AD SENSE

sexta-feira, 25 de outubro de 2019

Fake News na política gramadense - O veneno no quintal alheio que não aduba o próprio quintal



Nem em sonho que eu vou usar este espaço sagrado do pensamento, para oferecer denúncias futriqueiras de que este ou aquele Partido Político, ou Cidadão, estejam metidos em notícias mentirosas, ou pra ser mais contemporâneo, em "fake news". Mas exatamente o que são as fake news, e como são prospectadas, como elas se multiplicam, e qual o métido mais eficiente de torná-las acreditadas, ainda que absurdas?

Vamos combinar que notícias mentirosas existem já desde o primeiro capítulo da Bíblia, quando uma serpente, servindo de caixa de som para o senhor dos infernos, deu credibilidade a uma ilação, usando como fonte O Próprio Criador, e por  esta base, encontrou a pessoa mais adequada (as opções eram poucas, mas por análise do comportamento de Eva, o departamento de RH das trevas concluiu que ela preencheria os requisitos para a função, e poderia começar imediatamente, desobrigando-a dos formulários padrões da empresa, partindo para o front, o "botton-up", a ação. O resto você já sabe, e ainda que não acredite no relato bíblico, vai acreditar nos efeitos em sua própria pele, quando encontra um candidato que quer colocar sua criancinha no colo, custe o que custar, e como a combinação de candidato-criancinha tem magnetismo próprio, câmeras e celulares aparecem assim, do nada, do "ex nihill", para registrar e espalhar a efeméride pela plêiade de curiosos, desocupados, que em lugar de trabalharem para não ter que enfrentar o SUS mais adiante, escolhem exercitar os polegares ao fazer correr as imagens na telinha do smartphone, e mais que ver, curtir, e passar adiante, precisam antes compartilharem com pelo menos 5 grupos diferentes, que começam tudo de novo e fazem o mesmo.

Notícias sensacionalistas nunca vem com advertência de: "Leia e delete! Esta mensagem se autodestruirá em dois minutos". Não. Isso só acontece em filmes com Tom Cruise e Sean Conery (ainda que na versão Roger Moore, Daniel Craig, Pierce Brosnan, e outros), em que um gravadorzinho de fita começa a derreter, assim, do nada, que é quando de fato começa o filme.

Notícias sensacionalistas, e em muitos casos, antigas e mentirosas, vem com selinho de: "Não deixe de compartilhar esta mensagem, até que ela chegue no Luciano Huck".  Hoje tem também outro Luciano, destinatário de pedidos de emprego: Luciano Hang!

Mas, e Gramado, o que tem a ver com isso? Pois Gramado é o foco dos meus comentários, então devo dizer, consternado, que estes movimentos noturnos e soturnos de derramamento de panfletos, a poucas horas que antecedem a eleição, são tão antigos quanto a própria existência do Município, senão ainda antes. Darei apenas um exemplo com citação de nomes, porque são parentes meus, e ambos já não tem como ler o que escrevo: José Tristão, irmão de Manuel de Oliveira, irmãos, um do outros e outro do um, se odiavam. José odiava Manoel, e não contente com o ódio próprio, espalhava ilações sobre o próprio irmão do seguinte modo: Escrevia bilhetes, difamando o irmão dizendo:  "Manoel, bandido! Manoel Ladrão! E enfiava os bilhetes debaixo da porta do Forum ou da delegacia de Polícia. Evidentemente que era desmascarado, pelo primor da letra que tinha, e a coisa terminava virando chacota, não gerando consequência a um ou outro. Caíam no pitoresco apenas.

Mas durante as campanhas políticas, as gráficas de fundo de quintal, lavavam a égua, de tanto reproduzirem notícias difamatórias de um e outro candidato, de um e outro Partido, e de um contra o outro, ao mesmo tempo. Sem mencionar o tipo de trabalho, eu mesmo já vi uma determinada empresa reproduzir aos milhares, e ao mesmo tempo, material difamatório de candidatos oponentes. Houve ainda um fato bastante conhecido, onde um candidato a Prefeito tinha uma vantagem considerável sobre seu oponente, quando pouco antes do amanhecer, as casas amanheceram forradas de fac-símiles de documentos que se ocupavam em demonstrar que houvera fraude em uma obra pública, e que, ainda que inocentado no Superior Tribunal de Justiça, muitos anos depois, naquele momento serviu para reverter a eleição a favor de seu oponente, e o candidato difamado por via indireta, sofreu uma derrota histórica de apenas 11 (isso mesmo, onze) votos.

Em uma eleição mais tarde, e preocupado para que o fato não se repetisse, um político da velha escola, procurou-me para alertar-me de que seria necessário uma vigília, que de fato aconteceu, de centenas de militantes, na madrugada do pleito, porque "os opositores eram sujos, e tinham o costume de espalhar panfletagem sórdida às vésperas da campanha". Relatei o fato ao coordenador da campanha, que riu aos frouxos, e me contou que ele, o político preocupado com a panfletagem, havia sido o mentor das piores panfletagens políticas, em anos passados. Enfim, tudo farinha bichada do mesmo saco.

As fake news foram aprimoradas, pelo menos na velocidade dos bits, e hoje há tanta mentira pulverizada com jeito de verdade, pelas redes sociais, que existem profissionais do submundo especializados em montar notícias falsas com aparência de verdadeiras, e pode-se perceber nitidamente que são as mesmas notícias, em sites que você nunca ouviu falar, ou ainda pior, em sites com os mesmos nomes de veículos poderosos da imprensa brasileira ou internacional, mas que sutilmente tem um pontinho a mais, ou um hífen, ou até mesmo uma palavrinha no endereço, que engana facilmente o leitor a abrir o link, e perder seu tempo, lendo besteira, e pior que isso, compartilhando estupidez.

As lendas urbanas sempre fizeram parte do imaginário humano. No início da internet, o pavor está voltado à terrível notícia de um homem que teria sido encontrado inteiramente nu, em uma banheira com gelo, num canto de uma praça, cm um telefone celular antigo, ao lado, e sem um dos rins. E as pessoas espalhavam isso. Por anos.

Em Gramado, as fake news são menos criativas. tratam, geralmente de fatos verdadeiros, mas incompletos, distorcidos, que mostram gravações de servidores manipulando o sistema de processamento de dados da Prefeitura, ou espalha prints dos boletos dos servidores mais bem pagos, ou ainda documentação incompleta, de documentos internos sobre aquisição de bens, e assim por diante.

Como os tempos mudaram, falar mal da família, arrumar amante, não funciona mais, pois telhado de vidro é coisa que aumenta cada dia mais, e parece que houve certo amadurecimento do eleitor em relação à interferência na vida pessoal dos que pleiteiam cargos no Poder Público de Gramado.

As fake news de hoje são muito mais no campo ideológico, do que de criminal, embora opiniões de método também sirvam para insuflar a raiva contra os desafetos, como a venda de terrenos por um, ou a compra de terrenos por outros. Aqui trata-se muito mais de opinião e preferência de gestão, do que tema de submundo da verdade. Ainda assim, o Ser Humano, seja ele político, ou normal, tende a enfraquecer a lavoura do vizinho, imaginando que com isso estará vitaminando a sua própria lavoura. Não está. Envenenar o quintal alheio não faz crescer as suas próprias cenouras.

Teria eu, humilde escriba e provocador do pensamento alheio, uma alternativa para avançar no crescimento moral, pular a etapa das ofensas, e construir a Gramado mais humanizada, que todos (ou quase todos) desejam?  Bem, não tenho todas as respostas, mas estou á procura das melhores perguntas, então, antes de espalhar uma notícia, eu perguntaria à pessoa envolvida, qual a sua posição acerca daquela questão? Pelo menos eu tenho feito assim, e o que percebo, é que muitas vezes as pessoas optam pelo silêncio, e esperam para lerem o que eu escrevi sobre o assunto. Muitas vezes, não escrevo nada, pois minha intenção não é difamar ninguém, mas oferecer soluções para o bem estar comum. Nem sempre reconhecem isso, mas isso não muda a minha percepção da necessidade de atirar adubo em lugar de pesticida na lavoura alheia, se o caso for atirar alguma coisa. Mesmo que o adubo seja esterco animal. Se forem dejetos humanos, torna-se fake news.

Devo confessar que, meu sonho, é ver uma campanha onde ninguém desmerece o oponente. Apenas ocupa-se em promover sua própria plataforma. Talvez alguns nem tenham plataforma ou propostas, daí a necessidade de sujar o quintal do outro.






quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Quando urgem os leões - Redesenhando a Política em Gramado


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Não. Eu não errei a digitação do título desta reflexão. O leão "ruge", mas nesse caso, os leões "urgem", de "urgente", de "são necessários com brevidade", no sentido de que Gramado urge de novos leões, se quiser fazer as mudanças apregoadas, por todos os candidatos, que prometem tais mudanças desde que ouvi falar de política pela primeira vez. Todos prometem mudanças, e alguns
ousam prometer mudanças radicais, mudanças monumentais, seja no aspecto urbanístico, administrativo, social, e até mesmo comportamental. E de fato, todos fazem certas mudanças, no modo de atendimento ao cidadão, na modernização, em obras pequenas ou grandes, ou negativamente, sem citar casos, que não é o escopo da leitura.

