AD SENSE

terça-feira, 29 de outubro de 2019

Acangaú - Voltar à cabeça do poço - As revoluções de uma "civilização" chamada "Gramado"


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Foto: Nascente do rio São Francisco - Picture of Parque Nacional da Serra da Canastra, Sao Roque de Minas - TripAdvisor

Acangaú, uma palavra de origem Tupi-Guarani, que é traduzida como: Voltar à Cabeça do Poço. Vale com isso, dizer, retornar às origens. Buscar a nascente do rio, onde se bebe água limpa. Tive oportunidade de criar um seminário no Norte Catarinense, um dos maiores polos moveleiros do Brasil, onde fui chamado para criar um projeto de inovação e gestão de design, cujo objetivo era capacitar empresários deste setor ao retorno ao mercado brasileiro, a partir da gestão de design para inovação tecnológica. Isso foi lá por 2009 a 2012. Isso aconteceu porque o polo de São Bento do Sul, que engloba também os municípios de Rio Negrinho, Campo Alegre, além de São Bento do Sul, havia deixado de atender o mercado brasileiro por cerca de 40 anos antes, em razão de seu grande preparo e tecnologia com suficiente capacidade para atender o mercado internacional, motivado também pelo Dólar convidativo, e seu potencial de produção em larga escala. o enfraquecimento do mercado interno, pelo baixo volume e concorrência com as empresas ditas de "fundo de quintal", que tinha certa paixão por esquivar-se de tributar suas vendas, aliado à inadimplência contumaz dos clientes, o que permitiu com grande facilidade a tomada de decisão de deixar de fornecer aqueles que pagavam mal e compravam pouco, em benefício dos que compravam muito, em quantidades repetitivas, favorecendo o crescimento rápido, e pagavam em moeda verde, o Dólar. Assim, por quatro décadas, o Brasil deixou de comprar móveis de São Bento do Sul, e pulverizou seu fornecimento em outros polos, como Bento Gonçalves (RS), Linhares (ES), Arapongas (PR), e não, Gramado nunca chegou a preencher sequer uma fração do mercado moveleiro, com exceção de privilegiada camada com melhor poder aquisitivo, em âmbito regional.

Quando falo de mercado consumidor, faço referência a cerca de 100 milhões de pessoas, na época, em crescente situação de consumo, com poder aquisitivo baixo, que necessitava de produtos de larga produção, e baixo preço, condição que Gramado nunca teria, por diversos fatores. Assim manteve-se como fornecedor regional, de mobiliário de maior valor agregado, e com estilo próprio, denominado "Móvel de Gramado", razão de ostentação em casas de campo e  fazendas, por sua rusticidade e estilo, e mais tarde, migrando para estilos mais urbanos, mas ainda com certa rusticidade, e fabricação quase artesanal, necessitando de profissionais bem treinados, e tempo extra para acabamento e pintura, uma vez que o clima de Gramado não oferece acolhida favorável à pintura e acabamento em ambiente natural, devido o clima temperado e frio, chuvoso, de umidade elevada.

Associado ao clima desfavorável, à falta de espaço para um distrito industrial, a mão de obra tornou-se cada vez mais rara, considerando que outras oportunidades de trabalho e emprego, em condições mais favoráveis, tornaram-se como o lendário "Flautista de Hamelim", o vácuo que tirou das fábricas, e os enviando para a hotelaria, comercio, serviços ao turismo, os fortes braços que antes "paleteavam" pranchas pesadas, cedo de manhã, sob temperaturas negativas, e diante destas novas alternativas, não pensaram duas vezes e trocaram, de contínuo, o barulho das máquinas, pelo perfume do café da manhã nos hotéis, e a alegria dos hóspedes que deixavam agradáveis gorjetas em troca desta amabilidade. Assim de uma a uma, as fábricas de móveis de Gramado, foram sendo fechadas, e permaneceram aquelas que investiram em tecnologia, design, e bons salários, para manterem-se no mercado, agora ainda mais competitivo que antes.

Falei dos móveis, mas associo a esta inundação de novas oportunidades, a diversificação de ofertas e entretenimento ao turismo, como a criação de parques temáticos, a fabricação de chocolate caseiro, a abertura das comunidades rurais como valor agregado de permanência dos turistas em Gramado, assim como, e principalmente, os eventos, pequenos e grandes, que pulverizam motivos e oportunidades de enriquecimento comercial, profissional, social, e cultural, que a cidade construiu como uma câmara de descompressão para enfrentar as grandes crises nacionais.

Gramado criou em si e para si, uma legendária fama de paraíso na terra, onde centenas de milhares, e por que não dizer, milhões de pessoas, ainda que não acreditem, ou desconhecem as profecias que  falam em um paraíso restaurado na Terra, com a chegada do Messias, tem como sonho de consumo, se não morar, ao menos visitar Gramado, pelo menos uma vez na vida, assim como todo devoto islâmico deve visitar Meca,  e aproveitar o máximo de suas delícias.

O mundo é cíclico, e todas as grandes civilizações já se foram. Delas restam apenas fragmentos enterrados na poeira dos anos, e que retrata duas coisas muito simples: Sua cultura e sua religiosidade É por meio destes vestígios encontrados, que os arqueólogos desenham o possível desenvolvimento humano sob os costumes destas civilizações. É por meio de um fragmento de estátua ou tijolo, que é possível desenhar-se o cenário e o dia a dia daqueles povos. cujas civilizações tiveram seu princípio, seu apogeu, e seu declínio. Após este prefácio, segue a pergunta do dia: Gramado, dentro do contexto de identidade nacional, e em comparação à milhares de outros municípios, tem já demarcados os seus limites do coletivo, e iniciado o seu rascunho de uma pequena civilização , ou começa aos poucos a se redesenhar para a história? Em qual lugar você, meu querido leitor e minha perfumada leitora, estará neste mural de originalidades e grandes feitos, quando for descortinado o passado, em algum tempo e lugar no futuro? Quem é você e qual seu papel em desenhar uma história, cujas páginas já se desenham a cada manhã que você sai de sua casa para edificar uma cidadela? Quem é você neste livro, e em quais páginas suas digitais tocaram, para que possa receber o merecido registro nesta civilização?

