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terça-feira, 12 de novembro de 2019

Quando uma voz se multiplica por uma causa - A liberdade como Bandeira




Triste povo, o que precisa de heróis. Bem-aventurado o povo que faz de si próprio o herói que buscava. Heroísmo é aquela ação que excede nossas forças, ou as forças externas em nosso cuidado, em situação de extremo perigo. Ninguém nasce herói. A situação o torna herói. E nem sempre o herói é o que está certo, mas é o que ultrapassa seus e nossos limites para agir em tempos de crise. Herói nem sempre é inteligente, bonito, ou fala com timidez (a ser analisado pela psicanálise: por que todo heróis, no seu disfarce de vida real, é alguém muito tímido, o que nunca termina bem com a namorada, ou que tem uma situação em conflito não resolvida?). Às vezes o herói pode ser alguém que surge do inesperado e que toma atitudes desesperadas por causas impossíveis.
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Havia uma causa: "O veado desgarrado e apátrida, disputado e acolhido, sem entender nada do que estava se passando - O "Chico"! A causa era conseguir convencer a opinião pública a comover-se com o caso, e agir em favor da proposta de tomar o "Chico" de um lugar, porque fora tomado de outro, pela arbitrariedade da Lei, e fazê-lo ser devolvido, a quem quer que fosse, por força do coração, independente da razão. E a razão dava guarida ao hospedeiro escolhido, enquanto que o coração dos que o entregaram mansamente, ao perceberem o vazio deixado, e pela injusta desigualdade de forças que competiam pela guarda de "Chico", começava a gritar alto, tão alto, ao ponto de convencer-me, por aliados do primeiro hospedeiro, a tornar-me o agente desta convicção pública quanto ao ocorrido. Foi o que fiz: escrevi, do meu jeito de escrever, opinando sem opinar, mas dando minha opinião, escolhendo as palavras certas, para elaborar o texto adequado, e lancei ao vento, envolto em argumentos que colocasse meus leitores e seus amigos, em suas redes sociais, a adotarem para si a causa de  ampliar esta mobilização, até que chegasse aos personagens capazes de decidirem favoravelmente à ação proposta. Meu trabalho terminou ali. Fiz o que sempre faço: levanto perguntas que suscitam outras perguntas, e em poucas horas, milhares de pessoas, desconhecidas entre si diretamente, adotaram incondicionalmente a causa de "libertar o Chico" (acho que já vi isso em algum lugar, mas não lembro exatamente onde , deu um "vermelho" na minha memória). Bem, o "Chico" continua ainda recebendo brioches de aveia com leite de Rena da Lapônia, com sequilhos flambados e alpiste torrado caramelizado, em um cenário de conto de fadas, talvez até gostando da situação, contando como benefício acrescido o fato de que tem uma rena velha ali que talvez até durma ao seu lado nas noites quentes de verão, para espantar-lhe as moscas e lamber-lhe o cangote. Afinal, ele é um meninote ainda e precisa de conselhos sobre a vida ainda.

Mas, e o herói, onde fica? O herói é um corpo coletivo, capaz de dizer "sim" a uma causa, e mobilizar-se em conjunto com dezenas, centenas, e milhares de pessoas, não importando as consequências que acarretará para os envolvidos, começando consigo próprio. As pessoas não se mobilizam por pessoas ou animais. As pessoas se mobilizam e criam revoluções por causas. Se você quiser criar um ajuntamento, crie uma causa, e atire as galinhas às raposas. Depois, vá contar as penas, pois as raposas não estarão interessadas se as galinhas eram inocentes ou não. Raposas devoram galinhas, e pessoas militam em causas porque veem outras pessoas gritando as mesmas palavras de ordem, e como o Ser Humano tem pavor da ideia de sentir-se só, agrupa-se, e grita junto: "Mata, Esfola" Come as tripas!". E aí, as galinhas, cujas tripas fedem demais, já estarão sendo lambidas pelos bandos combinados de todas as raposas da floresta. Quando não houver mais galinhas para esfolarem, as raposas se dispersam, e cada uma sai trotando seus passinhos curtos, para suas tocas, á espera de um novo alerta de galinha para depenar, ou causa para participar.

Chico não é uma galinha, e as pessoas envolvidas não são raposas. Usei uma metáfora, para demonstrar que, antes de entrar numa causa, há necessidade de avaliar a dimensão daquela causa, o alcance dos resultados, e o poder de resposta dos adversários. Serei objetivo, prático, pragmático: O parque que recebeu o animal, não errou ao receber. A equipe da SEMA, não errou ao confiscar, nem tampouco errou ao encaminhar para quem, de acordo com seus registros, estaria legalmente apto a fazê-lo. Não errou a família que tomou atitude de denunciar o que considerava anti-ético, o fato do parque recebedor transformar o animal em espetáculo, e auferir lucro mediante sua apresentação durante os espetáculos que promove (acho que promove, nunca botei os pés no lugar), e tampouco errou quem começou a mobilização por devolução do animal à sua habitação de origem. Errou quem então?

Errou e errou feio, errou vergonhosamente, o departamento de marketing do parque, ao tomar as atitudes agressivas que tomou:
1 - Com a enxurrada de críticas, lacrou a página nas redes sociais>
2 - Ao abrir novamente, deu respostas agressivas, antipáticas, ameaçadoras, falando em "medidas judiciais cabíveis", não considerando que não existem medidas judicias que caibam em críticas à comportamento de ambiente aberto ao público, senão por excessos eventualmente cometidos, tais como: ofensa à moral de pessoas, injúria ou difamação caluniosa por eventuais agressões ao patrimônio, ou por grave ameaça á pessoa. Não houve nada disso. Houve o desabafo triste, sofrido, melancólico, de pessoas que, ainda que não conheçam nem o "Chico", nem seus cuidadores anteriores, foram movidos pela sensibilidade tão frequente diante de injustiças à indefesos, visto tantas vezes nas redes sociais. Aqui, a sensibilidade dos envolvidos, dezenas de milhares deles já, compreendeu que faltou sensibilidade ao parque em, já no primeiro momento, promover ações que minimizassem o problema, tais como: Destinar parte dos ingressos em determinado dia à instituições filantrópicas de Gramado e de São Francisco de Paula; ou, promover o dia da "Visita ao "Chico", agora com outro nome, e promover aulas de educação ambiental, explicando para as crianças e jovens as razões porque não se deve ter animais exóticos sem o amparo da Lei; ou convidar a população para que visitem o "Chico", com ingressos facilitados e campanhas de doação de alimentos, ou tantas outras campanhas, que transformariam o limão em limonada. E todos sairiam fortalecidos. Mas não foi isso que aconteceu, e pela forma agressiva, antipática, prepotente, que a direção tratou o assunto, fez-se necessária a formação de um corpo de heróis, de audazes, de valentes, de letrados, de Organizações pelo Direito dos Animais se manifestassem, em lugar de um simples comunicado, uma declaração que amenize o assunto, escrita com palavras certas, pouco técnicas, mas tomadas de afetividade, e sobretudo com humanidade, mostrando que atrás dos murros e das cercas do lugar, batem corações e corações sinceros, pois parece à mim, e aos leitores, muito, muito estranho, que um lugar que cobre ingressos elevados para vender a ideia de um lugar feliz, repleto de amor, trate a realidade como um fórum, onde quem argumenta mais, desmerece quem argumenta menos.

Não seria o caso do corpo de heróis reconhecer que não haverá vitória judicial, mas que a quem não sabe o que é um sorriso, deve-se emprestar um?  A voz se multiplicou e a liberdade do Chico, é a bandeira. Só que Chico é um apátrida. Está condenado a ser confinado em um palco de luzes e purpurina. Não pode ser solto no campo, pois pode mesclar-se à espécies endêmicas, e procriar uma nova raça na região. Afinal, ele não é touro, cavalo, Galinha, Peru, ganso, todas espécias "nativas" e que "nunca se misturaram. E a outra solução, seria radical demais, um absurdo: Castrá-lo!  Isso o deixaria imenso de gordo, voz afinada, e sujeito a "bullying". Não! Melhor a prisão purpurinada. Pelo menso tem as tias e quem sabe uma delas não lhe tá uma chance e nasce mais um "chico", para que ganhem mais dinheiro? A ser pensado.