Nós mudamos continuamente. Não nascemos com raízes, nem temos a massa, o peso, e a solidez quase imutável de uma rocha, e por isso mudamos. Nossos gostos mudam. Nosso comportamento muda, como mudamos de casa, de cidade, de roupa, como mudamos de partido político, ou de preferência eleitoral.

O primeiro erro, pela minha leitura, é pensar que somos casados com nossas convicções, pois até os casamentos podem terminar em divórcio, porque uma, ou ambas as partes, passam a discordar de coisas que antes os unia. Partidos são assim. São criados em momento de crise ou oportunidade de benefícios ideológicos (fico por aqui nesse tocante), para formarem novos ajuntamentos, e participarem do processo seletivo e eletivo de sua localidade política. Assim pensando, somos livres para decidir pelas nossas escolhas, embora este não seja um caminho tão simples, pois ainda que alguém tenha mudado de opinião ou linha ideológica, virá sempre outro alguém a constrangê-lo acerca desta mudança. Neste livre pensar, somos dominados pelas conveniências alheias, e mais uma vez percebemos que não somos nós quem decidimos as nossas escolhas, assim também, no oposto disso, também somos nós quem decidimos pelas escolhas alheias. É uma troca de vinganças, onde eu não sou livre, e por esta razão eu freio a liberdade do outro, não porque discorde de seu pensamento, mas porque se eu não sou livre, quero que ele também não o seja.

A Democracia que pregamos pode ser, sob a capa de liberdade, uma falsa ideia, que é dominada pela política de bom relacionamento, ou pela má política do constrangimento. Nossa Democracia permite que votemos e nos encantemos com pessoas que nunca vimos antes, mas passamos à elas uma notoriedade que nunca teriam, se não fosse nossa própria ânsia por fortalecer os leões que rugem por nós, quando nós, às ocultas,  desejamos ser os leões que rugem por elas, ou em desafio à elas.

A política em Gramado não é diferente da política do resto do Brasil, e ouso dizer, que de grande parte do mundo, onde o  velho coronelismo, o velho caudilhismo se perpetua, não porque tenha propostas avantajadas para os eleitores, mas porque fomos capazes de desmascarar as propostas avantajadas dos oponentes. Ora! Se os políticos são os mesmos, ou mantém a mesma cantilena, os eleitores também não mudaram em nada, apenas trocaram de pessoas, com CPFs novos, porém, suas características são conservadoras e conservadas, e não é que faltam pessoas capacitadas para mudarem esse tipo de política, mas porque faltam eleitores renovados que poderiam mudar estas práticas.

Deste modo, urgem leões que conjuguem suas vozes de leões no modo imperativo: "Que rujamos nós", para que não rujam eles. Que rujamos hoje para que não silenciem eles amanhã. Que se desejamos mudanças, primeiro definamos quais mudanças queremos, e que ato contínuo, sejamos nós estas mudanças, pois quem ruge por primeiro, e se ainda conseguir rugir por último, rugirá melhor. Afinal, leões não são eternos, e precisam gerar filhotes para que rujam por eles. Gramado sempre teve este problema: Leões velhos e banguelas, sempre enxotaram e devoravam os leõezinhos enquanto ainda miavam.





terça-feira, 22 de outubro de 2019

AS SOMBRAS DA JANELA





Apenas pássaros. E pássaros que não podem voar,
não podem ser pássaros, pois voar é preciso
para que sejam cada vez mais.

Ouvia Debussy.
Em plena metade da manhã, ele ouvia Debussy.
As manhãs não foram feitas para Debussy. Talvez
Vivaldi. Debussy, não. Este tem seu lugar ao entardecer.
Chopin, vem logo mais adiante, no alto da escuridão. Mas
para as manhãs, Grieg poderia fazer companhia a Debussy.

No entanto ele ouvia Debussy enquanto a mão
trêmula desenhava algo no vidro suado da janela. Desenhava
ou escrevia. A água condensada pelo calor da mão escorria
fazendo borrar o que já havia desenhado. Pareciam círculos,
repetidos, mecânicos.

O seu olhar não mirava as mãos que pareciam
mecânicas, no gesto hipnótico de circular no vazio. Olhava
num ponto perdido entre o infinito de seus pensamentos e o
horizonte avermelhado.
Uma lágrima verteu enquanto premia os lábios
contendo o choro. Mas a alma já chorava havia muito tempo
antes.

Lá fora, o sol brincava de ir e vir entre nuvens
apressadas, e o riacho murmuravam quebrando o silêncio.
Um pássaro perdido buscava gravetos com pressa próprios
dos pássaros, compensando o inverno que avisava de sua
chegada. Com chuva. Fina e fria.
Fechava-se o céu. As cores mudaram e cada vez mais
embaçado o vidro ficava.

Debussy no velho toca-discos continuava a tocar
numa interminável homilia ao amor perdido. Numa elegia à
solidão.

Numa compensação pela dor, apenas se quebrava a
mágica combinação da música com a paisagem e o
pensamento, o ruído das falhas do disco de vinil antigo.

Ele havia sonhado voar alto, mas calculara errado o
alcance do voo. Suas asas, como as de Ícaro, se partiram,
escoaram no sol da realidade, e o levaram a estatelar-se no
chão. Restava agora o recomeçar. Sem as asas, que eram seus
sonhos. Com a dor da queda. Apenas ainda o olhar aguçado,
para que distante pudesse ver e sofrer pelo que havia
perdido.

Seus sonhos eram tantos. Uns tangíveis, outros eram
brumas.

Pequenos sonhos povoavam sua alma como uma
multidão de pequenos pássaros voejando em sua existência.
Eram pássaros pequenos e nada mais. Apenas pássaros. E
pássaros que não podem voar, não podem ser pássaros, pois
voar é preciso para que sejam cada vez mais pássaros. E livres
possam voar...

A música acabou, mas o disco continuou a girar. A
agulha travou e o último acorde se repetia
interminavelmente da vitrola...
Seus pensamentos se repetiam em pequenas partes.
Apenas as partes boas de serem lembradas.


segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Pra não dizer que não lembrei dos loucos





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Erasmo de Roterdã, escreveu, em homenagem ao amigo Thomas Morus (autor de "Utopia"), um livrinho com apenas 78 páginas, contando com o prefácio, onde faz uma bem humorada e inteligente crítica à Igreja católica, mas de forma tão bem feita, que até o Papa Leão X achou a obra divertida. Esta mesma obra foi um dos gatilhos para o surgimento do Protestantismo.

O livro começa com um aspecto satírico para depois tomar um aspecto mais sombrio, em uma série de orações, já que a loucura aprecia a auto-depreciação, e passa então a uma apreciação satírica dos abusos supersticiosos da doutrina católica e das práticas corruptas da Igreja Católica Romana. O ensaio termina com um testamento claro e por vezes emocionante dos ideais cristãos.

Então, o que parece ser uma elegia satírica, torna-se um preâmbulo para o próximo capítulo do pensamento ocidental. Mas o tema central é a Loucura, uma personagem, que trago para minhas reflexões, e direciono como um obelisco imaterial, que mostra o fálico torpor do louco que habita pelas vielas de todo lugar por onde passamos. Atrás de casa esquina, à sombra de cada poste á noite, um ser quase irreal contorce-se com angustiante certeza, anunciando, ora o fim do mundo, ora a existência de um corrupto no seu sanduíche, e ao final de tudo, dá uma sonora gargalhada e cospe do café do freguês de um bar, que fica paralisado, não reage, ou reage com medo do louco. E o louco é louco, mas não é burro, e solta outra gargalhada e cospe de novo. No prato do outro freguês, que ria do primeiro.

Todo lugar tem um louco. O louco que quer ser rei, para sentar-se ao trono e bolinar as cortesãs. Ou quer ser o Primeiro-Ministro de um reino distante, para mudar a ordem das coisas. Anarquizar, talvez, esculhambar a sociedade estabelecida e fundar o caos. Todo lugar tem um louco. Não, não estou falando do perturbado mental, do esquizofrênico, daquele que sofre algum distúrbio de comportamento, não senhor. Estes são apenas pessoas enfermas. O louco não é assim, porque se finge de normal. Finge ser louco para que pensem que sua loucura é sua fraqueza, sem que percebam que são os loucos quem mandam no mundo (obrigado por emprestar-me a frase, amigo Professor Pachecão). Mandam sim, só que não são apanhados, porque disfarçam muito bem. Frequentam reuniões públicas, assembleias de condomínios, usam a tribuna do povo nas câmaras e assembleias, usam o poder esmagador de minoria confusa, e acabam constrangendo os demais a que se submetam aos seus "siricuticos e chiliques", quando são contrariados. Vociferam seu coitadismo e constrangem seus pares, e quando tudo termina, sorriem e arrumam a gola ao saírem, como se nada tivesse acontecido. Atrás de si, um cenário de tsunami mental. Pessoas com olhos esbugalhados, catalépticas, tremendo e enroscadas em posição fetal aos frouxos de riso ou choro, não definem bem o que seja. O louco passou por ali. Saiu à francesa para acorrentar-se na praça, em penitência pelos pecados alheios. Claro, se receber um óbulo por sua dor, a canequinha agradece.