Acangaú diz que somos uma volta à "cabeça do poço", num tempo em que o certo e o errado se mesclam, em que o aceitável substitui  o bom, e que o ótimo é apenas uma figura de retórica. Diz que precisamos cessar por algum tempo, ainda que pouco, aquilo que estamos fazendo, e pensarmos no que representa o que fazemos, para enobrecer aquilo que outros encontrarão daquilo que nós deixamos.

Quando visitamos as páginas da história em nossos livros, ali encontraremos nomes de pessoas com as quais nunca trocamos um cumprimento, mas que, ainda que mortos, tornaram-se imortais nos registros das civilizações que construíram, e hoje conduzem até nosso modo de pensar e agir. Então, que nomes deixaremos nesta história? E caso não tenhamos as respostas, não deveríamosvoltar ao "Acangaú", para descobrirmos, pela limpidez da água, de que água bebemos até aqui, e que água beberemos daqui em diante?

Assim como o polo moveleiro de Santa Catarina, a seu tempo, entendeu necessário reciclar-se antes que os desejos do rio de sua história contaminassem sua nascente, como deveríamos visitar nossas própria nascente, e ali colhermos da melhor água, aquela que nos refresca a alma, mas nos molda o caráter e norteia nossa busca pela felicidade?

Acho bom pensar, antes que descubram este poço de águas límpidas, e o cerquem, para vendê-lo aos pedaços, como souvenir de um tempo e um lugar que não tem mais fonte para voltarmos.

Acangaú é o "Reiniciar" do computador que trava sem parar. Esfriar o processador. Limpar o lixo digital. Refrescar a memória. E bola pra frente!







segunda-feira, 28 de outubro de 2019

A Relação de Gramado com Direita e esquerda - Um pouco de História





Por muitos anos, falar em Direita ou Esquerda, era fora de moda. "Essa linguagem acabou", diziam, Vivíamos novos tempos, onde tínhamos que nos preocupar com inflação, preço dos combustíveis, vacinas eficientes para erradicar a possibilidade de epidemias, com os preços dos hortifrutigranjeiros, e o próximo capítulo das novelas.

Vivíamos em um estado de torpor político, uma sonolência de tal modo, que imaginar que teríamos diante de nós uma rachadura na parede do tempo, que deixou escapar todos os velhos fantasmas ao mesmo tempo, e que nossa perplexidade seria tão grande, em ocupar-nos a ouvir notícias mais e mais atualizadas, que deixamos de pensar. Deixamos de refletir, e deixamos, principalmente que a avalanche de informações mal formadas tomasse conta de nossas vidas. Que esculhambassem a organização de nossos sonhos e trajetos demarcados, a tal ponto que pensamos mais no que está acontecendo fora do nosso cercado, do que o que realmente pode acontecer, se não protegermos este cercado. Haverá mais raposias que galinhas. Mais lagartos, que ovos. Mais pulgas que cães e gatos, e em pouco tempo, aquilo que era nobre, resta pobre. Aquilo que era precioso, perde o valor. E a vida começa a perder o sentido.

O mundo está em convulsão, como a mãe nas dores do parto. A América começa a retornar ao tempo das cavernas, e o Brasil digladia-se entre Paulo Freire e Olavo de Carvalho. Entre Bolsonaristas e Lulistas. Entre o debate sobre o certo e o errado. Em lugar de trabalhar e pensar um país com justiça e paz social, pensa-se nas ideologias e em seus ideólogos, debate-se entre não depredar bens públicos, ou rotular as depredações como cultura emergente. Debate-se se homens e mulheres podem esfregar-se homens com homens e mulheres com mulheres, enquanto a morte banaliza a vida. e crianças não sabem mais definir quem são, de onde vem, e para onde poderão ir.

Os jovens e os adultos perdem dia após dia sua capacidade cognitiva e reflexiva, haja vista que mecanismos cibernéticos ultrapassam a velocidade da luz da razão e do conhecimento, e produzem máquinas capazes de pensar um bilhão de vezes mais rápido que suas congêneres recém construídas.

Jovens e adultos não tem mais uma linguagem comum de comunicação. Não há mais construção de diálogos e circunlóquios, onde nem mesmo o solilóquio mostra vontade de existir neste ambiente vazio. Crianças, bebês ainda, tem suas mentes invadidas pela velocidade das imagens e brilho da telinha do smartphone, quando ainda não sabem pronunciar o próprio nome, mas sabem trocar as imagens e a música que preferem. Sim, crianças de peito, já tem preferencias musicais, que nem sempre deveriam ser mostradas à elas, ou a qualquer adulto em estado normal de sanidade moral.

Podemos atribuir esta confusão mental e social ao esquerdismo de Gramsci, ou ao empoderamento marcial apregoado por Olavo? Também creio que nenhum dos dois teria infinitude mental suficiente para descrever o pré-apocalíptico mundo que nos arrasta a um corpo maior dentro da curva de espaço-tempo desenhada por Einstein, de cuja atração não temos como nos desviar. É mais forte que nossa vontade. É mais ágil que nossa capacidade de reação.

