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quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

A Utopia do modelo ideal de turismo - Cidades pequenas em busca de identidade



O grande erro do sucesso é copiar o que os outros fizeram. O grande segredo do sucesso: inspirar-se em quem alcançou o sucesso! 

Parace um paradoxo, mas pode não ser, uma vez que a diferença entre o remédio e o veneno, é a dose, conforme dizia Hipócrates, o "Pai da Medicina", nada mais favorável para um gestor público que vê no turismo, um potencial de crescimento para sua pacata, até pachorrenta comunidade, seguir estas duas lógicas.  

Que mal há em contemplar aquela cachoeira e o cintilante riacho que serpenteia as colinas até a queda se derramando em um manto de noiva (talvez por isso, muitas cachoeiras são assim denominadas: "Véu de Noiva"? Ou aquela capelinha onde devotos peregrinam em busca de um milagre, segunda a sua fé? Ou ainda aquele grupo de senhoras que tem habilidade criativa e produz bonequinhas de palha de milho? Ou tecer redes em teares caseiros? Ou os entalhadores que escavam efígies em velhos troncos? Não seriam estes motes capazes de serem notabilizados em pontos de visitação, despertar o empreendedorismo local? Fazer crescer as quermesses e festas comemorativas da colheita ou produção de frutos notáveis da região? Por que não chamar visitantes para ampliar os ganhos das barracas de confeitos e produtos locais? Seria inoportuno desejar que sua população recebesse as benesses de suas habilidades e talentos? Claro que não! Mas, estarei sendo incoerente com o que já escrevi até aqui, sobre os riscos do crescimento desmedido, do inchaço expansivo acelerado pela ganância? 

Não! Não estou sendo incoerente, e justifico. O que eu chamo à reflexão, não é o turismo como fator de desenvolvimento, mas o turismo predador, como elemento de hiper crescimento desenfreado, que desumaniza e esmaece a identidade local e regional. O que trago ao debate é aquele turismo onde apenas o ingrediente econômico seja a razão de sua existência, e não aquele primeiro turismo que menciono no primeiro ensaio desta série, em que o segredo está na qualidade dos produtos, na originalidade do que é oferecido (mencionei queijos, vinhos, gastronomia original, artesanato, etc), que pode ser estabelecido enquanto ainda se pensa em implementar um plano de turismo em cada cidade pequena, porque pode ser devidamente estudado, podem ser vistos os desconfortos causados pelo turismo e crescimento descontrolado, e pode ser contido ainda na base. 

Um município que deseja iniciar seu projeto de turismo, não apenas deve refletir, junto de seus munícipes, sobre os prós e contras de cada projeto, de cada modificação estrutural viária, ou edificações de infraestrutura, sem que primeiro se conheça o comportamento da própria população face à presente de corpo estranho ao meio, porque o turista é exatamente isso, quando não há uma definição de espaços e permissões: um corpo estranho que pode causar reações internas e um, e outro, acabam por se estranhando pelo despreparo, tanto do habitante local, que vê-se de um momento a outro com sua intimidade invadida, e do turista, acostumado a viajar, que imagina encontra as mesmas regalias que encontra em polos estabelecidos, estranhando e criticando como de má qualidade a pousada que tem um lavatório no quarto e banheiro coletivo, ou que o café da manhã é servido individualmente, em lugar de buffet, coisas desse tipo, normais em um lugar, vulgares em outros, sem levar em consideração que o lugar possa estar apenas iniciando seus pequenos passos no atendimento, de um destino recém descoberto, na pura intenção de bem servir ao visitante, que reclama do atendente que nbão é bilíngue, ou algo assim. Claro que para ilustrar eu cometo alguns exageros, mas é mais ou menos essa a situação do principiante, seja no turismo, seja no desenho, como eu, que quando comecei, meus traços eram horripilantes, e hoje, com experiencia, são apenas feios.

O gestor público que tiver a coragem, quase ousadia, de reunir a população, diante da intenção de realizar um projeto dessa natureza, e não apenas desenhar as belezas, mas expor os riscos, e souber negociar o ponto de equilíbrio entre um e e outro, estará dimensionando um crescimento saudável a longo prazo. Iniciará com um levantamento de potencial de fornecimento de insumos e acomodações; mapeará as carências manufatureiras, e motivará a implantação destas, antes mesmo de colocar a primeira placa de boas vindas. Deixará aquele belo projeto de pórtico para o final do check list, e capacitará todos os envolvidos para que seja fechado o ciclo do bom atendimento, da boa gestão financeira e administrativa, não relegará aos contadores a obrigação de construírem modelos gestores eficientes e ficazes, e não deixará para seus marqueteiros a tarefa de "lotar a cidade", antes de garantir que a lotação seja equilibrada, e não se confunda "lotar" com "abarrotar". De tudo isso tenho modelos já conhecidos. Tudo isso já vi acontecer em pequenas e até grandes cidades. Já vi lugares estampando capas das maiores revistas da época, como modelos e desejo de consumo, se transformarem em bolsões esparramados de pobreza em suas periferias.

Antes de votar um Plano Diretor para o urbanismo do município, o município desejoso de tornar-se um ícone turístico, deve preocupar-se em como essa transformação se dará em cada cidadão, em cada criança, em cada família. Família, criança, cidadãos, em segundo lugar, pois o primeiro, sempre é de D'us.




Como nasce o turismo nas cidades pequenas - O modelo das abelhas



Ilustração: Pacard

Quem lê o título do ensaio até pensa que eu entendo alguma coisa de turismo. Até parece! Sou apenas um palpiteiro que observa as coisas e consegue tirar a película dourada do marketing, e enxergar o que acontece atrás da cortina de voal que doura o turismo como a salvação econômica de pequenos municípios. Parece que passou um vento de soluções mágicas e soprou sobre os gestores de cidades pequenas, que a melhor forma de passar a existir no mapa, é pulverizando purpurina e mel, para atrair, pelo brilho, as mariposas, e pelo perfume, as abelhas. Ilustro aqui, as mariposas, como a parte nociva do turismo, esta que ninguém ousa comentar, e chamo de abelhas, aquele turismo que faz crescer, traz oportunidades, fortalece a economia e a cultura, mas sempre lembrando que abelhas tem ferrões, e aqui  estou falando das abelhas importadas, aquelas que fazem dodói quando espetam o traseirinho nas pessoas e animais, porque existem as nativas, e sim, estas tem um grande espaço na minha reflexão.

Nenhum lugar nasce do turismo em si. Em geral, são pequenas vilas, ou municípios, que possuem algum atrativo especial, seja natural, ou  específico (um santuário, uma igreja, um palácio abandonado, um lugar histórico, e assim por diante), que começam a receber visitas de curiosos ou devotos, em que, em determinado momento, um morador local percebe a necessidade dos visitantes em se alimentarem, e a oportuindade de ganhar algum dinheiro extra, oferecendo refeições, lanches rápidos, e começa por oferecer alguma especialidade local, um tipo de biscoito, de comida caseira, algo se seu consumo familiar tradicional. Uma vez que haja relativo conforto para a visitação, os visitantes começam a indicar o lugar, e mesmo retornarem, trazendo outras pessoas, e o negócio crescem para os locais, uma vez que o vizinho do dono da barraquinha percebeu a oportunidade, e abriu uma em frente à sua casa, oferecendo outras variedades de lanches, agregando potes de conservas, geléias, doces, empregados no lanche consumido, e o negócio prospera. Ao longo dos anos, o lugar já está referido em mapas regionais com opção de lazer, e já faz parte da economia local. A prefeitura melhora as ruas de acesso ao local, e com ruas melhores, novas tendas e lojinhas vão se instalando pelo trajeto, que agora já é chamado de "Ponto", e os pontos se valorizam, os preços sobem, as tendas se transformam em lojas, novas salas na frente das casas (vejam o artigo onde comento isso, a troca da casa pela loja), as ruas são asfaltadas, recebem calçadas para pedestres, iluminação de qualidade, nos fundos da casa alguns instalam pequenas oficinas, marcenarias, espaços de produção de artesanato local, retirado das habilidades ancestrais, que são aprecisadas pelos visitantes, e ao largo do tempo, o pequeno local de visitação pitoresca, com uma barraquinha de lanches ao lado, torna-se um polo de produção e comercialização de produtos, inicialmente artesanais, mas com a demanda acelerada, passam a terceirizar a produção para atender às vendas.