Há os loucos humildes, mas também os pavões. À sua frente vão seus lacaios ( fico impressionado, como os loucos ainda arregimentam seguidores fiéis, tão fiéis?)tocando trombeta em uma bota de borracha jogada fora. Não se joga bota velha fora! - diz o louco, de dedo em riste, do alto de um pedestal de caixa de feira. E e entrega com solene piedade à um seguidor mais jovem, que sente-se profundamente honrado em receber de seu mestre tamanha deferência. E o lacaio toca novamente sua trombeta, no ouvido de um passageiro que espera pelo ônibus. O louco passa e todos se curvam, até quem não o conhece, pois curva-se porque todos se curvam, e ninguém quer ser diferente. Ninguém ousa mudar os marcos antigos da tradição, ainda que a tradição mande seguir um louco. O louco que inventou tal tradição. Cuidado que lá vem o louco, beijar a loucura, e dançar com a insanidade. Cuidado com o louco, berra outro louco. É sempre bom tomar cuidado. Especialmente com o louco, E pior ainda se ele não for louco, e só se faça de louco pra defecar no meio da sala? Que os faça, na casa dele, mas não na casa do povo. Senão, louco é quem escolheu o louco. Além de louco, quem faz isso, é também, burro.






A Professora ou Prostituta - Onde foi parar nossa gramática?




Alguém chamou-me à atenção de um fato aparentemente corriqueiro, porém, por demais intrigante, que é o significado das palavras. Eu mesmo, muitas vezes, recorro ao dicionário para assegurar-me da certeza de que devo usar aquela palavra que havia imaginado, mas bate a insegurança sobre seu significado, e corremos ao Vade Mecuum, o velho e bom Dicionário.

Houve um tempo em que chamávamos as palavras simplesmente de "Palavras", era simples assim, procurarmos por palavras difíceis, diferentes, pouco usuais. Este era meu passatempo literário favorito: descobrir palavras novas. Hoje, chamamos de "verbetes", que tem o mesmo significado de palavras simples, objetivas, e mais usuais.


O linguajar coloquial cresceu sobremodo, e um jargão de rua de hoje torna-se o verbete de amanhã, assim, de modo muito acelerado, nossa gramática se enriquece tanto, e tão depressa, que este excesso de informação acaba por corroer a formação, e assim, apocopamos frases em palavras e palavras em monossilábicos grunhidos, chegando aos novos hieróglifos, que são os "emojis", aquelas carinhas divertidas que usamos para sorrir, concordar, discordar, manifestar emoções, ao toque de um único dedo, economizando a leveza ou agressividade de um vernacular colóquio, ao ponto do nosso corretor digital não compreender mais expressões já quase em desuso, como esta que usei agora, "vernacular", ao que o robô sugere-me que eu troque por: "Vernaculizar, vernaculiza, ou cenacular" Pobre robô: nunca irá acompanhar a velocidade da mente humana, em se tratando de criar vocábulos e verbetes, traduzidos por palavras.


Este introito foi para apresentar argumentos ao absurdo que vi hoje, no verbete que mencionei neste preâmbulo: Entre no Google, o meta buscador, e digite (antes dizia-se "escreva" a palavra (desculpem, verbete): Professora, e o Google enviará para um conhecido "Dicionário Informal", cujo conteúdo satisfaz a grande maioria dos pseudo-pesquisadores, aqueles que se contentam com uma busca superficial, são os mesmos que não limpam a bunda senão com uma leve esfregadela de uma folha fina de papel, e saem dali sem lavar as mãos. Na linguagem e no conhecimento, não fazem diferente: coletam lixo e espalham imundície. Assim, se procurarmos a palavra "Professora", encontraremos duas definições, sendo a primeira, correta, mas incompleta, "A mulher que ensina ou exerce professorado". Já na segunda definição, diz que professora é: ""prostituta com quem adolescentes se iniciam na vida sexual", classificada como um "brasileirismo". Então, numa opção de escolha dos significados, o leitor poderia livremente entender que uma professora é, por definição vernacular, uma "puta". E os alunos poderiam ler isso e escrever tal infâmia na lousa, e sequer serem intimados a uma conversa com a Orientação Pedagógica da escola, porque o aluno nada mais fez do que repetir a terminologia recomendada pelo buscador "Big Brother".  Aqui começa a minha reflexão.


A quem interessa distorcer os valores, a partir das palavras, para que possam ser interpretadas como verdadeiras, ainda que não o sejam, porque na média absoluta, o robô acerta suas sintaxes, e vomita verbetes de acordo com sua conveniência cibernética. Assim, diante do mercado binário, se o robô disse, o robô está certo, e portanto, se o aluno entender desta forma, poderá passar uma cantada na sua professora, e caso ela teste o que aprendeu nas aulas de defesa corporal (Krav Magá, por exemplo), ela sim, a "Prostituta que ensina educação e iniciação sexual aos alunos", poderá ser levada aos tribunais por agressão a incapaz (incapaz de raciocinar é um tipo de incapacidade).


Minha leitura está naqueles números que aparecem no alto da página de pesquisa: Aproximadamente 16.400 milhões de resultados em 0,48 segundos (minha internet está lenta). Este tempo, 0,48 segundos, é o tempo que também o pesquisador (esse tipo de pesquisador) levará para absorver a informação, e muito, mas muito raramente, irá buscar outras fontes para  agregar mais e melhores verbetes ao seu conteúdo de palavras. 0,48 segundos bastam para formar um idiota. E se o Google falou, quem somos nós para discutirmos lexicografia com o Google? Afinal, a palavra Google, vem de GUGÓL, um verbete criado para definir um número astronomicamente grande, inominável. tipo um algarismo UM, seguido de uma sequência de, digamos cem mil zeros. Isto seria um Gugól. E quem somos nós para discutirmos com a entidade que acaba de dominar a barreira quântica de processamento, em três segundos, o cálculo que os supercomputadores do Pentágono levariam dez mil anos para concluírem. Então, se o Gugól do Google diz que professora serve também como puta, é melhor rever meus valores. Ou buscar outras fontes de conhecimento. O próprio Google, mas com mais opiniões, mais sites, de preferencia acadêmicos, confiáveis, que deem, respostas menos sinistras.


Ah, pra não dizer que não falei de política, então traduza isso para sua escolha por reflexão pessoal, sem depender dos enlatados que os marqueteiros lhe empurram durante o curto período de campanha eleitoral. Ou então você corre o risco de achar um verbete semelhante para "eleitor desinformado" - Burro que deveria puxar carroça em lugar de melecar a urna com o mesmo dedo que futuca o nariz!



domingo, 20 de outubro de 2019

"Pequeninos da Democracia" - O Poeta e a Professora




Escrevi sobre os principais e eventuais pré-candidatos às majoritárias de 2020 em Gramado (veja aqui), mas como a política é mutante e progressiva, deixei de fora (o que corrijo agora), dois personagens que merecem o respeito deste escriba, ainda que não os conheça com a profundidade que gostaria. Faço isso, porém, pelo critério de equidade literária e analítica, o qual tenho pautado meus ensaios, e principalmente para uma reflexão sobre o papel do cidadão, individualmente, no processo político e social, e não apenas por valoração numérica exponencial, que blinda os grandes partidos e coligações, e por acharmos que apenas os grandes tem responsabilidade.

Recebo, por minhas fontes, a notícia de que dois cidadãos, ao que sei, em pleno gozo de seus direitos civis e eleitorais, expõem-se ao sabor da crítica, tal como o fazem os demais pré-candidatos; o ativista Elias Vidal Sobrinho (PATRIOTA), e sua parceira, compondo como pré-candidata à Vice, em sua chapa sugestiva, a Professora Tatiana Dalle Molle (PARTIDO INDEFINIDO). Antes da análise, porém, gostaria de pincelar rapidamente as biografias dos personagens.

Elias Vidal Sobrinho, cujas façanhas e bravatas dispensarei do comentário, haja vista que há amplas publicações a respeito de sua conduta pouco regulamentar, se comparada aos moldes desejados aos que ousam buscar púlpitos e cadeiras públicas por meio do voto, e em se resultando favoráveis, se eleitos, a cargos que exijam certa liturgia e posturas formais à liturgia do cargo que pleiteiam. Ainda assim, e assim me parece, que suas emocionadas demonstrações de cidadania, em teatrais espetáculos, o sejam motivadas pelo marketing pessoal de fazer-se notar e prevalecer seus direitos, os quais, entende no momento das acaloradas manifestações, tenham sido, à sua leitura, desrespeitados. Resumindo, quem não chora, não mama. (Veja mais) (Veja ainda..) (Mais...)

De sua biografia pessoal, pouco se conhece, senão o que consta na sua ficha de ex-candidato à Vereador, junto ao TRE, declarando-o "Empresário". Então, Empresário e Ativista político, podem bem definir o pré-candidato.

Sua parceira e pré-candidata à Vice, ainda que também ativista política e educacional, é Professora, trabalhando na Rede Estadual, e também foi candidata à Deputada Estadual nas eleições de 2014 (Veja aqui...), além de ter sua biografia agregada à uma dobradinha com a ex-Senadora Ana Amélia Lemos, pelo PP, onde após ter sofrido impugnação, entendo como solucionado, posto que a candidata concorreu e recebeu a soma de 210 (duzentos e dez) votos, ao final do pleito. De família tradicional de Gramado, Tatiana retorna à terra, e milita então na política local,desta vez, ao que é divulgado nas redes sociais, ao lado de Elias Vidal Sobrinho, mais conhecido como "Poeta".