Assim, compreendendo que estamos sendo arrastados para essa inexorável convulsão, como podemos nos desprender desta teia abjeta, e viver nossas vidas como se vivia em priscas eras, tempo em que acreditamos hores, teríamos sido felizes e não havíamos percebido que esta imaginada felicidade tenha escorrido entre nossos dedos como mercúrio, um metal que brilha, mas não se sustenta?

Como Gramado e o gramadense participam deste processo, considerando que nunca foram atingidos por crise alguma, desde que disparou na sua vocação para a hospitalidade? Onde a Esquerda e a Direita podem interferir desta quietude social, em Gramado?

Para responder a estas perguntas (se é que podem ser respondido isso), precisamos passar um pente fino nas correntes que predominam em Gramado, a partir de sua fundação. Analisemos seus personagens.

Ano de 1954, a emancipação não tratava de viés ideológico, senão a vontade mútua de ter um município para gerir o progresso, e gerar receita e liberdade econômica e administrativa para seu pacato povo.

Ano de 1964, o golpe militar fecha o cerco em grupos de esquerda, onde alguns são presos, outros fogem, e o restante se aquieta nas suas casas, eliminando o quanto antes qualquer literatura e panfletaria que denunciasse sua preferência política.

Em 1968, as eleições acontecem, e um candidato alinhado com a esquerda, é eleito, mas em poucos dias, tanto o eleito, quanto seu vice, são destituídos, cassados, e assume o Presidente da Câmara, alinhado com os militares e com a direita. Gramado torna-se área de segurança nacional, e o Interventor tinha contato direto com o Governador, e com o Poder Central em Brasília.

O povo pouco percebeu, uma vez que começa no país uma onda crescente de prosperidade econômica, independente dos porões onde um e outro lado agiam, no resto do país. Gramado começou a prosperar e o artesanato, aliado às indústrias locais, garantiam a sobrevivência econômica à população, que entendia que um bom emprego era melhor que liberdade de expressão. Gramado torna-se rica a partir daí. É evidente que todo crescimento promove dores, as dores de crescimento, mas ainda assim, Gramado avoluma-se em status e empreendedorismo.

No campo político, no entanto, pouca coisa mudou. Partidos de direita e de esquerda, nas suas origens, passaram a disputar, não o avanço de suas ideologias, mas o comando administrativo da cidade. Apenas dois lados da mesma moeda avoluma suas fileiras, para disputarem um punhado de votos, o que realmente é, no resultado numérico das eleições. Com algumas exceções, Gramado se divide, literalmente, nesta época,  em duas grandes famílias, e mais que isso, famílias consanguíneas se fracionam, na defesa deste ou daquele candidato, e por fim, um e outro seguem quase a mesma linha de trabalho. O que muda são os cargos comissionados, os amigos, e os amigos dos amigos. De um e de outro lado.

Mas e a ideologia sobre direita ou esquerda, onde é que fica? Não fica! Direita e esquerda se confrontam apenas pelas redes sociais, onde uns malucos, e outros mais malucos ainda, se ofendem, e ao fim, tem que calar a boca e assentarem-se muitas vezes, lado a lado, nas horas de trabalho. Direita e esquerda não fazem parte da dieta do gramadense, pois a prosperidade econômica transformou Gramado em uma "ilha da fantasia", onde quem pode pagar, tem seus mais secretos desejos atendidos, especialmente se for comer, comer bem, e comer muito.

Nesta reflexão, faz diferença então se esquerda ou direita, lá no resto da país, de digladiarem, e uma delas enfraquecer diante da insistência da outra, tomando o poder e o jeito de governar? A resposta é sim! A direita pensa de um modo, conservador, ético, progressista, onde a livre iniciativa deve preceder o Estado, onde o indivíduo tem aquilo que conquistou, e o Estado não interfere na proporção ou desproporção entre ricos e pobres. A esquerda pensa de um modo politicamente correto,humanista, e estatizante. onde quem tem mais deva distribuir com aquele que tem menos, sob argumento que quem ganhou muito, ganhou porque explorou o que ganhou pouco, e assim, motiva a rebelião, sob a capa de democracia, para que se tome o muito e deprede o excedente do "explorador" capitalista que age contra o povo.

Assim, Talvez, pensar sobre isso, seja precipitado, porque Gramado continua sendo uma ilha. Portanto, nesse momento, sem saber como, Gramado favorece a direita. E neste modo de pensar, se realmente os ideais do Foro de São paulo prevalecerem, Gramado não poderá mais agir. Apenas reagir.

De qual lado você iria ficar nesta hipotética situação: Direita ou Esquerda?

sexta-feira, 25 de outubro de 2019

Fake News na política gramadense - O veneno no quintal alheio que não aduba o próprio quintal



Nem em sonho que eu vou usar este espaço sagrado do pensamento, para oferecer denúncias futriqueiras de que este ou aquele Partido Político, ou Cidadão, estejam metidos em notícias mentirosas, ou pra ser mais contemporâneo, em "fake news". Mas exatamente o que são as fake news, e como são prospectadas, como elas se multiplicam, e qual o métido mais eficiente de torná-las acreditadas, ainda que absurdas?