Ocorre que o terceirizado, ainda que não tenha nenhuma relação com o local de origem, percebe que seus lucros estão escorregando para as mãos do intermediário, e eles próprios, os terceirizados, começam a produzir suas próprias marcas, e abrem lojas no mesmo trajeto onde se encontram seus antigos clientes, e também crescem. Este intenso crescimento, desperta a atenção de visitantes, que não são apenas turistas, mas potenciais investidores à procura de novos nichos para ganharem dinheiro, e um lugarejo florescente, mas ainda empírico, necessita de visão estratégica, de especialistas, para potencializarem o crescimento, de estabelecerem marcas próprias, e expandirem as vendas. Necessitam de "griffes", mas no frigir dos ovos, os autóctones nem sabem o que é uma "griffe", e quando sabem, não tem a menor ideia de como tornar isso um grande empreendimento, não apenas "griffes", mas franquias, e isso precisa de dinheiro, muito dinheiro, e os lucros contados da pequena loja, ainda que abarrotada de compradores, não garante investimentos que cubram o "timming" de retorno de uma rede de franquias, de fixação de marca no mercado, e de expansão sem inchaço, com gestão adequada, para que tudo flua. E a cidade cresce, e não apenas a cidade, mas os municípios vizinhos, que dão acesso entre a capital àquele lugar, percebem o alto tráfego de veículos, passando diante de suas portas, fazendo barulho e poeira, trazendo perigos para as ruas, e percebem que gente passando na frente de casa é tudo o que os marqueteiros mais gostam, para ali instalarem as lojas de seus clientes. E agora não há mais um ponto de atração apenas, pois alguém descobre que a velha Tafona de mandioca, o velho moinho com roda d'água desativado dos avós, podem ser transformados em atrativos, e à volta deles, lojas, venda de produtos, a Tafona e o Moinho são reformados, estilizados, e voltam a moer farinhas, que são vendidas a preços dez vezes acima de mercado, porque não são apenas farinhas, são souvenirs. E quando não houver mais Tafonas e Moinhos originais, constroem-se novas Tafonas e Moinhos, como se antigos fossem, e novos atrativos são criados. E por que não juntar uma serie de atrativos que estavam guardados nas lembranças dos antigos, em um belo parque temático? E por que não canalizar e proteger a velha bica d'água e engarrafar o líquido, e vendê-lo como medicinal, milagroso, desejável?

São as flores que trazem as abelhas, mas junto das flores, que encantam durante o dia, por que não também fazê-las encantar á noite? E os jardins e parques são iluminados para que as flores não deixem de ser admiradas. Porém (ah, aquele estúpido porém, sempre no caminho), luzes atraem mariposas, que põem ovos e nascem larvas, e larvas comem flores e plantas, então é preciso eliminá-las, e não há pássaros suficientes para comer as mariposas, porque estas gostam das luzes da noite, enquanto os pássaros se refuciam para seu natural repouso. Então, chegam os recursos humanos, isto é, os meios de eliminação de pragas, os venenos, que envenenam as águas, as mesmas águas já poluídas pelo esgoto dos hotéis e restaurantes que surgiram pela demanda de acomodações, e o esgoto devolvido aos rios, ainda que com paliativos de tratamento pelo caminho, não dá conta de purificar a água, e a mesma água, antes pura da bica, onde todos bebiam na concha da mão, agora está contaminada, o lençol freático não deu conta de filtrar as impurezas, porque seu volume continua sendo o mesmo de antes, mas o que foi despejado nele se multiplicou.

E para matar as larvas das mariposas, morrem também as larvas das borboletas, e morrem também as abelhas, que antes polinizavam as lavouras, os pomares, e agora, as lavouras e os pomares não tem mais razão de existirem, pois não há mais braços fortes dos jovens agricultores, que descobriram nas facilidades e comodidades de servirem aos turistas, um modo muito mais eficiente e eficaz de prosperarem financeiramente, porque ganham em um mês de trabalho nos hotéis, fábricas, e restauramtes, o que ganhavam em um ano de lavoura, isso tudo sem intempéries que lavam a terra e levam as plantas, sem o excessivo frio que mata os brotos, sem o tórrido calor que seca o chão e faz sucumbir a colheita.

Ainda assim, como um trem descarrilhado, o turismo, já agora, predador e não mais provedor, atrai mais investidores, que abarrotam as estradas com caminhões carregados de cimento e ferro, para construírem novos edifícios, pois não há mais terrenos disponíveis no núcleo principal da cidade, e o céu começa a ser invadido pelas garras dos arranha-céus, que  rasgam as nuvens, e roubam o sol dos parques e jardins, das praias, e rios, das varandas onde sentavam-se as famílias ao entardecer, para contar e ouvir histórias, rezarem juntas, e comerem os biscoitos que as velhas avós sempre tinham guardados em potes de vidro decorado por paninhos bordados.
Não há mais entardecer, nem se sabe mais a diferença entre dia e noite por causa das luzes que devolvem o dia até altas horas daquilo que só é noite do lado de fora do lugar. E os pássaros, que dormiam ao pôr do sol, e acordavam aos primeiros raios do alvorescer, agora cantam no meio da noite, dormem nas soleiras das janelas, e catam migalhas nas latas do lixo despejado, das sobras dos restaurantes, e fazem isso antes que os criadores de porcos passem com suas carrocinhas abarrotadas de latões, recolhendo os lucros da fazendas clandestinas, as mesmas que também abastecem os restaurantes de ondem recolhem as sobras da glutonaria comensal de seus visitantes lucrativos.


Esta é uma elucubração de ficção. Não conheço nenhum lugar assim*




terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

Pessoas Criativas e pessoas Repulsivas - O tipo de "sucesso" que as define

Arte: Biluca Bimbão, O Sapo que queria voar - Pacard, 2014

Inovação é um conjunto de temperos que dão sabor ao sucesso. Inovar e criar não são atos solitários, mas solidários. 

Dirão meus detratores em sua furiosa ânsia difamatória de minha pessoa que por escrever tais e tais reflexões, assim, de chofre, possa ser eu um despeitado e desacorsoado com a vida que levo, haja vista que por diversas ocasiões tive que ouvir o seguinte mantra:
- Paulo Cardoso (ah, como odeio quando alguém me chama pelo nome e sobrenome conjugados, pelo fato de que quando isso acontece, é porque atrás vem pancadaria, por exemplo, quando a mãe tem uma vara de marmelo, ou uma chinela na mãe, balançando, uma e outra, com olhar superior de ódio incontido e calculado e dizendo com separação das sílabas: "Pau-lo Car-do-so! Quantas ve-zes eu te..."plaft, cataplaft, paf...)te falei pra não fazer isso..." Assim, sempre que alguém me evoca pelo nome completo, e começa com um rasgado elogio de minhas pretensas virtudes artísticas e intelectuais, já tenho a certeza que, como trovoadas em sequência trarão temporal, também atrás dos elogios virão as grandiloquências muares que começam com: "Mas...!".

Isso posto, direi que sim, talvez soe como um desabafo em justiça própria, e com as próprias mãos, uma vez que dedilhografo tecla por tecla para tornar meus textos com aparência inteligível, e ora segue o proposto, segundo o preêmbulo e a chamada do ensaio: "Pessoas criativa e pessoas Repulsivas - O tipo de  "sucesso"  que as  define!"

Pessoas criativas e Pessoas repulsivas: Onde vivem, o que comem, como se reproduzem, como sobrevivem, umas, em detrimento das outras? Isso tudo e muito mais vamos tergiversar aqui neste discurso de minha lavra sobre a pequenez humana disfarçada de bem sucedida efígie nas sombras da mediocridade. Eis os fatos.

Esatava eu, certa ocasião (o fato repetiu-se muitas e muitas vezes ao longo da vida, então a resposta que hoje darei (e dei) é um coringa que se encaixa em todas as perguntas dessa natureza:
- "Paulo Cardoso! Você é inteligente, talentoso, desenha bem, é criativo, então por que não é bem sucedido?"
Carinhosamente dirijo-me aos meu interlocutor, que à ocasião em que diz isso, está confortavelmente assentado em uma cadeira  Hermann Miller, rodopiando a bunda gorda, segurando um cheque para pagamento de meus honorários, e respondo com doçura na voz, sincera (quase):

- De fato, sua pergunta é assaz pertinente (sempre falo difícil quando quero ser irônico, mordaz, cínico), pois outros perguntam o mesmo, e como bom aprendiz de judeu que sou, vou responder com outras perguntas, se me permite: O que você tem na mão? (O cheque, é a resposta). Muito bem, você se considera um idiota, um otário, um ingênuo, que seja fácil de ser enganado?
- "Nãooo!" - Responde-me de chofre!
- Muito bem, eu concordo consigo, pois você está pagando os meus honorários de um serviço ne natureza intelectual que prestei à sua empresa,e contribuí, com isso, para a manutenção dos empregos de seus colaboradores, além de prover lucro para seus investimentos, e colaborar com a vida digna que você dá à sua família; com o combustível de seu carro importado, da sua dignidade entre seus pares empresários. Estou certo?
- Corretíssimo, sim!

- Obrigado!  Então, permita-me dizer o que eu vou fazer com o dinheiro deste cheque: Vou pagar a mensalidade da escola dos meus filhos (ah, alguém leu meu artigo anterior onde eu falo que o novo rico tira os filhos de escolinha da vila para que estude em escola da nata social, e que sou incoerente por isso, certo? Errado! Meus filhos sempre estudaram em escolas pagas, por razões de logística e porque sim, a qualidade das escolinhas deixavam a desejar, assim, não deixei de apoiar uma para gastar na outra, pois vivemos em um país onde a educação e a cultura são considerados, desde os tempos coloniais, "coisa de mulherzinha", e continuo achando sim, que se o que é investido em escolas particulares, se houvesse uma condição de suporte para as escolas públicas com estes valores, não há nenhuma lei que impeça que isso seja feito, e imagine, se o Estado, o Município, tivesse que investir apenas nos salários dos professores, ou vice versa, que investisse no patrimônio, e que as parcerias com a sociedade bancasse os salários dos educadores, que maravilhosas escolas teríamos, e sim, sonhar eu posso)... Vou pagar o supermercado, as roupas, o carro,e seus impostos, vou ampliar a minha casa, investir em equipamentos de trabalho, investir um pouco com lazer, enfim, dar dignidade à minha casa, isso porque meu sucesso depende do seu, assim como o seu, depende um poudo do meu talento, que você acada de elogiar.