Encerradas as apresentações, numa análise fria, insensível, resumida, as circunstâncias parecem ser completamente desfavoráveis, à que a dupla vença uma eleição onde com absoluta convicção, será liderada pelas duas grandes formações históricas, de um lado UPG, e de outro, o nome que for criado para o pleito. Historicamente Gramado nunca ofereceu grandes surpresas. Historicamente nunca houveram  "azarões" que tenham dado uma reviravolta nos resultados esperados, ora de um, ora de outro lado.

O fato aqui não se trata das pessoas envolvidas, mas do que representa esta eventual candidatura para o fortalecimento democrático da eleição. Fica demonstrado que qualquer cidadão, eleitor, e com sua situação jurídica e fiscal em dia com a sociedade, pode, e deve entregar-se aos braços do povo, por meio do voto, se sua competência em convencer seja maior que seu histórico político, e principalmente suas "costas largas". E aqui, cito o presente caso do Presidente Bolsonaro, conhecido por sua língua destravada, e por defender posições diametralmente contrárias ao "bom senso politicamente correto" vigente, que, sem dinheiro, sem Partido, sem aliados profissionais, sem estrutura publicitária, dobrou a coluna de gigantes do Marketing Político, da Mídia, e da colossal máquina administrativa de outros candidatos, e promoveu a primeira revolução democrática com base nos ´pilares do inconformismo com a classe política, e com as Redes Sociais ao alcance de qualquer pessoa que possua um teclado de Smartphone , e alguém disposto a fazer uso devastador destas ferramentas a serviço de uma campanha.

O Poeta e a Professora, sem perceberem, fazem "leading", (Pé-de-Chumbo) abrem espaço e caminho para que qualquer cidadão perceba que de que tudo o que ele precisa para ser também um candidato à Prefeito é de um partido que o apoie, de ideias  que o diferenciem, de credibilidade que dê sustentação à arregimentação de prosélitos, e de algumas contas gratuitas no Instagram, Twitter,  Youtube, Whatsapp, Skype, Google Talk, e outros que nem lembro mais. Não precisa nem mais de Megafone, estúdio de gravação de rádio, e muito menos de impressos caríssimos. O santinho é binário e às vezes, santinho de caseiro também faz milagres. Quem se habilita?

Nota ao Leitor:
Este espaço destina-se à divulgar minhas reflexões acerca de fatos e personagens políticos. Todos terão o mesmo espaço e todos estão sujeitos à críticas, análises independentes, e também observações favoráveis, dentro do que estabelece a Lei de Imprensa, a Lei Eleitoral, e a Constituição Brasileira.

Quando os leões rugem, e Gramado treme




Muito contrário ao que se pensa, os animais rugem, vociferam, e mostram os dentes, não é quando desejam confronto, mas é quando se veem cercados por inimigos fortes, colocam-se no ataque, demonstrando que não querem briga, mas se a peleja vier, estão preparados para mostrarem toda a sua força e ferocidade.

Fedoca mostrou os dentes, e mostrou que podem estar afiados, quando respondeu com notável agressividade de modo genérico, aformando que "seu governo não é igual aos anteriores", ou especificamente, que os anteriores seriam com clara definição, Nestor e Pedro. governos que não tiveram, segundo a leitura e interpretação de Fedoca, a qualidade, e ainda sendo mais específico, a ética que supostamente, numa leitura imparcial de ambos, tenha seu atual governo.

Em resposta curta e muito direta, Nestor também expõe as garras afiadas e ruge, como o leão desafiado, dizendo que de fato, "em seus governos, a Prefeitura apenas adquiriu patrimônio, e jamais precisou vender, para honrar compromissos, ou fazer investimentos".

Um e outro expõem com bastante antecipação o ambiente que preparam para o embate em 2020. Nestor não responde como candidato, porque responde no momento à Justiça na condição de Réu, ainda que esta condição não o tire do embate, mas precavê a possibilidade de atuar apenas como líder partidário, em suporte a outro candidato dos PROGRESSISTAS. Nestor mostra que, apesar da eventual desvantagem jurídica momentânea, não vai permitir que Fedoca encontre facilidades na disputa, que não será nem um pouco diferente das que os antecederam, com bravatas, discórdias, e de um proselitismo feroz, pernicioso, onde cada força arregimenta valentia dos militantes, novamente jogando-os, eleitores e militantes, uns contra os outros. Sempre foi assim, e não será desta vez que vejo mudanças. Não nesse tipo de comportamento.

Eu vi e participei de muitas eleições em Gramado. Quase vi uma união de Nelson e Pedro, em certa ocasião, mas ao mesmo tempo vi que, ainda que os líderes se entendam e se respeitem, os apaixonados pela confusão e pelo ego exaltado formarem muros intransponíveis, e esta sonhada união nunca aconteceu. Por questão de poucas horas, por questão de poucos votos. Assim, ainda que dentro da mesma casa haja divergência de opiniões sobre este ou aquele candidato ou partido, tais divergências se dissipam após a eleição, por laços de afinidade. Eu mesmo, que não tenho partido, nem inclinação política, no tocante a Gramado, sou amigo de militantes de diversos Partidos, de diversas lideranças, e procuro deixar que minhas palavras sejam refletidas antes de manifestá-las aos leitores, mas sei que não é assim com todas as pessoas, e sei que a semente da ira é mais vitaminada que as pétalas da harmonia. Assim, faltando um ano para a eleição, muito antecipadamente, vejo posicionamentos afiados e a escadaria de egos cintilando para que subam nela, um e outro. Uns e outros, os que querem o poder em Gramado.

E o eleitor torna-se um títere, um boneco articulado, uma vaquinha de presépio, onde permanece na posição em que a colocarem. E as mãos que dispõem dos personagens deste presépio, que manipulam as cordas para movimentação das pernas e braços, e até mesmo da articulação das mandíbulas de madeira dos eleitores, são as vozes que se desafiam, que nos desafiam a compreender de que lado estaremos nos próximos meses e anos.

O papel desta coluna não é escrever para agradar aos políticos, mas para despertá-los a caminharem par e passo com os eleitores, ao mesmo tempo que permitir aos eleitores que questionem as verdades amalgamadas com as bravatas por trás dos leões que rugem. Eu estava silenciosamente observando a superfície das águas, quando fui despertado por leitores e pelos próprios políticos, que pediram que eu voltasse a escrever e livremente expressar minha leitura sobre a política em Gramado. Eu não posso mudar o mundo. Não posso mudar o Brasil, e nem mesmo posso mudar Gramado. E nem quero isso. Mas posso demonstrar que por trás de gestos aparentemente particulares, existem movimentos silenciosos que podem ser desvendados à luz do pensamento e da reflexão isenta. Gramado merece que seus cidadãos pensem, e merece meu respeito e gratidão, porque de alguma forma tenho contribuído para que isso aconteça. Fiz uma revisão do blog, desde que surgiu, em 2017, percorrendo o gráfico de leituras, que hoje chegam a 298 mil visitas, considerando que se trata de um espaço reflexivo, de linguagem, por vezes, difícil, mas que ainda assim, os 30 mil leitores de Gramado reputam como respeitável. É nesta respeitabilidade que atrevo minha ousadia em trazer ao lume da razão o comportamento político dos personagens que se expõem a tal, uma vez que sejam figuras públicas, e o fazem espontaneamente, seja por amor à Gramado, seja por amor ao próprio ego. Que seja então. Não é pecado apreciar seu nome em placas de bronze, contanto que sejam placas que façam memória à bons serviços. O povo merece isso.
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sábado, 19 de outubro de 2019

Pra não dizer que não falei de flores





De modo algum irei falar de política, de movimento de resistência contra o regime militar no Brasil, embalado pela canção de Geraldo Vandré, com o título dado a este ensaio. Devidamente explicado, passo a falar de flores então.

Dar flores é um comportamento próprio dos Seres Humanos, mas também entre os animais há certos hábitos de oferecer mimos às fêmeas, como forma de demonstração de disponibilidade ao acasalamento.  Os bowerbird, ou “pássaro pavilhão” masculino, são arquitetos incríveis, mas reservam suas habilidades para apenas uma finalidade – encontrar uma companheira. Eles constroem esses ninhos elaborados e deslumbrantes para impressionar as fêmeas – talvez eles pudessem ensinar aos homens, uma coisa ou duas sobre decoração, diz um artigo no blog "Tudo Curioso". Nestes enfeites, tantos, há também flores. Há espécies de peixes que fazem o mesmo, constroem ninhos elaborados com design sofisticado, linhas precisas, geometria perfeita, para que sejam escolhidos como os progenitores dos filhotes das fêmeas, pois sua capacidade de construírem e lidarem com esta matemática inata, demonstra que seus filhotes possuirão uma genética selecionada. 



Assim como os animais que presenteiam com cores e flores seus parceiros, também as flores se oferecem, por meio do perfume e cores, aos insetos e também pássaros e morcegos, que em troca destas dádivas, são por eles, polinizados. É uma moeda de troca. É por instinto e por interesse.

O Ser humano é o único que, não só presenteia com flores, por interesse, amor, paixão, reconhecimento, como o faze também por dor, gratidão, ou saudade.  São as pessoas quem produzem flores para venderem sentimentos, e embora eu não deixe de reconhecer a preciosidade de uma arranjo de flores numa floricultura, são as flores do campo e das matas, ou ainda dos jardins antigos, das vovozinhas, quem mais fazem aflorar minhas lembranças de tempos felizes, ou até mesmo melancólicos.

