Aqui ao lado de onde moro, tem um pequeno bosque que mescla árvores nativas, frutíferas, com plantas exóticas, por ter sido, em algum passado já esquecido, uma bela chácara. A cidade cresceu e veio tomando conta das pequenas chácaras da ilha, que ainda resistem pela bravura e teimosia de seus antigos moradores, que por estarem satisfeitos com o suprimento das necessidades mínimas, próprias para a manutenção da dignidade, que a vida lhes ofereceu.
São, na grande maioria, pescadores ou funcionários públicos aposentados, que desmembraram seus estreitos lotes recebidos por herança, e cedidos aos filhos e netos, que foram construindo uma casa atrás da outras, mantendo entre uma e outra, uma pequena horta, um pomar, e até alguma criação de animais, como porcos, vacas, galinhas ou cabras. Nem parece ser uma capital, mas é. Isso sem contar ainda que estamos a menos de duzentos metros do maior mangue urbano do mundo, cujos vizinhos, para deleite de meus netos, são as aves estranhas e com eventual sorte de encontrá-los, alguns jacarés, que confiadamente posam com a bocarra aberta abastecendo seu couro espesso e craquento do causticante sol que não falta neste lugar.
Nossa diversão diária é observar um bando de macaquinhos, da espécie "Mico", ou eventualmente um "Macaco Prego" maior, que vem abastecer seus bandulhinhos com as frutinhas, ou sejamos honestos, com as bananas que os pacientes de um hospital deixam para refestelo dos rabudos.
Na realidade a ilha inteira é formada por pequenos núcleos urbanos abraçados por morros polvilhados de animais de todo tipo, protegidos e fiscalizados, para que continuem vivos e preservando o ambiente onde vivem, e trazendo alegria para quem gosta de escrever e matear de janelas abertas para saudar o amanhecer.
Existem, no entanto, algumas regras que devem ser seguidas, determinadas por Lei, acrescidas por instruções e campanhas das autoridades ambientais e sanitárias, para que jamais se alimentem os animais selvagens, especialmente os macacos, sejam eles pequeninos e fofinhos, ou grandes e rabugentos e isso, por uma razão muito simples: Porque quando recebem comida fácil, tornam-se em pouco tempo acostumados, preguiçosos, obesos, e desocupados, e tanto lá como cá, no território humano, gente desocupada que ganha as coisas de mão beijada, às custas do esforço alheio, ainda que dados de boa vontade, tem muito tempo livre para fazer coisas imprestáveis, como por exemplo, mentir, roubar, trair, derrubar, desmerecer, e toda sorte de inutilidades desnecessárias à existência humana, isso simplesmente porque alguém teve a boa vontade de servir-lhes por bondade, e em troca deveriam tais beneficiários devolver estes serviços à sociedade, o que chamamos de boa política.
Mas tanto na Natureza quanto na política, há os que descobriram que a boa fé do povo pode tornar mais prazerosa a vida, porque não necessitam mais lutar pela sobrevivência, e ocupam seu tempo em descobrir novos benfeitores, entre a nada difícil tarefa doméstica de se proliferarem pendurados nas árvores e nas cercas com cara de bonachões, posando para fotos, e esticando as mãos pequenas (de quem nada produz nem as caleja) para receberem a paga pelo nada que contribuem.
Isso acontece com macacos, quatis, lagartos e qualquer animal que se acostuma com a proximidade das pessoas. Até mesmo as abelhas que recebem melado de açúcar na caixa da colmeia, tornam-se preguiçosas para pesquisar néctar pelos campos distantes. A esperteza, portanto, é o mal tanto dos bichos quanto das pessoas, uma vez que os animais que se entregam ao ócio das facilidades põem em risco sua liberdade, assim como os maus políticos que se entregam ao ócio do ego inflado põem em risco a sociedade à qual fingem representar.
A política brasileira está em ebulição, e eu sou daqueles crentes iludidos que prega uma mudança de paradigmas nesta política que emana dos Partidos para o poder e do poder para o povo, nesta ordem, mas que pode emanar do povo, a partir do pensamento,e o pensamento nem sempre anda de dieta, pode sim ser alimentado fartamente, este sim, diferente de maus políticos e de bichos preguiçosos, quanto mais bem nutrido, mas capacidade tem de servir à sociedade. Assim nasce a verdadeira política. Por você e por mim. E eu estou fazendo a minha parte, provocando você a pensar, ainda que diferente de mim. Provocando os bons políticos a que reciclem seus conceitos, ainda que opostos aos meus conceitos. E deixando de dar alimento de graça aos maus políticos, para que seu ego se ajuste ao tamanho de sua boca e sua bica se ajuste ao tamanho dos serviços que presta. Mesmo que em silêncio, o que em muitos casos seria a verdadeira forma de fazer política. Não o silêncio do povo, mas o silêncio das estultícias que a gratuidade dos horários políticos e as tribunas costumam enfiam pelos nossos ouvidos, ano após ano. Eleição após eleição. E depois de eleitos, entrevista após entrevista. Até que nossas florestas e nossa democracia cheguem ao fim.
*Quero informar que nenhum Macaco-Prego, Mico, Quati, Raposa, nem político de alcova e oportunista foram maltratados para esta reflexão.
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