AD SENSE

quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Nelson Dinnebier, Pedro Bala, Nestor, e Fedoca - O que eles tem em comum?


Todos ocuparam (um ainda ocupa) o cargo de Prefeitos da belíssima e encantadora, desejada e desejável sempre, Gramado. Apenas isso, já seria suficiente para escrever suas biografias, sem precisar dizer uma única palavra sobre cada um deles. Todos eles, deram sequência ao chamado das oportunidades criadas por seus antecessores: Waldemar Weber, Horst Volk, José Francisco Perini, Arno Michaelsen, e fechando o ciclo, Walter Bertolucci, pai de Fedoca, então, no momento em que pego na pena para escrever essas poucas e mal traçadas linhas, o primeiro, e o derradeiro Prefeito desta jubilosa comunidade.

Há porém muito mais em comum, do que apenas o cargos, entre os supracitados no título deste ensaio, que é a sua força política, ou a falta dela, e agora sei que vou ferir sentimentos, mas leiam até o fim, e meditem sobre isso, e depois me digam, se estou certo, ou ainda falta muito para alcançar a verdade dos fatos.

Estamos chegando ao momento de largada da perseguição ao eleitor em busca do voto, e finalmente está desenhado o cenário da carreira, onde de um lado, pesando algo entre um certo tanto de quilos, Nestor Tissot, ex prefeito por dois mandatos, mais dois como vice, e alguns pares de anos, na condição preparatória de vereador, dono de uma direita que faz tremer, principalmente quando ativa seu vozeirão e manda recado aos adversários. 

Ao seu lado, o garboso veterano que aos dezoito anos, já tinha os setenta que tem hoje, incansável escudeiro de seus pares, Luia Barbacovi, pesando um pouco menos que Nestor, mas sempre afiadíssimo pra tomar conta da cadeira, sempre que tiver oportunidade (mas que nunca teve, porque não deixaram).


No outro canto do ringue (que atualmente está mais para um octógono, de vale tudo), ainda no aquecimento, pululando feito pipoca em busca de um vice para completar sua chapa, o garboso lutador, peso pena, com seus 65 ou 70 quilos, e uma esquerda matadora, Evandro Moschem, devotado servo de sua fidelidade ao MDB, e a esperança de glória que precisa para coroar a volta do Partido na cabeça de chapa do Executivo de Gramado.

Já, também subindo no tablado (que mais parece uma arena de gladiadores, onde todos lutam com todos, e ninguém é de ninguém, e que sobrar, vai pras galés, isto é, Prefeitura), o destemido PSDB, com seu campeão, Beto Tomasini, vigoroso empresário do ramo da gastronomia, ativo na política local, tendo ocupado já, no governo de Nestor, a prestigiada secretaria de Turismo, e com seu partido, que ao longo da existência, sempre atuou como coadjuvante dos extremos, e que agora, alça voo com asas próprias.

Bem, mas devo-lhes ainda um adendo ao título desta matéria: afinal, o que estes Prefeitos tem em comum, além de terem sido Prefeitos?

Esta resposta pede um novo parágrafo. vamos lá. Resposta curta: Nenhum deles preparou uma sucessão política, ou melhor dizendo, sim, um, o Pedro Bala, produziu Nestor, e ao devido tempo, entregou-lhe a cadeira giratória, restaurada por Fedoca. Porém, e sempre há um porém, não foi bem recebido quando tentou voltar, e digam o que quiserem, na leitura deste escriba, e tantos outros, faltou boa vontade de Nestor, em devolver-lhe o cargo, ao que poderia ter se empenhado mais na campanha, pensam muitos, e eu entre estes, e optou por sair de fininho, aguardando ocasião propícia para voltar gloriosamente.

Nestor contava com uma má gestão de Fedoca, e o quanto foi capaz de fazer, empenhou-se em não facilitar em nada a vida do seu sucessor no cargo, insuflando a oposição a ser oposição, pois é pra isso que serve uma oposição, ué: fazer oposição! Nestor estava certo na receita, pois é assim que sobrevive a política.

Nestor, Nelson, e Fedoca, erraram na mão da receita, quando construíram mitos em si mesmos, e fecharam as torneiras que irrigavam as raízes de outros brotos que deveriam seguir seus passos, ou criar suas próprias raízes dentro da política de Gramado.

Erraram todos, ao não abrirem espaços para as gerações futuras, e hoje Gramado vai escolher um Prefeito que custará à política, todos os anos que não foram investidos nos políticos. 

Gramado é mãe estéril para a democracia, se este ângulo for apreciado deste modo. Não há políticos intermediários entre os velhos coronéis, e os jovens recrutas. Ou são experientes demais, ou não tem experiência alguma.

Hoje, nesta campanha, Gramado vai receber um belo contingente de candidatos completamente desconhecidos, que intentam quebrar estas barreiras, mas sofrerão com o desconhecimento de seus talentos na política, e muito menos seu comprometimento com Gramado.

Gramado precisa despertar e não permitir mais que isso aconteça com a geração de 2026. Vença quem vença agora, que preocupe-se em preparar outro para seu cargo, e não esperar com ansiedade o momento da reeleição. Aí é tarde demais.

Nestor fez de tudo para que Gramado não gostasse do governo de Fedoca. Eu não acho que foi ruim, foi até bom, dadas as circunstâncias, mas quem não gostou de governar foi o próprio Fedoca, pois não preparou seu sucessor, e nem preparou-se para a sucessão. Aqui não vai nenhuma, absolutamente, crítica pessoal, pois quero bem demais todos estes personagens que citei, mas isso não muda os erros políticos que cometeram, de não cultivarem a terra para as novas colheitas.








terça-feira, 8 de setembro de 2020

Vamos Esclarecer - Vacina, Bolsonaro, eu, e a opinião dos outros na minha vida

 



Vamos esclarecer!

