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sexta-feira, 3 de março de 2023

A corda que nos puxa para o envelhecer


A idade é uma corda esticada que nos puxa forte para junto de si. Durante muito tempo, puxamos ao contrário, e como somos fortes, pensamos que estamos vencendo este cabo de guerra. Mas a corda também vai enfraquecendo, e quanto mais resistimos, mais fios se rompem, até que, ou nos deixamos puxar, e envelhecemos, ou forçamos além da capacidade da corda, e ela se rompe. É assim que morremos durante a juventude: pelo pavor de envelhecer.

Compreendi isso a tempo, eu acho, porque caminho pelo envelhecimento com o vagar de um velho, de mãos nas custas e encurvado, olhando o chão por onde piso.

Na tenra infância, rastejamos, e dar os primeiros passos é uma grande vitória, para nós, e para nossos pais. Porém, andar ereto não é mais suficiente, e agora queremos explorar todo o potencial dessa capacidade fantástica que é mover-nos de um lugar a outro sem o artifício grudento do colo, e agora queremos correr, correr e correr, e assim, aceleramos a vida nessa corrida insana, onde puxamos a corda do futuro com toda a força de que dispomos, e muitas vezes, o futuro é uma fruta ainda verde, que foi arrancada do pé sem que tivesse provado suas intempéries necessárias para a maturidade. Isso não importa, porque constatamos que onde tem uma fruta verde, podemos colhê-la e amadurecê-la à força, ainda que, sabido seja, o sabor será insosso, muito diferente do sabor da fruta que amadurece no pé.

E à medida do crescimento, entendemos que a corda do tempo pode ser esticada e a esticamos, testamos seus limites de resistência, sem percebermos que por ser maleável, flexível, esta corda é composta por finíssimos fios emaranhados entre si, e que começam a romper, um a um dos fios, como já mencionei logo acima. Assim também nossas defesas vão se rompendo sem que percebamos, uma a uma, como finos fios que se rompem pela força de tração à eles imposta, mesmo que saibamos que sejam apenas fios, nos importamos apenas com sua capacidade conjunta de tracionar o futuro. 

Assim somos nós. Tracionamos o futuro de nossos filhos para que sejam bem sucedidos. Tracionamos nossas esperanças para que se cumpram sem que seus benefícios ainda estejam maduros. Tracionamos a morte que se agarra junto a cada fio que se rompe, e nem percebemos isso, porque o infortúnio nunca está sozinho para ser puxado. É traiçoeiro, sorrateiro, e se infiltra com os benefícios das fibras unidas, e como uma traça com presas afiadas, rompe estes fios, sem que percebamos. E puxando o futuro, sem saber, pelas leis da física, estamos ao mesmo tempo sofrendo a ação de forças opostas e quando pensamos que puxamos este futuro para nós, é o futuro do inusitado quem nos arrasta para junto de si, como um cabo de guerra, e o grande segredo da vida é saber qual é o ponto de equilibrio, onde um e outro lado permanecem em seus próprios terrenos, mas como os passos da vida não vem como velocímetro ou o hodômetro, que nos mostra o quando fomos puxados, ou o quanto pensamos que puxamos, o mais terrível engano que cometemos, porque se pensamos estar no alto da montanha, e talvez estejamos, quem está na planície tem a gravidade a seu favor, além do tempo e das circunstâncias que encontraremos no acelerado desta descida.

Então, não é prudente que arrastemos o futuro, mas nos deixemos andar pelo tempo necessário da contemplação do caminho. Ah, esqueci, essa velocidade só se adquire quando o tempo já não nos pertence mais. Mas, "ces't la vie", dizem os franceses que comem queijo maturado no tempo necessário, sem o atropelo das grandes redes de supermercados que exigem produção de milhões de toneladas para engordarem a Bolsa de Valores. Mas até esta também se rompe um dia.

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