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domingo, 10 de novembro de 2019

Leviatã - O Tamanho do Estado e a Transformação Política




Leviatã é o livro mais famoso do filósofo inglês Thomas Hobbes, publicado em 1651. O seu título se deve ao monstro bíblico Leviatã. O livro, cujo título por extenso é Leviatã ou matéria, forma e poder de um Estado eclesiástico e civil, trata da estrutura da sociedade organizada. 
Hobbes alega serem os humanos egoístas por natureza. Com essa natureza tenderiam a guerrear entre si, todos contra todos (Bellum omnia omnes). Assim, para não exterminarmo-nos uns aos outros será necessário um contrato social que estabeleça a paz, a qual levará os homens a abdicarem da guerra contra outros homens. Mas, egoístas que são, necessitam de um soberano (Leviatã) que puna aqueles que não obedecem ao contrato social. 
Nota-se que um soberano pode ser tanto uma pessoa quanto um grupo, eleito ou não. Porém, na perspectiva de Hobbes, a melhor forma de governo era a monarquia — sem a presença concomitante de um Parlamento, pois este dividiria o poder e, portanto, seria um estorvo ao Leviatã e levaria a sociedade ao caos (como na guerra civil inglesa).(Fonte: Wiki)
O Estado tornou-se agigantado com tal dimensão, que a autoridade fragmentada torna-se por si só, uma ditadura, um totalitarismo, e à medida em que se emaranha na própria teia, um autoritarismo despótico irreversível, causando, com isso, insegurança jurídica, instabilidade social, e desânimo patriótico. O que vemos nos acontecimentos recentes vai muito além das paixões por um e outro lado das diferenças tão gritantes que levam às ruas a resultante destas paixões acéfalas.
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O agigantamento do Estado faz gerar impostos excessivos e injustos. Suga da produção, da qualidade de vida, do posicionamento e competitividade de mercado, tanto interno quanto externo, de tal modo, que os governos, em lugar de se preocuparem em prover investimentos e melhoramentos ou manutenção da infraestrutura do Estado, consome-se em justificativas jurídicas, em embates ideológicos, que passam longe do âmago da questão, e ainda mais da defesa da honestidade em xeque de um e de outro lado, fazendo com isso, esvair-se o rendimento, e avolumar a discórdia. É como um paciente em estado avançado da doença, que necessita, de um lado, tomar antibióticos poderosos para não sucumbir à próxima febre, mas que no outro braço tem conectado um litro de nutrientes, para que o corpo sobrevida ao ataque, tanto da doença, quanto do remédio forte, e cheio de efeitos colaterais.
O Estado brasileiro e latino-americano foram apanhados num tsunami esperado e previsto, mas sem força nem aparato de reação. É como avisar que uma represa vai desabar sobre uma casa, e a fenda se abre a olhos vistos. Não se pode fazer nada para impedir, e não é uma questão de "se", nas de "quando" o desastre vai ocorrer. Assim funcionam as profecias, que são sobrenaturais, mas também as previsões, que usam métodos científicos, para anteciparem certos acontecimentos, ainda que inexoráveis, e tudo o que resta ao povo é aumentar a fé, e acreditar que desgraça só acontece com quem está longe, mas que quando cai sobre a própria pessoa, é perguntar-se: "Por que comigo?".
Na minha leitura otimista dos fatos, Direita e Esquerda perceberiam que o que fazem é danoso ao Estado, ao Povo. Que a Direita seria menos paixão e mais empenho em restaurar sua ideologia com moldes de inteligência, para elaborar um projeto cinquentenário de estabilidade, justiça, e tranquilidade. Já a Esquerda, neste modo de examinar as coisas, seja ela de oposição ou situação, perceberia que a veneração de ícones e pseudo-mártires, defendendo impunidade para uns e punição exemplar para outros, contanto que "uns" sejam de suas fileiras de luta, e "outros", os adversários. Só que, infelizmente não está acontecendo assim, não porque veja que este ou aquele grupo seja melhor pu pior, mas porque vejo que que este e aquele grupo estão insuflados pelo ódio, um pelo outro, e que ódio mútuo nunca foi cenário para diálogo, e o caos, como uma chama imorredoura, prolifera-se nos barris de pólvora espalhados pela nação.
Aqui, Hobbes, bem descreve o Leviatã como o Estado, que se agiganta, mas não supre suas necessidades, e que seus filhos servem como alimento para que o mesmo Estado continue vivo. E o Estado não se sustenta mais nesta dualidade destrutiva, que de democracia nada mais tem. E então Hobbes propõe que o absolutismo seja a solução para o caos estabelecido. E a solução de Hobbes está sendo aplicada já na América latina, por exemplo, no Peru, onde o Presidente em um canetaço, fechou o Congresso, e a Suprema Corte, porque estavam, a olhos vistos, mancomunados e acorrentados pela corrupção, engavetando inclusive processos da Lava-Jato brasileira, que denunciava propinas às suas autoridades e políticos.
O eventual fechamento das casas legislativas e do judiciário, seria até mesmo um alívio a eventuais políticos e magistrados enredados em chantagens de seus próprios atos vergonhosos, pois com o fechamento temporário, para investigação por uma corte militar, o que é constitucional, libertaria estes também corruptos e subornados eventuais, do jugo de seus corruptores.
É uma situação hipotética, mas factível e no pensamento de Hobbes, necessária, para que o Lobo pare de devorar outro Lobo, e também o povo, como sobremesa. Talvez sejam as Forças Armadas, requisitadas pela população, o "audaz cavaleiro em seu cavalo brando de Justiça", que deceparia a cabeça deste Leviatã, para alívio dos encarcerados em leitos de hospitais, em corredores sobre trapos ao chão, para os aposentados com seus minguados proventos á mercês de lobos escroques que  lambem gota a gota de seus proventos antes mesmos de serem retirados pelas financeiras famintas, em lugar de libertarem os enjaulados por mal-feito aos inocentes, por corrupção, por crimes hediondos, que se beneficiam de arrastão porque cinco juízes se blindam na auto-divindade, e destroçam o direito de justiça por parte dos inocentes, dos que pagam impostos, dos que não fazem arruaças, e que edificam, com sangue  e suor, os pilares de uma nação, cuja criança deva amar com fé e orgulho a terra onde gostariam de viver livre e soberana. Mesmo porque, em caso de abuso de autoridade, e má gestão pública, é mais fácil destituir um governante indigno, do que tentar transformar centenas de parlamentares com esta má índole, em um Parlamento confiável. Note-se que até mesmo os ditadores se consubstanciam pelo Parlamento e Judiciário manipulável. Deve sim, haver um supremo mandatário, com mandato de quatro anos e impedido de reeleição. A qualquer tempo.

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sábado, 9 de novembro de 2019

Não precisamos de heróis terceirizados- Precisamos ser os nossos próprios heróis



Nem vou filosofar de saída. Vou direto ao ponto. Esmagadora maioria de contemporâneos meus, de juventude, dos tempo da guaraná com rolha, que atravessaram os anos 70, e eram, assim como eu, deslumbrados pelos cabelos compridos dos rapazes, os vestidos coloridos e floreados das moças, mas principalmente pela ideia de que se nos rebelássemos contra o regime militar, se contássemos piadas infames de milicos, à sombra do anonimato, estaríamos contribuindo de corpo e alma para uma contra-revolução, uma libertação do regime, e a tradução de uma pátria livre, de uma América livre, hoje, esta esmagadora maioria, que como eu, acreditava no socialismo moreno, já não pensa mais deste modo. E não, não fomos subornados. Ninguém nos pagou para reavaliarmos nossos conceitos, e redesenharmos nossas opiniões. Mas não pensam mais assim, como eu não penso mais do modo que pensava.

Nunca fui comunista, mas devo confessar que a ideia de uma sociedade equilibrada, onde não haveria miséria, nem riqueza absurdamente distante do alcance de que qualquer pessoa que, por meritocracia, alcançasse sucesso, era algo que fascinava. E, e muitos amigos meus. Mas o tempo mudou. Nossos valores se transformaram, à medida em que nos casamos, geramos filhos, e construímos a sociedade que éramos capazes de construir. Fizemos sim, a nossa revolução, mas bem diferente do modo que as palavras emaranhadas dos intelectuais de então desenharam para que as repetíssemos. Até as repetimos, por certo tempo, mas o choro dos bebê no meio da madrugada, e as contas batendo à porta, logo cedo, pela manhã, pouco a pouco foram nos afastando dos ideais poéticos, e nos encaixando na realidade factível.

O tempo passou. Passaram as crises. Passou a vida, e continua a passar, não por nós, mas em nós. Nos instruímos, cada um a seu modo e lugar. Hoje nossos sonhos são contrastados com a possibilidade de os realizarmos por nós mesmos, sem esperar por milagres sobrenaturais (milagre é sempre sobrenatural), mas estribados no alcance de nossas pernas, na resistência de nossos braços, e na ânsia pelos sonhos dos que vieram depois: os nossos filhos.
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Hoje, através deste movimento alucinado de "Nós contra Eles", em que Direita e Esquerda se digladiam, vemos como espelhos do passado, os nossos próprios retratos, e são as nossas mãos quem seguram as mãos dos que sonham em nosso lugar, e nos defrontamos com contemporâneos que permaneceram congelados no tempo, e tornam-se os novos guias cegos, que gritam para que sejam ouvidos, e sejam seguidos por outros que ouvem, sem nada dizer. É decepcionante o paradoxo de vermos quem antes nos apaixonava, hoje nos apiedar, não o sabemos se por ignorância ou má fé. É decepcionante encontrarmos nossos ícones do passado, amordaçados pelo cego fanatismo, hibernando sobre livros mofos resgatados dos porões da ignomínia, e entregando-se em sacrifício por semideuses da discórdia, por brados de guerra que desejam ver, por gente que já esteve em nossas doces lembranças dos tempos de nossos próprios sonhos.