O costume de ofertar flores, é mais afeto ao mundo feminino, e mesmo os homens que oferecem flores, o fazem à mulheres: Mãe, namorada, esposa, amante, amigas, e em ocasiões significativas, na maioria.  Jamais vi um homem levar flores a outro homem (hetero), senão em velório, e mesmo assim, opta por comprar uma coroa com flores artificias, onde gravam em uma fita dizeres mecânicos de :Saudade eterna, Repouse em Paz, Homenagem da família tal.


Não sei dizer em outras culturas, mas na nossa cultura ocidental, um homem oferecer flores a outro, o carimba como homossexual. Nem mesmo um pai oferece flores ao filho, e tampouco vice-versa. Flor "é coisa de mulher", sentencia-se.

Pois eu ganhei flores, por duas vezes na minha vida. E confesso que foi uma sensação indescritível. Ganhei flores de duas mulheres, e não, nenhuma das duas mulheres estavam interessadas em mim, tenho absoluta certeza disso. O que me dá esta certeza é o motivo e circunstância em que recebi tais flores, e não era um raminho de dente-de-leão apanhado á beira da estrada. Não senhor! Eram frondosos buquês, que necessitavam abraços, exuberantes, perfumados. O primeiro recebi de uma Arquiteta, em reconhecimento ao trabalho que fiz, e fico feliz em crer que, ao respeito com que tratei os profissionais envolvidos neste trabalho. Foi a Arquiteta Melissa leite, em Lages, SC, por ocasião do lançamento de uma coleção que criei, e do Show Room de uma empresa que ajudei a montar.

A segunda ocasião, foi ao término de um Seminário de Economia criativa, Motivacional, que realizei, na cidade de São Martinho, SC, onde ao final das palestras, no segundo dia, fui homenageado com flores, inesquecíveis, de valor inestimável, oferecido pela Primeira - Dama do Município,  Turismóloga Ângela Back, e em nome da Comunidade inteira, o fez. D-s sabe o quanto aquilo significou para mim. Não as flores: o gesto, materializado em flores.

Então, agora posso dizer que falei de flores. As flores que não constroem muros, mas as que edificam e solidificam amizades. E foi muito bom. Agora é só esperar pelo velório, que talvez ganhe mais algumas, embora as prefira em vida. O perfume é bem melhor.

sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Ética na Política - Fazer campanha sem assumir que está em campanha, é ético?

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Imagem: Internet
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Quando você corre atrás da honra, a honra foge de você. Quando você foge da honra, é a honra quem corre atrás de você. (Talmude)

A mentira é algo que foge  das boas práticas da política, isso é unânime, mas que todo político mente, é um conceito aceito também por todas as pessoas. Nesta leitura, gostaria de demonstrar que ambas as verdades podem ser incompletas, e isso torna-as necessariamente outra mentira. Assim, verdade e mentira podem ser a mesma face em um espelho. Uma é real, enquanto a outra é ilusória, no entanto, está ali, pode ser vista, fotografada, comparada. Ainda assim, não é real, e portanto, não pode ser verdade.

Toda mentira precisa ter um componente de verdade para tornar-se crível, caso contrário, entra na categoria do absurdo, e absurdo, todos concordam comigo, é linguagem da loucura, do fantástico, do extraordinariamente inútil para a composição da história.

Toda história tem uma mescla de verdade com mentira, porque história é o relato de fatos, e relato é algo abstrato, que necessita de um agente, um "cavalo", um portador das palavras e do testemunho, para que outros também tomem conhecimento do fato.

Já os fatos, ainda que verdadeiros na sua origem, são falsificados pela memória traiçoeira, ou pelo senso teatral de quem os conta. Assim, dizer que chove, pode ser interpretado de muitas maneiras, pois pode ser que chova no lugar onde você está, mas é estio em outro lugar. Pode ser que chova muito ou pouco, mas muito ou pouco em relação a que? Percebe-se que até mesmo para existir, a verdade necessita de suporte, de testemunhas, e de quem a interprete também ao ouvir. Como na anedota de dois distraídos, ao celular, onde um caminhava com uma vara de pescar às costas, e outro o encontra e pergunta:

- Vais pescar?
- Não, respondeu o outro. Vou pescar!
- Ah, disse o primeiro: Pensei que você ia pescar!


Podemos falsear a verdade não em contá-la com distorção, mas em ouvir mal e a partir deste ruído na comunicação, levar adiante a parte distorcida que ouvimos. Eis então, um breve ensaio sobre o que é verdade e como a mentira se desenrola, com todos as ferramentas da verdade.

Minha sogra tinha uma vaquinha. Gostava muito e a tratava bem, com muito carinho. E todos os dias, ia à estrebaria para ordenhar a vaquinha. Usava para esta tarefa, uma roupa simples, de uso da roça. E a vaquinha liberava sua cota diária de leite. No dia, porém, que minha sogra ia sair, arrumava-se para sair, como fazem geralmente as pessoas do interior. Uma roupa para o trabalho, e outra para passeio. Assim, antes de sair, já perfumada e arrumada, minha sogra passava antes, na estrebaria, para a ordenha do dia. Naquele dia, porém, a vaca não dava leite, ou dava pouco, porque percebia que naquele dia ela estava sendo traída, abandonada. Depois de entender isso, minha sogra tornou-se mentirosa. Passou a ir ao estábulo com suas roupas velhas e suadas, e só depois, retornava à casa, e vestia-se para passeio.

Muitos políticos tratam seus eleitores como vaquinhas ciumentas, depressivas, com medo de abandono. Vestem roupas velhas e surradas, com cheiro de povo (aí do palhaço que interpretar errado isso, pois falo do cheiro do suor do trabalho, da fadiga, das dores). E muitos eleitores apaixonados, tornam-se surdos diante da evidência dos tambores e das fanfarras que seus políticos desfilam, sem perceberem que são objetos de artifícios marqueteiros para acostumarem o povo à rotina burlesca de um crescente para as campanhas eleitorais.

Não se enganem. Nada é de graça. Nem mesmo apresentações festivas de feitos, como se sem defeitos o fossem, alardeados pelos arautos de homens públicos, que dão pão e circo, por antecedência, visando anestesiar o livre arbítrio de sua grei, enquanto estabelece em torno de si um território indevassável, para perpetuidade no poder.

O poder é uma inebriante bebida, que não apenas entorpece a alma, como desfigura o caráter, transfigurando o bom, e sobretudo o mau que habita dentro de cada um, e utilizando os recursos do conhecimento científico sobre a mente humana, espargindo iscas que brilham, luzes que cintilam, para que continuem, como a vaquinha dengosa, que não dá leite para quem não pode confiar.

O eleitor continua sendo o mesmo, e suas decisões, ao longo da construção da democracia, tem, pouco a pouco, trocado o voto do coração pela escolha da razão. Eis a tarefa destes ensaios. Despertar a reflexão sobre a vida que deve ser vivida com o melhor, apesar daqueles que vestem roupas surradas para se passarem por pobres, enquanto os verdadeiros pobres desejam com intenso ardor, comprarem roupas perfumadas, para esquecer da pobreza.

Daí novamente a pergunta: É ético chamar o cidadão de irmão, enquanto deseja-se chamá-lo na realidade é de eleitor? Não seria mais verdadeiro assumir que está em campanha e que tudo o que mostra de sua vida e biografia, nada mais é do uma forma de sensibilizar o eleitor para que o escolha, quando o pleito chegar? Esta é uma pergunta retórica, cuja resposta está na ponta da língua de todos, mas que ainda assim, deveria levar-nos à reflexão do uso da mentira para vender uma verdade? Reflita e faça outros refletirem sobre isso. Estamos construindo uma história. Que personagem seremos, quando os historiadores contarem sobre a nossa biografia? Contarão eles que fomos "vaquinhas de presépio, e ainda assim, ciumentas"? Ou que fomos a geração que mudou a história pela força das ações e pensamentos ornamentados apenas com o manto da ética?






quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Trotes memoráveis em lugar incerto - II O Documentário da Rainha



Corria o ano tal, onde tal sujeito era o Prefeito, e também havia o Vice Tal, que como o título diz, era o Vice Prefeito do Fulano de Tal. Isso aconteceu em tal lugar, que era, digamos, o clube social do pequeno burgo, e era no clube social, que os melhores e mais suntuosos bailes aconteciam. Era lá que a sociedade V.I.P comparecia, para mostrar o automóvel tinindo de novo, ou as matronas, para exibirem seus suntuosos trajes de gala, enquanto os abobalhados maridos, servindo o braço como apoio, olhavam e sorriam o tempo todo, abanando a mão e curvando levemente a cabeça, como se quisessem dizer, entre os dentes cerrados, como fazem os ventríloquos: "Esta é minha mocréia, e este foi o vestido que ela mandou vir da capital, com meu cartão de crédito. Ai que ódio!"

Era a festa de escolha da rainha, de uma festividade local, e lá estavam reunidos todos os convidados da finesse local, e ora, onde há boca livre, o escriba que vos tecla, entendia necessário se fazer presente. E assim foi! Dez horas da noite, lá estava o galalau, enfeitado como "pixixê de china", cheiroso como mão de barbeiro, subindo as escadas que levavam ao local dos arregabofes, eis senão quando, o longo braço do porteiro ficou estendido à altura de seu pescoço, do galalau.

- De onde vens, perguntou, solene!
- Venho de um seio! - Respondeu o tararaca.
- E onde vais?
- A um coração!
- De quem és filho?
- Do acaso!
- Como te chamas?
- Paixão!
- Saiu-se bem, mas cadê o convite, malandrinho?
- E malandro precisa de convite?
- Aqui, sem convite, não entra!
- Que seja! Voltarei!

