AD SENSE

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

A Política e a Ansiedade



Não sou psicólogo, nem ouso invadir esta área da ciência, mas como observador do comportamento humano, e das atitudes que geram transformações sociais, percebo que a instabilidade política gerada pelo embaraçoso cenário nacional e internacional, mas não menos ruidoso também nas circunvizinhanças de todos nós, tem proporcionado o esticamento desmedido da elasticidade de nossas emoções momento a momento. Não relaxamos mais. Não temos mais tempo para o ócio, muito menos o ócio criativo, construtivo, sociabilizante. Não nos encontramos mais com as pessoas de nosso bem-querer, e consequentemente não nos encontramos mais conosco mesmos. 

Espelhamos em nossas expressões o desencontrado fluxo dos acontecimentos, fazendo com que nossas emoções sincronizem com o pulsar frenético das incertezas sociais.

Somatizamos o descalabro das decisões judiciais que se distanciam cada vez mais da justiça pura e medicinal, corretiva. Valorizamos a justiça punitiva, sem buscarmos dar sequência ao processo de reeducação social, gerando escolas de bandidos. Na ordem política, difamamos tão claramente à toda a classe política, que encapsulamos a verdadeira política, que é a combinação de ciência e arte dos ajustes dos indivíduos entre si no seio da sociedade em que prosperam.

Espelhamos para nossa família a fuligem das poluídas ruas, e nossas insônias são o cotidiano das noites que deveriam ser de repouso para a dura faina que nos espera.

Perdemos-nos a cada dia. Perdemos as nossas referências a cada instante. Perdemo-nos no requintado avanço da violência, não apenas nos becos escuros, mas dentro de nossas casas quando ligamos a tevê, ou mergulhamos incontinenti no submundo das páginas cibernéticas em busca de mais e mais adrenalina através dos vídeos trágicos que a internet nos oferece. 

Desejamos o imediatismo, porque perdemos nossa capacidade de buscar o que está na bruma dos sonhos. O "já", e o "agora" encapsularam o "ainda não" e o "espere um pouco". Desprezamos a esperança e exigimos a certeza. Só que a certeza não chega. E nos tornamos ansiosos. Não aquela ânsia pelo edificar, mas a ânsia por permanecer íntegro. 

Desalinhamos nossos planos e perdemo-nos no descompassado ir e vir em busca do nada, do caminhar para aquecer-nos apenas, na frieza do mundo que construímos pedra a pedra neste descaminho que traçamos.

Quem somos nós neste cenário? Por que não respiramos mais profundamente e nos abastecemos de alma, em lugar de pedras cintilantes e metais que brilham? Por que buscamos fugir dos espelhos límpidos e optamos pelos espelhos borrados, que não mostram mais quem somos, mas aquilo que nos tornamos?

Tenho pregado aqui neste espaço a urgente necessidade de um despertar político e ideológico que tornem os Homens em Homens, e as coisas em coisas. Que sejam separados os interesses pessoais, sem que se perca a identidade de quem os possua, e que sejam despertadas as dedicações pelas necessidades coletivas, mas também pessoais.

Urge que redesenhemos a política, com ideias e não com interesses. Urge que sejamos mais prósperos em sementes e menos em cascas. Urge que o pão seja o grande capital e que o capital do pão que sobra sirva para saciar a fome dos que caminham vazios por caminhos vazios rumo a horizontes ainda mais vazios.

Urge que pensemos e meditemos mais e corramos menos. Urge que tornemos urgente as ânsias pela paz e inócuas as corridas armamentistas que o fazem em nome da mesma paz. Urge que sejamos mais nós, mais nossos antepassados, mais os que nos legaram ser o que somos, para que deixemos que sejam os que depois de nós hão de chegar. Urge que sejamos lembrados pelas nossas ideias e não pelo mal que deixamos. urge que sejamos louvados pelo bom legado que deixamos e não amaldiçoados pelo bem que deixamos de fazer.

Urge que voltemos a caminhar em vez de correr. Que nos demoremos no abraço. Que nos envolvamos no afeto. Que amemos mais e soframos menos.

Urge que tomemos mais mate com os vizinhos. Que comamos mais massa com os primos, que joguemos mais conversa fora com os irmãos. Que abracemos mais nossa própria vida, não essa que descrevo aqui, que também é minha, mas aquela que guardamos na saudade, para que também nossos filhos tenham sua própria saudade quando chegarem onde chegamos.

Urge sermos felizes. Já é suficiente.






Nenhum comentário:

Bella Ciao e Modelo Econômico de Crescimento - Táticas e Estratégias que modelam o Pensamento Político

Imagem: Bing IA Pacard - Designer, Escritor, e Artista, que tem nojinho de políticos vaidosos* "E sucedeu que, estando Josué perto de J...