumas tiras e charges. Sempre fazendo menção ao nível de excelência que o turismo chegou. Além das artes das 23 edições da Corrida pela Vida do ICI RS.
18 - Sendo você de descendência e acentuada cultura italiana, é preso a um único estilo, ou tem personagens alemães, portugueses, por exemplo?
Tenho a Jaquirana Air, puro pelo duro. Tenho dois personagens para o mercado do EUA que ainda estão na plataforma de lançamento.
19 - Seu recente livro sobra a Jaquirana Air, parece que retrata bastante os costumes e linguajar próprio dos portugueses assimilados que vivem na Serra Gaúcha. Como você construiu seus personagens deste formato étnico e cultural?
Como sempre faço. Observação, estudo e aumento da realidade.
20 - Que recursos você utiliza na elaboração de seus desenhos?
Nanquim, bico de pena, pincel e, para finalizar, coloridos artificialmente no photoshop.
21 - Que recomendação o Radicci faria à você, nesta entrevista inusitada a um desconhecido, que talvez até lhe ofereça bala de maconha e que pode botar maconha na sua coca cola, se descuidar?
Atenti ragazzi! Non me aceita nada dos outros, incluindo gerentes de banco!
22 - Nesta pergunta anterior, há um pitoresco do imaginário popular dos anos 70 sobre as drogas e seu uso, e com o advento da internet, casos absurdos caíram no imaginário do internauta desinformado, como o caso do sujeito que apareceu nu, em uma banheira cheia de gelo, sem um rim, e com um celular antigo ao lado. Você já utilizou esse tipo de fonte para trabalhar suas tiras?
Nossa! Essa eu nem sabia. Por isso non me tomo do copo dos outros!
23 - Papai Noel existe, ou é só teoria da conspiração inventada pelo coelhinho?
Sim,existe. O problema que ele passa os outros onze meses fazendo bico. O coelhinho é quem controla tudo.
24 - Quer que eu pergunte mais alguma coisa, ou posso sair pra fazer meu lanche agora?
Demorou! Tó só pelo pastel de queijo. Vamos embora!
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