1 - Votei no Bolsonaro, e não estou arrependido, não acho que errei. Acho que se alguém errou, primeiro foi o PT em me encurralar na parede para escolher ente um poste e um Capitão. Então, se Bolsonaro tropeça na gentileza com as palavras, e ou se tem algo a ver com a sujeirada de que o acusam, o problema é dele, que usou meu voto para outra finalidade.
2 - O fato de ter votado nele, não me torna um bolsominion, e não significa que eu vá sair por aí borboleteando, mediante o risco de me contaminar e contaminar aos que eu amo. Talvez, e apesar de estar no grupo de risco, pela idade, eu tenha boa saúde ainda, imunidade alta, e não adoeça, e se o fizer,, possa resistir, e ainda que não resista, e morra, bem, não tenho medo da morte, mas opto por continuar no mundo, e além disso, tem a minha família, pessoas com mais risco do que eu. Então, que se dane o Bolsonaro e seus fanáticos de plantão, mas eu vou me cuidar si, e também vou cuidar da minha família, para que, no que depender dos protocolos a serem seguidos, iremos seguir, e ninguém tem que me constranger a fazer o contrário.
3 - Por outro lado, o fato de que siga os protocolos, e me cuide, e cuide dos outros, não significa que eu seja uma vaquinha de presépio, e me volte a falar mal do governo, de esculachar o Presidente, ou sair por aí fazendo performances absurdas, só porque também sou artista plástico e designer.
4 - Se votei no Bolsonaro, foi porque acreditei na proposta de liberdade e democracia que ele pregava, e isso me garante a liberdade até mesmo de contrariá-lo, em suas opiniões, sempre que tiver vontade de fazer.
5 - Pelo fato de exercer minha liberdade de contrariar o que o Bolsonaro faz e diz, isso significa também que estou exercendo minha liberdade de não ser importunado para fazer o contrário do que penso e faço, uma vez que meus pensamentos dizem respeito apenas à mim e minhas crenças só se tornam indesejáveis, quando tentam mudar a liberdade dos outros. Até lá, vou tomar vacina, sim, vou obedecer aos protocolos, sim, e vou continuar livre sim. Pelo menos no pensar, pois como dizia Millôr - Livre pensar é só pensar. Então, eu penso, logo, existo. E fico na minha. De boas.





segunda-feira, 7 de setembro de 2020

um 7 de Setembro inesquecível de minha infância em Gramado


Foto: Arquivo pessoal (Samuel Isaac Cardoso (tio), Ester Cardoso (mãe) e Maria Elisa Dias Cardoso (Avó)´e eu.

 Éramos uns poucos, em uma vila de pobres, aquietando-se ao lado da área central da cidade, onde pulsava a vida cidadã deste lugar.

Nossa pequenina escola de vila também, uma, assim chamada, "Brizoleta", acomodava cerca de uns 40 alunos, divididos por classes em dois turnos, onde somavam-se uns e outros, à classe escolar de uma única professora primária, ela própria também, com pouco mais que isso, em seu currículo escolar.

Uns e outros, sentávamos lado a lado em classes, hoje denominadas "carteiras", onde cada classe acomodava dois, ou mais alunos, dependendo do tamanho da classe. 

Eram móveis compridos, com bancada e assento acoplados, e nesta classe, assentavam-se crianças de séries independentes, dentro da mesma aula, ouvindo a mesma professora, e assim, desenvolvíamos uma audição seletiva, enquanto ela instruía os alunos da classe mais ou menos avençada do que a nossa.

Foi neste formato que estudei até a quarta série do primário, pois a quinta série escapou de minha biografia, como óleo escoa dentre os dedos de quem o sustém, porque fiz o "Exame de Admissão ao Ginásio", e como um deboche do destine, eu consegui passar. Deboche mesmo, porque desconstruiu toda a minha formação escolar depois disso, e por fim, ao início do segundo ano do Científico, hoje EnsinO Médio, eu abandonei a escola. Tornei-me então um semi-analfabeto profissional.

Voltemos aos tempos, para que o causo prossiga.

Eram realizados os desfiles cívico-militares, quase do jeito que acontece hoje em todos os lugares. Milhares de crianças, com idade dos seis aos dezoito anos, vestindo uniformes engomados, finos, desenhados para os dias quentes do ano, eram perfilados para deleite das autoridades civis, militares e eclesiÁsticas (assim começavam os discursos), que se espremiam em uma tribuna improviSada, de onde eram um pouco mais elevados do que a plebe que marchava em passos mancos, e dali podiam rir dos infelizes impúberes, que tremelicavam de frio, para que o branco amarelado das camisas dos uniformes pudessem contrastas com as semi-desnudas acrobatas, fantasiadas de bailarinas, que com pequenos bastões enfeitados de fitas verde e amarela, saltitavam acrobaticamente na condução do cortejo.

As bandas, uma por vez, de forma descompassadamente desafinada, marcava o descompasso dos marchadores, que eram apresentados ao palanque oficial, como troféus de tributos, iguaizinhos aos que se faziam em Roma, no aparato de prisioneiros oferecidos à César e para o refestelo dos soldados ensandecidos pelo cheiro de vitória, sangue e vinho, recompensas de guerras.

Mas nem tudo era frio e tremor de queixos, pois, lembro como se ontem fosse o ocorrido, de um Sete de Setembro especial, onde todas as crianças, de todo o município, foram recompensadas, com deliciosos e abundantes lanches para almoço, e o melhor ainda viria à tarde, com a exibição absolutamente gratuita de um filme dentro do Cine Embaixador (ainda não me conformo com o nome de "Palácio dos Festivais" que deram ao lugar).

Nos espremíamos no chão, para que todos ficasse, acomodados, e o filme começou. Lembro sim, lembro bem do filme: "Cindy, a Trapezista", ou algo no gênero, um filme do Zé Colmeia e sua esposa, digo, namorada, a ursinha Cindy, que foi capturada por um circo, e obrigada a pedalar um monociclo em uma corda bamba muitos metros acima do chão.

Lembro dos curta-metragens de abertura, mostrando a exuberância das flores de Gramado, belíssimas papoulas alaranjadas, que atapetavam os canteiros da rua principal, alcatifando nossas lembranças por perfumes e a suave música de orquestra e saxofone que preenchia todos os lugares escondidos de nossas memórias.





