História é a parte do tempo que está guardado nas lembranças: nossas e de alguém.
História é o que aconteceu, nunca o que acontece, nem vai acontecer.
História é a parte de nossa vida que guardamos para deixar de testemunha das nossas dores. É o presente escondido para tornar-se vivo no futuro, ao falar do passado.
Nossas dores não as contamos enquanto doem. Isso nos humilha, nos rebaixa. Nos reduz à fracos, a covardes. Retrata nossa insignificância e nossa pequenez, que em lugar de lutarmos, transferimos a outrem a nossa amargura presente.
Daí perguntar-se: Como vai? E mecanicamente responder: Vou bem!
Mas não vou bem,eu, e nem você se interessa em saber como eu vou. Já tem suas dores, suas amarguras suas frustrações, seus próprios tropeços para levantar-se.
Ninguém está preparado para ouvir nossas frustrações, porque dessa forma, fica na obrigação de devolver-nos a confiança e contar as suas, desnudar a fraqueza, e arrepender-se amargamente depois.
É perigoso confiar, e mais perigoso ainda receber confiança.
Nos tornamos responsáveis pelos segredos de alguém, e isso é tremendo.
Não choramos no momento da dor diante dos outros, mas guardamos o choro para contar depois, como história, como testemunho. Mas de que adianta não chorar, se nossos olhos contam outra coisa sobre o que dizem os nossos lábios?
Nos envergonhamos pelo momento de fraqueza, mas nos orgulhamos por tê-lo atravessado, quando estamos longe dele. O tempo é nosso aliado, mas às vezes o tempo é também nosso algoz.
Quão bom seria se pudéssemos acelerar a vida durante a dor, e retardar durante o prazer.
]Quão bom seria que nada nunca doesse. Mas dói, e dor é dor, onde cada um conhece a intensidade da sua. Dor não se compara,e muito menos se atenua comparando à dor alheia.
Saber que crianças morrem de fome na Etiópia, é triste demais. Saber que aquilo que você sente nesse exato momento, mas sente-se agora constrangido por saber que há outras dores, é triste igual, pois não bastasse sua dor, há agora a dor adventícia, impregnada, impondo uma culpa que você não tem, e você perde a coragem de externar aquilo que lhe faz sofrer.
Por isso, não é bom contar sobre seu sofrimento no exato momento em que sofre. Deixe pra depois. Deixa pra contar numa ocasião em que possa rir daquilo que lhe fez chorar. Escondido.
Ad histórias que contamos muito tempo depois que se passaram, tornam-se quase fábulas, memórias românticas, tema de um bom livro de aventuras, onde você passa de frouxo a herói, e a diferença é o tempo de hibernação, de sedimentação, de fermentação, de maturação, ainda que seja em meio à dor.
Agora, o que dói, deixe doer. É apenas dor, posto que depois da dor vem o silêncio, de quem sentiu dor, e do vazio de quem ficou.
Seja o que for que aperta o peito, segure firme. É mantimento para sua própria história, que alguém um dia vai contar.
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