O mundo mudou, e nós nem sempre fomos capazes de mudar com a escola do pior do mundo. O mundo mudou porque pessoas mudam o mundo. Algumas, buscam doar-se para melhorar a sociedade. Outras buscam roubar a ânsia pela vida daqueles que necessitam de heróis. Não precisamos de heróis. Precisamos ser nossos próprios heróis, cada vez mais. Não precisamos de heróis inflados, que são levados pelo vento, e estouram na primeira adversidade que encontram. Nossos heróis não são aqueles que apenas um elementos os torna vulneráveis, uma "Kriptonita", mas somos os heróis onde tudo à nossa volta é "Kriptonita", e apenas um ponto nos torna vencedores: O nosso caráter! Não precisamos de mártires vazios de decência e cheios de ódio acumulado para construir a nossa sociedade. O que precisamos é de regarmos a semente que nos moveu na juventude em busca de equilibrio social e moral, e adaptarmos à sabedoria que a experiência nos legou.

O mundo muda a cada tecla de nossas cartas à vida, e são as mesmas letras que usamos para compor novas canções a cada dia. As mesmas letras, mas em novas palavras. Dia a dia, olhamos para o passado e tentamos localizar o "erro matriz", o nosso "pecado original", e o que encontramos são apenas sulcos e pegadas que deixamos atrás de nós.Até ai não há problema. O problema parece estar em que os que vem atrás de nós, não tenham discernimento ou vontade para abrirem seus próprios caminhos, e sigam os nossos mesmos erros, repitam as mesmas palavras, cantem as mesmas canções, em um dissonante coro que apenas  encaixa seu ritmo, tempo, e voz, nos madrigais regidos por outrem.

Não precisamos de novos maestros que movimentem suas batutas e nos ordenem que cantemos do jeito que eles determinarem. O que precisamos é sermos solistas de nossa inquietude, ainda que mil solistas nos cerquem com seus próprios solos. Verdade, que parecerá dissonante em um coro, mas o mundo é dissonante em suas ideias também. Precisamos cantar as nossas próprias canções, com a experiência da maturidade, com o mesmo vigor da juventude.

Não precisamos de heróis terceirizados pelos Partidos, mas precisamos terceirizar nossa identidade para que nossa voz seja ouvida, ainda que entre outras milhares, milhões, ou bilhões de outras vozes, cujos cantos são livres e cuja ,liberdade não vá além da liberdade dos que cantam ao nosso lado.







quinta-feira, 7 de novembro de 2019

De Profetas, Palhaços, e Vedetes - A grande orgia ideológica da nossa Política



A política é a mais contraditória e a mais necessária de todas as habilidades que o Ser Humano já conquistou. Se de um lado é agressiva, espalhafatosa, medíocre, e ineficaz, de outro lado é apenas um termômetro que mostra a "nata" do pensamento da sociedade plural. Se de um lado vemos pessoas que tem verdadeiro pavor de se defrontarem com políticos, por outro, há aqueles que sabem que um político, ainda que vulgar, é o espelho de uma sociedade livre. Somente os livres fazem política, ainda que que os medíocres fazem da política um esteio para sua liberdade econômica, ou seu estribo social. Ainda que existam profissionais da política, há profissionais que existem, apesar dos políticos. Mas para que possam exercer suas profissões com a liberdade de escolha, a chave é a boa política, e esta boa política encontra-se sob a tutela dos ainda resistentes, bons políticos.

Não podemos generalizar os políticos como corruptos ou ladrões, pois felizmente há os que não o são. Há políticos, dentre os bons, em duas categorias: Os que em determinada ocasião, aquiesceram à uma oportunidade de se dedicarem ao bem público, e cumprindo sua missão, abandonam a carreira política, para cederem lugar à carreira profissional. Estes são raros, mas existem. Há os políticos completamente apaixonados pela euforia dos embates cheios de retórica, e pelos braços e abraços do povo, que se deixam inebriar pelo permanente êxtase, ao ponto de envelhecerem na carreira política, anestesiando sua própria identidade pessoal, e assumindo cada vez mais a genética de seus eleitores. Para estes, fazer política. é respirar, saciar-se nos conluios e confabulações, para fazerem votar projetos, que muitas vezes nem são seus. No entanto, o cumprimento do dever cívico, os leva a abdicarem de suas vidas pessoais para se enfiarem permanentemente nos paletós escuros, e gravatas importadas, respirando debates e bebendo café.


Há os políticos que se julgam profetas, poetas, missionários, senão o próprio Messias entre os homens de boa vontade e muitos votos. Conjecturam e confabulam, vaticinam augúrios enquanto se entregam à imolação pelas causas que inventam. E há os que se pintam de bufões para levarem alegria aos seus currais. Levam a vida e a política na palhaçada, e o pior disso é que despertam o palhaço que há em nós, que votamos neles. E como votamos. Bufões profetas, poetas, palhaços e missionários de causas sem causa, quantos e quantos destes há por aí.

E por fim, há os políticos que se mostram como vedetes, os que granjeiam atenção com escândalos, com cabelos e roupas das melhores grifes, e estendem a mão molenga quando cumprimentam. Há os políticos que precisam de brilho, então apenas um breve "Bom dia!", torna-se um parlatório interminável. Tem olhar de lince para crianças de colo. Mal veem a mãe atravessando a calçada, que voam de braços abertos para beijarem os bebês. E depois as mães (ou antes). Deixam rastro de perfume francês até de vidro fechado nos carros luxuosos. Ou andam de calhambeques para se mesclarem ao povo, sem ostentação. Ostentam quando não ostentam. Orgulho da humildade.

E há os cidadãos que aceitam missões, cujo atalho para o bem comum é pela política. Pela boa política. Que se embrenham e se empenham a dedicados projetos, muitas vezes nem seus o são, mas acreditam no resultado das boas propostas. E para isso, negociam. E para isso gritam bravatas. E para isso transigem. E algumas vezes transgridem, afinal, eles somos nós, porque políticos nada mais são do que criaturas sem alma, criados á nossa imagem e semelhança, para que eles nos manipulem, até que a morte nos separe. Ou troquem de partido.

Qual político é o seu? Qual político lhe representa melhor? O profeta? O palhaço, o vedete? Ou a sua própria imagem diante do Parlamento, da cadeira do Poder? Qual político olhará para você e ver-se-á espelhado em seu caráter?

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sábado, 2 de novembro de 2019

O Espelho das Opiniões - Quem somos nós e quem desejamos que sejam nossos ícones?




Fui professor de desenho por muitos anos, e o tema mais procurado, era o Desenho de Perspectiva. (Baixe gratuitamente minha apostila clicando aqui). Gosto muito de desenho, de perspectiva, e de ensinar desenho de perspectiva. E quando eu explico o sentido da perspectiva, e digo que nesta modalidade de ilustração, temos que fazer a combinação de elementos reais, com elementos virtuais. Mas o que são elementos reais e virtuais, no desenho?

Você, querido leitor ou perfumada leitora, é um elemento real. Você pode ser dimensionado, ou dimensionada. Você também, pode ser identificado pelo seu peso, sua altura, sua voz, suas configuração genética, enfim, há muitas maneiras de determinar a sua existência na sala ou no ambiente onde se encontra. Assim, você é tão real quanto um pacote de biscoitos recheados, embora tenha, talvez, sabor um pouco diferente dos biscoitos. É um palpite, mas creio que sim. O preço também sobe um pouco, nesta análise. Mas ambos são reais, ainda que um seja quem coma o outro, continuam sendo reais.

Pois bem. Mas caso, você resolva esconder-se de uma visita inesperada, digamos, no seu quarto (eu ia dizer banheiro, mas é meio estranho ir comer biscoito recheado - o tal que não é você, dentro do banheiro). Então, ao adentrar no recinto, você dá de cara com aquele enorme espelho, com moldura laqueada, do tempo da sua avó. Certo! Você está diante de um legítimo espelho de cristal com 76 anos de existência. Que super! Uau! E o que está na sua mão? Ele, o pacote de bolachinha recheada, que não é você, já garantimos isso, e instantaneamente você começa a refletir sobre seu próprio reflexo: a sua imagem virtual! Eis o mistério do tempo e do espaço, resolvido pelas leis da física, a Reflexão! É ela quem coloca você instantaneamente em outra dimensão, onde você percebe através da visão, que seu cabelo está rebelde aquele dia, e que o espelho provavelmente esteja com desvio de superfície, pois sua barriga não pode ser tão grande quanto aparece na imagem. Certamente não era esta a imagem que você gostaria de encontrar, caso pudesse viajar de uma dimensão á outra, e encontrar-se consigo mesmo. Mas gente! Você acaba de promover este encontro, graças á sua determinação em não ter que dividir as bolachinhas recheadas do pacote, com as visitas comilonas que apareceram de última hora. Gente mal educada! Assim, você, beliscando-se, para sentir-se ainda você, se defronta com a sua imagem, que também se belisca (nunca vire de costas para uma imagem que pegou gosto por beliscar, pois sua bunda é a parte beliscável mais próxima desta imagem de si mesmo, além do fato de acidentalmente olhar pra trás e reconhecer-se aquele bundão de quem falava tanto mal há poucos dias atrás.