Era Sete de Setembro, e celebrávamos a festa da pátria. Não nos envergonhávamos de chamar nossa terra de pátria. Nem de sonhar-se dentro dos cenários imaginados pelos ilustradores do filme, que traziam até nossas memórias mais doces, a suave melodia de uma primavera, lá e cá, que precisamos trazer de volta urgentemente.

Navegar é preciso, dizia Camões.]

Sonhar é mais que preciso, dizia a vida que nos chamava para seus perfumes.







Kikito - o "deus do bom humor" acordou azedo


Imagem: Institucional Prefeitura de Gramado

Eu digo a vocês, respondeu ele; se eles se calarem, as pedras clamarão.... Lucas 19:40.

"Então falou Deus todas estas palavras, dizendo:

Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão.

Não terás outros deuses diante de mim.

Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra.

Não te encurvarás a elas nem as servirás; porque eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos, até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam.

E faço misericórdia a milhares dos que me amam e aos que guardam os meus mandamentos."

Êxodo 20:1-6

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Eu conheci, e convivi com Elisabeth Rosenfeld, e estive próximo à ela nos dias em que modelou o primeiro "Kikito", uma peça moldada com uma mistura de cimento Portland, com cimento branco, sobre uma armação de ferro de construção e arames retorcidos. Este é o conteúdo da divindade, e de ferro e calcário é todo o seu ventre e coração. Nada mais.


Já sua alma, essa sim, é retratada pela efígie de um sol no lugar da cabeça, que lembra o deus romano "janus" (daí o nome do mês de Janeiro, que tem uma face voltada para o passado e outra para o futuro)., sobre um corpo humano feminino, mas ao objeto foi dado um nome masculino, e uma identidade exclusiva de pessoa dotada com alegria, caracterizada pelo permanente sorriso em ambas as faces. 


Desta forma, não foi dada ao Kikito, a possibilidade de resignar-se diante das variáveis da vida, e em algum momento de reflexão, chorar por quem dobram os sinos. Nasceu assim o primeiro "deus" sem vontade própria, pois até mesmo as divindades dos panteões pagãos pelo mundo afora, são dotadas de humores, que variam da bondade, à extrema crueldade.

O "deus do bom humor" de Elisabeth era um objeto para enfeitar um jardim, assim como os anões de porcelana, ou o velho carrinho de mão com flores plantadas dentro dele.

Elisabeth já não existe mais, e até mesmo suas lembranças se dissipam na memória dos que adentram os anos pela vida afora, ao encontro do descanso que não deixa ninguém à espera. Quando tiver que chegar, ele vai chegar. Menos pro "Kikito", o "deus da boa fama" que Gramado venera.


Ao longo dos anos, semelhante à outro personagem da mitologia, isto é, a ciência do imaginário, da mentira bem contada, o Rei Midas, que transformava em ouro tudo em que tocava, e que teve por consequência ver sua própria filha transformada em uma estátua de ouro 18k, de pureza 99,999, Gramado também soube beneficiar-se dos poderes "divinos" do "Kikito", e a velha estátua mal desenhada, com coração ausente, e fez cintilar com abundância, as ruas e casas de um Olimpo serrano, cujos deuses se esbofeteiam pelo privilégio do primeiro devoto de cada manhã, e se refestelam, ao entardecer, pelo visco da baba que escorre por suas sarjetas, destinadas à abençoarem as águas dos arroios que levam todos os dejetos devolvidos pelas bênçãos gastronômicas aos devotos da divindade que sorri, ao profundo e misterioso mar das vaidades.


O "deus do bom humor", no entanto, tornou-se um deus infeliz, pois o "smile", precursor dos "emojis", que sempre sorri, e apenas sorri, hoje continua a sorrir, ainda que não se saiba a razão, quando seu trono foi derribado (não, eu não errei, é deribado mesmo, com "I") à outro ser coroado, que não tem boca para sorrir, mas tirou o sorriso de milhões de pessoas, cujos lábios finos do "kikito" não foram capazes de salvar.

O "deus do bom humor" tomou lugar de destaque diante do Pavilhão Nacional de primeira ordem, no dia em que é celebrada, com dor e descaso, a independência da nação, cujo D-s, é "O Senhor", e ainda que retirando a divina ordem de não celebrar culto, nem prestar louvor à deuses estranhos, continua sorrindo, ou talvez rindo, da credulidade vazia de quem se estriba nele para alcançar sucesso.


O "deus do bom humor" acordou azedo, mas não mal amado, posto que em sua homenagem se erguem panteões e monumentos, e que à entrada do grande templo a céu aberto em seu louvor, ladeiam as bandeiras da pátria e da cidade, demarcando para as gerações que talvez virão, que este lugar é mais que um conglomerado de pessoas vivas, mas é a terra do berço de um deus que nasceu morto, mas ainda assim sorri.

Não é exagero, mas eu mesmo já vi uma pessoa rezando diante de uma dessas estátuas, que ficava defronte ao Palácio dos Festivais, à época, chamado de Cine Embaixador. Fiquei escandalizado com a cena. 

Ai, pobre de mim, se soubesse , que aquele símbolo fosse se tornar a pedra de tropeço do portal que abre as bênçãos prometidas aos que guardem as orientações do Decálogo, que falam de honrar os pais, respeitar a propriedade alheia, não macular o leito de outra pessoa, não produzir "fake news, não misturar água com açúcar no vinho, não exagerar na verdade, mas como conhecerão todas estas Leis, se já à primeira, que faz reconhecer que O Criador do Universo seja louvado por uma estátua que se ri?

Haverá um dia, num longínquo futuro, onde arqueólogos encontrarão suas estátuas junto à outras e concluirão que houve uma civilização, com suntuosos palácios, que adorava um deus que sorridente, era chamado de "Kikito".





domingo, 6 de setembro de 2020

Compete às autoridades - Uma leitura sobre o cancelamento de eventos em Gramado


Não estranhe que eu me manifeste em relação aos artistas, afinal, advogo em causa própria, dirão, pois eu sou artista, só que não, eu não vivo dos espetáculos do natal Luz, e jamais vendi serviço algum ao prestigiado e magnânimo evento, embora eu acompanhe sua trajetória desde o primeiro, e ao longo dos anos, com curiosidade civil, nada mais, pois particularmente sou retraído demais para aglomerações burlescas, o que não o torna menos grandioso, pois eu não sou a opinião alheia e a opinião o gosto dos outros não pode ser desviada de suas preferências por causa do que eu gosto ou deixo de gostar. Dito está, vamos aos fatos.