Vamos combinar que notícias mentirosas existem já desde o primeiro capítulo da Bíblia, quando uma serpente, servindo de caixa de som para o senhor dos infernos, deu credibilidade a uma ilação, usando como fonte O Próprio Criador, e por  esta base, encontrou a pessoa mais adequada (as opções eram poucas, mas por análise do comportamento de Eva, o departamento de RH das trevas concluiu que ela preencheria os requisitos para a função, e poderia começar imediatamente, desobrigando-a dos formulários padrões da empresa, partindo para o front, o "botton-up", a ação. O resto você já sabe, e ainda que não acredite no relato bíblico, vai acreditar nos efeitos em sua própria pele, quando encontra um candidato que quer colocar sua criancinha no colo, custe o que custar, e como a combinação de candidato-criancinha tem magnetismo próprio, câmeras e celulares aparecem assim, do nada, do "ex nihill", para registrar e espalhar a efeméride pela plêiade de curiosos, desocupados, que em lugar de trabalharem para não ter que enfrentar o SUS mais adiante, escolhem exercitar os polegares ao fazer correr as imagens na telinha do smartphone, e mais que ver, curtir, e passar adiante, precisam antes compartilharem com pelo menos 5 grupos diferentes, que começam tudo de novo e fazem o mesmo.

Notícias sensacionalistas nunca vem com advertência de: "Leia e delete! Esta mensagem se autodestruirá em dois minutos". Não. Isso só acontece em filmes com Tom Cruise e Sean Conery (ainda que na versão Roger Moore, Daniel Craig, Pierce Brosnan, e outros), em que um gravadorzinho de fita começa a derreter, assim, do nada, que é quando de fato começa o filme.

Notícias sensacionalistas, e em muitos casos, antigas e mentirosas, vem com selinho de: "Não deixe de compartilhar esta mensagem, até que ela chegue no Luciano Huck".  Hoje tem também outro Luciano, destinatário de pedidos de emprego: Luciano Hang!

Mas, e Gramado, o que tem a ver com isso? Pois Gramado é o foco dos meus comentários, então devo dizer, consternado, que estes movimentos noturnos e soturnos de derramamento de panfletos, a poucas horas que antecedem a eleição, são tão antigos quanto a própria existência do Município, senão ainda antes. Darei apenas um exemplo com citação de nomes, porque são parentes meus, e ambos já não tem como ler o que escrevo: José Tristão, irmão de Manuel de Oliveira, irmãos, um do outros e outro do um, se odiavam. José odiava Manoel, e não contente com o ódio próprio, espalhava ilações sobre o próprio irmão do seguinte modo: Escrevia bilhetes, difamando o irmão dizendo:  "Manoel, bandido! Manoel Ladrão! E enfiava os bilhetes debaixo da porta do Forum ou da delegacia de Polícia. Evidentemente que era desmascarado, pelo primor da letra que tinha, e a coisa terminava virando chacota, não gerando consequência a um ou outro. Caíam no pitoresco apenas.

Mas durante as campanhas políticas, as gráficas de fundo de quintal, lavavam a égua, de tanto reproduzirem notícias difamatórias de um e outro candidato, de um e outro Partido, e de um contra o outro, ao mesmo tempo. Sem mencionar o tipo de trabalho, eu mesmo já vi uma determinada empresa reproduzir aos milhares, e ao mesmo tempo, material difamatório de candidatos oponentes. Houve ainda um fato bastante conhecido, onde um candidato a Prefeito tinha uma vantagem considerável sobre seu oponente, quando pouco antes do amanhecer, as casas amanheceram forradas de fac-símiles de documentos que se ocupavam em demonstrar que houvera fraude em uma obra pública, e que, ainda que inocentado no Superior Tribunal de Justiça, muitos anos depois, naquele momento serviu para reverter a eleição a favor de seu oponente, e o candidato difamado por via indireta, sofreu uma derrota histórica de apenas 11 (isso mesmo, onze) votos.

Em uma eleição mais tarde, e preocupado para que o fato não se repetisse, um político da velha escola, procurou-me para alertar-me de que seria necessário uma vigília, que de fato aconteceu, de centenas de militantes, na madrugada do pleito, porque "os opositores eram sujos, e tinham o costume de espalhar panfletagem sórdida às vésperas da campanha". Relatei o fato ao coordenador da campanha, que riu aos frouxos, e me contou que ele, o político preocupado com a panfletagem, havia sido o mentor das piores panfletagens políticas, em anos passados. Enfim, tudo farinha bichada do mesmo saco.

As fake news foram aprimoradas, pelo menos na velocidade dos bits, e hoje há tanta mentira pulverizada com jeito de verdade, pelas redes sociais, que existem profissionais do submundo especializados em montar notícias falsas com aparência de verdadeiras, e pode-se perceber nitidamente que são as mesmas notícias, em sites que você nunca ouviu falar, ou ainda pior, em sites com os mesmos nomes de veículos poderosos da imprensa brasileira ou internacional, mas que sutilmente tem um pontinho a mais, ou um hífen, ou até mesmo uma palavrinha no endereço, que engana facilmente o leitor a abrir o link, e perder seu tempo, lendo besteira, e pior que isso, compartilhando estupidez.

As lendas urbanas sempre fizeram parte do imaginário humano. No início da internet, o pavor está voltado à terrível notícia de um homem que teria sido encontrado inteiramente nu, em uma banheira com gelo, num canto de uma praça, cm um telefone celular antigo, ao lado, e sem um dos rins. E as pessoas espalhavam isso. Por anos.

Em Gramado, as fake news são menos criativas. tratam, geralmente de fatos verdadeiros, mas incompletos, distorcidos, que mostram gravações de servidores manipulando o sistema de processamento de dados da Prefeitura, ou espalha prints dos boletos dos servidores mais bem pagos, ou ainda documentação incompleta, de documentos internos sobre aquisição de bens, e assim por diante.