Às vezes, nós colocamos os outros, dentro de espelhos imaginários, onde podemos moldá-los à nossa imagem e desejada semelhança. Estas pessoas são aquelas com as quais nutrimos certa simpatia pelo que fazem, pelo que dizem, pelo que mostram, por suas ideias, por sua bela voz, por seu carisma, seja ele político, artístico, cultural, religioso, ou moral. Criamos os nossos ícones a partir daquilo que há em nós que nos identifica com tais pessoas. Chamamos isso de "tietagem", mas "tietagem", não é amor, não é afeto, não é admiração pelo valor da pessoa, do ícone, em si, mas porque ela é formada das nossas moléculas reflexivas, porque quando as vemos, vemos a nós mesmos dentro destes espelhos onde as colocamos para vê-las melhor, para manipulá-las melhor, para moldá-las cada vez mais à nossa semelhança, não semelhantes ao que somos, mas ao que desejaríamos ser.

Somos sedentos por heróis. Somos famintos por audazes que vistam uma capa de poder e deem-nos outra capa, para que voemos lado a lado em suas missões de salvamento de algo ou alguém, pois quando nossos heróis voam, voamos junto com eles, e quando nossos heróis são atacados, é em nós que batem as pedras dos ataques. Quando adotamos tais ícones, cobramos deles perfeição, aquela que nós não somos capazes de alcançar, porque somos reais. Estamos sujeitos às leis da gravidade, da biologia, da química, da física, de todas as leis que nos sustentam vivos e livres. Então, intensamente desejamos confrontar-nos com nossos espelho, porque quem está do outro lado do vidro, mergulhado na superfície de prata daquela moldura, é nosso "EU", livre destas leis, mas atrelado à nossos movimentos, e principalmente à intensidade da luz que fornecemos para a concretização deste encontro virtual.

Como eu escrevo sobre política, pergunto: E o que um ser que arde em incertezas, buscando respostas diante do espelho, tem a ver com política aqui neste ensaio? Talvez eu não dê a resposta, como de fato não gosto de encerrar uma questão, fato que encapsularia o leitor no círculo vicioso de perguntas e respostas, e um circulo vicioso jamais será resposta a nada. Assim, pergunto eu, para que a perfumada leitora e o distinto leitor, debatam com seu travesseiro e troquem ideias com seus botões: O que você espera da pessoa a quem, no mais profundo de sua intimidade, permitirá que seja o portador de sua vontade, soberana, graciosa, determinada, a não ser que o represente tão bem, que não seja ela a ver-se como real, e você como um fantoche virtual, que só existe quando há luz do outro lado, para refleti-lo do melhor modo visível?

Não seria o eleitor, enquanto cidadão, sujeito às determinações daqueles em quem votaram, durante os quatro anos, apenas uma imagem refletida, sujeita ao querer e ao efetuar daqueles que se sentem de fato, reais, por terem peso, passo, e pensamento, revestidos da terceira dimensão da sua (falo com você, presta atenção, ou quer levar uns tabefes pra acordar?) imagem, que pensa que os manipula, mas que na verdade o espelho é deles?
]
Falei difícil: Era a intenção. Se não entendeu, leia de novo. Eu não estou emprestando minhas ideias e palavras para gente sem cérebro. Você tem um. Use-o, senão alguém vai fazer uso dele. Para manipulá-lo, por exemplo. Para fazer de seu voto, um espelho, para suas patifarias, se for esta a sua imagem refletida do lado de lá do espelho. Vai votar errado, ou vai examinar com lente grossa cada movimento de seus candidatos? Ou vai deixar para escolher na última hora, tirando a sorte?

Vai você esperar que apareçam candidatos, ou vai tomar a iniciativa de escolher e promover você mesmo a candidatura de quem você acredita que possa fazer melhor por sua cidade, sua família, por você? Ou quem sabe, seja você mesmo no espelho, dos dois lados, e comece o seu tempo de determinação própria?



Olá!
Sou Pacard (Paulo Cardoso), Escritor, Gramadense de adoção e coração, e às vezes, gosto de pensar que D-s me fez andar por muitos caminhos, atravessar muitos pântanos, tropeçar em muitas pedras, isso tudo, como um conjunto de oportunidades para meu amadurecimento pessoal, interpessoal, humanitário, político, ético, e religioso. É o que chamamos de "Escola da Vida". E hoje vejo-me com a graciosa oportunidade de servir à minha comunidade, ao meu chão amado, à minha querência natal, com as letras que tanto amo, sob a forma de crônicas, ensaios, e aconselhamentos coletivos. É assim que vejo meu trabalho. E meus valores são: D-s (Deus), Família, Gramado, e o resto do mundo, se sobrar tempo.



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terça-feira, 29 de outubro de 2019

Acangaú - Voltar à cabeça do poço - As revoluções de uma "civilização" chamada "Gramado"


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Foto: Nascente do rio São Francisco - Picture of Parque Nacional da Serra da Canastra, Sao Roque de Minas - TripAdvisor

Acangaú, uma palavra de origem Tupi-Guarani, que é traduzida como: Voltar à Cabeça do Poço. Vale com isso, dizer, retornar às origens. Buscar a nascente do rio, onde se bebe água limpa. Tive oportunidade de criar um seminário no Norte Catarinense, um dos maiores polos moveleiros do Brasil, onde fui chamado para criar um projeto de inovação e gestão de design, cujo objetivo era capacitar empresários deste setor ao retorno ao mercado brasileiro, a partir da gestão de design para inovação tecnológica. Isso foi lá por 2009 a 2012. Isso aconteceu porque o polo de São Bento do Sul, que engloba também os municípios de Rio Negrinho, Campo Alegre, além de São Bento do Sul, havia deixado de atender o mercado brasileiro por cerca de 40 anos antes, em razão de seu grande preparo e tecnologia com suficiente capacidade para atender o mercado internacional, motivado também pelo Dólar convidativo, e seu potencial de produção em larga escala. o enfraquecimento do mercado interno, pelo baixo volume e concorrência com as empresas ditas de "fundo de quintal", que tinha certa paixão por esquivar-se de tributar suas vendas, aliado à inadimplência contumaz dos clientes, o que permitiu com grande facilidade a tomada de decisão de deixar de fornecer aqueles que pagavam mal e compravam pouco, em benefício dos que compravam muito, em quantidades repetitivas, favorecendo o crescimento rápido, e pagavam em moeda verde, o Dólar. Assim, por quatro décadas, o Brasil deixou de comprar móveis de São Bento do Sul, e pulverizou seu fornecimento em outros polos, como Bento Gonçalves (RS), Linhares (ES), Arapongas (PR), e não, Gramado nunca chegou a preencher sequer uma fração do mercado moveleiro, com exceção de privilegiada camada com melhor poder aquisitivo, em âmbito regional.

Quando falo de mercado consumidor, faço referência a cerca de 100 milhões de pessoas, na época, em crescente situação de consumo, com poder aquisitivo baixo, que necessitava de produtos de larga produção, e baixo preço, condição que Gramado nunca teria, por diversos fatores. Assim manteve-se como fornecedor regional, de mobiliário de maior valor agregado, e com estilo próprio, denominado "Móvel de Gramado", razão de ostentação em casas de campo e  fazendas, por sua rusticidade e estilo, e mais tarde, migrando para estilos mais urbanos, mas ainda com certa rusticidade, e fabricação quase artesanal, necessitando de profissionais bem treinados, e tempo extra para acabamento e pintura, uma vez que o clima de Gramado não oferece acolhida favorável à pintura e acabamento em ambiente natural, devido o clima temperado e frio, chuvoso, de umidade elevada.

Associado ao clima desfavorável, à falta de espaço para um distrito industrial, a mão de obra tornou-se cada vez mais rara, considerando que outras oportunidades de trabalho e emprego, em condições mais favoráveis, tornaram-se como o lendário "Flautista de Hamelim", o vácuo que tirou das fábricas, e os enviando para a hotelaria, comercio, serviços ao turismo, os fortes braços que antes "paleteavam" pranchas pesadas, cedo de manhã, sob temperaturas negativas, e diante destas novas alternativas, não pensaram duas vezes e trocaram, de contínuo, o barulho das máquinas, pelo perfume do café da manhã nos hotéis, e a alegria dos hóspedes que deixavam agradáveis gorjetas em troca desta amabilidade. Assim de uma a uma, as fábricas de móveis de Gramado, foram sendo fechadas, e permaneceram aquelas que investiram em tecnologia, design, e bons salários, para manterem-se no mercado, agora ainda mais competitivo que antes.

Falei dos móveis, mas associo a esta inundação de novas oportunidades, a diversificação de ofertas e entretenimento ao turismo, como a criação de parques temáticos, a fabricação de chocolate caseiro, a abertura das comunidades rurais como valor agregado de permanência dos turistas em Gramado, assim como, e principalmente, os eventos, pequenos e grandes, que pulverizam motivos e oportunidades de enriquecimento comercial, profissional, social, e cultural, que a cidade construiu como uma câmara de descompressão para enfrentar as grandes crises nacionais.