Gramado cancelou as apresentações ao vivo do maior espetáculo natalino do hemisfério sul. 

Gramado cancelou um lucro médio de 6 a 8 milhões de Reais (corrijam-me se for mais) em um único evento.
Gramado tomou uma decisão técnica, sanitária, mas sobretudo política, de evitar a aglomeração de alguns números que caminham entre os milhões de turistas que se aglomeram pelas ruas, praças, restaurantes, na deliciosa e desejável prática do consumo desesperado, para compensarem o desesperado trânsito das grandes cidades durante a semana, e que fogem destas grandes aglomerações em calçadões e shoppings, para aproveitarem a bucólica e pachorrenta aldeia que imaginam ser Gramado. Tudo vale a pena, se a alma não é pequena, dizia Fernando Pessoa, que não teve oportunidade de visitar Gramado em dia de espetáculo, nem espremer-se em filas às portas das chocolaterias e restaurantes em dia de quirera, a que chamam de neve.

Gramado tira, com essa decisão a oportunidade de trabalho de talvez, milhares de pessoas que dependem direta e indiretamente dos eventos à que beijou a fama.

Gramado se digladia entre a vida e o capital, espremida entre a espada e a parede, na completa perplexidade, a mesma perplexidade que assola grandes e pequenos, o Brasil e o mundo, a decisão disputada nos mais elevados tribunais, onde prefeitos, governadores, presidente, juízes, ministros, e legisladores, esbarram-se em inesgotáveis recursos e decisões, lavando todas as mãos na mesma bacia de Pilatos, e entregando aos pobres prefeitos a decisão sobre vida e morte de seus cidadãos, sabendo que qualquer que seja a decisão que tomarem, serão culpados pela história, presos por terem cachorro e presos por não terem cachorro, diante do desespero que começa a tomar conta da população.

Gramado tomou a decisão mais difícil de sua história, que foi fechar as torneiras dos seus milionários recursos,pois apenas de rondar o comentário de que os empresários estejam contentes com o cancelamento, por supostamente estarem faturando mais, e assim, de consciência tranquila, por colaborarem com a retranca da peste que mata ricos e pobres, feios e bonitos, famosos ou desconhecidos, ao mesmo tempo em que planejam os próximos passos diante do cenário triste que se avizinha.

A GRAMADOTUR, por decisão de seus executivos tomou a decisão de fuzilarem seus pés e joelhos, haja vista que só exste por conta de dois eventos: Natal Luz e Festival de Cinema, e que ambos tiveram permissão negada para existirem do modo que foram criados e se firmaram na tradição de Gramado.

Gramado disse não á morte rápida, apesar de ter escolhido a agonia lenta, o cozimento e o suplício de sua economia ao fogo brando, porque diante de si tem, suas autoridades, a "Escolha de Sofia". E com isso, enterram com velocidade ímpar suas pretensões antes majestosas, agora por mera sobrevivência, onde nem mesmo a oposição tem argumento para discordar da esperança atada ao infortúnio do acaso.

Gramado anuncia seu ocaso. Anuncia?

Não! Definitivamente, Gramado toma a decisão adequada às circunstâncias jurídicas, éticas, legais, e necessárias á manutenção da vida, em detrimento da riqueza imediata e à cornucópia que se fecha

Apesar de saber que milhares de pessoas, e um grande número de municípios vizinhos dependam do sucesso dos eventos Gramado, ainda assim, o conjunto das incertezas sobre a pandemia é a resposta à qualquer pergunta sobre a tomada de decisão no último instante e na última instância das responsabilidades.
Compete às autoridades, que foram eleitas para esse tipo de situação, aliadas ao empresariado, às entidades representativas, ouvindo também os envolvidos diretamente na produção, fazer a melhor escolha para preservar a economia sem perder vidas. Sem perder nenhuma vida.

Compete ás autoridades também, se posicionarem junto ao Governo do Estado, para que participem da resposta à geração de renda, sem deixar de pensar que o Estado está falido há um tempo que excede a minha geração, e olha que eu sou velho.

Compete às autoridades que organizem a gestão de acordo com as leis de Responsabilidade fiscal, leis ordinários para licitações, pois vale lembrar que a isenção de licitação durante a pandemia é exclusivamente para questões que tratem da saúde pública, e não, o Natal Luz ou o Festival de Cinema de Gramado, por mais que contribuam para o bem estar da população e o enriquecimento cultural e financeiro de Gramado e dos gramadenses,não estão atrelados ao suporte em calamidades, aos olhos do Tribunal de Contas do estado, e muito menos, muito menos mesmo, da voracidade política com que as oposições se deliciem com os erros eventuais, e não haverá piedade no ajuste de contas, que chega a parecer apocalíptico, com choro e ranger de dentes ao final. Que seja, mas que estejam todos vivos e bem de saúde nesta ocasião.

Compete às autoridades que façam a contagem dos vivos, e sim, tenho muitos queridos em Gramado, aos quais devo visitar para tomar uns mates, um café com bolo frito, e colher um bom tempo de prosa. Compete às autoridades que me recebam elas próprias, vivas e gozando de boa saúde, física, mental, financeira, e espiritual.

Compete às autoridades que planejem o amanhã, que administrem o hoje, e que  o ontem seja enaltecido, para testemunho das novas gerações, mas compete aos cidadãos que tomem nota das lições duras e cheias de vazios, marcadas pelos que não podem mais abrir suas portas para receber os abraços daqueles que insistentemente olham para o vazio de suas lembranças.

Todos precisam trabalhar. Todos tem contas esperando para serem pagas. Mas mortos não trabalham. Mortos não pagam contas. Mortos não votam. Mortos não celebram natais, nem assistem filmes. 