Como os tempos mudaram, falar mal da família, arrumar amante, não funciona mais, pois telhado de vidro é coisa que aumenta cada dia mais, e parece que houve certo amadurecimento do eleitor em relação à interferência na vida pessoal dos que pleiteiam cargos no Poder Público de Gramado.

As fake news de hoje são muito mais no campo ideológico, do que de criminal, embora opiniões de método também sirvam para insuflar a raiva contra os desafetos, como a venda de terrenos por um, ou a compra de terrenos por outros. Aqui trata-se muito mais de opinião e preferência de gestão, do que tema de submundo da verdade. Ainda assim, o Ser Humano, seja ele político, ou normal, tende a enfraquecer a lavoura do vizinho, imaginando que com isso estará vitaminando a sua própria lavoura. Não está. Envenenar o quintal alheio não faz crescer as suas próprias cenouras.

Teria eu, humilde escriba e provocador do pensamento alheio, uma alternativa para avançar no crescimento moral, pular a etapa das ofensas, e construir a Gramado mais humanizada, que todos (ou quase todos) desejam?  Bem, não tenho todas as respostas, mas estou á procura das melhores perguntas, então, antes de espalhar uma notícia, eu perguntaria à pessoa envolvida, qual a sua posição acerca daquela questão? Pelo menos eu tenho feito assim, e o que percebo, é que muitas vezes as pessoas optam pelo silêncio, e esperam para lerem o que eu escrevi sobre o assunto. Muitas vezes, não escrevo nada, pois minha intenção não é difamar ninguém, mas oferecer soluções para o bem estar comum. Nem sempre reconhecem isso, mas isso não muda a minha percepção da necessidade de atirar adubo em lugar de pesticida na lavoura alheia, se o caso for atirar alguma coisa. Mesmo que o adubo seja esterco animal. Se forem dejetos humanos, torna-se fake news.

Devo confessar que, meu sonho, é ver uma campanha onde ninguém desmerece o oponente. Apenas ocupa-se em promover sua própria plataforma. Talvez alguns nem tenham plataforma ou propostas, daí a necessidade de sujar o quintal do outro.






quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Quando urgem os leões - Redesenhando a Política em Gramado


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Não. Eu não errei a digitação do título desta reflexão. O leão "ruge", mas nesse caso, os leões "urgem", de "urgente", de "são necessários com brevidade", no sentido de que Gramado urge de novos leões, se quiser fazer as mudanças apregoadas, por todos os candidatos, que prometem tais mudanças desde que ouvi falar de política pela primeira vez. Todos prometem mudanças, e alguns
ousam prometer mudanças radicais, mudanças monumentais, seja no aspecto urbanístico, administrativo, social, e até mesmo comportamental. E de fato, todos fazem certas mudanças, no modo de atendimento ao cidadão, na modernização, em obras pequenas ou grandes, ou negativamente, sem citar casos, que não é o escopo da leitura.

Nós mudamos continuamente. Não nascemos com raízes, nem temos a massa, o peso, e a solidez quase imutável de uma rocha, e por isso mudamos. Nossos gostos mudam. Nosso comportamento muda, como mudamos de casa, de cidade, de roupa, como mudamos de partido político, ou de preferência eleitoral.

O primeiro erro, pela minha leitura, é pensar que somos casados com nossas convicções, pois até os casamentos podem terminar em divórcio, porque uma, ou ambas as partes, passam a discordar de coisas que antes os unia. Partidos são assim. São criados em momento de crise ou oportunidade de benefícios ideológicos (fico por aqui nesse tocante), para formarem novos ajuntamentos, e participarem do processo seletivo e eletivo de sua localidade política. Assim pensando, somos livres para decidir pelas nossas escolhas, embora este não seja um caminho tão simples, pois ainda que alguém tenha mudado de opinião ou linha ideológica, virá sempre outro alguém a constrangê-lo acerca desta mudança. Neste livre pensar, somos dominados pelas conveniências alheias, e mais uma vez percebemos que não somos nós quem decidimos as nossas escolhas, assim também, no oposto disso, também somos nós quem decidimos pelas escolhas alheias. É uma troca de vinganças, onde eu não sou livre, e por esta razão eu freio a liberdade do outro, não porque discorde de seu pensamento, mas porque se eu não sou livre, quero que ele também não o seja.

A Democracia que pregamos pode ser, sob a capa de liberdade, uma falsa ideia, que é dominada pela política de bom relacionamento, ou pela má política do constrangimento. Nossa Democracia permite que votemos e nos encantemos com pessoas que nunca vimos antes, mas passamos à elas uma notoriedade que nunca teriam, se não fosse nossa própria ânsia por fortalecer os leões que rugem por nós, quando nós, às ocultas,  desejamos ser os leões que rugem por elas, ou em desafio à elas.

A política em Gramado não é diferente da política do resto do Brasil, e ouso dizer, que de grande parte do mundo, onde o  velho coronelismo, o velho caudilhismo se perpetua, não porque tenha propostas avantajadas para os eleitores, mas porque fomos capazes de desmascarar as propostas avantajadas dos oponentes. Ora! Se os políticos são os mesmos, ou mantém a mesma cantilena, os eleitores também não mudaram em nada, apenas trocaram de pessoas, com CPFs novos, porém, suas características são conservadoras e conservadas, e não é que faltam pessoas capacitadas para mudarem esse tipo de política, mas porque faltam eleitores renovados que poderiam mudar estas práticas.