Gramado criou em si e para si, uma legendária fama de paraíso na terra, onde centenas de milhares, e por que não dizer, milhões de pessoas, ainda que não acreditem, ou desconhecem as profecias que  falam em um paraíso restaurado na Terra, com a chegada do Messias, tem como sonho de consumo, se não morar, ao menos visitar Gramado, pelo menos uma vez na vida, assim como todo devoto islâmico deve visitar Meca,  e aproveitar o máximo de suas delícias.

O mundo é cíclico, e todas as grandes civilizações já se foram. Delas restam apenas fragmentos enterrados na poeira dos anos, e que retrata duas coisas muito simples: Sua cultura e sua religiosidade É por meio destes vestígios encontrados, que os arqueólogos desenham o possível desenvolvimento humano sob os costumes destas civilizações. É por meio de um fragmento de estátua ou tijolo, que é possível desenhar-se o cenário e o dia a dia daqueles povos. cujas civilizações tiveram seu princípio, seu apogeu, e seu declínio. Após este prefácio, segue a pergunta do dia: Gramado, dentro do contexto de identidade nacional, e em comparação à milhares de outros municípios, tem já demarcados os seus limites do coletivo, e iniciado o seu rascunho de uma pequena civilização , ou começa aos poucos a se redesenhar para a história? Em qual lugar você, meu querido leitor e minha perfumada leitora, estará neste mural de originalidades e grandes feitos, quando for descortinado o passado, em algum tempo e lugar no futuro? Quem é você e qual seu papel em desenhar uma história, cujas páginas já se desenham a cada manhã que você sai de sua casa para edificar uma cidadela? Quem é você neste livro, e em quais páginas suas digitais tocaram, para que possa receber o merecido registro nesta civilização?

Acangaú diz que somos uma volta à "cabeça do poço", num tempo em que o certo e o errado se mesclam, em que o aceitável substitui  o bom, e que o ótimo é apenas uma figura de retórica. Diz que precisamos cessar por algum tempo, ainda que pouco, aquilo que estamos fazendo, e pensarmos no que representa o que fazemos, para enobrecer aquilo que outros encontrarão daquilo que nós deixamos.

Quando visitamos as páginas da história em nossos livros, ali encontraremos nomes de pessoas com as quais nunca trocamos um cumprimento, mas que, ainda que mortos, tornaram-se imortais nos registros das civilizações que construíram, e hoje conduzem até nosso modo de pensar e agir. Então, que nomes deixaremos nesta história? E caso não tenhamos as respostas, não deveríamosvoltar ao "Acangaú", para descobrirmos, pela limpidez da água, de que água bebemos até aqui, e que água beberemos daqui em diante?

Assim como o polo moveleiro de Santa Catarina, a seu tempo, entendeu necessário reciclar-se antes que os desejos do rio de sua história contaminassem sua nascente, como deveríamos visitar nossas própria nascente, e ali colhermos da melhor água, aquela que nos refresca a alma, mas nos molda o caráter e norteia nossa busca pela felicidade?

Acho bom pensar, antes que descubram este poço de águas límpidas, e o cerquem, para vendê-lo aos pedaços, como souvenir de um tempo e um lugar que não tem mais fonte para voltarmos.

Acangaú é o "Reiniciar" do computador que trava sem parar. Esfriar o processador. Limpar o lixo digital. Refrescar a memória. E bola pra frente!







segunda-feira, 28 de outubro de 2019

A Relação de Gramado com Direita e esquerda - Um pouco de História





Por muitos anos, falar em Direita ou Esquerda, era fora de moda. "Essa linguagem acabou", diziam, Vivíamos novos tempos, onde tínhamos que nos preocupar com inflação, preço dos combustíveis, vacinas eficientes para erradicar a possibilidade de epidemias, com os preços dos hortifrutigranjeiros, e o próximo capítulo das novelas.

Vivíamos em um estado de torpor político, uma sonolência de tal modo, que imaginar que teríamos diante de nós uma rachadura na parede do tempo, que deixou escapar todos os velhos fantasmas ao mesmo tempo, e que nossa perplexidade seria tão grande, em ocupar-nos a ouvir notícias mais e mais atualizadas, que deixamos de pensar. Deixamos de refletir, e deixamos, principalmente que a avalanche de informações mal formadas tomasse conta de nossas vidas. Que esculhambassem a organização de nossos sonhos e trajetos demarcados, a tal ponto que pensamos mais no que está acontecendo fora do nosso cercado, do que o que realmente pode acontecer, se não protegermos este cercado. Haverá mais raposias que galinhas. Mais lagartos, que ovos. Mais pulgas que cães e gatos, e em pouco tempo, aquilo que era nobre, resta pobre. Aquilo que era precioso, perde o valor. E a vida começa a perder o sentido.

O mundo está em convulsão, como a mãe nas dores do parto. A América começa a retornar ao tempo das cavernas, e o Brasil digladia-se entre Paulo Freire e Olavo de Carvalho. Entre Bolsonaristas e Lulistas. Entre o debate sobre o certo e o errado. Em lugar de trabalhar e pensar um país com justiça e paz social, pensa-se nas ideologias e em seus ideólogos, debate-se entre não depredar bens públicos, ou rotular as depredações como cultura emergente. Debate-se se homens e mulheres podem esfregar-se homens com homens e mulheres com mulheres, enquanto a morte banaliza a vida. e crianças não sabem mais definir quem são, de onde vem, e para onde poderão ir.

Os jovens e os adultos perdem dia após dia sua capacidade cognitiva e reflexiva, haja vista que mecanismos cibernéticos ultrapassam a velocidade da luz da razão e do conhecimento, e produzem máquinas capazes de pensar um bilhão de vezes mais rápido que suas congêneres recém construídas.

Jovens e adultos não tem mais uma linguagem comum de comunicação. Não há mais construção de diálogos e circunlóquios, onde nem mesmo o solilóquio mostra vontade de existir neste ambiente vazio. Crianças, bebês ainda, tem suas mentes invadidas pela velocidade das imagens e brilho da telinha do smartphone, quando ainda não sabem pronunciar o próprio nome, mas sabem trocar as imagens e a música que preferem. Sim, crianças de peito, já tem preferencias musicais, que nem sempre deveriam ser mostradas à elas, ou a qualquer adulto em estado normal de sanidade moral.

Podemos atribuir esta confusão mental e social ao esquerdismo de Gramsci, ou ao empoderamento marcial apregoado por Olavo? Também creio que nenhum dos dois teria infinitude mental suficiente para descrever o pré-apocalíptico mundo que nos arrasta a um corpo maior dentro da curva de espaço-tempo desenhada por Einstein, de cuja atração não temos como nos desviar. É mais forte que nossa vontade. É mais ágil que nossa capacidade de reação.

Assim, compreendendo que estamos sendo arrastados para essa inexorável convulsão, como podemos nos desprender desta teia abjeta, e viver nossas vidas como se vivia em priscas eras, tempo em que acreditamos hores, teríamos sido felizes e não havíamos percebido que esta imaginada felicidade tenha escorrido entre nossos dedos como mercúrio, um metal que brilha, mas não se sustenta?

Como Gramado e o gramadense participam deste processo, considerando que nunca foram atingidos por crise alguma, desde que disparou na sua vocação para a hospitalidade? Onde a Esquerda e a Direita podem interferir desta quietude social, em Gramado?

Para responder a estas perguntas (se é que podem ser respondido isso), precisamos passar um pente fino nas correntes que predominam em Gramado, a partir de sua fundação. Analisemos seus personagens.

Ano de 1954, a emancipação não tratava de viés ideológico, senão a vontade mútua de ter um município para gerir o progresso, e gerar receita e liberdade econômica e administrativa para seu pacato povo.

Ano de 1964, o golpe militar fecha o cerco em grupos de esquerda, onde alguns são presos, outros fogem, e o restante se aquieta nas suas casas, eliminando o quanto antes qualquer literatura e panfletaria que denunciasse sua preferência política.

Em 1968, as eleições acontecem, e um candidato alinhado com a esquerda, é eleito, mas em poucos dias, tanto o eleito, quanto seu vice, são destituídos, cassados, e assume o Presidente da Câmara, alinhado com os militares e com a direita. Gramado torna-se área de segurança nacional, e o Interventor tinha contato direto com o Governador, e com o Poder Central em Brasília.

O povo pouco percebeu, uma vez que começa no país uma onda crescente de prosperidade econômica, independente dos porões onde um e outro lado agiam, no resto do país. Gramado começou a prosperar e o artesanato, aliado às indústrias locais, garantiam a sobrevivência econômica à população, que entendia que um bom emprego era melhor que liberdade de expressão. Gramado torna-se rica a partir daí. É evidente que todo crescimento promove dores, as dores de crescimento, mas ainda assim, Gramado avoluma-se em status e empreendedorismo.