Quanto ao "sucesso", ou ser eu "bem sucedido",. te pergunto então: O que você entende por "bem sucedido"? Tem um carro? Eu tenho. Novo, e há muitos anos que só tenho comprado carros novos na revendedora. Tá certo, é da linha quase popular, mas tem bom desempenho e me leva onde preciso ir com dignidade. Ou então uma boa casa? Sim, tenho uma linda casa (hoje, apartamento), decorada ao gosto da minha esposa (óbvio). Três filhos educados, bons cidadãos, dignos, sendo um empresário, uma cientista em finalização de doutorado, e um profissional de computação. Sou casado há 44 anos com a mesma mulher, tenho uma fé e sou temente à D'us, viajei à todos os lugares do mundo onde eu tive vontade de ir, e sempre fui à trabalho, o que significa que tive alguma competência para ser chamado à tais lugares, jamais tive um processo judicial contra mim, portanto sou respeitador das leis, e entro pela porta da frente em todos os lugares por onde trabalhei. Tenho tudo o que preciso e nada falta à minha família. Tenho uma esposa digna, e cinco netos perfeitos, lindos, amados. Tenho, sim problemas, desafios, percalços, e isso é o que me torna criativo, me impulsiona. E uma última pergunta: E você, é bom em que mesmo?

Vou encurtar o assunto: Todos os que me fizeram esse tipo de perguntas, a despeito da situação em que se encontravam na época, estão falidos hoje.

Bem, a má notícia é que este foi o preâmbulo de minha reflexão, mas precisei dar um testemunho pessoal para justificar o fato de que sei do que estou falando. Senti na pele ao longo da carreira, o sentimento de desprezo daqueles que se julgam superiores porque sejam mais proeminentes do aquilo que eu nunca desejei ser. E sei o custo de ser criativo num mundo onde em terra de cego, quem tem um olho, cala a boca, disfarça, e sai de fininho, antes que te furem o que ainda enxerga, só por inveja. Isso mesmo! As pessoas sentem inveja daquilo que julgam nos outros, as tornarem diminuídas. 

Certa ocasião, fui pedir emprego a outro empresário, que também comprava meus projetos, e ele me respondeu que nunca iria me contratar, porque eu era mais inteligente que ele e ele jamais trabalharia com alguém que fosse mais inteligente que ele. Respondi que essa atitude provava que ele era mesmo muito mais inteligente que todos, porque só quem tem uma inteligência assustadoramente proeminente é capaz de refutar outra com tamanha franqueza. A propósito, todos os funcionários dele, o colocaram na justiça do trabalho e ele teve que encerrar as atividades. Talvez tenha ido instruir-se, não sei.

Parece que estou me gabando, mas não estou. Não preciso disso. O que estou é contando fatos que aconteceram comigo, porque isso me torna testemunha das mediocridades que assolam nosso entorno. E eu tive a dignidade de contornar estes caminhos, e tornei-me Polímata exatamente por conta dessas vicissitudes ocasionais, e conheço o lado B da página.

Publiquei, há alguns anos atrás, um livro denominado: Teoria da Criatividade, (adquira aqui em português) (adquira aqui em inglês), onde falo que nós somos cercados pela constante necessidade de inovar coisas, inovar os sonhos, inovar a vida, inovar o mundo, e só a mediocridade é capaz de frear nosso movimento nesta contínua busca dentro do desconhecido, seja ele estético, prático, físico, mental ou até mesmo espiritual. 

Eu não peço à D-s por riqueza, mas que me livre de gostar do mal, e da mediocridade.

Os criativos eram temidos pela sociedade, assim como eram também os deficientes, nas culturas antigas. Os criativos ainda são tomados como  irresponsáveis por muitas pessoas, especialmente no meio empresarial  menos esclarecido, porque são inquietos.  Há uma repulsa quase natural por aqueles que destoam do Status Quo do grupo, que se permite modelar pela vontade soberana daqueles que sentem nos criativos, rivais, que ameaçam sua autoridade diante dos demais. 

Não suportam a mesmice, são irreverentes, muitos, quase intolerantes,  e acabam por tentar mudar as coisas, só que nem sempre suas atitudes são benvindas.  Toda mudança gera responsabilidade em aderir a ela, quebrar  paradigmas, andar noutra direção. E isso pode ser o fio da navalha para  os criativos, pois quando a criatividade se choca com a mediocridade, os  resultados podem ser imprevisíveis. Cabeças rolam em grande parte das  vezes que isso acontece. Medem-se forças de convicção e assimilação. 

Se os medíocres estiverem em maioria e tiverem potencial capacidade de formação de opinião, os criadores podem preparar suas malas e buscarem outros palcos para encenarem suas tragédias. Se o contrário acontece, então, são os medíocres quem precisam se reajustar com as novas diretrizes. 

Em geral, uns poucos líderes desta rebelião ideológica são decepados do grupo e os criativos assumem a inovação. Os demais se tornam massa inerte e cumprem o estabelecido. Mas não são medíocres. São pessoas normais.  Em minha geração de pós-adolescência, anos 70, havia conceitos que norteavam a conduta social através de certas particularidades das pessoas.  O corte de cabelo, o friso na calça, chapéu, gravatinha fina, camisa engomada, óculos quadrados e abotoaduras, perfilavam um homem decente, aceitável pela sociedade. Caso este personagem fosse funcionário de um banco qualquer, de um escritório de contabilidade, um gerente de fábrica ou uma profissão qualquer relacionada à organização, produção ou governo, tornava-se um excelente “partido” para casamento, amizade ou participação na comunidade. Ao contrário disso, quem fosse  criativo em excesso, volúvel nas ideias, artista, pensador ou exercesse  qualquer profissão menos cartesiana, era considerado um sinal amarelo  para maior proximidade com pessoas “decentes”. Neste saco de gatos estava o criativo, o inventor. O Ser Criativo era uma praga social. Poderia agir, contanto que não excedesse os limites preestabelecidos, isto é, que permanecesse no mesmo emprego, que não ousasse expor seus sonhos  para não passar por louco ou que ousasse ser empreendedor sem ter suficientes  recursos que lhe garantisse continuidade e sucesso no empreendimento.  Evidente que qualquer empreendimento precisa ter planejamento,  serenidade das decisões, alguma experiência e sobretudo coragem. Mas também é necessária ousadia. Muita ousadia, caso contrário seria apenas  mais um no mercado. 

Entrar no mercado por primeiro é um risco enorme, porque não há parâmetros para estabelecer metas ou traçar paralelos de sucesso ou fracasso.  Os aviões comerciais tem suas rotas, altitudes e horários, determinados pelas torres de controle, para que não cheguem cedo demais, ou tarde demais, ou ainda em horários conflitantes com outras aeronaves, o que poderia se tornar uma catástrofe imensa, não fosse a ordem e os roteiros estabelecidos. Há um tempo para tudo, diz o sábio da antiguidade, e o tempo é o fator determinante dos resultados que se espera das atividades relacionadas com a sociedade. Este sincronismo determina a dita normalidade da sociedade, embora as variáveis também sejam interpostas com as constantes deste entrelaçado evolutivo. Se interligam criativos e executivos, tal como gordura e carne, fibras e silício e outros opostos naturais na fisiologia das espécies

Há, porém o benefício do inusitado, da surpresa, da coragem. Tantos são os empreendimentos que fracassam quantos são os que prosperam  no campo da inovação. Mas não se pode atribuir à inovação em si os méritos pelo sucesso apenas, como não se pode atribuir à mesma  inovação o demérito pelo fracasso. Inovação não é invenção barata, loucura manufaturada ou uma bolha etérea sujeira ao vento sem um leme. 

Inovação é um conjunto de temperos que dão sabor ao sucesso. Inovar e criar não são atos solitários, mas solidários. 

Concluo contando a última história de hoje.
Eu atendia uma importante indústria, com esporádicos trabalhos, e como nunca me contentei em entregar apenas a encomenda, eu oferecia soluções extras para seus produtos, ainda que não tenham sido criados por mim. Soluções práticas para evolução dos produtos. Um dia, sugeri ao cliente que contratasse minha consultoria de modo permanente. A resposta dele foi:

- "Paulinho! (Este teve a delicadeza de me chamar pelo diminutivo carinhoso que só parentes chegados e amigos fazem) Se eu te contratar, estarei criando um problema com minha equipe. Tu é muito criativo, e isso iria gerar ciumeira, e eu poderia até perder alguns funcionários!"
Curiosamente, recebi a mesma resposta de outro empresário, que tinha a mesma preocupação. Apenas não me chamou de "Paulinho", mas de "Medalhão!". Aí foi que entendi que curriculo e portfólio deve ser mostrado só a sinopse, senão não tem trabalho, e muito menos, emprego. Tudo deve ter um tamanho, uma quantidade dosada, senão o bolo desanda.
A propósito, o primeiro empresário, continua firme e forte até hoje. Soube dizer "não" com delicadeza. Sabe que "sim e não" são apenas instrumentos da caminhada, e não precisam servir de chibata para punir aqueles que ousar ser criativos.



segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

Turismo e Violência de Gotham - Em qual momento se deve frear o crescimento de uma cidade turística?