Transformar o cenário da desgraça em um palco político é a última instância da barbárie. Depois disso, só o canibalismo supera tamanha monstruosidade.

Compete às autoridades que nos protejam disso. Mesmo que por decretos. Mesmo que passando trancas nas portas.

Compete às autoridades saberem que se outros lugares abrirão as portas para não perder o momento,a conta pode voltar com fome. Fome de mais vidas.

Eu estou absolutamente confuso com todo esse amontoado de informações, mas na minha confusão assumida, eu fico quieto, ajustando minha fome ao tamanho do bocado de pão que me resta, pois pode piorar. Ou não. Pelo menos não serei apanhado de surpresa. Gramado foi. Mas a lição está batendo na porta. Aprenda quem quiser. 


E tenho dito!
















sexta-feira, 4 de setembro de 2020

As histórias que vivemos, mas só contamos depois

 




História é a parte do tempo que está guardado nas lembranças: nossas e de alguém.

História é o que aconteceu, nunca o que acontece, nem vai acontecer.

História é a parte de nossa vida que guardamos para deixar de testemunha das nossas dores. É o presente escondido para tornar-se vivo no futuro, ao falar do passado.

Nossas dores não as contamos enquanto doem. Isso nos humilha, nos rebaixa. Nos reduz à fracos, a covardes.  Retrata nossa insignificância e nossa pequenez, que em lugar de lutarmos, transferimos a outrem a nossa amargura presente.

Daí perguntar-se: Como vai? E mecanicamente responder: Vou bem!
Mas não vou bem,eu, e nem você se interessa em saber como eu vou. Já tem suas dores, suas amarguras suas frustrações, seus próprios tropeços para levantar-se.

Ninguém está preparado para ouvir nossas frustrações, porque dessa forma, fica na obrigação de devolver-nos a confiança e contar as suas, desnudar a fraqueza, e arrepender-se amargamente depois.

É perigoso confiar, e mais perigoso ainda receber confiança. 
Nos tornamos responsáveis pelos segredos de alguém, e isso é tremendo. 

Não choramos no momento da dor diante dos outros, mas guardamos o choro para contar depois, como história, como testemunho. Mas de que adianta não chorar, se nossos olhos contam outra coisa sobre o que dizem os nossos lábios?

Nos envergonhamos pelo momento de fraqueza, mas nos orgulhamos por tê-lo atravessado, quando estamos longe dele. O tempo é nosso aliado, mas às vezes o tempo é também nosso algoz.

Quão bom seria se pudéssemos acelerar a vida durante a dor, e retardar durante o prazer.

]Quão bom seria que nada nunca doesse. Mas dói, e dor é dor, onde cada um conhece a intensidade da sua. Dor não se compara,e muito menos se atenua comparando à dor alheia.

Saber que crianças morrem de fome na Etiópia, é triste demais. Saber que aquilo que você sente nesse exato momento, mas sente-se agora constrangido por saber que há outras dores, é triste igual, pois não bastasse sua dor, há agora a dor adventícia, impregnada, impondo uma culpa que você não tem, e você perde a coragem de externar aquilo que lhe faz sofrer.

Por isso, não é bom contar sobre seu sofrimento no exato momento em que sofre. Deixe pra depois. Deixa pra contar numa ocasião em que possa rir daquilo que lhe fez chorar. Escondido.

Ad histórias que contamos muito tempo depois que se passaram, tornam-se quase fábulas, memórias românticas, tema de um bom livro de aventuras, onde você passa de frouxo a herói, e a diferença é o tempo de hibernação, de sedimentação, de fermentação, de maturação, ainda que seja em meio à dor.

Agora, o que dói, deixe doer. É apenas dor, posto que depois da dor vem o silêncio, de quem sentiu dor, e do vazio de quem ficou.

Seja o que for que aperta o peito, segure firme. É mantimento para sua própria história, que alguém um dia vai contar.






O que pensa o eleitor, e o que pensar do eleitor?

Imagem: Nenhum candidato foi mauito massacrado neste ensaio.

O eleitor é um indivíduo sinistro. Sei por mim, pois eu sou eleitor. Não que eu seja, assim, um eleitor profissional, não, não sou. Sou amador nesse negócio de escolher pessoas, e posso provar o que digo, de tanta furada em que já me meti, elegendo cada tipo, que dá vergonha só de pensar. 

Mesmo assim, acho o eleitor um sinistro. Sinistro legal, tenho que reconhecer, pois quem aguentaria os mesmos abraços, as mesmas galinhadas nas reuniões do partido, e as mesmas promessas mentirosas tão comuns nas campanhas, e mais que promessas que caducam em poucos dias, os mesmos discursos decorados, o mesmo narcisismo, e o mesmo aperto molenga de mão viscosa. Então, isso tudo se deve ao carisma que o eleitor tem com o tempo em que vive: a campanha!

Eleitor é louco por campanha, pra fazer bullying com os políticos. Ao contrário do que se pensa, eleitor não odeia políticos. Os adora! E tem sua dose de razão nisso, pois campanha política é tempo de fartura, de promessa de felicidade e fortuna, de esperança em boas casas de saúde, ruas douradas e pavimentadas com pérolas, e escolas onde o ensino é feito em permanentes festas com comida em abundância, e bebidas alcoólicas que não deixam bêbados seus beberrões, nem engordam as guloseimas, aos comensais. Um Éden, é só o que eu posso usar como exemplo, o tempo da campanha.

Campanha é o momento em que os pensamentos afloram, do outro e do um: Eleitor e candidato, ambos entrelaçados em uma mistura de amor e ódio, tapas e beijos, pauladas e pétalas. É o embate entre titãs, onde espremem-se até que pingue a última goita de néctar de cada um, ao que denominam de "voto".

Ah, o voto, esse sim vale a pena, e muito. Votar em quem odiamos, só para termos o prazer de esperar quatro intensos anos, até que o candidato volte à nossa casa, como ar de muxoxo, o que em si já é falso, mas necessário.

