Pacard - Polímata, Nexialista, e Escrevedor
Criatividade é uma visita à feira, ao super mercado. O resto, são escolhas
Criatividade é uma visita à feira, ao super mercado. O resto, são escolhas, disse eu no título desse ensaio, e poderia quase terminar aqui, se não fosse ridículo compartilhar um texto com apenas uma frase, ainda que existem frases que são suficientes para um bom entendimento, e existem enciclopédias inteiras que não dizem nada. Assim, prometo ficar no meio termo, para melhor compreensão do motivo dessas poucas e maltraçadas linhas, ainda que a pena esteja guardada apenas para atividades nostálgicas (sim, eu tenho uma pena verdadeira, com ponta metálica, para escrever em papel),
Ainda que em meu parco, mui raso auto didatismo, ao que, dadas as múltiplas habilidades adquiridas pelo empirismo contínuo, pela experimentação no método tentativa e erro, mais erros que acertos, dou-me ao luxo de também declarar-me culpado de ser Polímata, ou ainda melhor, Nexialista, mas não é relevante, senão para justificar que, em tal condição, fui levado a tornar outras pessoas também ignorantes, mais confiantes no poder da ignorância trabalhada, para mudar o mundo. Não mudei o mundo inteiro, mas o meu mundinho, ah, sim, mudei, e quanto mudei. E cutuquei outros a dispararem em busca de suas próprias transformações estruturais ou intrínsecas, ainda que seja, pois não preciso mudar o mundo, basta que mude a mim mesmo para que o mundo mude sua trajetória. Como isso? - Pergunto eu! Simples! Eu mesmo me respondo! Quando ponho o pé e interrompo a trilha de formigas em seu laborioso ir e vir para abastecer o ninho, estou alterando o estado natural das coisas, e talvez para meu sádico prazer (é só uma metáfora, viu, eu não cometo maldade com os animaizinhos), tenha sido apenas um mover de pé, mas para os atarefados insetos, seja uma completa reestruturação de logística para contornar a deselegante pata do imbecíl que se intrometeu na sua árdua faina. Assim, por pequeno que seja o gesto, estamos alterando a logística do mundo, e se sabemos dessa capacidade, então, por que não mudar para melhor?
Mudar, transformar, são as palavras mais doloridas do Tesouro Linguístico, vulgo Glossário, ou se mais erudito, "Vade Mecuum", haja vista que depende de um remanejamento de inércia, do tal corpo em movimento que tende a continuar no estado em que se encontra (atual estado pende mais para letargia), e toda transformação demanda energia, que é acumulada pela constante atividade da ação, reação, interação, participação, contração, e resolução. Assim dito, a transformação pode ser para o bem ou para o que não faz bem, e sendo uma escolha no caminho bifurcado, há sim, conselhos eficientes e eficazes para que esta escolha se dê na estrada da luz que brilha de contínuo, em lugar de piscar, o que encanta mais aos simplórios, o que em si, não há nenhum demérito, posto que dizia o Sábio Salomão, que "no muito conhecimento há enfado da carne", isto é, se não colocar em prática essa bagagem de saberes, não as transformar em fazeres, o tédio, aquela gosma verde gelatinosa e fétida, dá uma cobertura como de uma torta que aqueceu e escorreu pela bandeja toda.
Talvez, em algum momento, como testemunho, e não como hedonismo, eu fale na primeira pessoa, intentando pejorar e relativizar para não precisar correr ao livro de Eclesiastes, e lembrar quem eu realmente sou. Assim, houve tempo em que eu sentia vergonha de dizer que era autodidata. hoje constato que é inútil explicar que iniciei como autodidata , passei por polímata, e me encaminho ao nexialismo. Mas pra isso, é necessário que a pessoa pare de mascar a graminha saborosa e preste atenção no que estou dizendo (muitas pessoas não conseguem mascar e raciocinar ao mesmo tempo, aí desatam a babar, entende?)