Imagem gerada por Inteligência Artificial Dall-e*

Ainda em sequência às reflexões sobre os efeitos do turismo sobre pequenas cidades, estas que não estão estruturadas sobre alicerces com raízes culturais, sejam gastronômicas, produtivas, ou de transformação e identidade, e de uma hora para outra (esta hora pode durar duas, três ou mais décadas), se encontram dominando o espetáculo e se tornam polos regionais, quero considerar não apenas os benefícios óbvios do crescimento econômico e social, mas também os aspectos da relação entre o indivíduo que delas fazem parte, e seu desenvolvimento humano, familiar, religioso, político, e social.

Parece complicado o assunto, como complicado também é acompanhar as transformações de uma sociedade durante o curso de uma vida, com relativa memória do  "antes" e "depois" destas transformações.

Tirando o saudosismo inerente à todo Ser Humano, aquele que transforma os tempos de antanho em paraíso, e os tempos atuais nos portais do inferno, nem tanto ao Céu, nem tanto à Terra, mas um passeio analítico pelos intrincados caminhos que transformam uma sociedade, inicialmente comunitária, em acirrada arena concorrente, ainda que tais disputas se deem de forma construtiva, isto é: "minha loja é mais linda que a sua; meus preços são melhores que dos preços do concorrente", mesmo sendo "o concorrente" o melhor amigo, parente, ou irmão, ainda assim, negócios são negócios e parente e amigo é pros dias de folga, e claro, em lugares turísticos, as folgas nunca acontecem como nos velhos tempos, sábados, domingos, e feriados, porque estes dias são os melhores momentos para faturamento, afinal, turistas não viajam durante os dias produtivos da semana, e produtivo para quem vive do turismo, são exatamente os dias, antes dedicados ao lazer, à família, aos amigos, e ao ócio prazeroso. 

O prazer agora é outro. É o tilintar do caixa (olha eu de novo aí com citações antigas), ou o cantarolar do envio de "PIX" pelo smartfone. Este sim, um prazer virtual que ocupa a virtualidade da vida, paripasso com as redes sociais, também já quase caindo em desuso, os filmes enviados por streamming, os quais servem de sonífero, junto com o Rivotril sublingual, ou na outra opção da taça de vinho, caipirinha, drink com petiscos, no happy hour, tipo onze da noite, hora em que se consegue um instante de sossego, e amortecido pelo cansaço, é acolhido pela cama corfortável que o sucesso econômico da loja e seu polpudo faturamento nos proporciona (esse "nos" é metáfora, viu).

Vamos ao lado Gotham da situação. Tirem as crianças da sala, porque preciso dizer certas coisas a partir daqui, por caridade. As consequências do turismo, não apenas pelo turismo em si, mas pela castração do lazer em dias determinados, e aqui não vou pender para a religião, e sim pela necessidade de um descanso semanal, de cunho biológico,e não apenas descanso no sentido de se jogar na cama, mas de conviver com amigos, familia, com o jardim, jogar conversa fora, contemplar a Natureza, rezar, amar, discutir, esquecer por certo número de horas, os compromissos com as contas, com os boletos, e com a necessidade de aumentar o faturamento. 

O lado Gothan, sombrio, obscuro disso é que quando você substitui o dia comum de repouso (Sábado pra mim, pros judeus e  adventistas,e outro tanto de crentes que também guardam este dia, Domingo para as demais denominações  cristãs, e nem vou acrescentar a Sexta Feira para os islâmicos, porque aqui onde moramos não é forte a presença árabe), então deixemos para outras estatísticas vindouras. Assim, quando trocamos o dia comum de lazer por outro qualquer, naturalmente este outro dia não irá concidir com o dia escolhido por meus contatos íntimos, e portanto, dificilmente as famílias e amigos irão reunir-se numa quinta-feira para um churrasquinho, ou na quarta feira para aquele futebol à tarde, etecetera e tal. 

Certo, chegamos até aqui e já encontramos um ponto conflitante entre a relação do sucesso comercial e crescimento humano e familiar. Porém, Gotham ainda não terminou. Tem mais. Preparem-se para o próximo parágrafo, quando trataremos das crianças.

As crianças

Conforme anunciado no parágrafo anterior, há crianças, que, ainda que já devidamente retiradas da sala, se tornam os maiores reféns dessa desmedida ânsia pelo sucesso: São elas que não correm mais atrás de borboletas (aquele bichinho que nos encanta com seu tatalar de coloridas asas em primaveris manhãs), atrás da bola, atrás umas das outras, não no parquinho murado das escolas, mas pelas ruas e praças, onde outrora brincavam à volta dos olhares atentos dos pais, ou nos dias dedicados às atividades religiosas, nos cultos, nas festas das igrejas, nas atividades sociais das congregações, nas gincanas das escolas e da comunidade, nas festas típicas e  quermesses, onde os churrascos sucediam os cultos e missas, e precediam os jogos e brincadeiras das tardes, os namoros, o olhar atento das mães obre os casais de jovens que sorrateiramente se refugiavam em cantinhos guardados para o amor e os beijinhos estalados, que só os jovens sabiam dar uns nos outros. Isso era o modo comum de uma comunidade tradicional. Assim é o modo de uma comunidade tradicional de uma cidade que não vive do turismo como fonte principal de sua ecnonomia. Falemos agora do que viemos para falar: das consequências (ou inconsequências) que essa ruptura no modo convencional de estrutura comportamental de uma sociedade sofre pela quebra de paradigmas da convivência humana.

Se de um lado, o dinheiro, que entra a mais no orçamento, ajuda a trocar a velha geladeira de 230 litros, amarelinha, por uma bela triplex de aço inox de 800 litros, e claro, a velha casa da cerquinha branca, agora necessita de uma mansão em seu lugar, pois os recursos assim o permitem, e é evidente que quem mora numa casa assim, precisa de um carro grande, luxuoso, que tenha maior potência, ainda que o trajeto entre a casa e a loja ainda seja o mesmo. É evidente que a escolinha pública com a professora que faz rifa para comprar lápis de cera, já não serve mais, e em lugar de contribuir para melhorar a escolinha, e adquirir lápis de cera para as aulas de artes da professorinha, é mais conveniente matricular as crianças naquela escola de classe social mais elevada, pois agora pertencemos à elite empresarial do município, e a escolinha pública envergonha ser mencionada nos encontros sociais refinados da nova roda de amigos que se alinhou às nossas aquisições, proporcionadas pelo sucesso da loja que vende muito mais, apesar dos fins de semana roubados de nossas vidas.

Porém, Gotham ainda não terminou. Sei que incomoda, mas eu preciso falar sobre o que acontece com as crianças, cujos pais não tem mais tempo para os encontros diários à mesa, e semanais na igreja, nas praças, nos parques, nas casas dos parentes, nas rodas de amigos... Sei que chateia ter que falar disso, mas as crianças agora tem seus equipamentos importados, sofisticados, seus games, sua tevê de cinquenta polegadas, chave na porta do quarto, e bem, se os pais e avós não tem mais tempo para eles, alguém terá. Talvez os amigos, ou os amigos dos amigos, ainda que sejam, digamos, traficantes, afinal, o que é uma cheiradinha, uma tragada, uma injetadinha, entre amigos, afinal, pois os pais nem perceberão mesmo a ausência à mesa, uma vez que eles próprios estejam ausentes? Quem perceberá as notas ruins na escola cara, se as mensalidades são pagas rigorosamente em dia, pelo débito automático? Quem irá perceber os olhos profundos atrás dos óculos importados que escondem a tristeza por detrás do acrílico prateado das lentes? Quem irá perceber o linguajar amorfo e vazio, pobre em vocabulário dos filhos, quando as palavras não fazem mais sentido para aqueles que tem outras ocupações sociais e empresariais, do que ficar ouvindo os "papos enfadonhos" de meninos e meninas que já falam em uma linguagem ininteligível, ou inteligente demais para os padrões desleixados do nosso linguajar convencional até os dias que antecederam nosso sucesso financeiro? Mas afinal, precisamos dos fins de semana e dos feriados prolongados para manter a folha de pagamento em dia.

No entanto, Gotham ainda tem mais bairros a mostrar, como por exemplo, as ruas, por onde outrora transitávamos com a pachorra de um entardecer e hoje tornou-se um shopping à céu aberto de prostituição? Por que dar importância se os crimes dos tempos de antanho eram furto de galinhas e uns tabefes de bêbados em botecos, e hoje fala-se em execuções por máfias à luz do dia em devedores de drogas, ou filhos, cujos pais complementam números nas prisões, porque o modo de vida suntuoso do vizinho os levou a desejarem também ostentar as mesmas marcas, e como dinheiro não cai do céu, mas pode ser conseguido de modo subjetivo, resulta em flagrantes e condenações, legando à condenação de filhos que, mesmo tendo a liberdade de irem e virem, não tem mais a dignidade de abraçá-los à noite, nos fins de semana, que foram trocados pelo sucesso, pelo crescimento competitivo, pela vida de ostentação?

Gotham nasce quando morrem os valores, os princípios, o apego à família, à fé, às tradições. Nasce Gotham quando o prédio que substitui a velha casa dá mais notoriedade à loja da frente do que o lar dos fundos. Gotham emerge das profundezas da desenfreada ambição de competir, em lugar de estender o caminhar para alcançar e reduzir o andar para ser alcançado. Gotham brota da troca dos dias de companhia dos amados, pelos dias avulsos de adoção pelos fornecedores. Brota da falta de equilíbrio entre a gestão econômica e a interação humana.

