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domingo, 6 de setembro de 2020

Compete às autoridades - Uma leitura sobre o cancelamento de eventos em Gramado


Não estranhe que eu me manifeste em relação aos artistas, afinal, advogo em causa própria, dirão, pois eu sou artista, só que não, eu não vivo dos espetáculos do natal Luz, e jamais vendi serviço algum ao prestigiado e magnânimo evento, embora eu acompanhe sua trajetória desde o primeiro, e ao longo dos anos, com curiosidade civil, nada mais, pois particularmente sou retraído demais para aglomerações burlescas, o que não o torna menos grandioso, pois eu não sou a opinião alheia e a opinião o gosto dos outros não pode ser desviada de suas preferências por causa do que eu gosto ou deixo de gostar. Dito está, vamos aos fatos.

Gramado cancelou as apresentações ao vivo do maior espetáculo natalino do hemisfério sul. 

Gramado cancelou um lucro médio de 6 a 8 milhões de Reais (corrijam-me se for mais) em um único evento.
Gramado tomou uma decisão técnica, sanitária, mas sobretudo política, de evitar a aglomeração de alguns números que caminham entre os milhões de turistas que se aglomeram pelas ruas, praças, restaurantes, na deliciosa e desejável prática do consumo desesperado, para compensarem o desesperado trânsito das grandes cidades durante a semana, e que fogem destas grandes aglomerações em calçadões e shoppings, para aproveitarem a bucólica e pachorrenta aldeia que imaginam ser Gramado. Tudo vale a pena, se a alma não é pequena, dizia Fernando Pessoa, que não teve oportunidade de visitar Gramado em dia de espetáculo, nem espremer-se em filas às portas das chocolaterias e restaurantes em dia de quirera, a que chamam de neve.

Gramado tira, com essa decisão a oportunidade de trabalho de talvez, milhares de pessoas que dependem direta e indiretamente dos eventos à que beijou a fama.

Gramado se digladia entre a vida e o capital, espremida entre a espada e a parede, na completa perplexidade, a mesma perplexidade que assola grandes e pequenos, o Brasil e o mundo, a decisão disputada nos mais elevados tribunais, onde prefeitos, governadores, presidente, juízes, ministros, e legisladores, esbarram-se em inesgotáveis recursos e decisões, lavando todas as mãos na mesma bacia de Pilatos, e entregando aos pobres prefeitos a decisão sobre vida e morte de seus cidadãos, sabendo que qualquer que seja a decisão que tomarem, serão culpados pela história, presos por terem cachorro e presos por não terem cachorro, diante do desespero que começa a tomar conta da população.

Gramado tomou a decisão mais difícil de sua história, que foi fechar as torneiras dos seus milionários recursos,pois apenas de rondar o comentário de que os empresários estejam contentes com o cancelamento, por supostamente estarem faturando mais, e assim, de consciência tranquila, por colaborarem com a retranca da peste que mata ricos e pobres, feios e bonitos, famosos ou desconhecidos, ao mesmo tempo em que planejam os próximos passos diante do cenário triste que se avizinha.

A GRAMADOTUR, por decisão de seus executivos tomou a decisão de fuzilarem seus pés e joelhos, haja vista que só exste por conta de dois eventos: Natal Luz e Festival de Cinema, e que ambos tiveram permissão negada para existirem do modo que foram criados e se firmaram na tradição de Gramado.

Gramado disse não á morte rápida, apesar de ter escolhido a agonia lenta, o cozimento e o suplício de sua economia ao fogo brando, porque diante de si tem, suas autoridades, a "Escolha de Sofia". E com isso, enterram com velocidade ímpar suas pretensões antes majestosas, agora por mera sobrevivência, onde nem mesmo a oposição tem argumento para discordar da esperança atada ao infortúnio do acaso.

Gramado anuncia seu ocaso. Anuncia?

Não! Definitivamente, Gramado toma a decisão adequada às circunstâncias jurídicas, éticas, legais, e necessárias á manutenção da vida, em detrimento da riqueza imediata e à cornucópia que se fecha

Apesar de saber que milhares de pessoas, e um grande número de municípios vizinhos dependam do sucesso dos eventos Gramado, ainda assim, o conjunto das incertezas sobre a pandemia é a resposta à qualquer pergunta sobre a tomada de decisão no último instante e na última instância das responsabilidades.
Compete às autoridades, que foram eleitas para esse tipo de situação, aliadas ao empresariado, às entidades representativas, ouvindo também os envolvidos diretamente na produção, fazer a melhor escolha para preservar a economia sem perder vidas. Sem perder nenhuma vida.

Compete ás autoridades também, se posicionarem junto ao Governo do Estado, para que participem da resposta à geração de renda, sem deixar de pensar que o Estado está falido há um tempo que excede a minha geração, e olha que eu sou velho.

Compete às autoridades que organizem a gestão de acordo com as leis de Responsabilidade fiscal, leis ordinários para licitações, pois vale lembrar que a isenção de licitação durante a pandemia é exclusivamente para questões que tratem da saúde pública, e não, o Natal Luz ou o Festival de Cinema de Gramado, por mais que contribuam para o bem estar da população e o enriquecimento cultural e financeiro de Gramado e dos gramadenses,não estão atrelados ao suporte em calamidades, aos olhos do Tribunal de Contas do estado, e muito menos, muito menos mesmo, da voracidade política com que as oposições se deliciem com os erros eventuais, e não haverá piedade no ajuste de contas, que chega a parecer apocalíptico, com choro e ranger de dentes ao final. Que seja, mas que estejam todos vivos e bem de saúde nesta ocasião.

Compete às autoridades que façam a contagem dos vivos, e sim, tenho muitos queridos em Gramado, aos quais devo visitar para tomar uns mates, um café com bolo frito, e colher um bom tempo de prosa. Compete às autoridades que me recebam elas próprias, vivas e gozando de boa saúde, física, mental, financeira, e espiritual.

Compete às autoridades que planejem o amanhã, que administrem o hoje, e que  o ontem seja enaltecido, para testemunho das novas gerações, mas compete aos cidadãos que tomem nota das lições duras e cheias de vazios, marcadas pelos que não podem mais abrir suas portas para receber os abraços daqueles que insistentemente olham para o vazio de suas lembranças.

Todos precisam trabalhar. Todos tem contas esperando para serem pagas. Mas mortos não trabalham. Mortos não pagam contas. Mortos não votam. Mortos não celebram natais, nem assistem filmes. 

Transformar o cenário da desgraça em um palco político é a última instância da barbárie. Depois disso, só o canibalismo supera tamanha monstruosidade.

Compete às autoridades que nos protejam disso. Mesmo que por decretos. Mesmo que passando trancas nas portas.

Compete às autoridades saberem que se outros lugares abrirão as portas para não perder o momento,a conta pode voltar com fome. Fome de mais vidas.

Eu estou absolutamente confuso com todo esse amontoado de informações, mas na minha confusão assumida, eu fico quieto, ajustando minha fome ao tamanho do bocado de pão que me resta, pois pode piorar. Ou não. Pelo menos não serei apanhado de surpresa. Gramado foi. Mas a lição está batendo na porta. Aprenda quem quiser. 


E tenho dito!
















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