Recebi, às dez horas da noite de ontem, pelo próprio Dr Ubiratã de Oliveira, a notícia que ele estava deixando a Executiva do PP de Gramado, e que na próxima segunda feira, dia 20, também anunciará seu desligamento do Diretório Municipal do Partido, motivado por descontentamento com atitudes de seus companheiros, às quais classificou como "traição", e que a irrevogável decisão desencadearia seu também desligamento do Diretório, mas ainda não do Partido. Eis a notícia, agora nem tão nova, uma vez que disse a Ubiratã que ainda não divulgaria o fato, porque poderia ser revertido pela decantação dos ânimos. Porém, como a mesma notícia, em um "copiar-colar" foi enviada também para outros veículos, em menos de uma hora depois, o Jornalista Caíque Marquez publicou o fato, agora sim, mais perto do irrevogável.
Conversei com outros personagens envolvidos na ação deste desligamento, e recebi uma solicitação para que ainda não divulgasse, o que também foi solicitado, acredito, aos demais jornalistas.Mas como cada veículo tem seus próprios critérios editoriais, a notícia vazou, ou melhor, foi autorizada pelo autor, e agora então resta-me a análise, que é meu escopo de trabalho. Vamos aos fatos.
Dentro de poucos dias, torno-me um velhinho sexagenário, a caminho da caduquice, e como tal, também usufruindo desde já das benesses do envelhecimento, que são as dores, daí dizer que estamos na "Idade do Condor - Com dor aqui, com dor ali". De fato, acordar sem dor requer a imediata ação de beliscar-se,uma espécie de auto mutilação necessária para assegurar-se de que ainda esteja vivo, o que logo é corrigido e as dores voltam.
Em nossa vida, atravessamos várias etapas de dores específicas. Elas vem como vagas na praia, e também deixam tempos de calmaria. Insatisfeitos como somos, não acreditamos na quietude, e buscamos novas dores pela adrenalina, pelo sabor da luta, pelos percalços e desafios da existência. Assim, nos primeiros anos de vida, sofremos as dores de crescimento, especialmente nas pernas. Na adolescência, vem as dores existenciais, as incertezas, o descontentamento sem saber a razão, e logo depois começa a interminável dor da paixão, que em certos casos transforma-se em amor, em outros, em ácido sofrimento pela desilusão. Ao longo da vida,há muitas dores: A dor da saudade, do desemprego, do fracasso financeiro,da política, das guerras, da violência, dos filhos que já voam alto e aumentam a dor das preocupações, enfim, o Ser Humano é um especialista em dores, e seria bastante desgastante e desgostoso começar o dia falando de um tratado sobre dor, então, resigno-me a tratar apenas das dores do envelhecimento da política, e através dela, motivados por ela, dos Partidos Políticos, e como ainda estas palavras são dirigidas à minha perfumada Gramado, será ela o palco desta reflexão. Pensem comigo então.
Já disse aqui que o PP de Gramado nasceu pelo ajuntamento de pessoas e não de ideias, haja vista que quando as mesmas pessoas mudavam a sigla do Partido, todos ou quase todos seus correligionários seguiam junto. Aquilo que foi uma vez ARENA, tornou-se PDS, e depois PPB, e finalmente PP. Novas siglas, novas diretrizes partidárias nacionais, mas as mesmas pessoas. Não! Não há nada de errado nisso. Chama-se fidelidade apenas. Fidelidade a amigos, ao grupo, e em determinado momento, ao poder. E foi desde ajuntamento partidário de muitas siglas, quem mais tempo ocupou a cadeira majoritária de Gramado,e seu séquito de sustentação. Assim, nada mais óbvio que também tenha sido por muitos anos, e ainda seja, o maior ajuntamento de filiados de Gramado. Isto, nesta leitura é então, um Partido na avaliação de Gramado.