Seria irresponsabilidade minha denunciar as causas do nascimento de Gotham, sem oferecer alternativa para que outro cenário se desenhe, com equilibrio entre o progresso econômico e a responsabilidade humanitária, e este caminho passa pela Inteligência de Gestão (IG), que nesta leitura "góthica" vislumbra apenas o aspecto negativo do turismo, mas que exige um novo olhar, onde um ombudsman (aquela pessoa que olha o lado do cliente) seja ativado em cada projeto e que nenhum esforço seja poupado para que a gestão econômica esteja acima da gestão humana.

E claro, que eu nem mencionei outro aspecto do turismo sem raízes, aquele que mencionei no artigo anterior (leia aqui), onde se o turismo precisa oferecer solidez na fonte, um mote que promova interesse por visitar determinado lugar, também, e aqui olhando o aspecto humano e as consequências da falta de equilibrio entre a gestão financeira e social, e a humana e familar,  aqui quero fazer referência ao verdadeiro objeto do turismo, que o velho mundo já descobriu e toma conta disso, quando estabelece uma linha limítrofe entre sua vida particular e a invasão de privacidade comumente enfrentada pela falta de ética do turista de modo geral, que acredita ser o umbigo do mundo e que ele está ali para ser servido em todas as suas vontades, transformando aquele que o recebe em um "conciérge", um servo de suas vontades, ainda que tais vontades acabem por torná-lo escravo daquilo que oferece para conquistar o mimado visitante. É aqui o ponto que certamente será clipado e cobrado de mim algum dia, mas digo e repito: O turista é um mimadinho, que exige receber na casa dos outros aquilo que nem mesmo na sua casa pode ter. E eu tenho moral pra dizer isso, porque em todas as viagens que já fiz, em nenhuma delas me comportei como um idiota, como um mimado, como alguém com poder de tornar meu anfitrião um marionete de meus desejos, apenas porque eu estava pagando por alguns de seus serviços rotineiros. É como que tratar o gerção como um capacho, porque este está ali a serví-lo, mas não percebe que está sendo ridículo, e quem vai beber a bebida que levou uma cuspida é ele próprio, por ser idiota.

O turismo deve ser uma recíproca de interesses e prazeres. O visitante deve ser grato pela oportunidade de conhecer algo novo. O anfitrião, deve ser grato pela oportunidade de servir aquilo que tem de melhor e receber a justa paga por seus bons serviços. Mas este deve ser o limite. Nem o anfitrião deve (não deveria) assimilar os maus modos do visitante, nem este deveria imaginar que aquele que o serve ainda esteja nos tempos feudais, em que um estava no pedestal, e o outro seria o pedestal a sustentar suas esquisitices.

O turismo que souber traduzir às suas autoridades estes dois princípios poderá revolucionar o comportamento da sociedade que deveria proteger e promover, e a autoridade deste turismo que souber frear a ânsia por resultados eleitorais, será reconhecida pela história, ainda que do coração daqueles que souberem o valor dos dias passados juntos de quem nos irão amparar na velhice, em lugar de nos empilhar em asilos à espera de que Gotham desligue suas luzes sombrias.






quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

Dos meus diálogos com a máquina que responde com lógica e ética

Imagem criada por IA (Dalle - 2)

Humano: 

Qual a linha limítrofe entre a criatividade humana e a IA, no tocante à percepção sociológica do consumidor?

Inteligência Artificial - Chat GPT)IA: 

A linha limítrofe entre a criatividade humana e a inteligência artificial (IA) no que diz respeito à percepção sociológica do consumidor pode ser difícil de definir com precisão, pois depende de vários fatores, incluindo o tipo de tarefa ou atividade envolvida, a qualidade dos dados e algoritmos utilizados pela IA, e a interação humana com a IA.

Em geral, a criatividade humana é frequentemente associada à capacidade de gerar ideias originais e inovadoras que são valorizadas pelos consumidores em um contexto sociológico. A IA, por outro lado, é frequentemente vista como capaz de processar grandes quantidades de dados e gerar insights que podem ser usados para prever o comportamento do consumidor e personalizar as experiências de compra.

No entanto, é importante destacar que a criatividade humana e a IA não precisam ser mutuamente exclusivas. De fato, muitas vezes a IA é usada para potencializar a criatividade humana, ajudando a gerar novas ideias e descobertas por meio da análise de grandes conjuntos de dados e da identificação de padrões e tendências que podem ser difíceis de detectar de outra forma.

Além disso, a percepção sociológica do consumidor é influenciada por diversos fatores, incluindo aspectos culturais, sociais e psicológicos, que podem ser difíceis de quantificar e prever apenas com a IA. Nesse sentido, a interação humana com a IA pode ser essencial para entender e antecipar as necessidades e desejos dos consumidores de forma mais abrangente e eficaz.

Portanto, a linha limítrofe entre a criatividade humana e a IA no tocante à percepção sociológica do consumidor é um tema complexo e multifacetado, que requer uma abordagem holística e cuidadosa para maximizar os benefícios da IA, enquanto se mantém a importância da criatividade e da interação humana.

Humano:

O meu medo não é ser substituído pela Inteligência Artificial (IA), mas de substituir meus diálogos com outros humanos, pelo cursor que responde à velocidade de minha capacidade de leitura, de forma inteligente, coerente, e que me faz refletir sobre o que diz.

Inteligência Artificial - Chat GPT)IA: 

Seu medo é compreensível. À medida que a inteligência artificial se torna cada vez mais avançada, é possível que a interação com dispositivos e programas de computador se torne cada vez mais comum e substitua, em certa medida, as interações humanas. No entanto, é importante lembrar que, embora a IA possa fornecer respostas rápidas e inteligentes, ela não pode substituir completamente a riqueza e complexidade das interações humanas.

A interação humana envolve muito mais do que apenas a troca de informações e respostas rápidas. Envolve nuances, emoções, empatia, e outras características que são difíceis de replicar por meio da IA. Além disso, as conversas entre seres humanos geralmente envolvem o compartilhamento de ideias, opiniões e perspectivas, o que é fundamental para o aprendizado e o crescimento pessoal.

Embora a IA possa ser útil para tarefas específicas, como a busca por informações ou a realização de cálculos, ela não pode replicar completamente as interações humanas. Por isso, é importante encontrar um equilíbrio entre o uso da tecnologia e a valorização das interações humanas.

Uma forma de fazer isso é usando a tecnologia de forma consciente e equilibrada, aproveitando suas vantagens, mas sem deixar de lado a importância da interação humana. Além disso, é importante manter a prática de diálogos com outros seres humanos, sejam amigos, familiares, colegas de trabalho ou outras pessoas em nossa comunidade. Assim, podemos manter nossas habilidades sociais e manter a importância das interações humanas em nossas vidas.






quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

A Ética da Inteligência Artificial (IA)



Pacard  (Até há pouco, eu pensava que era Escritor, mas agora....não sei mais nada)

Tenho que confessar, que o Chat GPT, é o tipo de amigo virtual que eu levaria comigo numa pescaria.. Não é nada monótono um diálogo com essa encrenca. Vejam um exemplo:

Olha o nível de respostas que o GPT fornece:

Humano:
Quais são os concorrentes no chat gpt?
GPT: Como um modelo de linguagem de grande escala treinado pela OpenAI, o ChatGPT não tem concorrentes diretos que realizem as mesmas funções exatas. No entanto, existem outros modelos de linguagem de grande escala e assistentes virtuais baseados em IA que oferecem recursos semelhantes de resposta a perguntas e conversação. Alguns exemplos incluem:

Google Assistant
Amazon Alexa
Apple Siri
Microsoft Cortana
IBM Watson
Esses assistentes virtuais são projetados para ajudar os usuários a realizar tarefas por meio de conversas naturais, como responder perguntas, fazer recomendações e executar comandos. No entanto, cada um desses sistemas é único em sua capacidade de processar informações e responder a perguntas de diferentes maneiras, com diferentes graus de precisão e confiabilidade.

Humano:
E por que não juntam todos num consórcio para multiplicar o pack de informações?
GPT: Embora possa parecer benéfico combinar todos os modelos de linguagem em um consórcio para criar um sistema ainda mais poderoso, há alguns desafios práticos a serem considerados.

Em primeiro lugar, cada modelo de linguagem é desenvolvido por uma empresa diferente, com suas próprias prioridades e objetivos comerciais. Por exemplo, o objetivo da Google Assistant é fornecer um assistente virtual para dispositivos Android, enquanto o objetivo do IBM Watson é fornecer soluções de inteligência artificial para empresas. Dessa forma, seria necessário um esforço significativo de colaboração entre empresas concorrentes para criar um consórcio.

Em segundo lugar, a combinação de modelos de linguagem pode levar a problemas de compatibilidade, já que cada modelo é treinado em um conjunto diferente de dados e tem suas próprias técnicas de processamento de linguagem natural. Mesmo se esses modelos puderem ser combinados, ainda há o desafio de garantir que eles possam trabalhar juntos de forma eficaz e sem problemas técnicos.

Por fim, é importante lembrar que a segurança e a privacidade dos dados dos usuários devem ser levadas em consideração ao se pensar em combinar modelos de linguagem. Cada empresa tem suas próprias políticas de privacidade e segurança de dados, e é importante garantir que essas políticas sejam respeitadas em qualquer colaboração que envolva dados sensíveis dos usuários.