O eleitor vê no candidato um saco de pancadas para suas frustrações com a vida política e pessoa. Já o eleitor vê o candidato  como uma válvula de descarga da miséria humana, embrulhada em pacote do poder.

O candidato veste uma capa de herói e uma máscara de santo, e o eleitor vesta um manto de santo, e esconde-se sob uma máscara de complacente. Um e outro não se suportam, mas se amam com invejável intensidade, e só no tempo de campanha é que conseguem ser verdadeiros. Separar amor é ódio e cantarolar odes em louvor aos quais odeia. 

Candidato e eleitor são como dois gladiadores prisioneiros por circunstâncias de pátria e aldeia, que durante os dias comuns, convivem na mesma jaula onde são tratados como feras cativas, e que sua libertação não se dá nos campos livres para que percorram de braços com a liberdade,mas em uma grande arena lotada, onde lutam até à morte, para delírio da multidão, onde estão eles próprios, por seu turno, ovacionando outros que lutam e tombam, em nome do que chamam de democracia.

Não existe democracia alguma. O que existe é o desejo de uns brilharem, onde os outros são o estribo, pescoço, e degrau, e o alto do pódium é um pico sem corrimão, onde apenas uma leve brisa é capaz de mostrar quão frágil é sua força própria. O pódio não é lugar de multidão. É a última instância da solidão.

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Cartoons, Design & Literatura, by Pacard













O uso da empatia nos negócios e na política

 


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Imagens: Internet

Segundo o dicionário web, Empatia é um substantivo feminino Ação de se colocar no lugar de outra pessoa, buscando agir ou pensar da forma como ela pensaria ou agiria nas mesmas circunstâncias. Aptidão para se identificar com o outro, sentindo o que ele sente, desejando o que ele deseja, aprendendo da maneira como ele aprende etc.

Na prática, a empatia se manifesta quando esvaziamos o ego e inflamos o amor ao próximo, e essa manifestação não tem que ser necessariamente ao sofrimento alheio, no sentido de ajuda humanitária (que é excelente prática para ser feliz), mas mesmo no trabalho, no cotidiano, podemos nos suprir da empatia para acelerarmos nosso relacionamento, ou até mesmo fecharmos um bom negócio. Para ilustrar isso, vou contar três breves histórias, onde fui parte do protagonismo, isto é, aconteceram comigo, duas delas, e a primeira é relatada pelos sábios do Talmude, na sabedoria judaica.

História primeira



Na cultura judaica, é comum que se procure o conselho de um Rabino, o líder espiritual da comunidade a que pertencem. Certo diz, o Rabino recebeu a visita de um homem pobre, vestindo roupas surradas, que foi consultá-lo sobre a permissão de beber leite, em lugar de vinho, no kidush (ceia religiosa) de Pessach (Páscoa).

O velho Rabino respondeu que, sim, não haveria problema, mas que o ideal seria mesmo vinho. E deu ao homem uma boa quantia de dinheiro, para que comprasse todos os ingredientes para a semana de Pessach, e nada faltasse à sua família durante a celebração de uma das festas mais sagradas do judaísmo. O homem saiu, agradecido, e então a Rebenit (esposa do Rabino), entrou na sala, e falou ao esposo:

- Eu ouvi toda a conversa, e acho que você fez bem, mas por que você deu tanto dinheiro ao homem? Não teria sido suficiente o valor para uma garrafa de vinho?

O Rabino respondeu que, se o homem pensou em beber leite, então também não havia carne para a ceia (atendendo o mandamento bíblico de não misturar carne e leite na mesma refeição), e certamente nenhum dos demais ingredientes para a sobremesa. Então, nada mais natural, segundo o preceito do "Ahavá" (amor ao próximo), que cumprisse uma "Tsedacá" (justiça social), e suprisse a necessidade do pobre homem.

História segunda



Esta aconteceu comigo há muito tempo atrás. Eu era gerente de vendas de uma fábrica de chocolates, e certa manhã, a secretária da empresa transferiu para minha sala, a ligação de um importante empresário, que queria informações sobre chocolate. Ao atendê-lo, ele disse que apenas desejava saber o valor de um quilo do produto, e nada mais.

Teria sido simples responder o que ele perguntava, e continuar minha rotina. Ocorre que minha rotina era vender chocolate, em grande quantidade, e tive o seguinte raciocínio: "Um homem importante como é, com muitos assessores, uma secretária pessoal, ligaria para uma fábrica de chocolate, para saber o preço de um quilograma apenas, por que razão?"
Respondi que coincidentemente eu estava indo para o bairro onde ele estava, e perguntei se me ofereceria um cafezinho, e então eu tiraria todas as dúvidas dele. Aceitou, passei a mão a uma caixa de chocolate, e antes de apertar-lhe a mão, presenteei-o com o produto.

Vou encurtar a história: Ele queria enviar um brinde aos seus clientes e associados. Resumindo ainda mais: Criei um kit com duas garrafas de vinho, uma garrafa de suco, e um quilo de chocolate, em uma caixinha de madeira, personalizada com a marca de sua empresa. Foram cinco mil destes kits. Isso porque eu decidi não responder sua pergunta, sem antes entender o sentido dela.

História três



Eu tinha parceria com uma importante loja de móveis na cidade onde moro atualmente, e em um cantinho da loja, eu tinha uma prancha de desenho, onde passava o dia desenhando sob risco, com o combinado de que eu receberia uma comissão de tudo o que eu colocasse no meu projeto, e fosse vendido.
Certa manhã, já próximo ao meio dia, hora da fome e de virar a plaquinha de "fechado", apareceu uma senhora, vestida de forma casual, camiseta, calça jeans e tênis, e chegou em um táxi. Mas bem na hora de refestelar-se no restaurante por quilo? Uma infâmia, pensaram alguns. Poucos instantes depois, a vendedora foi até onde eu estava e relatou o seguinte:


- " Esta mulher quer que o decorador vá até ao apartamento dela para ver se cabem duas camas de solteiro num quarto!".
Traduzo: "Essa mulher vem nessa loja sofisticada, de táxi, vestida assim, e ainda quer que "O decorador" vá até o cafofo dela pra medir um muquifo? Um desaforo!"