No campo político, no entanto, pouca coisa mudou. Partidos de direita e de esquerda, nas suas origens, passaram a disputar, não o avanço de suas ideologias, mas o comando administrativo da cidade. Apenas dois lados da mesma moeda avoluma suas fileiras, para disputarem um punhado de votos, o que realmente é, no resultado numérico das eleições. Com algumas exceções, Gramado se divide, literalmente, nesta época,  em duas grandes famílias, e mais que isso, famílias consanguíneas se fracionam, na defesa deste ou daquele candidato, e por fim, um e outro seguem quase a mesma linha de trabalho. O que muda são os cargos comissionados, os amigos, e os amigos dos amigos. De um e de outro lado.

Mas e a ideologia sobre direita ou esquerda, onde é que fica? Não fica! Direita e esquerda se confrontam apenas pelas redes sociais, onde uns malucos, e outros mais malucos ainda, se ofendem, e ao fim, tem que calar a boca e assentarem-se muitas vezes, lado a lado, nas horas de trabalho. Direita e esquerda não fazem parte da dieta do gramadense, pois a prosperidade econômica transformou Gramado em uma "ilha da fantasia", onde quem pode pagar, tem seus mais secretos desejos atendidos, especialmente se for comer, comer bem, e comer muito.

Nesta reflexão, faz diferença então se esquerda ou direita, lá no resto da país, de digladiarem, e uma delas enfraquecer diante da insistência da outra, tomando o poder e o jeito de governar? A resposta é sim! A direita pensa de um modo, conservador, ético, progressista, onde a livre iniciativa deve preceder o Estado, onde o indivíduo tem aquilo que conquistou, e o Estado não interfere na proporção ou desproporção entre ricos e pobres. A esquerda pensa de um modo politicamente correto,humanista, e estatizante. onde quem tem mais deva distribuir com aquele que tem menos, sob argumento que quem ganhou muito, ganhou porque explorou o que ganhou pouco, e assim, motiva a rebelião, sob a capa de democracia, para que se tome o muito e deprede o excedente do "explorador" capitalista que age contra o povo.

Assim, Talvez, pensar sobre isso, seja precipitado, porque Gramado continua sendo uma ilha. Portanto, nesse momento, sem saber como, Gramado favorece a direita. E neste modo de pensar, se realmente os ideais do Foro de São paulo prevalecerem, Gramado não poderá mais agir. Apenas reagir.

De qual lado você iria ficar nesta hipotética situação: Direita ou Esquerda?

sexta-feira, 25 de outubro de 2019

Fake News na política gramadense - O veneno no quintal alheio que não aduba o próprio quintal



Nem em sonho que eu vou usar este espaço sagrado do pensamento, para oferecer denúncias futriqueiras de que este ou aquele Partido Político, ou Cidadão, estejam metidos em notícias mentirosas, ou pra ser mais contemporâneo, em "fake news". Mas exatamente o que são as fake news, e como são prospectadas, como elas se multiplicam, e qual o métido mais eficiente de torná-las acreditadas, ainda que absurdas?

Vamos combinar que notícias mentirosas existem já desde o primeiro capítulo da Bíblia, quando uma serpente, servindo de caixa de som para o senhor dos infernos, deu credibilidade a uma ilação, usando como fonte O Próprio Criador, e por  esta base, encontrou a pessoa mais adequada (as opções eram poucas, mas por análise do comportamento de Eva, o departamento de RH das trevas concluiu que ela preencheria os requisitos para a função, e poderia começar imediatamente, desobrigando-a dos formulários padrões da empresa, partindo para o front, o "botton-up", a ação. O resto você já sabe, e ainda que não acredite no relato bíblico, vai acreditar nos efeitos em sua própria pele, quando encontra um candidato que quer colocar sua criancinha no colo, custe o que custar, e como a combinação de candidato-criancinha tem magnetismo próprio, câmeras e celulares aparecem assim, do nada, do "ex nihill", para registrar e espalhar a efeméride pela plêiade de curiosos, desocupados, que em lugar de trabalharem para não ter que enfrentar o SUS mais adiante, escolhem exercitar os polegares ao fazer correr as imagens na telinha do smartphone, e mais que ver, curtir, e passar adiante, precisam antes compartilharem com pelo menos 5 grupos diferentes, que começam tudo de novo e fazem o mesmo.

Notícias sensacionalistas nunca vem com advertência de: "Leia e delete! Esta mensagem se autodestruirá em dois minutos". Não. Isso só acontece em filmes com Tom Cruise e Sean Conery (ainda que na versão Roger Moore, Daniel Craig, Pierce Brosnan, e outros), em que um gravadorzinho de fita começa a derreter, assim, do nada, que é quando de fato começa o filme.

Notícias sensacionalistas, e em muitos casos, antigas e mentirosas, vem com selinho de: "Não deixe de compartilhar esta mensagem, até que ela chegue no Luciano Huck".  Hoje tem também outro Luciano, destinatário de pedidos de emprego: Luciano Hang!

Mas, e Gramado, o que tem a ver com isso? Pois Gramado é o foco dos meus comentários, então devo dizer, consternado, que estes movimentos noturnos e soturnos de derramamento de panfletos, a poucas horas que antecedem a eleição, são tão antigos quanto a própria existência do Município, senão ainda antes. Darei apenas um exemplo com citação de nomes, porque são parentes meus, e ambos já não tem como ler o que escrevo: José Tristão, irmão de Manuel de Oliveira, irmãos, um do outros e outro do um, se odiavam. José odiava Manoel, e não contente com o ódio próprio, espalhava ilações sobre o próprio irmão do seguinte modo: Escrevia bilhetes, difamando o irmão dizendo:  "Manoel, bandido! Manoel Ladrão! E enfiava os bilhetes debaixo da porta do Forum ou da delegacia de Polícia. Evidentemente que era desmascarado, pelo primor da letra que tinha, e a coisa terminava virando chacota, não gerando consequência a um ou outro. Caíam no pitoresco apenas.

Mas durante as campanhas políticas, as gráficas de fundo de quintal, lavavam a égua, de tanto reproduzirem notícias difamatórias de um e outro candidato, de um e outro Partido, e de um contra o outro, ao mesmo tempo. Sem mencionar o tipo de trabalho, eu mesmo já vi uma determinada empresa reproduzir aos milhares, e ao mesmo tempo, material difamatório de candidatos oponentes. Houve ainda um fato bastante conhecido, onde um candidato a Prefeito tinha uma vantagem considerável sobre seu oponente, quando pouco antes do amanhecer, as casas amanheceram forradas de fac-símiles de documentos que se ocupavam em demonstrar que houvera fraude em uma obra pública, e que, ainda que inocentado no Superior Tribunal de Justiça, muitos anos depois, naquele momento serviu para reverter a eleição a favor de seu oponente, e o candidato difamado por via indireta, sofreu uma derrota histórica de apenas 11 (isso mesmo, onze) votos.

Em uma eleição mais tarde, e preocupado para que o fato não se repetisse, um político da velha escola, procurou-me para alertar-me de que seria necessário uma vigília, que de fato aconteceu, de centenas de militantes, na madrugada do pleito, porque "os opositores eram sujos, e tinham o costume de espalhar panfletagem sórdida às vésperas da campanha". Relatei o fato ao coordenador da campanha, que riu aos frouxos, e me contou que ele, o político preocupado com a panfletagem, havia sido o mentor das piores panfletagens políticas, em anos passados. Enfim, tudo farinha bichada do mesmo saco.

As fake news foram aprimoradas, pelo menos na velocidade dos bits, e hoje há tanta mentira pulverizada com jeito de verdade, pelas redes sociais, que existem profissionais do submundo especializados em montar notícias falsas com aparência de verdadeiras, e pode-se perceber nitidamente que são as mesmas notícias, em sites que você nunca ouviu falar, ou ainda pior, em sites com os mesmos nomes de veículos poderosos da imprensa brasileira ou internacional, mas que sutilmente tem um pontinho a mais, ou um hífen, ou até mesmo uma palavrinha no endereço, que engana facilmente o leitor a abrir o link, e perder seu tempo, lendo besteira, e pior que isso, compartilhando estupidez.

As lendas urbanas sempre fizeram parte do imaginário humano. No início da internet, o pavor está voltado à terrível notícia de um homem que teria sido encontrado inteiramente nu, em uma banheira com gelo, num canto de uma praça, cm um telefone celular antigo, ao lado, e sem um dos rins. E as pessoas espalhavam isso. Por anos.

Em Gramado, as fake news são menos criativas. tratam, geralmente de fatos verdadeiros, mas incompletos, distorcidos, que mostram gravações de servidores manipulando o sistema de processamento de dados da Prefeitura, ou espalha prints dos boletos dos servidores mais bem pagos, ou ainda documentação incompleta, de documentos internos sobre aquisição de bens, e assim por diante.

Como os tempos mudaram, falar mal da família, arrumar amante, não funciona mais, pois telhado de vidro é coisa que aumenta cada dia mais, e parece que houve certo amadurecimento do eleitor em relação à interferência na vida pessoal dos que pleiteiam cargos no Poder Público de Gramado.

As fake news de hoje são muito mais no campo ideológico, do que de criminal, embora opiniões de método também sirvam para insuflar a raiva contra os desafetos, como a venda de terrenos por um, ou a compra de terrenos por outros. Aqui trata-se muito mais de opinião e preferência de gestão, do que tema de submundo da verdade. Ainda assim, o Ser Humano, seja ele político, ou normal, tende a enfraquecer a lavoura do vizinho, imaginando que com isso estará vitaminando a sua própria lavoura. Não está. Envenenar o quintal alheio não faz crescer as suas próprias cenouras.