Saindo dali, o escriba voou lépido a largos passos à casa de um amigo, que possuía uma filmadora "Super 8". Tomou-a por empréstimo, e mais rápido que o pensamento, estava de volta ao refestelo.

-Tu de volta? Sorriu o porteiro.
- Sim, tenho que filmar o evento para um documentário, o qual enviarei à uma organização na Bahia!
 Sorrindo, quase aos frouxos, o porteiro o deixou entrar.

O lugar estava repleto de gente elegante, gente distinta, gente importante, políticos, autoridades, belas senhoras, senhoras,jovens exuberantes e perfumadas, e eu. Com uma filmadora Super 8, novinha.

- Boa noite, senhoras e senhores, gentis senhoritas! Estou aqui na missão de enviar um documentário à uma instituição na Bahia. Permitam que filme vossas magnificências?
- Naturalmente, caríssimo amigo (virei amigo, assim, de repente)! mas antes, aproveite o "Côck Téilll" (acentuando o L em coquetel).
Não me fiz de rogado. Bracei uma imenso prato descartável, e abasteci-me de guloseimas. Fartei-me até arrebentar a cincha. Forrei meu bandulho (sim, o galalau era eu). E disse:
- Bem! (Burrp), Senhoras e senhores! (Burrp..arrôt) hehe...desculpem...coca cola..! Vim aqui pra trabalhar, então tenho que trabalhar, Compromisso é compromisso! Só que temos um probleminha técnico ( nessa altura eu já era praticamente um Fellini, entendia tudo de iluminação,dramaturgia, cenografia, e após olhar significativo, sentenciei:
- Teremos que descer ao Hall de entrada, onde existem espelhos. Lá a iluminação é PER-FEI-TA! (e estalei a boca, como fazem os profissionais satisfeitos).

Descemos ao Hall, aquele pixurú de gente, Prefeito, Primeira Dama, Vice Prefeito, Segunda dama, autoridades civis, militares e eclesiásticas, Rainha, Princesas, blá, blá e blá. Entupiu o hall. E eu comecei a função.
- Prefeito com a rainha!
- Rainha com a Segunda Dama!
- Rainha com princesas!
E assim, sucessivamente, filmei á todos, por cerca de meia hora, a quarenta minutos, sem parar.
Agradeci e fui embora.

O tempo  longe passou. Por esta nova ocasião, a moça que havia sido escolhida como rainha, foi comigo e outros amigos, subtrair ameixas, em uma frondosa ameixeira que havia lá pelos fundos de um terreno pouco habitado. Ao voltarmos, ela disse assim:
- Paulinho! Tu te lembras daquele filme que fizestes, de nós?
- Mas claro que lembro!
- Posso vê-lo?
- Não!
- Por que não?
- Não havia filme na câmera. Além disso, o Super 8 tinha fita para três minutos, e eu filmei mais de meia hora. Ainda bem que as pilhas eram novas!










quarta-feira, 16 de outubro de 2019

Nestor responde à Fedoca: "Nós só compramos, e nunca vendemos terrenos"



"Com certeza não tem como comparar , nossas administrações compraram terrenos e nunca venderam, Está contente agora?", foi a curta e lacônica resposta do Ex Prefeito de Gramado, Nestor Tissot, em resposta à afirmação direta de Fedoca, Prefeito atual, onde disse, em entrevista ao Jornalista Caíque Marquez, após justificar a venda dos imóveis públicos para investimento em ações comunitárias, obras de interesse da população, teria afirmado Fedoca, e ao final da entrevista, como é de seu estilo, quando se zanga, respondeu à "queima-roupa", que "Não se pode comparar sua administração e seu estilo aos seus antecessores".

Este estilo não é o mesmo estilo e postura que Fedoca vinha mantendo nos últimos dois anos, mais arredio e misterioso, especialmente quanto à sua eventual reeleição. Eventualmente, e num crescente, perguntam-me se eu acho que fedoca será ou não candidato. Respondi que da cabeça de juiz e político, nunca se sabe o que sai, mas podemos antecipar alguns movimentos de Fedoca que demonstram sua intenção de continuar no gabinete, a quem, diz-se à boca pequena pelas rodinhas de café da vida, que se de um lado ele confessa a chegados que tem dias que sente-se enjaulado no gabinete, já em outros, dispara réplicas ácidas e agressivas aos seus futuros oponentes, numa demonstração que, se na campanha anterior ele foi mais cartesiano, fazendo as coisas certinhas, e deixando as bravatas em palanques para seu vice, Evandro, já nesta eleição, se candidato for, Fedoca demonstra que amadureceu para as plateias, e que seus discursos não expelirão flores. Os ataques serão cirúrgicos e diretos, e ao que tudo indica, está apenas tomando fôlego.

Se de um lado, os Progressistas estão aparentemente desarticulados (sim, fui bondoso, os Progressistas estão notadamente desarticulados), por conta da condição de Réu de Nestor, e consequente pré campanha em curso de Ubiratã e Luia, por outro lado, o MDB parece o pai da virgem que espia na janela: Uma mão no facão e outra na porta! MDB é um mistério, e assim o será até o dia da convenção, o que aliás, é uma característica deste Partido, decidir no último minuto do segundo tempo, no espaço da prorrogação, quem, como e de que forma sustentarão candidaturas, aliados, e o próprio partido. Mas não esperem pão francês de nenhum dos três lados citados. Fedoca não tem um Partido sólido, mas tem o poder da convicção de manter ao seu lado, e ainda mais fortalecido, o MDB, e os demais partidos penduricalhos, que existem dos dois lados das duas plataformas finais.

Nestor está quieto, tomando conta da sua defesa no Judiciário, mas continua sendo o homem forte do seu Partido, e o comandante da coligação que virá, que pode ou não ser ainda a UPG, ou se será criada uma nova sigla para combate. Seja como for, os Progressistas ratearam feio na última eleição, e perderam o comando do Município, e querem voltar a todo custo, ao passo que Fedoca gostou do cargo, e não vai querer largar nem tapado de mutuca.

Fedoca, de uma entrevista em resposta, deu um recado: "Tenho na mão uma oliveira e na outra uma espada! Não deixem que eu largue a oliveira!" (Na verdade esta frase é de Yasser Arafat, ex líder terrorista e fundados da OLP, mas cabe a metáfora nesse caso. Fedoca não é nenhum terrorista, mas está dizendo que tem duas armas para usar: A poesia das palavras, ou a fúria das bravatas. O Caudilho acordou!

O professor de Ballet



Aprontar trote é mais comum que a posição de defecar, e não há quem não tenha alguns memoráveis para contar, o que alias, faz até bem pra engrossar o couro, tomar um trotezinho aqui e outro ali. Eu, pelo menos, prezo por este modo de pensar, só pra não pensar em cada trote que tomei. Por misericórdia, como eu fui tonto nessa vida, gente do céu! Tá, eu também passei alguns, e vou contar aqui uns dois, com o mesmo mote: O "Professor de Ballet"!.

Vou omitir os personagens, mas os fatos são aproximadamente verdadeiros.

Trote número 1

Eu alugava uma sala em um prédio de salas comerciais, no centro de Gramado,tinha meu escritório. No mesmo prédio, haviam outros escritórios, sendo um de engenharia e decoração, e outro era um consultório médico, cujo titular era (e continua sendo) um grande amigo. Todos eram meus amigos, diga-se pelo bem da verdade. Volta e meia, nos visitávamos, para jogar conversa fora, tomar cafezinho, chimarrão, ou contar lorotas das boas.

Certa ocasião, passei no consultório do amigo médico, e vi que havia uma atendente nova, começando naquele dia. Estiquei o pescoço porta adentro, cumprimentei, e perguntei se o "Dr Fulano" estava.
- Gentilmente disse que não, e perguntou se era urgente. Respondi que urgente não era, mas que ele havia marcado comigo para que, dentro da próxima meia hora, nos encontrássemos no Tênis Clube, próximo dali, pois ele teria aula de Ballet comigo e outras pessoas. A moça achou aquilo muito estranho e perguntou quem eu era. Respondi que era o professor de Ballet do doutor, e que passei para lembrar que ele não poderia faltar à aula, porque iríamos experimentar nos alunos os novos collants e sapatilhas que eu trouxera de Porto Alegre, e que contava com o doutor em aula.

Apertando os lábios para evitar uma risada, saí dali e fui para a sala no fim do corredor, do escritório de engenharia. Lá trabalhava uma mocinha, que tinha um irmão de tamanho avantajado, e contei à ela a situação, e pedi que não me denunciasse. Ela então tomou a iniciativa de chamar o irmão,e juntos foram até à sala do doutor, e se apresentando, perguntaram se ela já havia localizado o doutor, porque o professor de Ballet deles estava na cidade, e eles não poderiam faltar. E eu voltei pra minha sala. Poucos minutos depois recebo uma ligação do doutor, perguntando se eu era o autor do trote. Depois de rir um bom bocado, ele disse que ela havia ligado para todos os lugares por onde ele passava e deixava o recado para que ele entrasse em contato com o tal professor de Ballet.

Trote número 1.1

Mesma situação aconteceu, num dia, em que fui, acompanhado de um vendedor de minha equipe, a uma fábrica de móveis, e o vendedor era bastante alto também. Lá nos deparamos com uma secretária nova, e pense no formigamento que me deu em ver uma secretária nova perguntando quem queria falar com sue chefe.