Deste modo, urgem leões que conjuguem suas vozes de leões no modo imperativo: "Que rujamos nós", para que não rujam eles. Que rujamos hoje para que não silenciem eles amanhã. Que se desejamos mudanças, primeiro definamos quais mudanças queremos, e que ato contínuo, sejamos nós estas mudanças, pois quem ruge por primeiro, e se ainda conseguir rugir por último, rugirá melhor. Afinal, leões não são eternos, e precisam gerar filhotes para que rujam por eles. Gramado sempre teve este problema: Leões velhos e banguelas, sempre enxotaram e devoravam os leõezinhos enquanto ainda miavam.





terça-feira, 22 de outubro de 2019

AS SOMBRAS DA JANELA





Apenas pássaros. E pássaros que não podem voar,
não podem ser pássaros, pois voar é preciso
para que sejam cada vez mais.

Ouvia Debussy.
Em plena metade da manhã, ele ouvia Debussy.
As manhãs não foram feitas para Debussy. Talvez
Vivaldi. Debussy, não. Este tem seu lugar ao entardecer.
Chopin, vem logo mais adiante, no alto da escuridão. Mas
para as manhãs, Grieg poderia fazer companhia a Debussy.

No entanto ele ouvia Debussy enquanto a mão
trêmula desenhava algo no vidro suado da janela. Desenhava
ou escrevia. A água condensada pelo calor da mão escorria
fazendo borrar o que já havia desenhado. Pareciam círculos,
repetidos, mecânicos.

O seu olhar não mirava as mãos que pareciam
mecânicas, no gesto hipnótico de circular no vazio. Olhava
num ponto perdido entre o infinito de seus pensamentos e o
horizonte avermelhado.
Uma lágrima verteu enquanto premia os lábios
contendo o choro. Mas a alma já chorava havia muito tempo
antes.

Lá fora, o sol brincava de ir e vir entre nuvens
apressadas, e o riacho murmuravam quebrando o silêncio.
Um pássaro perdido buscava gravetos com pressa próprios
dos pássaros, compensando o inverno que avisava de sua
chegada. Com chuva. Fina e fria.
Fechava-se o céu. As cores mudaram e cada vez mais
embaçado o vidro ficava.

Debussy no velho toca-discos continuava a tocar
numa interminável homilia ao amor perdido. Numa elegia à
solidão.

Numa compensação pela dor, apenas se quebrava a
mágica combinação da música com a paisagem e o
pensamento, o ruído das falhas do disco de vinil antigo.

Ele havia sonhado voar alto, mas calculara errado o
alcance do voo. Suas asas, como as de Ícaro, se partiram,
escoaram no sol da realidade, e o levaram a estatelar-se no
chão. Restava agora o recomeçar. Sem as asas, que eram seus
sonhos. Com a dor da queda. Apenas ainda o olhar aguçado,
para que distante pudesse ver e sofrer pelo que havia
perdido.

Seus sonhos eram tantos. Uns tangíveis, outros eram
brumas.

Pequenos sonhos povoavam sua alma como uma
multidão de pequenos pássaros voejando em sua existência.
Eram pássaros pequenos e nada mais. Apenas pássaros. E
pássaros que não podem voar, não podem ser pássaros, pois
voar é preciso para que sejam cada vez mais pássaros. E livres
possam voar...

A música acabou, mas o disco continuou a girar. A
agulha travou e o último acorde se repetia
interminavelmente da vitrola...
Seus pensamentos se repetiam em pequenas partes.
Apenas as partes boas de serem lembradas.


segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Pra não dizer que não lembrei dos loucos





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Erasmo de Roterdã, escreveu, em homenagem ao amigo Thomas Morus (autor de "Utopia"), um livrinho com apenas 78 páginas, contando com o prefácio, onde faz uma bem humorada e inteligente crítica à Igreja católica, mas de forma tão bem feita, que até o Papa Leão X achou a obra divertida. Esta mesma obra foi um dos gatilhos para o surgimento do Protestantismo.

O livro começa com um aspecto satírico para depois tomar um aspecto mais sombrio, em uma série de orações, já que a loucura aprecia a auto-depreciação, e passa então a uma apreciação satírica dos abusos supersticiosos da doutrina católica e das práticas corruptas da Igreja Católica Romana. O ensaio termina com um testamento claro e por vezes emocionante dos ideais cristãos.

Então, o que parece ser uma elegia satírica, torna-se um preâmbulo para o próximo capítulo do pensamento ocidental. Mas o tema central é a Loucura, uma personagem, que trago para minhas reflexões, e direciono como um obelisco imaterial, que mostra o fálico torpor do louco que habita pelas vielas de todo lugar por onde passamos. Atrás de casa esquina, à sombra de cada poste á noite, um ser quase irreal contorce-se com angustiante certeza, anunciando, ora o fim do mundo, ora a existência de um corrupto no seu sanduíche, e ao final de tudo, dá uma sonora gargalhada e cospe do café do freguês de um bar, que fica paralisado, não reage, ou reage com medo do louco. E o louco é louco, mas não é burro, e solta outra gargalhada e cospe de novo. No prato do outro freguês, que ria do primeiro.