Teria eu, humilde escriba e provocador do pensamento alheio, uma alternativa para avançar no crescimento moral, pular a etapa das ofensas, e construir a Gramado mais humanizada, que todos (ou quase todos) desejam?  Bem, não tenho todas as respostas, mas estou á procura das melhores perguntas, então, antes de espalhar uma notícia, eu perguntaria à pessoa envolvida, qual a sua posição acerca daquela questão? Pelo menos eu tenho feito assim, e o que percebo, é que muitas vezes as pessoas optam pelo silêncio, e esperam para lerem o que eu escrevi sobre o assunto. Muitas vezes, não escrevo nada, pois minha intenção não é difamar ninguém, mas oferecer soluções para o bem estar comum. Nem sempre reconhecem isso, mas isso não muda a minha percepção da necessidade de atirar adubo em lugar de pesticida na lavoura alheia, se o caso for atirar alguma coisa. Mesmo que o adubo seja esterco animal. Se forem dejetos humanos, torna-se fake news.

Devo confessar que, meu sonho, é ver uma campanha onde ninguém desmerece o oponente. Apenas ocupa-se em promover sua própria plataforma. Talvez alguns nem tenham plataforma ou propostas, daí a necessidade de sujar o quintal do outro.






quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Quando urgem os leões - Redesenhando a Política em Gramado


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Não. Eu não errei a digitação do título desta reflexão. O leão "ruge", mas nesse caso, os leões "urgem", de "urgente", de "são necessários com brevidade", no sentido de que Gramado urge de novos leões, se quiser fazer as mudanças apregoadas, por todos os candidatos, que prometem tais mudanças desde que ouvi falar de política pela primeira vez. Todos prometem mudanças, e alguns
ousam prometer mudanças radicais, mudanças monumentais, seja no aspecto urbanístico, administrativo, social, e até mesmo comportamental. E de fato, todos fazem certas mudanças, no modo de atendimento ao cidadão, na modernização, em obras pequenas ou grandes, ou negativamente, sem citar casos, que não é o escopo da leitura.

Nós mudamos continuamente. Não nascemos com raízes, nem temos a massa, o peso, e a solidez quase imutável de uma rocha, e por isso mudamos. Nossos gostos mudam. Nosso comportamento muda, como mudamos de casa, de cidade, de roupa, como mudamos de partido político, ou de preferência eleitoral.

O primeiro erro, pela minha leitura, é pensar que somos casados com nossas convicções, pois até os casamentos podem terminar em divórcio, porque uma, ou ambas as partes, passam a discordar de coisas que antes os unia. Partidos são assim. São criados em momento de crise ou oportunidade de benefícios ideológicos (fico por aqui nesse tocante), para formarem novos ajuntamentos, e participarem do processo seletivo e eletivo de sua localidade política. Assim pensando, somos livres para decidir pelas nossas escolhas, embora este não seja um caminho tão simples, pois ainda que alguém tenha mudado de opinião ou linha ideológica, virá sempre outro alguém a constrangê-lo acerca desta mudança. Neste livre pensar, somos dominados pelas conveniências alheias, e mais uma vez percebemos que não somos nós quem decidimos as nossas escolhas, assim também, no oposto disso, também somos nós quem decidimos pelas escolhas alheias. É uma troca de vinganças, onde eu não sou livre, e por esta razão eu freio a liberdade do outro, não porque discorde de seu pensamento, mas porque se eu não sou livre, quero que ele também não o seja.

A Democracia que pregamos pode ser, sob a capa de liberdade, uma falsa ideia, que é dominada pela política de bom relacionamento, ou pela má política do constrangimento. Nossa Democracia permite que votemos e nos encantemos com pessoas que nunca vimos antes, mas passamos à elas uma notoriedade que nunca teriam, se não fosse nossa própria ânsia por fortalecer os leões que rugem por nós, quando nós, às ocultas,  desejamos ser os leões que rugem por elas, ou em desafio à elas.

A política em Gramado não é diferente da política do resto do Brasil, e ouso dizer, que de grande parte do mundo, onde o  velho coronelismo, o velho caudilhismo se perpetua, não porque tenha propostas avantajadas para os eleitores, mas porque fomos capazes de desmascarar as propostas avantajadas dos oponentes. Ora! Se os políticos são os mesmos, ou mantém a mesma cantilena, os eleitores também não mudaram em nada, apenas trocaram de pessoas, com CPFs novos, porém, suas características são conservadoras e conservadas, e não é que faltam pessoas capacitadas para mudarem esse tipo de política, mas porque faltam eleitores renovados que poderiam mudar estas práticas.

Deste modo, urgem leões que conjuguem suas vozes de leões no modo imperativo: "Que rujamos nós", para que não rujam eles. Que rujamos hoje para que não silenciem eles amanhã. Que se desejamos mudanças, primeiro definamos quais mudanças queremos, e que ato contínuo, sejamos nós estas mudanças, pois quem ruge por primeiro, e se ainda conseguir rugir por último, rugirá melhor. Afinal, leões não são eternos, e precisam gerar filhotes para que rujam por eles. Gramado sempre teve este problema: Leões velhos e banguelas, sempre enxotaram e devoravam os leõezinhos enquanto ainda miavam.





terça-feira, 22 de outubro de 2019

AS SOMBRAS DA JANELA





Apenas pássaros. E pássaros que não podem voar,
não podem ser pássaros, pois voar é preciso
para que sejam cada vez mais.

Ouvia Debussy.
Em plena metade da manhã, ele ouvia Debussy.
As manhãs não foram feitas para Debussy. Talvez
Vivaldi. Debussy, não. Este tem seu lugar ao entardecer.
Chopin, vem logo mais adiante, no alto da escuridão. Mas
para as manhãs, Grieg poderia fazer companhia a Debussy.

No entanto ele ouvia Debussy enquanto a mão
trêmula desenhava algo no vidro suado da janela. Desenhava
ou escrevia. A água condensada pelo calor da mão escorria
fazendo borrar o que já havia desenhado. Pareciam círculos,
repetidos, mecânicos.

O seu olhar não mirava as mãos que pareciam
mecânicas, no gesto hipnótico de circular no vazio. Olhava
num ponto perdido entre o infinito de seus pensamentos e o
horizonte avermelhado.
Uma lágrima verteu enquanto premia os lábios
contendo o choro. Mas a alma já chorava havia muito tempo
antes.

Lá fora, o sol brincava de ir e vir entre nuvens
apressadas, e o riacho murmuravam quebrando o silêncio.
Um pássaro perdido buscava gravetos com pressa próprios
dos pássaros, compensando o inverno que avisava de sua
chegada. Com chuva. Fina e fria.
Fechava-se o céu. As cores mudaram e cada vez mais
embaçado o vidro ficava.

Debussy no velho toca-discos continuava a tocar
numa interminável homilia ao amor perdido. Numa elegia à
solidão.

Numa compensação pela dor, apenas se quebrava a
mágica combinação da música com a paisagem e o
pensamento, o ruído das falhas do disco de vinil antigo.

Ele havia sonhado voar alto, mas calculara errado o
alcance do voo. Suas asas, como as de Ícaro, se partiram,
escoaram no sol da realidade, e o levaram a estatelar-se no
chão. Restava agora o recomeçar. Sem as asas, que eram seus
sonhos. Com a dor da queda. Apenas ainda o olhar aguçado,
para que distante pudesse ver e sofrer pelo que havia
perdido.

Seus sonhos eram tantos. Uns tangíveis, outros eram
brumas.

Pequenos sonhos povoavam sua alma como uma
multidão de pequenos pássaros voejando em sua existência.
Eram pássaros pequenos e nada mais. Apenas pássaros. E
pássaros que não podem voar, não podem ser pássaros, pois
voar é preciso para que sejam cada vez mais pássaros. E livres
possam voar...

A música acabou, mas o disco continuou a girar. A
agulha travou e o último acorde se repetia
interminavelmente da vitrola...
Seus pensamentos se repetiam em pequenas partes.
Apenas as partes boas de serem lembradas.


segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Pra não dizer que não lembrei dos loucos





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Erasmo de Roterdã, escreveu, em homenagem ao amigo Thomas Morus (autor de "Utopia"), um livrinho com apenas 78 páginas, contando com o prefácio, onde faz uma bem humorada e inteligente crítica à Igreja católica, mas de forma tão bem feita, que até o Papa Leão X achou a obra divertida. Esta mesma obra foi um dos gatilhos para o surgimento do Protestantismo.

O livro começa com um aspecto satírico para depois tomar um aspecto mais sombrio, em uma série de orações, já que a loucura aprecia a auto-depreciação, e passa então a uma apreciação satírica dos abusos supersticiosos da doutrina católica e das práticas corruptas da Igreja Católica Romana. O ensaio termina com um testamento claro e por vezes emocionante dos ideais cristãos.