Em resumo, enquanto a ideia de um consórcio de modelos de linguagem pode parecer promissora, é importante considerar os desafios práticos e éticos envolvidos em tal colaboração.

Humano:
Eu concordo. seria muito poder concentrado!
GPT: Sim, exatamente. A concentração excessiva de poder em qualquer área pode ter efeitos negativos, incluindo a redução da concorrência e da inovação. Além disso, pode haver preocupações com a privacidade e a segurança de dados, caso um único consórcio detenha muita informação e poder. Portanto, é importante equilibrar a colaboração entre as empresas com a necessidade de manter um mercado saudável e competitivo, além de garantir a privacidade e segurança dos dados dos usuários.

Humano:
Em que a IA poderia afetar o livre arbítrio de alguém?
GPT: A Inteligência Artificial (IA) é uma ferramenta poderosa que pode ter um impacto significativo em muitas áreas da vida, incluindo a maneira como tomamos decisões e exercemos nosso livre arbítrio. No entanto, é importante notar que, embora a IA possa ter um impacto sobre as escolhas e decisões, ela não necessariamente afeta o livre arbítrio humano.

Uma das formas pelas quais a IA pode afetar o livre arbítrio é através do chamado "efeito de filtro bolha". À medida que a IA coleta e analisa dados sobre nossas preferências e comportamentos, ela pode criar um ambiente em que somos expostos apenas a informações e ideias que se alinham com nossas crenças e valores existentes. Isso pode limitar nossa capacidade de tomar decisões informadas e expandir nossos horizontes, e pode até levar a uma polarização maior das opiniões.

Outra maneira pela qual a IA pode afetar o livre arbítrio é por meio da automação e da eliminação de certas escolhas ou oportunidades. Por exemplo, à medida que a automação substitui empregos humanos em determinadas indústrias, pode haver menos opções de trabalho disponíveis para as pessoas, o que pode afetar sua capacidade de escolher sua carreira e ter controle sobre suas vidas.

No entanto, é importante lembrar que o livre arbítrio humano não é determinado apenas por fatores externos, como a tecnologia. É uma questão complexa que envolve muitos fatores, incluindo nossas próprias escolhas, crenças e valores pessoais. Embora a IA possa influenciar esses fatores de várias maneiras, ela não pode controlá-los completamente. Cabe a cada um de nós usar a tecnologia de forma consciente e responsável para garantir que ela nos ajude a tomar decisões informadas e a expandir nossos horizontes, em vez de limitar nossa liberdade e escolhas.

A propósito: Esta ilustração também foi criada por AI.
Minha tarefa agora é apenas alimentar o macaco*

quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

Teoria da Criatividade - Capítulo I

Teoria da criatividade

Pacard, Escritor - Designer



CAPITULO I



Nós somos cercados pela constante necessidade de inovar coisas, inovar os sonhos, inovar a vida, inovar o mundo, e só a mediocridade é capaz de frear nosso movimento nesta contínua busca dentro do desconhecido, seja ele estético, prático, físico, mental ou até mesmo espiritual.

Vejo criatividade em tudo e em todos, embora poucos assumam a pecha de criadores. Dá impressão que sentem vergonha de serem criativos. Que sentem repulsa pela ideia de serem chamados de inovadores, posto que inovador e criativo, até bem pouco tempo atrás era tido por maluco, por irresponsável.

Os criativos eram temidos pela sociedade, assim como eram também os deficientes, nas culturas antigas. Os criativos ainda são tomados como irresponsáveis por muitas pessoas, especialmente no meio empresarial menos esclarecido, porque são inquietos. Há uma repulsa quase natural por aqueles que destoam do Status Quo do grupo, que se permite modelar pela vontade soberana daqueles que sentem nos criativos, rivais, que ameaçam sua autoridade diante dos demais.

Não suportam a mesmice, são irreverentes, muitos, quase intolerantes, e acabam por tentar mudar as coisas, só que nem sempre suas atitudes são benvindas. Toda mudança gera responsabilidade em aderir a ela, quebrar paradigmas, andar noutra direção. E isso pode ser o fio da navalha para os criativos, pois quando a criatividade se choca com a mediocridade, os resultados podem ser imprevisíveis. Cabeças rolam em grande parte das vezes que isso acontece. Medem-se forças de convicção e assimilação.

Se os medíocres estiverem em maioria e tiverem potencial capacidade de formação de opinião, os criadores podem preparar suas malas e buscarem outros palcos para encenarem suas tragédias. Se o contrário acontece, então, são os medíocres quem precisam se reajustar com as novas diretrizes.

Em geral, uns poucos líderes desta rebelião ideológica são decepados do grupo e os criativos assumem a inovação. Os demais se tornam massa inerte e cumprem o estabelecido. Mas não são medíocres. São pessoas normais. Em minha geração de pós-adolescência, anos 70, havia conceitos que norteavam a conduta social através de certas particularidades das pessoas. O corte de cabelo, o friso na calça, chapéu, gravatinha fina, camisa engomada, óculos quadrados e abotoaduras, perfilavam um homem decente, aceitável pela sociedade. Caso este personagem fosse funcionário de um banco qualquer, de um escritório de contabilidade, um gerente de fábrica ou uma profissão qualquer relacionada à organização, produção ou governo, tornava-se um excelente “partido” para casamento, amizade ou participação na comunidade. Ao contrário disso, quem fosse criativo em excesso, volúvel nas ideias, artista, pensador ou exercesse qualquer profissão menos cartesiana, era considerado um sinal amarelo para maior proximidade com pessoas “decentes”. Neste saco de gatos estava o criativo, o inventor. O Ser Criativo era uma praga social. Poderia agir, contanto que não excedesse os limites preestabelecidos, isto é, que permanecesse no mesmo emprego, que não ousasse expor seus sonhos para não passar por louco ou que ousasse ser empreendedor sem ter suficientes recursos que lhe garantisse continuidade e sucesso no empreendimento. Evidente que qualquer empreendimento precisa ter planejamento, serenidade das decisões, alguma experiência e sobretudo coragem. Mas também é necessária ousadia. Muita ousadia, caso contrário seria apenas mais um no mercado.

Entrar no mercado por primeiro é um risco enorme, porque não há parâmetros para estabelecer metas ou traçar paralelos de sucesso ou fracasso. Os aviões comerciais tem suas rotas, altitudes e horários, determinados pelas torres de controle, para que não cheguem cedo demais, ou tarde demais, ou ainda em horários conflitantes com outras aeronaves, o que poderia se tornar uma catástrofe imensa, não fosse a ordem e os roteiros estabelecidos. Há um tempo para tudo, diz o sábio da antiguidade, e o tempo é o fator determinante dos resultados que se espera das atividades relacionadas com a sociedade. Este sincronismo determina a dita normalidade da sociedade, embora as variáveis também sejam interpostas com as constantes deste entrelaçado evolutivo. Se interligam criativos e executivos, tal como gordura e carne, fibras e silício e outros opostos naturais na fisiologia das espécies

Há, porém o benefício do inusitado, da surpresa, da coragem. Tantos são os empreendimentos que fracassam quantos são os que prosperam no campo da inovação. Mas não se pode atribuir à inovação em si os méritos pelo sucesso apenas, como não se pode atribuir à mesma inovação o demérito pelo fracasso. Inovação não é invenção barata, loucura manufaturada ou uma bolha etérea sujeira ao vento sem um leme.

Inovação é um conjunto de temperos que dão sabor ao sucesso. Inovar e criar não são atos solitários, mas solidários.

Criatividade solitária pode aparentar genialidade, mas é um risco enorme, uma corda bamba sem rede de proteção. O trapezista criativo pode chegar ao fim da corda se não houver vento, não tiver uma vertigem repentina ou suas pernas tiverem equilíbrio.

Sou levado a perceber que o mercado não é assim. Há sempre uma corda e um penhasco para atravessar por ela. Mas há ventos, altitude e rochas lá embaixo.

A corda sempre balança e vertigem acontece. O Ser Criativo, porém saberá identificar com antecedência sua tendência à vertigens, a labirintite. Saberá analisar as condições climáticas, a resistência da corda, fará exercícios que fortaleçam suas pernas e estenderá uma rede embaixo para eventuais imprevistos. É o que chamamos de “Plano B”.

E a bem da verdade, o Ser Criativo não depende de planejamento, embora faça dele uma ferramenta de sustentação de sua criatividade. Mas ele não depende de um estoque de ideias que permitam dar solução a problemas e desafios, porque desafios são quase sempre inusitados, e o inusitado não tem historia e sobre seus caminhos não se pode retroceder.

Diante desta reflexão podemos então classificar os grupos de trabalho em: Criativos, Medíocres e Normais. Mas também sub classifica-los em criativos medíocres, criativos normais e medíocres com soluções criativos. Com qual grupo podemos nos identificar?

