Sua vó talvez não tenha lhe contado, mas como sou mais precavido que ela (véio tem que guardar tudo, começando com as lembranças), me encarreguei de "ispicular" com os meus velhinhos enquanto ainda tinham boa memória e disposição para contar causos, até porque, engana-se quem acha que velho só serve pra ralhar com os jovens, e enriquecer a indústria de fraldas. Não senhor! Velho tem excelente memória, especialmente das coisas antigas. É como se você tivesse uma pilha de pratos de vidro, empilhados, e embaixo do primeiro, lá no fundo, tenha um bilhete. Você não consegue ler o que diz o bilhete,pois os demais pratos são as lembranças mais recentes. Porém, à medida em que o tempo passa, os pratos vão sendo retirados, e você passa a lembrar das coisas mais antigas, dos tempos de antanho, das priscas eras de sua infância. E ainda feliz por lembrar disso, conta a todo momento destas lembranças para alguém, que não tem o mesmo entusiasmo de ouvi-las, quanto tem você de contar o que lembra. Mas sempre que aparece um Pacard com paciência para ouvir seus relatos, eles brotam como água de uma fonte inesgotável. E foi assim que construí minhas lembranças, ora próprias, ora emprestadas dos meus queridos, que já descansam, mas nem por isso foram esquecidos, até porque suas memórias aqui guardadas podem ser tudo, menos esquecimento.
O causo do Jardineiro que negociou a esposa por uma bicicleta e Duzentos contos
Pois havia um velho político,muito generoso com os pobres, que certa ocasião, para ajudar um matuto, associou-se a ele, e adquiriram um cortador de grama, para que o matuto pudesse trabalhar, ao que o matuto contava aos quatro ventos que era sócio do "Sêo Fulano", e alargava um belo sorriso com a boca escancarada e os quatro dentes à mostra (eram cinco, mas um deles ficava lá no fundo da boca e não aparecia ao sorrir).
Certa ocasião, o matuto, cujo nome não vou revelar, mas o causo foi contado como verdadeiro e assim o relato, era casado com uma moça de pequeno porte físico, uma anãzinha, muito jeitosinha, coisa e tal, e que vestia sempre um longo vestido cheio de babados, e usava um chapéu que a deixava muito formosa, chamada Penélope (óbvio que o nome era outro).
Onde o matuto ia, Penélope ia junto,mas sempre uns dois passos atrás, em clara mostra de submissão ao esposo e senhor. Moravam no interior, e uma vez ao mês iam "pro Gramado", (O Gramado era como chamavam o centro do município) fazer negócios e comprar mantimentos para o ranchinho onde moravam.
Passado certo tempo, o matuto passou a ir acompanhado de outra senhora, e não se viu mais Penélope, a moça formosa de pequena estatura, com seu vestido de babados e chapéu com flores. E curioso pela situação, um amigo do matuto perguntou por Penélope.
- Vendi!
- Largou dela, você quer dizer?
- Também,mas também apareceu um bom negócio e eu vendi ela.
O amigo ficou horrorizado com tal declaração. Que mundo era esse onde um homem vende a própria esposa? E quis saber mais.
- O fulano de tal andava interessado nela e ela também arrastava uma asa pra ele. Arrastava o rabo também. Daí em vez de virar corno, eu resolvi lucrar com a sem-vergonhice deles, e ofereci ela por quinhentos conto.
O amigo já havia mudado de cor umas tres vezes. Mas segurou a fúria e perguntou:
- Tu ofereceu tua esposa por quinhentos contos? Como teve coragem?
- Também pensei nisso, e não quis explorar o comprador, daí baixei pra duzentos contos e uma bicicréta! Fechemo negócio.
- Mas e esta moça que está com você, sabe disso?
- Lógico que sabe, e mesmo mandou eu falar contigo. Tenho aqui um retrato dela, óia!Quer comprar por oitocentos conto?
Não sei como terminou o causo.Mas quem me contou, jura que aconteceu de fato.
*Imagem de internet
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