Os tempos mudaram. As dores migraram, e a moda acompanhou as tendências. Onde antes haviam caixas com imensos tubos de vidro, tornou-se a Televisão um fino papel de parede. Onde haviam ornamentadas portas e sobrecarregadas salas, hoje há um vazio minimalista. Onde haviam discursos em palanques e comícios, hoje temos as Redes Sociais. Onde eram ensaiados discursos inflamados, hoje restaram os conchavos, os conluios, as confusões. Aliás, tudo que começa com a raiz "CON", não me parece coisa boa: Conchavo, conluio, contenda, confusão, contradição, condição, condensação, embora existam também neste contraditório as que equilibram, e uma destas é "Consenso", e a outra é "Concerto", cujo homófono seja "Conserto", e ambas se encaixam perfeitamente nesta análise, uma vez que seja o consenso que possa levar a um conserto e seja feito novo concerto, porque consertar é reparar ideias e conceitos em vista do bem maior que é o bem comum, e uma vez consertado, faz-se novo concerto, novo acordo, e assim prossegue a boa política que o mundo precisa.
Há aqui um porém que precisa ser reparado, que é o aparente motivo desta cisão em curso: O ego! É inconteste a opinião de que Ubiratã, por seu histórico de ser o mais votado em três eleições, siga seu ego na busca de espaços mais vistosos na tribuna, e julgue-se por isso merecedor de atenção à sua liderança inconteste até aqui, ocupando espaço nobre em uma oposição que desconhecia, e que de um momento para outro, busca germinar notícias de que tenha sido traído em sua honra de guerreiro do Partido.
O PP deixou uma lacuna muito grande com o fim da era "Pedro Bala", e assim como foi com Alexandre (guardadas as diferenças e proporções), também os generais do PP engalfinham-se à estreita porta de entrada no patamar da glória, no ímpeto de ocuparem uma liderança que não foi construída desta forma. Há grandes nomes no PP, tanto na política de frente, quanto nos bastidores, mas tanto os velhos caudilhos dos bastidores, quanto os generais da linha de frente, não perceberam que os velhos aparelhos de TV pesados e espaços deram lugares, repito, às telas planas das tevês à base de LEDs, e que não se faz mais políticas na base do empurrão e do berro, mas da sutileza e da negociação. Bira não entendeu o recado de Jânio Quadros, e está a um passo de blefar no jogo onde não tem certeza que possa ter a melhor "mão", e que não tem nenhuma carta na manga, o que poderia ser uma possibilidade. E o que seria esta carta na manga, senão a possibilidade de ingresso em outro partido? Muito difícil, pois Ubiratã não oferece nenhuma característica que possa interessar aos partidos com viés de Esquerda, bem como também ofereceria um grande risco àqueles que intentam uma cabeça de chapa em 2020, o que inviabilizaria seus planos com um tricampeão de votos a fazer-lhes sombra dentro de suas próprias casas. Então, não, Ubiratã não pretende sair do PP, mas sim, agora livre das pressões de liderança, pode agir como um cavaleiro solitário, tornando-se um "coringa" em decisões de cunho antagônico, podendo favorecer,ora a oposição, ora a situação.
Ubiratã ganha momentaneamente seus holofotes, mas perde na sequência do jogo político, porque dependendo de sua postura daqui pra frente, pode ser apenas um partidário arrependido que volta à casa de onde nasceu, ou um amargurado gladiador dentro de sua própria casa, ajudando a desmantelar o Partido que o acolheu deste sua chegada à Gramado.
Por outro lado, começa a surgir o trabalho silencioso e proativo de outro vereador, que até de traidor já foi classificado no período pós eleitoral, por sua amizade com o também egresso e atual gestor do Hospital de Gramado, mas que com grande humildade e envolvimento nas boas causas da saúde e da comunidade, vem se destacando dia após dia no Legislativo, o Vereador Volnei Desian.
Gramado perde quando suas forças políticas se deixam enfraquecer. Perde a oposição, mas perde também o Governo, que pode trabalhar mais livre, e nem sempre o excesso de liberdade é produtivo para uma administração que ainda não acertou seu rumo. Perde ainda o povo que vê-se desamparado pelos que o representa nas letras miúdas das Leis que o governa.
É a política. Uns vão, outros ficam e outros ainda emergem para ocupar os vazios. Quem sabe não seja esta a oportunidade que Gramado precisa para desabrochar novas lideranças? Talvez você!
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