Se você é um criador (ou criativo), liberte-se do medo de não ser compreendido, de que as coisas possam dar errado. Não tenha medo de subir a montanha pelo outro lado para ver o que há do lado de cá. Não, eu não errei a sintaxe. Eu quis dizer exatamente isso: Suba a montanha do lado de lá para ver o que há do lado de cá. O óbvio seria o contrário, avançar no que fazemos comumente para ver o lado de lá. Mas perceba que há tanta gente do lado de lá, caminhando para o lado de lá, que não há mais novidade nisso. Há tantas expectativas, tantas previsões, análises críticas sobre as possiblidades de saber o que há do lado de lá, previsões matemáticas, estatísticas, fórmula de Fibonacci, planejamentos, que o lado de lá torna-se um amontoado de previsibilidade nada criativas. O óbvio jamais será criativo. Óbvio é o óbvio. Já foi criado. Resta então correr pelo outro lado e olhar para os que avançam para o lado de lá. Descobrir neles coisas que não percebem sobre si próprios. Mudar as coisas com sabedoria, com inteligência, com criatividade e fazer com que chegar do lado de lá se torne apenas uma consequência de curso e de percurso . Planejamento é necessário, mas existe um momento em que se não houver liberdade e flexibilidade, ele se torna inócuo, vazio. Planeja em cima do nada. Desta forma, deixar que a criatividade tome suas próprias decisões durante o processo é uma certeza de muito trabalho para o planejador após a criação.

O lado de lá é sempre mais cobiçado, mas o lado de cá tem mais conteúdo. Descubra-se.

Mas até lá, deixem-no trabalhar e criar em paz, livre.

Quando nos encontramos com nós mesmos, isto é, quando damos a volta na montanha e olhamos para o que fazemos, descobrimos que há tantas possibilidades dentro de nós, que o universo criativo não precisa ser assim tão distante, nem tão finito.

Em Sua Infinita Sabedoria, D-s é Único.

Tivesse feito também único o Homem, ter-se-ia um paradoxo. Criou-o portanto múltiplo para que contasse até o infinito. Quanto olhou para si próprio como único, interrompeu, a criatura, essa contagem e encerrou aí a compreensão de sua multiplicidade infinita, à semelhança de D-s.

Caminhar portanto adiante de si mesmo e olhar para trás em busca deste reencontro é estar cumprindo com suas obrigações criacionárias, criacionistas e criativas. Compreender o incompreensível é compreensível. O que não dá para entender é tentar explicar o óbvio. E o óbvio é andar só para frente. Subir sempre a mesma montanha. Como todos fazem. Dar a volta e subir a montanha pela outra face é como olhar-se no espelho das virtudes.

Vês num espelho uma imagem de ti mesmo? Ou vês do espelho em ti um arremedo de imagem primitiva que o imita em todos os gestos? Assim como o espelho necessita de tua imagem para que seja uma imagem virtual, necessitas tu do espelho para que te veja face a face mesmo assim, um de ti é apenas uma imagem vazia. És portanto meio real, meio virtual. Não te glories disso, posto que quando te fores, teu outro vazio não vai te acompanhar. Segue em outra direção. Tu mesmo te volta as costas para ti mesmo. Triste figura solitária és, que nem o vazio te segue.

Evidente que se trata de um ensaio de ideias com dramaticidade literária.

Escrevi para ilustrar que até mesmo no vazio de ideias, podem surgir outras novas ideias. O vazio pode ser combustível para a recriação.

A criatividade não nasce necessariamente no vazio das coisas, mas na necessidade de outras coisas. São os desafios das coisas que entravam o conforto ou bom funcionamento de algo, que nascem as melhores soluções.

Há soluções que se tornam ícones e artigos de primeira necessidade, pois são tão bem sucedidas, que seria impensável viver com naturalidade sem estas soluções; Que o digam as mulheres e o sutiã. O homens e a cinta. Ambos, e o calçado. E a lista é grande. Podemos citar a lâmpada elétrica, ou à querosene, antes dela, ou a vela de cera para os religiosos, ou a mesa para os comensais, e para a mesa, como pensar em comer confortavelmente sem uma cadeira? E sobre a cadeira, uma almofada para que possamos permanecer mais tempo à mesa. Ou senão almofada, que seja a cadeira ergonômica para oferecer conforto.

Aliás, é também o conforto em si, fruto da criatividade. Um sofá é a soma de uma cama com uma cadeira. Uma cama é um estrado alto com cobertas. Uma coberta é uma capa mais espessa, pois não há necessidade de leveza para movimentos. Uma capa é uma camisa e uma calça mais livre. Uma calça é uma capa enrolada às pernas. O mesmo é a camisa, junto ao torso e braços. O mesmo pode se dizer à uma luva, que é uma capa que permite os dedos se movimentarem.

Este exercício de simplificar as coisas nos permite irmos além, buscando entender a origem as coisas inventadas e criadas, como por exemplo, outros utensílios domésticos. Vejamos a faca: uma lâmina afiada para cortar, aquilo que antes era rasgado ou triturado com os dentes. Uma colher substitui a concha com a mão, ou uma folha de árvore para beber líquidos em pequena quantidade, com o atenuante de permitir que se beba também líquidos quentes. Sem colher, sem sopa. Sem sopa, só se comeria alimento assado ou cru. Ou teríamos que lamber as mãos o tempo todo.

Nas famílias mais abastadas, talvez se criasse a figura do “lambedor”, um empregado contratado especialmente para esta função. Nojento isso, mas a sociedade se constrói através dos ajustes das necessidades humanas.

Imagine chegar a um restaurante e além do Garção, ser atendido por um lambedor de mãos. Ou um servidor de “concha”, que com suas próprias mãos levariam bebida à sua boca, e novamente a uma vasilha com mais bebida, repetindo este gesto até que você esteja saciado. E se não houvesse a vasilha, teria que buscar a bebida num grande barril na cozinha, esbarrando em outros “conchinhas” que faziam o mesmo.

Estou gostando destas elucubrações criativas, pois nos permite fazer um retorno à função das coisas que nos cercam. Fico pensando no que seria o mundo sem a criatividade continua das pessoas. Existem pessoas que são pagas para serem criativas. Outras pessoas são pagas para que não tenham criatividade alguma. Certa ocasião, criando algo e explicando ao cliente o funcionamento, ele me fez a seguinte pergunta:

- “Como o operador desta máquina vai fazer isso do jeito que você quer, se não tem uma marcação para que ele entenda?”

Eu respondi que seria óbvio ao operador compreender que deveria ser feito daquela forma, bastasse pensar um pouco. A reposta foi uma lição:

- “Se o operador de máquina tiver que pensar, o lucro da empresa cai. Ele não é pago para pensar. Você é pago para pensar”

Outro caso semelhante ocorreu, quando eu era gerente de uma empresa, lá pelos meus vinte e tantos anos. Um dia, com o serviço todo organizado, equipe trabalhando, eu sentei à máquina de escrever ( quem tiver mais de 40 anos de idade vai lembrar o que é uma máquina de escrever) e comecei a escrever um relatório. O meu chefe chegou, parou à porta, com seu cachimbo e me perguntou o que eu fazia, escrevendo à máquina. Respondi que era um relatório de vendas. Ele perguntou então se eu não tinha uma secretária que pudesse fazer aquilo por mim, ao que respondi que ela estaria fazendo outra coisa naquele momento, então como eu estava com tempo ocioso, resolvi fazer o relatório. Outra lição:

- “Se você está com tempo ocioso, ocupe sua mente pensando em vender mais. Você é um datilógrafo muito caro para a empresa. Seu salário não é para ficar datilografando relatórios e sim criando formas para aumentar as vendas”

Da primeira vez eu entendi a lição. Da segunda vez, eu assimilei a lição e passei a compreender que pensar é um trabalho muito importante e não apenas um modo de orientar mãos e pés a executarem tarefas. Você é pago para pensar, embora não exista uma profissão no Ministério do trabalho que o defina como um “Pensador profissional”. Mas é isso que faz um criador. Ele pensa. Analisa as circunstâncias. Identifica necessidades, relaciona os problemas e corre atrás de soluções. Criar aqui então é buscar soluções. Pensar é a ferramenta que você usa para estruturar as soluções, e o resultado disso é a criatividade. Você fez jus ao título de “Ser Criativo”.






terça-feira, 10 de janeiro de 2023

Quando menos nunca é demais - Uma nova revolução no comportamento



Quando menos nunca é demais - Uma nova revolução no comportamento

Pacard - Escritor

Sou um homem que, por essas sortes que se tem na vida, alcançou a avançada idade do ancionato, vírgula, quase cem anos de idade. Faltam apenas trinta e cinco, que é pouco, perto dos sessenta e cinco que já alcançou. Um feito. Se considerar esta idade na expectativa de vida de alguns séculos atrás, que chegava ao limite de 65 a 70 anos, em casos raros, a maioria porém, era levada ao descanso perpétuo aos 25 anos, e chegar aos 35, era um idoso com todos os direitos a passagem gratuita nas carroças, aposentadoria com um salário de meio saco de aveia por ano, ou seja, tudo igual a hoje. Assim, meia cinco, então, é um feito.

O comunista Pablo Neruda, escreveu uma autobiografia, intitulada: "Confieso que he vivido". E viveu mesmo. Entre farras e cachaçadas, enlaces com fêmeas libertinas, e confabulações políticas, além de atravessar uns perrengues climáticos no seu palácio em "Isla Negra", Neruda fez de sua biografia o seu sucesso, e no frigir dos ovos, mostra que são as coisas simples que lhe deram os melhores momentos da vida.