Quando ouvi isso, fiz a seguinte conta: Duas camas, dá comissão de tanto, que paga a gasolina da semana e umas refeições também. Que maravilha. Bora ver o muquifo da madama!"

Vou atalhar e chegar ao fim da história.

O "muquifo" tinha quase mil metros quadrados, era um triplex (e não estava envolvido em nenhum rolo), com piscina, e tudo o que tinha direito. Fui contratado para fazer o projeto de reforma total do lugar, e entregá-lo pronto para uso. Até comida congelada mandei fazer para abastecer o freezer, pois quem utilizava o apartamento era o esposo dela, ao visitar a cidade, pois tinha um empreendimento ecológico na região. Fiz o projeto, e ele ficou tão feliz com o resultado, pois consegui entregar antes do prazo, e com resultado satisfatório, que deu-me mais um belo projeto em seu empreendimento.

O que levou-me a pensar do outro lado da cerca?
Foi no momento em que entrei e vi um imenso apartamento vazio, semi abandonado, precisando de uma reforma e de tudo o mais, e o alerta disparou quando vi, abertas, umas revistas de decoração que mostrava os profissionais de Casa Cor, e logo a seguir, ela olhou para uma janela, coberta com um velho lençol, e perguntou se eu conhecia quem fizesse cortinas. Respondi: "Eu!"

- Mas o que mais você faz? Perguntou.
- Você me entrega a chave e eu te devolvo o jantar servido, respondi.
Fechei negócio.

Ah, sim, discretamente fechei as revistas, pois pra que correr riscos, não é verdade?
Ah, eram os donos da maior fábrica de refrigerantes, de um país que conhecemos. 






quarta-feira, 2 de setembro de 2020

No dia em que Apolônio Lacerda ideou uma civilização

Pous foi o acontecido, numa terça feira, logo ao raiar do dia, em que Apolônio Lacerda, que tratado pelo populacho de:  "O Taura do Chinaredo", adentrou-se no bolicho do paraguaio pra se defender de um aguaceiro que chegava. Largou a mala de garupa num canto, e  escorou-se no balcão de Granitina, já carcomido, e fez sinal de "dous dedo" pro Carrapicho, o piazote que  Talarico justou pra caixeiro. Indicava isso  que o rapaizote deveria servir-lhe dois dedos bem medidos da pura do alambique.

Deitando um tantico pro "santo", mas lambendo os dedos pra não desperdiçar a pura, ergueu o "martelinho" e deitou goela abaixo, com uma careta própria de quem bebeu coisa forte, mas não se crama porque era abencoada. e só depois disso foi que revirou os zóio pra bombear quem estava ali.

Na ponta do balcão, escorado, de corpo presente, encontrava-se um xirú, com uma "oito baixos" dipindurada no tiracolo, já quaje lambendo o fundo do caneco, de adonde era servida a cerveja gelada. Logoa atrás dele, meio que "incuído num canto, amoitado num cepo de picá cavaco, o Churumela, piazote dus catorze, coisa assim, mascava devagarito um pastel engordurado, que era pra durar bastante. E numa mesa, do outro lado, uns oito ou nove, se largavam no truco, num gritedo que dava gosto de se vê.



Olhou pra todos os lados, virou-se pro bolicheiro, fazendo sinal de interrogação com os zóio, meio que perguntando: "Mas e daí?", o que também talarico devolveu com um "dar de ombros", como que dizendo: Sei lá! 

Acomodou-se noutro cepo, á entrada, para bombear o movimento do entra-e-sai do bolicho. Ninguém interessante pra uma prosa. Ora entrava o Setembrino, fio do Cóta, outra hora a Vicentina, muié do Bastião Zarôio, que ia entregar os ovos e pastéis fritos pra venda, enfim, um entra-e-sai contínuo. A chuvarada (acharam que eu esqueci da chuvarada?) era um aguaceiro de verão, e logo passou. O sol raiou lá fora, mas dentro do bolicho, nada de novo. e ninguém pra assuntar com o Apolônio, que à certa feita, esparramou o bigode, e falando de modo audível ao bolicho e ao mundo, berrou:

- Pous andei contando a parentagem, e sabe que deu gente? Barbaridade! Como hay parente nesse mundão véio, que côsa seria!

- Hay povo, sim senhor - emendou Talarico.

Quem tem tanto parente assim deve ser muito importante - disse Apolônio, olhando cm atenção pro toco de paiêro entre os dedos.

- Pous decerto, respondeu mecanicamente Talarico. E cntinuava a polir as canecas na pia. Só negaceava por cima dos óculos embaçados, virando a cabeça, quando Apolônio falava.


-Lá na familia, semo: Eu, a muié, onze fio, treis cusco, dois gato, umas trinta franga, cinco galo, um tatu mulita que temo criando, um papagaio, a sogra, quatro cunhado... (Apolônio dizia isso, olhando para um mural imaginário, e contando nos dedos de uma só mão, repetindo dedo pra economizar na contagem)... E continuou:

- Mâns chê! Se agregá a bicicréta, o ancinho, a foice, o enxadão, e a patente nos fundos do rancho, isso dá uma civilização, praticamente!

E largou um belo sorriso. Só ele, pois o resto da indiada não entendia nada de civilização, só entendeu a parte do capungo deatrás da casa, e da contagem da familia. Mas deu de ombros, e continuaram, todos, no que faziam de antemão.

- Povo já tem de chega. Falta só um idioma!

Mas credo! Pra que falar tão difícil naquela hora? Nem candidato ele era? Ou era? Não, não era.

Pediu que embruiásse uma rapadura, e uns caramélo pros piá, e saiu porta afora, matutando sobre o que havia ingenhado.

Ao chegar ao rancho, foi logo pendurando a cordeona num toco cravado na parede, e quis se mostrar pra muié, falando no novo idioma da civilização que ele criara. Ergueu o braço, cuspiu no canto da sala, e lascou:

- Xaramanguela tetrubaca, sapopenga xaramunhéca tralalá! (Eu te saúdo, fia da minha sogra! Que alegria1)

Pra sua surpresa, a patroa respondeu no mesmo tom:

- Vai tú, jaguara! Tu e tuas china, cachacêro!