- Sou o professor de Ballet do fulano (o dono da fábrica, que era um sujeito bem encorpado, grande mesmo, e sues irmãos não eram muito menores, Maiores até, eu acho). Vim entregar o collant  que ele encomendou, e também a tiara com cristais e pérolas porque ele faria o papel do Cisne Negro, na peça Lago dos Cisnes.

A moça desatou a rir, e aí me "enfureci".

-"Por que você está rindo? Como você é preconceituosa. Só porque o sujeito é um armário de grande, acha que ele não tem direito de ser delicado? Por favor, assim que ele chegar, peça para contatar urgente comigo. Ele tem meu número! Este rapaz que está aqui comigo, parece um armário também, mas ele faz o cisne negro, que agora é seu chefe quem irá tomar o lugar dele"

Disse isso e saímos, segurando os frouxos de riso.

Depois do meio dia, fui ao centro da cidade, e lá encontrei os três irmãos, e mais alguns amigos, à porta do banco, e contei a história.

Malandros, de igual ou ainda piores que eu, o empresário chegou na fábrica, logo mais tarde, e ao chegar logo perguntou para a secretária:

- Meu professor de Ballet esteve aqui me procurando hoje?


Depois disso, toda vez que eu ia lá, ela nunca me oferecia cafezinho. Rancorosa!







Quanto deve Gramado ainda crescer? Será que é tão bom assim ser grande?

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Foto: Internet - Usina da Cultura

Um dos temas sugeridos por leitores, diz respeito ao crescimento de Gramado, e esta é uma história antiga já, que vem desde quando Gramado era ainda uma pequena aldeia, lá pelos anos 40, durante a Segunda Grande Guerra, em que, por visão empreendedora de um imigrante, outros empreendedores foram sensibilizados da necessidade e oportunidade de progresso no vilarejo. Os anos se passaram, e Gramado atravessou diversas fases em seu crescimento. Diversos motes (motivos, eixos temáticos) foram aparecendo, e cada vez mais, Gramado elevou-se à condição de brilho constante no cenário nacional, e hoje, internacional. E continua a crescer, mais e mais. Daí vem a pergunta: Quanto deve ainda Gramado crescer, nestes moldes atuais, e será que vale a pena crescer tanto e tão rápido? Vamos pensar juntos então.

Aqui vai o que pode parecer saudosismo, mas são apenas vivências, de um velho metido a escriba, que tomou gosto por pensar o seu livre pensar, e neste livre pensar, elucubra algumas utópicas paisagens que estão armazenadas em sua já bruxuleante memória, coisa de priscas eras, um pouco além do tempo do guaraná com rolha, do avião à lenha, que remonta sua infância e tenra juventude.

Para ilustrar, falemos agora, daquilo que não falamos na publicação anterior (veja aqui): Segurança! Vale dizer que esta palavra não existia como parte do Poder Público nos anos 70, e recordo que em 1975, se não me falha a memória, houve um crime de morte na cidade, quebrando um intervalo de 25 anos sem um único assassinato, sendo que haviam alguns suicídios, o que não se pode contar como índice de violência, e sim casos de depressão, que também era chamada de "Melancolia". A cidade cresceu, e o turismo foi tão redentor quanto predador, pois na minha parca (e não porca) leitura, o turismo deveria ser aquele movimento humano, onde o visitante conhecia costumes locais, e deles levava boas lembranças, ao passo que inverteu-se esta lógica, e foi o público local que absorveu o que havia de bom e também de nefasto na bolha luminescente do turismo, pois com este chegaram certos costumes que mudaram completamente o modo de viver do habitante local, do autóctone. Dou como exemplo o hábito de abrir o comércio nos fins de semana, antes dedicado apenas à família, ao lazer, e à religião. Fossem os sabatistas, uns poucos gatos-pingados naquele período, fossem as demais religiões, ou ou outro dia, eram exclusivos para este fim: repouso, alegria, confraternização. O turismo acabou com isso, pois ofereceu dinheiro, e muito dinheiro, em troca deste pequeno ajuste, considerando que eram nos fins de semana que o lazer dos turistas em subir a serra, era fazer compras nas poucas lojas e encomendar seus móveis sob medida, em raras marcenarias locais.

As casas, até então, modestas, e confortáveis, descortinam-se em nova exuberância, mas descobrem também, seus moradores,  que uma bela casa, na avenida principal, pode também tornar-se uma bela loja, primeiro na frente, e mais tarde, o andar térreo inteiro, até que, finalmente, a avenida principal não tinha mais casas, mas apenas lojas. Belíssimas e sofisticadas lojas. E não era mais apenas na avenida principal, mas nas ruas adjacentes, nos becos românticos, nos recônditos ocultos dos bosques, e um dia, um belo e ensolarado dia, Gramado torna-se cenário para as mais belas fotos, dos mais belos lugares do mundo. E nem demorou mil anos, como a encantadora Bellagio, no Lago de Como, ao norte da Itália, ou Lugano, na Suíça, e todas as demais do Velho Mundo. Isso aconteceu em pouco mais de cinquenta anos, na perfumada Gramado.

Um dia, seus moradores perceberam que não tinham mais vida própria, pois haviam se tornado reféns de seu próprio sucesso de bem servir, de sua hospitalidade e comida farta. Perceberam que não eram mais empregados, mas empregadores, e que seus carros eram mais novos, que havia mais e mais ruas asfaltadas, perceberam que o velho Cine Embaixador, passou a chamar-se Palácio dos Festivais, ostentando sua imponência ao Brasil, e acolhendo mais e mais visitantes a cada dia, a cada evento, a cada ano. O gramadense tornou-se uma máquina de hospitalidade. Sua rotina era servir, servir e servir. Então, o churrasquinho com uma pelada domingueira, e um chimarrão na casa dos parentes, deu lugar a encontros profissionais, em festas de aniversário organizadas por profissionais, e as quermesses de igreja e escolas, deram lugares a eventos regulamentados pelo profissionalismo de garçons, Mâitres, Recepcionistas belíssimas, cheirosas e bem vestidas. Então, a amizade ficou restrita a encontros nos bancos, no início da tarde, aos coquetéis de lançamento de alguma loja, ou aniversário da empresa, ou eventos sociais bem mais sofisticados nos clubes, ou nos hotéis, tanto fazia, pois ambos estavam preparados para suprir esta demanda já mais comercial do que social.



Foi aí que sobraram as crianças. Claro! Para as crianças, o melhor! Melhores escolas, melhores lojas, melhores calçados, melhores dos melhores intercâmbios, mas começou a faltar o melhor da vida: a Família! Os encontros de primos, as histórias dos avós, as receitas da família, os tio brincalhão, o primo safado,a prima vaidosa, começou a faltar humanidade, daquele tipo que só os lugares pequenos e simples podem proporcionar. Gramado enriqueceu, e claro, nem todos enriqueceram, pois com o enriquecimento de uma comunidade, há necessidade do crescimento, e o crescimento demanda mão de obra, e a mão de obra local já estava comprometida em crescimento próprio. Então, começa-se a buscar fora, serviços, produtos, mantimentos. E percebem os vendedores que seria um bom negócio montar filiais em Gramado, ou quem sabe levar suas matrizes, pelo marketing que a cidade proporcionava. E assim Gramado é o que é e o quanto é. Mas este não é o fim da reflexão.

O fim nunca vai chegar, enquanto se tratar de pessoas, e o Ser Humano, graças à D-s (Deus, mas como respeito meus irmãos judeus, o Santo Nome não é pronunciado, e em lugar de vogais, usa-se separação por apóstrofe ou hífen entre as vogais) é mutante, cada dia haverá novo direcionamento social, político, religioso e humanitário para ser interpretado pelos escribas desta Caverna de Platão. Assim, nesta livre leitura sobre o futuro que Gramado deve escolher, eu quis apenas demonstrar, em rápidas letras, como funciona a máquina do progresso, e que o mundo é um composto de vasos comunicantes, onde a água que sobra de um lado, falta de outro. Então, há que pesar-se se Gramado quer mesmo forçar a barra para um aeroporto no meio do vazio habitacional, para gerar ali novos núcleos urbanos, ou se quer um aeroporto em Canela, pela irmandade entre as duas cidades, mas que terá que suportar o gargalo perene do tráfego congestionado contumaz, ou se quer ampliar seus loteamentos populares, para buscar mais mão de obra, e consequentemente, mais votos, ou se quer redesenhar seu urbanismo, quebrando a rotina de quase um século, ou se quer multiplicar o números de acomodações para abocanhar mais e mais fatias do turismo nacional e estrangeiro, enfim, o que Gramado quer para seu cidadão? O que quer o velho que calejou as mãos na árdua jornada de construir um legado? Um asilo, para encontrar outros velhos saudosistas, porque suas famílias não tem mais tempo para ouvir suas repetidas lembranças? Será mesmo, que é tão bom assim ser uma grande cidade? Perguntemos aos parisienses, por que é que são tão ranzinzas e impacientes com os turistas? E por que é que abriram tanto suas fronteiras para mão de obra barata, que hoje são reféns de sua própria ambição?