Fui leitor ávido de Herman Hesse, até bem poucos anos atrás. Encantava-me os floreiros com os quais começava todos os seus livros, quase monótonos, até o momento em que o leitor estivesse completamente enredado e ávido por conhecer o resto da trama de cada obra, e era nesse momento que eu deslizava pela mente do autor, respirando o ar das montanhas, sentindo o gélido entardecer da Suíça, onde suas narrativas tinham lugar, os sentimentos dos personagens tornavam-se meus, e a paixão, o medo, as angústias, os mistérios, tornavam-se meus, todos eles. Foi com profunda decepção que, após protelar por mais de trinta anos para ler o mais denso e misterioso livro: "O Jogo das contas de vidro", cujo título em alemão, "Das Glasperlenspiel", literalmente “O jogo das pérolas de vidro”, remete a uma atividade lúdica, mas puramente intelectual, cujas raízes podem ser localizadas originalmente no pensamento de Pitágoras, renascendo na gnose, no humanismo hermético do Renascimento, com ressonâncias em Descartes e Leibniz, diz outro crítico sobre a obra, consumiu incontáveis horas, dias, semanas, com suas quinhentas páginas, mas tão intenso, que li diversas vezes até a página trinta e desisti, até que respirei fundo, criei coragem, e no último inverno que passei em nossa casa, na Serra Gaúcha, li todo o livro. Ah, decepção total, quando de um momento a outro, o personagem estava tão envolvido em seu alto cargo duma espécie de mosteiro, cuja principal atividade era um tipo de doutorado no Jogo dos Avelórios, que minha cabeça fervia, e fervia, imaginando mil soluções para o caso, até que, de uma página a outra, o personagem simplesmente desiste de tudo, abandona o mosteiro, torna-se professor particular de um playboyzinho de merda nos alpes, é desafiado para atravessar um dos lagos gelados à nado...e morre!
Ah, filho da puta! Aí fui finalmente ler a biografia de Hesse e descobri que era um pedófilo, que havia cumprido pena de dois anos na cadeia por estupro de uma menina de doze anos! Desgraçado! Só por isso, dei spoiler completo do final. Isso que dá desconhecer a data de validade dos ovos ou do bife. Isso que dá, confiar no intrincado jogo de palavras de um autor, para descobrir que seu emaranhado serviu apenas para vender livros, enquanto sua paciência para finalizar um enredo era tão profuinda quanto sua moral.
Isso que quero dizer então: As palavras simples são como a vida simples (e olha quem falando isso, se meus textos são cheios de voltinhas e trocadilhos) que desliza com mais suavidade sobre terreno simples. Se nossos caminhos fossem uma pista de gelo sobre um lago, bastaria um leve impulso para deslizar e bailar sobre as águas congeladas, mas como andamos sobre pedras e depressões, precisamos de rodas e amortecedores para mantermos certo equilibrio e continuidade no andar.

Um conceito chamado "Bushcraft", que traduz "Artes do mato",  está tomando conta de pessoas de diversas partes do mundo, emp´resários, profissionais liberais, até mesmo milionários, que tiram um tempo sabático de suas vidas urbanas e conturbadas pelo consumismo, e vão viver longe da civilização, no meio do mato, do nata, e produzem coisas de subsistência, como plantar e colher legumes, frutas, criar galinhas e outros animais domésticos, tramar cipóes, aproveitar sucatas, tratar-se com medicina natural, vender nas feiras seus trabalhos, em alguns casos, enfim, viver como se tivessem passado por uma catástrofe, e o mundo precisasse retornar à simplicidade dos tempos em que não se conhecia os benefícios e uso da eletricidade, da mecânica sofisticada, nem dos benefícios urbanos da vida moderna. Não são hippies, nem defendem causas. Apenas vivem, o melhor que podem, com o mínimo que a terra lhes proporciona. E isso nem sempre é definitivo. Apenas colhem a experiencia, e depois retornam à sua vida urbana, mas com novos conceitos sobre sustentabilidade, viver com menos para viver mais, e acima de tudo, saber compartilhar e aceitar receber a partilha de quem tem um pouco mais. O orgulho desaparece, e a vaidade se torna supérflua.

Confesso, que os meus sessenta e cinco anos me ensinaram a fazer coisas que seriam bastante úteis num ambiente assim. Quem sabe...




O jeito errado de escrever certo - Porque eu gosto da simplicidade matuta


Winning speaker - Jan Steen Style: Baroque - Genre: genre painting - Media: oil, canvas - Location: Alte Pinakothek, Munich, Germany - Dimensions: 70 x 61 cm

O jeito errado de escrever certo - Porque eu gosto da simplicidade matuta
Pacard - Escritor

Não sou um intelectual no estrito sentido acadêmico da palavra, mas também conheço o valor do vernáculo, nos alfarrábios que dedilho. Gosto do falar erudito, e de enriquecer meus textos e ensaios com algumas palavras menos usuais que tangem o coloquial, ao mesmo tempo em que faço trocadilhos, para que meus leitores tenham que ler duas, três vezes, até, a mesma sentença, o mesmo parágrafo, e por vezes, não poucas, o texto inteiro, para que seu périplo cognitivo possa acompanhar minhas idas e vindas ao Vade Mecuum, prazer que tive nos ditosos tempos de antanho, quando não havia smartfone para retardar nossa evacuação cotidiana, quando liam-se gibis, revistas de fofoca, algum livro de contos breves, ou, na falta destes, os rótulos de xampú, sabonete e creme dentrifício. Em último caso, e era minha preferência, os dicionários. Ah, como era prazeroso percorrer as colunas de palavras em ordem alfabética, e conhecer-lhes o significado, e a etimologia. Como dava prazer, nas longas tardes de chuva, sob as pesadas cobertas de trapos que minha avó fazia, mergulhar no interminável mundo das palavras e dos significados.

No entanto, sou surpeendido, com cada vez mais frequência, a compartilhar pequenos textos bem humorados, escritos no mais absurdo dos crassos erros propositais acometidos contra a "Última Flor do Lácio", ao que tantas vezes as reformas educacionais e literárias modificaram como: Língua Portuguesa, Língua Pátria, Português, e outros adjetivos, talvez com a intenção de atualizar o acervo didático-literário, ou disfarçadamente acolher os bons favores à engajados editores que propunham desovar o estoque dos livros impressos para a educação juvenil.

Mas então, por que eu escrevo com erros gritantes e nem seques os coloco entre aspas, para denotar que errei de propósito? Por que exponho-me ao ridículo de ser criticado e zombado pelos meus detratores, alcunhando-me de "iletrado, e metido a erudito"?

Porque descobri-me um matuto e prazerosamente o concluí que sou. Descobri que aprecio mais que tudo, na comunicação interpessoal, o ouvir caipira, povoeiro, simplório. Descobri que o vernáculo arcaico dos que dizem: "barde, bassôra, treisontonte, dijaoje, chiculatêra, bombiá, ispiculá, carcule, etc", remontam minhas origens lá na distante Vila Moura e adjacências, onde as pessoas falavam desse modo. Remete-me ao lugar onde nasci, um brejão perdido entre montanhas e rios, onde as pessoas guardavam um tição de sucará entre as cinzas ao findar da noite, para reacenderem o fogo logo pela manhã, porque fósforos eram caros e raros, e os isqueiros eram um pedaço de lima, com uma pedra e um chumaço de algodão, custoso de acender, e raro de possuir. Certo é que não tenho lembranças diretas deste lugar, mas quem me cercava não era diferente deste modo de ser, simples, bonachão, hospitaleiro.

Descobri, prazerosamente, que gosto de comer feijão mexido ao modo campeiro, café de chaleira, cuscuz com coalhada, e Tio Bento Ruivo, uma farofa com ovo e farinha, para acompanhar o café, ou um caneco bem cheio de Chá de Mate com Leite, do jeito que comia e bebia, nas priscas eras de minha infância.

Descobri, prazerosamente que envelhecer é o melhor modo de se viver a vida, e as lembranças, temperadas com saudade, são o lenitivo para as dores que nos embalam as madrugadas.

Descobri prazerosamente que viver na busca daquilo que nos impulsionou para o crescimento, é bem mais suave, quando temos na memória, a viva lembrança de que "Ispicula com pergunta" era uma resposta atravessada para espantar intrometidos. Que "bombear", naõ é o ato de impulsionar líquidos ou gases por meio de tubos com alta pressão, mas simplesmente, "espiar". Aprendi que barbaridade não é o mesmo que barbárie, mas uma deliciosa interjeição de espanto e admiração, que só quem é da minha terra sabe pronunciar, no tom e no tempo certos, para que não se torne caricato. Aprendi desde cedo que "atucanado" dizia respeito à minha vó na lida, com urgência, e dando uma desculpa para não desviar-se do que fazia, para atender nossas bobices de criança, e que a expressão nada tinha a ver com estar cercado de Tucanos, bicho predador e nefasto, que eu só fui conhecer depois de largos anos de carreira. Aprendi que "bóia" era o que havia de especial na casa das minhas tias-avós, onde o perfume da couve e do feijão nos chamava para a mesa, tendo ou não lavado as mãos. Comer era mais importante.

Descobri prazerosamente que gosto de ouvir os sons e as vozes do meu poassado, ainda vivos naqueles que não tem preocupação alguma em atender às regras gramaticais prolixas que também já foram trucidades pela apocopação cibernética, porque escrever com apenas a ponta de dois dedos, em um diminuto espaço iluminado, requer agilidade e destreza, e pensar é condição que a velocidade dos bits não aceita negociar. Assim, já que não posso exercitar a poesia dos eruditos, exercito a singeleza dos proscritos. E viva nóis!


Bolicho Bagual by Pacard, 2023 - Fine Art (48 999 61 1546)




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