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sexta-feira, 4 de setembro de 2020

O que pensa o eleitor, e o que pensar do eleitor?

Imagem: Nenhum candidato foi mauito massacrado neste ensaio.

O eleitor é um indivíduo sinistro. Sei por mim, pois eu sou eleitor. Não que eu seja, assim, um eleitor profissional, não, não sou. Sou amador nesse negócio de escolher pessoas, e posso provar o que digo, de tanta furada em que já me meti, elegendo cada tipo, que dá vergonha só de pensar. 

Mesmo assim, acho o eleitor um sinistro. Sinistro legal, tenho que reconhecer, pois quem aguentaria os mesmos abraços, as mesmas galinhadas nas reuniões do partido, e as mesmas promessas mentirosas tão comuns nas campanhas, e mais que promessas que caducam em poucos dias, os mesmos discursos decorados, o mesmo narcisismo, e o mesmo aperto molenga de mão viscosa. Então, isso tudo se deve ao carisma que o eleitor tem com o tempo em que vive: a campanha!

Eleitor é louco por campanha, pra fazer bullying com os políticos. Ao contrário do que se pensa, eleitor não odeia políticos. Os adora! E tem sua dose de razão nisso, pois campanha política é tempo de fartura, de promessa de felicidade e fortuna, de esperança em boas casas de saúde, ruas douradas e pavimentadas com pérolas, e escolas onde o ensino é feito em permanentes festas com comida em abundância, e bebidas alcoólicas que não deixam bêbados seus beberrões, nem engordam as guloseimas, aos comensais. Um Éden, é só o que eu posso usar como exemplo, o tempo da campanha.

Campanha é o momento em que os pensamentos afloram, do outro e do um: Eleitor e candidato, ambos entrelaçados em uma mistura de amor e ódio, tapas e beijos, pauladas e pétalas. É o embate entre titãs, onde espremem-se até que pingue a última goita de néctar de cada um, ao que denominam de "voto".

Ah, o voto, esse sim vale a pena, e muito. Votar em quem odiamos, só para termos o prazer de esperar quatro intensos anos, até que o candidato volte à nossa casa, como ar de muxoxo, o que em si já é falso, mas necessário.

O eleitor vê no candidato um saco de pancadas para suas frustrações com a vida política e pessoa. Já o eleitor vê o candidato  como uma válvula de descarga da miséria humana, embrulhada em pacote do poder.

O candidato veste uma capa de herói e uma máscara de santo, e o eleitor vesta um manto de santo, e esconde-se sob uma máscara de complacente. Um e outro não se suportam, mas se amam com invejável intensidade, e só no tempo de campanha é que conseguem ser verdadeiros. Separar amor é ódio e cantarolar odes em louvor aos quais odeia. 

Candidato e eleitor são como dois gladiadores prisioneiros por circunstâncias de pátria e aldeia, que durante os dias comuns, convivem na mesma jaula onde são tratados como feras cativas, e que sua libertação não se dá nos campos livres para que percorram de braços com a liberdade,mas em uma grande arena lotada, onde lutam até à morte, para delírio da multidão, onde estão eles próprios, por seu turno, ovacionando outros que lutam e tombam, em nome do que chamam de democracia.

Não existe democracia alguma. O que existe é o desejo de uns brilharem, onde os outros são o estribo, pescoço, e degrau, e o alto do pódium é um pico sem corrimão, onde apenas uma leve brisa é capaz de mostrar quão frágil é sua força própria. O pódio não é lugar de multidão. É a última instância da solidão.

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