Apolônio achou melhor não perguntar pela tradução. Ajuntou o pala, e saiu de fininho, como assobio de papudo, e foi dormir no paiol, naquela noite.






Spritzbier - A deliciosa cerveja de gengibre apreciada na Festa da Colônia, em Gramado


Nunca fui tomador de cerveja, por não gostar mesmo. Não posso dizer que uma ou outra vez eu não tenha bicado uma cervejinha preta, se for bem docinha. Paciência. Sei que é uma heresia, entre os apreciadores dos finos maltes, mas fazer o que? A laranjada, pra mim, sempre foi mais gostosa, mesmo que cheia de química.

Mas, como o tempo passa, e tudo muda, eu também mudei: passei a gostar de cerveja, e essa, é amor antigo: a Spritzbier, ou Gengibirra, como os italianos a conhecem. Dessa, falo serio,  eu sento pra conversar e tomar umas duas garrafas, se der no jeito.

Há dois anos atrás, resolvi iniciar um projeto de bebidas probióticas, e descobri que não existiam similares no Brasil, e embora tenha varrido centenas de páginas na internet, não encontrei nenhuma receita que atendesse ao que eu buscava. Assim, investi cerca de duas mil horas, e um certo tanto em dinheiro, contratei consultorias, obtive suporte de químico, biólogo, nutricionistas, e finalmente e cheguei à fórmula desejada, sabor ao alcance dos bons paladares, testes de maturação, e tudo o que faz de uma bebida, uma bebida. Criei a "Energy Flavor", um espumante à base de frutas, ervas sementes, raízes e flores. Encaminhei e recebi registro de marca, fiz rótulos, acertei fornecimento de vasilhame, e quando estava com tudo pronto para colocar no mercado, fui em busca de investidores para o projeto, porque aí era coisa de gente grande. Foi nesse tempo que uma pequena e bem organizada cervejaria que se disponibilizou para produzir minhas bebidas em larga escala, encerrou suas atividades, porque os proprietários encontraram outros planos para seus negócios, e manter uma cervejaria em funcionamento, não era um deles. Nasceu uma grande amizade, mas decidi não dar continuidade ao projeto naquele momento, pois eu também estava em transição pessoal, e resolvi deixar para o ano seguinte. Quando o ano seguinte chegou, trouxe um convidado indesejável à tiracolo, e todos os planos de todas as pessoas no mundo inteiro foram adiado por tempo indeterminado. Cest la vie, dizem os japoneses...ou os gauleses, sei  lá. Mas, vamos ao Spritzbier então. Era disso que eu falava, quando desviei do assunto, sentimentalismo, sabe.

As famílias pobres do interior, da roça, da colônia, como se diz no sul,tinham uma vida bem difícil, e em geral,muitas bocas para alimentarem, mas nem por isso deixavam de lado a alegria e as festas, muitas festas. E festa, sabe como é, precisa ter muita bebida, e como sabem (vocês sabem, não sabem?) bebidas custam caro, a não ser que vocês mesmos as façam, irão gastar rios de dinheiro enchendo o bandulho dos convidados que, sim, vão às festas por causa das bebidas.

Assim, lembrando que quando terminar o isolamento, precisaremos nos humanizar novamente, e então, quem come, vai comer, quem dança, terá talco no salão, e quem bebe, vai precisar muito do banheiro, pois beber é diurético, e quando falo de beber, não, não estou fazendo nenhuma apologia à beberragem largada, sem alcoolismo, e muito, muito sabor e saúde nelas. E foi bem assim que achei que seria uma ótima ideia que eu mesmo tive, sozinho, de criar uma seção de gastronomia regional, onde vamos publicar receitas, entrevistas, dar indicações, e mostrar como a vida simples pode ser sofisticada.

A receita de hoje é a Spritzbier, então. Vamos à ela.


Ingredientes:

100g de gengibre descascado

2 kg de açúcar cristal (tem que indique que se use Demerara. É frescura. Use cristal que dá no mesmo)

3 limões frescos

8 litros de água

5 g de fermento biológico


Modo de preparo

Corte em pedaços bem pequenos e macere o gengibre
Ponha para ferver e marque 15 minutos após começar a fervura.

Coe o suco de limão, e adicione à água ainda quente

Dissolva o açúcar em uma vasilha à parte, com 500 ml de água. Deixe ferver até borbulhar, mexendo sempre.

Adicione a calda com os demais ingredientes, mexa bem, e deixe descansar por 24 horas.


Dissolva o fermento em 100 ml de água e deixe dissolver por 15 minutos. Depois, adicione à calda, que estará morna ainda, provavelmente. Mexa bem tudo

Coe a calda e coloque em uma bombona de água mineral limpa. Deixe descansar por 3 dias. Tampe a bombona com um plástico, para evitar contaminação.

Deixe em lugar escuro e com temperatura ambiente.

No sétimo dia, engarrafe, coando novamente. 

Engarrafe, usando garrafas PET. Ao encher, deixe cerca de 3 cm abaixo do gargalo da garrafa,para permitir que tenha espaço de fermentação.

Guarde em geladeira ou em local escuro e fresco. 
Mais três dias, estará pronta sua deliciosa spritzbier. Pode ser guarda até 30 dias em geladeira. A partir disso, ela se tornará mais amarga, e começará a formar uma pequena quantidade de álcool, insignificante, mas não perderá suas propriedades probióticas.

Tome cuidado ao abrir, pois a fermentação poderá deixar uma certa quantidade de pressão, e ao abrir, pode derramar, por isso, abra sempre dentro da pia.

Sirva gelada, e organize o acesso ao sanitário, pois é diurética, no primeiro dia, e no segundo dia, se beber demais, pode ser um pouco laxante, mas nada que te faça passar vergonha.


Bon Apetit, dizem os argelinos (lógico, na Argélia ainda se fala francês, ué).


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804 - O Número do Senhor X (Decifre isso)

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