Eu não sei a resposta, mas a resposta que sei, é que hoje moro em uma cidade tão pequena, tão pequena, e oro todos  dias para que eu tenha sido o último forasteiro a aqui amarrar meu burro, para que eu não sinta falta de mim, no dia em que não me reconhecer mais nas vitrines das lojas pelas quais passarei em meu vagar.









segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Largo da Carriére de Gramado - O Buraco Negro do Planalto




Um buraco negro, dizem os que entendem,, é uma concentração de energia tão grande, e de massa tão compacta, que captura até a luz que passa ali por perto, e não devolve nada ao Universo, além de não termos a menor ideia do que acontece lá dentro.

Pronto! Inicio esta reflexão com uma breve aula de astronomia, ciência da qual eu não entendo patavina, mas que sempre impressiona, quando falamos dos corpos celestes. Passa uma ideia de grandiosidade inalcançável.  Então, vamos falar de outro buraco obscuro, inútil, um vazio etéreo, perdido no topo de uma montanha (tá, é apenas um morro, mas "morro" não tem a mesma poesia emblemática que "montanha") no nobilíssimo bairro Planalto, em Gramado, nas cercanias (olha eu com mais sinônimos vernaculares insólitos)do não menos majestoso Lago negro.. Falo eu da "Carriére", à qual, e pela proximidade do Lago Negro, ouso denominar de "Buraco negro de Gramado.  Mas por que uma expressão tão pejorativo para descrever um lugar tão  valioso? Exatamente por isso mesmo: É um lugar valioso, um bem público, completamente vazio, que foi construído pelo pioneiro Leopoldo Rosenfeldt, como parte de um complexo imobiliário de lazer, acompanhado pelo Lago negro, e Lago Joaquina Rita Bier, além do urbanismo necessário para enriquecer seu loteamento, vendo na década de 1940-50, aos "veranistas", na maioria, porto-alegrenses, que deram origem ao ainda nobre Bairro Planalto, e mais tarde desmembrado, para Lago Negro, Ipê Amarelo, e outros.

A Carriére Hípica, ou Carriére, tem cerca de 14 traduções diferentes, mas a mais adequada aqui é a de "círculo", "espaço vazio", "arena circular", o que é exatamente isso. Um espaço vazio, construído como atrativo de lazer para os filhos das famílias mais abastadas, que passavam o veraneio inteiro em Gramado, e precisavam oferecer alternativas para que os jovens não se entediassem. A partir disso, e com o crescimento da cidade, por meio de seus atrativos turísticos, suas paisagens deslumbrantes, um clima saudável, receitado para tratamento de tuberculose, de uma culinária convidativa, e das novas casas construídas pelos veranistas, a Carriére Hípica tornou-se um atrativo complementar da cidade, onde eram realizados torneios com belíssimos alazões, ornamentados, cheios de obstáculos alegóricos, ornados de hortênsias, a flor símbolo de Gramado, desde aquele momento.

Ao longo dos anos seguintes, com a emancipação de Gramado, é também criada a "Festa das Hortênsias", em uma espécie de confraternização entre os habitantes locais, e os veranistas, que com o passar do tempo, foram permanecendo na cidade, tornaram-se cidadãos, e passaram a participar da vida cotidiana da cidade.

Durante a Festa das Hortênsias, haviam eventos que caracterizavam bem o evento, criando tradição, e atrativo, não só para a população local, quanto para todos os visitantes. Um destes atrativos era então, os torneios de saltos, na Carriére Hípica, que por sua formação topográfica, formava, naturalmente, um anfiteatro, uma arena, coroada por milhares de hortênsias azuis e brancas, exalando um perfume que faz recordar a infância de muitos que me leem agora. Era o cheiro das hortênsias em flor. Era o cheiro de Gramado.

Os anos correm depressa (Tempus Fugit, diziam os romanos), e Gramado agigantou-se com dinamismo, elegância, pujança, riqueza, novas belezas, nova arquitetura, novos moradores, no entorno deste espaço, que tornou-se quase um umbigo (aquele orifício que só teve utilidade por certo tempo, mas fica ali, assombrando e recolhendo flunfas, aquelas penugens que se acumulam neste outro buraquinho negro) de Gramado, porque, mesmo depois de não ter mais Festa das Hortênsias, nem provas de salto em obstáculos, passou a servir como um curral coletivo, onde alugadores de cavalos amealhavam uns tostões para "interar" o orçamento. Tornou-se, literalmente, um potreiro sem pasto, com chão batido e bosta de cavalo pisoteada e misturada à terra amarelada de seu chão. E tempos depois, nem isso era mais.

O Ex-Secretário Luciano Peccin, mandou construir um palco para pequenas apresentação, mas também este foi fazer companhia aos destroços do tempo. Hoje, a Carriére é um enigma à espera de respostas. Para entender melhor a questão, fui conversar com fontes confiáveis, acerca do destino daquele espaço, e ouvi coisas interessantes, desafios mesmo. Uma delas me informou que aquela região é uma APP (Área de Preservação permanente), o que inviabiliza certas edificações lá. Já outra fonte disse que há vizinhos no entorno, que qualificam o lugar como um "Jardim do Éden dos pássaros" (silogismo meu), e que qualquer outra forma de ocupação do lugar, desagradaria aos "irmãozinhos de bicos e penas" (mais um silogismo meu)., e que por esta razão, não querem que nada mude ali naquele lugar. Há um certo egoísmo nisso, pois o sujeito é dono do portão pra dentro, mas aquilo que é público (e a Carriére é pública, pertence ao povo de Gramado), deve ser decidido pelos que representam este público, a saber, Prefeito e vereadores. Resta então saber, o que deve ser feito para otimizar aquele espaço nobre, para franquear á toda a população, e também turistas, óbvio, considerando as seguintes condições:
1 - É uma área nobre, portanto todo investimento ali deve valorizar ainda mais o espaço, não apenas no equilíbrio estético, arquitetônico, e principalmente paisagístico, como também  no uso correto do ambiente onde se encontra;
2 - Está situada em uma APP (Área de Preservação Permanente), protegida por Lei Federal, que tem forte tendência de desencadear protestos tanto dentro, quanto fora de Gramado, considerando que em seu entorno, possivelmente habitam pessoas com relativa influência em meios de comunicação de relevância estadual e nacional, e que tudo o que precisam é de um motivo simples, para organizarem um levante "patriótico!, e até quem sabe, chamarem uma garotinha sueca para berrar a plenos pulmões que as autoridades "destruíram seus sonhos! Que direito tinham de mexer no barro fertilizado daquele espaço "santo", naquele portal de energias cósmicas, no receptáculo dos fluídos menstruais da "Mãe natureza", etc, etc e etc. Enfim, delicada a coisa, mas aí, vale lembrar que se a Amazônia é brasileira, e sim a Amazônia é brasileira, também Gramado, e cada cantinho, ou buraquinho negro ou colorido deste chão, é dos gramadenses, e cabe aos gramadenses todos, sem privilégios, decidirem o que deve ser feito lá.

E para que não se diga que eu não falei de flores, hortênsias e Amor-Perfeito, no caso, fui ouvir sugestões de meus queridos leitores e minhas perfumadas leitoras, e posso dizer com absoluta segurança que houve unanimidade nas ideias: Aquele espaço deve ser transformado em um belíssimo Anfiteatro, numa arena de espetáculos, e houve quem detalhasse ainda mais a ideia, sugerindo que seja feito um estacionamento subterrâneo, que permita liberar as circunvizinhanças e o tráfego, em dias de espetáculo. E sabem que eu tive que concordar com elas? Afinal, Gramado não tem um teatro, não tem uma casa apropriada para espetáculos, recitais, que tenha o formato e a acústica desenhadas para aquele objetivo. É verdade, Gramado tem o Palácio dos festivais e o teatro Elisabeth Rosenfeld, onde, o primeiro, não foi desenhado para recitais ou dramaturgia, apenas para projeção de filmes, e o segundo, é tão pequeno, que não comporta mais do que uma ou duas salas de aula ao mesmo tempo.

Este assunto não termina aqui. Penso que o Prefeito deva ser incomodado, assim como deve continuar sendo incomodado sobre o Hospital, sobre o lago dos Pinheiros, que além de um belo espaço, precisa ter suas águas limpas e potáveis, e que cuspam no caminho por onde passar mais um candidato, durante a campanha, que prometer despoluir o arroio do Bairro Piratini, e depois der de ombros à outros assuntos. Penso que agora começa a temporada de caça ao voto, mas acima de tudo, começa a temporada de caça aos desinformados, aos que não tem opinião formada, aos que não gostam de debater os temas relevantes de sua cidade, aos que se contentam com abraços e tapinhas nas costas, e palavras fáceis, e depois se conformam coma felicidade alheia, esquecendo que as promessas de campanha seriam para si próprio.

Você votou. Você vai voltar a votar. Então ao menos lembre que Gramado é a sua cidade, e que quem decide o que vai ser feito na Carriére é você. Ninguém mais.

Minha sugestão: Seja esmiuçado o conhecimento da legislação sobre o lugar e depois elaborado um concurso público para escolha de um projeto que sintetize Gramado em todo o seu esplendor, num dos lugares mais altos e mais belos, e que os milhões de visitantes anuais, passem por este portal e saibam que Gramado é cada dia mais Gramado, e que a beleza é apenas um dos muitos atributos desta cidade, deste município.









804 - O Número do Senhor X (Decifre isso)

  804 – Reflexões sobre um Plano Silencioso Introdução: Nem toda mudança começa com uma revolução. Às vezes, ela começa com um número. 80...