No entanto, não somos muares ruminantes, cujo único propósito de vida é mascar, ruminar, evacuar, e se dócil for, carregar fardos daqui pra lá e de lá pra acolá. Somos criados pensantes, com Lívre Arbítrio, com poder de pensar e decidir, ainda que as escolhas, muitas vezes, nos acorrentem no agir, posto que optamos pela luz que pisca, em nossas vidas. Somos elaborados pelo Criador como Co-Criadores do mundo, e só quando percebermos essa condição, é que seremos verdadeiramente criadores e autores de nossos caminhos. Certo! Falei bonito (eu achei), mas e como podemos fazer isso? Como podemos nos tornar Polímatas e Nexialistas? A resposta é simples e trabalhosa: Esvaziando os porões abarrotados de quinquilharias desnecessárias, acumuladas pelo vazio das escolhas, das aquisições desnecessárias. Os excessos acumulados pela inocência da juventude nem sempre são expurgados durante os ritos de passagem etária e psicológica em nossa caminhada, e aqueles recônditos menos acessíveis de nosso porão mental permanecem com restos fermentando de nossos erros e frustrações, antes ignorados, hoje, capazes de alterar o sabor da vida, porque não foi feita uma antissepsia completa, como se faz em um terreno que se quer plantar uma roça, que necessita que lhe arranquem os tocos e as pedras, antes que sejam espalhadas as sementes. Nosso terreno mental é abarrotado desses entulhos, e são eles que nos fazem desanimar para as transformações e o crescimento que desejaríamos desejar, caso soubéssemos o quanto vale a pena viver a vida que precisa ser vivida. Um Catarse completa, ou ao menos, com profundidade é a solução para o começo dessa caminhada. Aqui começa o caminho da transformação.
Porém, é importante lembrar que limpar o porão e seus cantinhos putrefatos, não significa apagar as memórias. Não mesmo! Isso porque as memórias são arquivos dos erros e acertos (nem sempre o que fazemos na juventude são erros, posto que são passos de juventude, e juventude sem erros é uma juventude amorfa, insossa, com gosto de jiló. O que precisa ser assimliado é que, semelhante a uma fruta, que tem seu ponto de maturação, e assim deve se saboreada, se passar do ponto, ela murcha e apodrece, e precisa ser descartada, jogada na terra para que cumpra sua jornada final. Porém, saber guardar estas frutas como compotas, podem ser saboreadas em outro tempo e do modo adequado. Isso é a maturidade, provando continuamente os sabores da juventude, com o sabor adequado. A Catarse pode ser seletiva, e organizar as prateleiras da memória de forma adequada ao momento presente, e agora vem o apogeu do que quero dizer: A Criatividade depende disso, desse banco de lembranças e experiências, ainda que nefastas, para compor o aprendizado e a transformação do que vem a seguir. Muitas vezes, brincadeiras de criança, como "caçar Tirisco", que pode ser momentaneamente desconfortante pelo deboche que acontece, torna-se um gatilho para futuras armadilhas que a vida nos propõe, mas se nunca fomos "caçar Tirisco", nunca saberemos que há limites entre ser crédulo, e ser prudente. O crédulo, em tudo crê, e embarca em canoas furadas continuamente. Já o prudente, antes de embarcar, examina o casco para saber se não há riscos de naufrágio. A criatividade é isso: dosar o que se sabe com o que se espera encontrar, temperado com o inusitado. Quem teme o inusitado, vai passar a visa bebendo leite materno, porque terá medo de provar outras iguarias.
Criatividade pressupõe equilibrio entre o medo e a coragem. A desconfiança, e a percepção de risco, com o frêmito de avançar para o desconhecido. Esse sim, o desconhecido, é o grande território do Polímata e do Nexialista, porque usa o estoque do porão, agora organizado, como parâmetro da construção do que é novo, e é capaz de colocar, lado a lado, na mesma prateleira, o velho livro de fábulas, com a moderna chave de algoritmos para mergulhar no desconhecido.
Isso é inovar. Isso é transformar. Olhar o futuro com as lembranças do passo, atados ao caminhar do presente. O resto, é vaidade.
Dizia Hilel, o Ancião: Se eu não for por mim,, que será por mim? Se eu for só por mim, o que sou eu? Se não agora, quando?
Quem responder estas perguntas, começa a criar sua própria transformação.
Como já disse outro dia: Caixão não tem gavetas e mortalha não tem bolso. De que adianta acumular se não for para partilhar? Conhecimento é como água: estancada fica choca. Rios são rios porque se deixam escoar. O mar que tudo recebe, não é potável.