Então, o que parece ser uma elegia satírica, torna-se um preâmbulo para o próximo capítulo do pensamento ocidental. Mas o tema central é a Loucura, uma personagem, que trago para minhas reflexões, e direciono como um obelisco imaterial, que mostra o fálico torpor do louco que habita pelas vielas de todo lugar por onde passamos. Atrás de casa esquina, à sombra de cada poste á noite, um ser quase irreal contorce-se com angustiante certeza, anunciando, ora o fim do mundo, ora a existência de um corrupto no seu sanduíche, e ao final de tudo, dá uma sonora gargalhada e cospe do café do freguês de um bar, que fica paralisado, não reage, ou reage com medo do louco. E o louco é louco, mas não é burro, e solta outra gargalhada e cospe de novo. No prato do outro freguês, que ria do primeiro.

Todo lugar tem um louco. O louco que quer ser rei, para sentar-se ao trono e bolinar as cortesãs. Ou quer ser o Primeiro-Ministro de um reino distante, para mudar a ordem das coisas. Anarquizar, talvez, esculhambar a sociedade estabelecida e fundar o caos. Todo lugar tem um louco. Não, não estou falando do perturbado mental, do esquizofrênico, daquele que sofre algum distúrbio de comportamento, não senhor. Estes são apenas pessoas enfermas. O louco não é assim, porque se finge de normal. Finge ser louco para que pensem que sua loucura é sua fraqueza, sem que percebam que são os loucos quem mandam no mundo (obrigado por emprestar-me a frase, amigo Professor Pachecão). Mandam sim, só que não são apanhados, porque disfarçam muito bem. Frequentam reuniões públicas, assembleias de condomínios, usam a tribuna do povo nas câmaras e assembleias, usam o poder esmagador de minoria confusa, e acabam constrangendo os demais a que se submetam aos seus "siricuticos e chiliques", quando são contrariados. Vociferam seu coitadismo e constrangem seus pares, e quando tudo termina, sorriem e arrumam a gola ao saírem, como se nada tivesse acontecido. Atrás de si, um cenário de tsunami mental. Pessoas com olhos esbugalhados, catalépticas, tremendo e enroscadas em posição fetal aos frouxos de riso ou choro, não definem bem o que seja. O louco passou por ali. Saiu à francesa para acorrentar-se na praça, em penitência pelos pecados alheios. Claro, se receber um óbulo por sua dor, a canequinha agradece.

Há os loucos humildes, mas também os pavões. À sua frente vão seus lacaios ( fico impressionado, como os loucos ainda arregimentam seguidores fiéis, tão fiéis?)tocando trombeta em uma bota de borracha jogada fora. Não se joga bota velha fora! - diz o louco, de dedo em riste, do alto de um pedestal de caixa de feira. E e entrega com solene piedade à um seguidor mais jovem, que sente-se profundamente honrado em receber de seu mestre tamanha deferência. E o lacaio toca novamente sua trombeta, no ouvido de um passageiro que espera pelo ônibus. O louco passa e todos se curvam, até quem não o conhece, pois curva-se porque todos se curvam, e ninguém quer ser diferente. Ninguém ousa mudar os marcos antigos da tradição, ainda que a tradição mande seguir um louco. O louco que inventou tal tradição. Cuidado que lá vem o louco, beijar a loucura, e dançar com a insanidade. Cuidado com o louco, berra outro louco. É sempre bom tomar cuidado. Especialmente com o louco, E pior ainda se ele não for louco, e só se faça de louco pra defecar no meio da sala? Que os faça, na casa dele, mas não na casa do povo. Senão, louco é quem escolheu o louco. Além de louco, quem faz isso, é também, burro.






A Professora ou Prostituta - Onde foi parar nossa gramática?




Alguém chamou-me à atenção de um fato aparentemente corriqueiro, porém, por demais intrigante, que é o significado das palavras. Eu mesmo, muitas vezes, recorro ao dicionário para assegurar-me da certeza de que devo usar aquela palavra que havia imaginado, mas bate a insegurança sobre seu significado, e corremos ao Vade Mecuum, o velho e bom Dicionário.

Houve um tempo em que chamávamos as palavras simplesmente de "Palavras", era simples assim, procurarmos por palavras difíceis, diferentes, pouco usuais. Este era meu passatempo literário favorito: descobrir palavras novas. Hoje, chamamos de "verbetes", que tem o mesmo significado de palavras simples, objetivas, e mais usuais.


O linguajar coloquial cresceu sobremodo, e um jargão de rua de hoje torna-se o verbete de amanhã, assim, de modo muito acelerado, nossa gramática se enriquece tanto, e tão depressa, que este excesso de informação acaba por corroer a formação, e assim, apocopamos frases em palavras e palavras em monossilábicos grunhidos, chegando aos novos hieróglifos, que são os "emojis", aquelas carinhas divertidas que usamos para sorrir, concordar, discordar, manifestar emoções, ao toque de um único dedo, economizando a leveza ou agressividade de um vernacular colóquio, ao ponto do nosso corretor digital não compreender mais expressões já quase em desuso, como esta que usei agora, "vernacular", ao que o robô sugere-me que eu troque por: "Vernaculizar, vernaculiza, ou cenacular" Pobre robô: nunca irá acompanhar a velocidade da mente humana, em se tratando de criar vocábulos e verbetes, traduzidos por palavras.


Este introito foi para apresentar argumentos ao absurdo que vi hoje, no verbete que mencionei neste preâmbulo: Entre no Google, o meta buscador, e digite (antes dizia-se "escreva" a palavra (desculpem, verbete): Professora, e o Google enviará para um conhecido "Dicionário Informal", cujo conteúdo satisfaz a grande maioria dos pseudo-pesquisadores, aqueles que se contentam com uma busca superficial, são os mesmos que não limpam a bunda senão com uma leve esfregadela de uma folha fina de papel, e saem dali sem lavar as mãos. Na linguagem e no conhecimento, não fazem diferente: coletam lixo e espalham imundície. Assim, se procurarmos a palavra "Professora", encontraremos duas definições, sendo a primeira, correta, mas incompleta, "A mulher que ensina ou exerce professorado". Já na segunda definição, diz que professora é: ""prostituta com quem adolescentes se iniciam na vida sexual", classificada como um "brasileirismo". Então, numa opção de escolha dos significados, o leitor poderia livremente entender que uma professora é, por definição vernacular, uma "puta". E os alunos poderiam ler isso e escrever tal infâmia na lousa, e sequer serem intimados a uma conversa com a Orientação Pedagógica da escola, porque o aluno nada mais fez do que repetir a terminologia recomendada pelo buscador "Big Brother".  Aqui começa a minha reflexão.


A quem interessa distorcer os valores, a partir das palavras, para que possam ser interpretadas como verdadeiras, ainda que não o sejam, porque na média absoluta, o robô acerta suas sintaxes, e vomita verbetes de acordo com sua conveniência cibernética. Assim, diante do mercado binário, se o robô disse, o robô está certo, e portanto, se o aluno entender desta forma, poderá passar uma cantada na sua professora, e caso ela teste o que aprendeu nas aulas de defesa corporal (Krav Magá, por exemplo), ela sim, a "Prostituta que ensina educação e iniciação sexual aos alunos", poderá ser levada aos tribunais por agressão a incapaz (incapaz de raciocinar é um tipo de incapacidade).


Minha leitura está naqueles números que aparecem no alto da página de pesquisa: Aproximadamente 16.400 milhões de resultados em 0,48 segundos (minha internet está lenta). Este tempo, 0,48 segundos, é o tempo que também o pesquisador (esse tipo de pesquisador) levará para absorver a informação, e muito, mas muito raramente, irá buscar outras fontes para  agregar mais e melhores verbetes ao seu conteúdo de palavras. 0,48 segundos bastam para formar um idiota. E se o Google falou, quem somos nós para discutirmos lexicografia com o Google? Afinal, a palavra Google, vem de GUGÓL, um verbete criado para definir um número astronomicamente grande, inominável. tipo um algarismo UM, seguido de uma sequência de, digamos cem mil zeros. Isto seria um Gugól. E quem somos nós para discutirmos com a entidade que acaba de dominar a barreira quântica de processamento, em três segundos, o cálculo que os supercomputadores do Pentágono levariam dez mil anos para concluírem. Então, se o Gugól do Google diz que professora serve também como puta, é melhor rever meus valores. Ou buscar outras fontes de conhecimento. O próprio Google, mas com mais opiniões, mais sites, de preferencia acadêmicos, confiáveis, que deem, respostas menos sinistras.


Ah, pra não dizer que não falei de política, então traduza isso para sua escolha por reflexão pessoal, sem depender dos enlatados que os marqueteiros lhe empurram durante o curto período de campanha eleitoral. Ou então você corre o risco de achar um verbete semelhante para "eleitor desinformado" - Burro que deveria puxar carroça em lugar de melecar a urna com o mesmo dedo que futuca o nariz!



A Serpente e o Gambá (Fábula)

  **A Serpente e o Gambá – Fábula** Pacard No tempo em que os bichos falavam, vivia um velho gambá em sua toca, que passava os dias dormindo...