Todo lugar tem um louco. O louco que quer ser rei, para sentar-se ao trono e bolinar as cortesãs. Ou quer ser o Primeiro-Ministro de um reino distante, para mudar a ordem das coisas. Anarquizar, talvez, esculhambar a sociedade estabelecida e fundar o caos. Todo lugar tem um louco. Não, não estou falando do perturbado mental, do esquizofrênico, daquele que sofre algum distúrbio de comportamento, não senhor. Estes são apenas pessoas enfermas. O louco não é assim, porque se finge de normal. Finge ser louco para que pensem que sua loucura é sua fraqueza, sem que percebam que são os loucos quem mandam no mundo (obrigado por emprestar-me a frase, amigo Professor Pachecão). Mandam sim, só que não são apanhados, porque disfarçam muito bem. Frequentam reuniões públicas, assembleias de condomínios, usam a tribuna do povo nas câmaras e assembleias, usam o poder esmagador de minoria confusa, e acabam constrangendo os demais a que se submetam aos seus "siricuticos e chiliques", quando são contrariados. Vociferam seu coitadismo e constrangem seus pares, e quando tudo termina, sorriem e arrumam a gola ao saírem, como se nada tivesse acontecido. Atrás de si, um cenário de tsunami mental. Pessoas com olhos esbugalhados, catalépticas, tremendo e enroscadas em posição fetal aos frouxos de riso ou choro, não definem bem o que seja. O louco passou por ali. Saiu à francesa para acorrentar-se na praça, em penitência pelos pecados alheios. Claro, se receber um óbulo por sua dor, a canequinha agradece.

Há os loucos humildes, mas também os pavões. À sua frente vão seus lacaios ( fico impressionado, como os loucos ainda arregimentam seguidores fiéis, tão fiéis?)tocando trombeta em uma bota de borracha jogada fora. Não se joga bota velha fora! - diz o louco, de dedo em riste, do alto de um pedestal de caixa de feira. E e entrega com solene piedade à um seguidor mais jovem, que sente-se profundamente honrado em receber de seu mestre tamanha deferência. E o lacaio toca novamente sua trombeta, no ouvido de um passageiro que espera pelo ônibus. O louco passa e todos se curvam, até quem não o conhece, pois curva-se porque todos se curvam, e ninguém quer ser diferente. Ninguém ousa mudar os marcos antigos da tradição, ainda que a tradição mande seguir um louco. O louco que inventou tal tradição. Cuidado que lá vem o louco, beijar a loucura, e dançar com a insanidade. Cuidado com o louco, berra outro louco. É sempre bom tomar cuidado. Especialmente com o louco, E pior ainda se ele não for louco, e só se faça de louco pra defecar no meio da sala? Que os faça, na casa dele, mas não na casa do povo. Senão, louco é quem escolheu o louco. Além de louco, quem faz isso, é também, burro.






A Professora ou Prostituta - Onde foi parar nossa gramática?




Alguém chamou-me à atenção de um fato aparentemente corriqueiro, porém, por demais intrigante, que é o significado das palavras. Eu mesmo, muitas vezes, recorro ao dicionário para assegurar-me da certeza de que devo usar aquela palavra que havia imaginado, mas bate a insegurança sobre seu significado, e corremos ao Vade Mecuum, o velho e bom Dicionário.

Houve um tempo em que chamávamos as palavras simplesmente de "Palavras", era simples assim, procurarmos por palavras difíceis, diferentes, pouco usuais. Este era meu passatempo literário favorito: descobrir palavras novas. Hoje, chamamos de "verbetes", que tem o mesmo significado de palavras simples, objetivas, e mais usuais.


O linguajar coloquial cresceu sobremodo, e um jargão de rua de hoje torna-se o verbete de amanhã, assim, de modo muito acelerado, nossa gramática se enriquece tanto, e tão depressa, que este excesso de informação acaba por corroer a formação, e assim, apocopamos frases em palavras e palavras em monossilábicos grunhidos, chegando aos novos hieróglifos, que são os "emojis", aquelas carinhas divertidas que usamos para sorrir, concordar, discordar, manifestar emoções, ao toque de um único dedo, economizando a leveza ou agressividade de um vernacular colóquio, ao ponto do nosso corretor digital não compreender mais expressões já quase em desuso, como esta que usei agora, "vernacular", ao que o robô sugere-me que eu troque por: "Vernaculizar, vernaculiza, ou cenacular" Pobre robô: nunca irá acompanhar a velocidade da mente humana, em se tratando de criar vocábulos e verbetes, traduzidos por palavras.


Este introito foi para apresentar argumentos ao absurdo que vi hoje, no verbete que mencionei neste preâmbulo: Entre no Google, o meta buscador, e digite (antes dizia-se "escreva" a palavra (desculpem, verbete): Professora, e o Google enviará para um conhecido "Dicionário Informal", cujo conteúdo satisfaz a grande maioria dos pseudo-pesquisadores, aqueles que se contentam com uma busca superficial, são os mesmos que não limpam a bunda senão com uma leve esfregadela de uma folha fina de papel, e saem dali sem lavar as mãos. Na linguagem e no conhecimento, não fazem diferente: coletam lixo e espalham imundície. Assim, se procurarmos a palavra "Professora", encontraremos duas definições, sendo a primeira, correta, mas incompleta, "A mulher que ensina ou exerce professorado". Já na segunda definição, diz que professora é: ""prostituta com quem adolescentes se iniciam na vida sexual", classificada como um "brasileirismo". Então, numa opção de escolha dos significados, o leitor poderia livremente entender que uma professora é, por definição vernacular, uma "puta". E os alunos poderiam ler isso e escrever tal infâmia na lousa, e sequer serem intimados a uma conversa com a Orientação Pedagógica da escola, porque o aluno nada mais fez do que repetir a terminologia recomendada pelo buscador "Big Brother".  Aqui começa a minha reflexão.


A quem interessa distorcer os valores, a partir das palavras, para que possam ser interpretadas como verdadeiras, ainda que não o sejam, porque na média absoluta, o robô acerta suas sintaxes, e vomita verbetes de acordo com sua conveniência cibernética. Assim, diante do mercado binário, se o robô disse, o robô está certo, e portanto, se o aluno entender desta forma, poderá passar uma cantada na sua professora, e caso ela teste o que aprendeu nas aulas de defesa corporal (Krav Magá, por exemplo), ela sim, a "Prostituta que ensina educação e iniciação sexual aos alunos", poderá ser levada aos tribunais por agressão a incapaz (incapaz de raciocinar é um tipo de incapacidade).


Minha leitura está naqueles números que aparecem no alto da página de pesquisa: Aproximadamente 16.400 milhões de resultados em 0,48 segundos (minha internet está lenta). Este tempo, 0,48 segundos, é o tempo que também o pesquisador (esse tipo de pesquisador) levará para absorver a informação, e muito, mas muito raramente, irá buscar outras fontes para  agregar mais e melhores verbetes ao seu conteúdo de palavras. 0,48 segundos bastam para formar um idiota. E se o Google falou, quem somos nós para discutirmos lexicografia com o Google? Afinal, a palavra Google, vem de GUGÓL, um verbete criado para definir um número astronomicamente grande, inominável. tipo um algarismo UM, seguido de uma sequência de, digamos cem mil zeros. Isto seria um Gugól. E quem somos nós para discutirmos com a entidade que acaba de dominar a barreira quântica de processamento, em três segundos, o cálculo que os supercomputadores do Pentágono levariam dez mil anos para concluírem. Então, se o Gugól do Google diz que professora serve também como puta, é melhor rever meus valores. Ou buscar outras fontes de conhecimento. O próprio Google, mas com mais opiniões, mais sites, de preferencia acadêmicos, confiáveis, que deem, respostas menos sinistras.


Ah, pra não dizer que não falei de política, então traduza isso para sua escolha por reflexão pessoal, sem depender dos enlatados que os marqueteiros lhe empurram durante o curto período de campanha eleitoral. Ou então você corre o risco de achar um verbete semelhante para "eleitor desinformado" - Burro que deveria puxar carroça em lugar de melecar a urna com o mesmo dedo que futuca o nariz!



domingo, 20 de outubro de 2019

"Pequeninos da Democracia" - O Poeta e a Professora




Escrevi sobre os principais e eventuais pré-candidatos às majoritárias de 2020 em Gramado (veja aqui), mas como a política é mutante e progressiva, deixei de fora (o que corrijo agora), dois personagens que merecem o respeito deste escriba, ainda que não os conheça com a profundidade que gostaria. Faço isso, porém, pelo critério de equidade literária e analítica, o qual tenho pautado meus ensaios, e principalmente para uma reflexão sobre o papel do cidadão, individualmente, no processo político e social, e não apenas por valoração numérica exponencial, que blinda os grandes partidos e coligações, e por acharmos que apenas os grandes tem responsabilidade.

Recebo, por minhas fontes, a notícia de que dois cidadãos, ao que sei, em pleno gozo de seus direitos civis e eleitorais, expõem-se ao sabor da crítica, tal como o fazem os demais pré-candidatos; o ativista Elias Vidal Sobrinho (PATRIOTA), e sua parceira, compondo como pré-candidata à Vice, em sua chapa sugestiva, a Professora Tatiana Dalle Molle (PARTIDO INDEFINIDO). Antes da análise, porém, gostaria de pincelar rapidamente as biografias dos personagens.

Elias Vidal Sobrinho, cujas façanhas e bravatas dispensarei do comentário, haja vista que há amplas publicações a respeito de sua conduta pouco regulamentar, se comparada aos moldes desejados aos que ousam buscar púlpitos e cadeiras públicas por meio do voto, e em se resultando favoráveis, se eleitos, a cargos que exijam certa liturgia e posturas formais à liturgia do cargo que pleiteiam. Ainda assim, e assim me parece, que suas emocionadas demonstrações de cidadania, em teatrais espetáculos, o sejam motivadas pelo marketing pessoal de fazer-se notar e prevalecer seus direitos, os quais, entende no momento das acaloradas manifestações, tenham sido, à sua leitura, desrespeitados. Resumindo, quem não chora, não mama. (Veja mais) (Veja ainda..) (Mais...)

De sua biografia pessoal, pouco se conhece, senão o que consta na sua ficha de ex-candidato à Vereador, junto ao TRE, declarando-o "Empresário". Então, Empresário e Ativista político, podem bem definir o pré-candidato.

Sua parceira e pré-candidata à Vice, ainda que também ativista política e educacional, é Professora, trabalhando na Rede Estadual, e também foi candidata à Deputada Estadual nas eleições de 2014 (Veja aqui...), além de ter sua biografia agregada à uma dobradinha com a ex-Senadora Ana Amélia Lemos, pelo PP, onde após ter sofrido impugnação, entendo como solucionado, posto que a candidata concorreu e recebeu a soma de 210 (duzentos e dez) votos, ao final do pleito. De família tradicional de Gramado, Tatiana retorna à terra, e milita então na política local,desta vez, ao que é divulgado nas redes sociais, ao lado de Elias Vidal Sobrinho, mais conhecido como "Poeta".

Encerradas as apresentações, numa análise fria, insensível, resumida, as circunstâncias parecem ser completamente desfavoráveis, à que a dupla vença uma eleição onde com absoluta convicção, será liderada pelas duas grandes formações históricas, de um lado UPG, e de outro, o nome que for criado para o pleito. Historicamente Gramado nunca ofereceu grandes surpresas. Historicamente nunca houveram  "azarões" que tenham dado uma reviravolta nos resultados esperados, ora de um, ora de outro lado.

O fato aqui não se trata das pessoas envolvidas, mas do que representa esta eventual candidatura para o fortalecimento democrático da eleição. Fica demonstrado que qualquer cidadão, eleitor, e com sua situação jurídica e fiscal em dia com a sociedade, pode, e deve entregar-se aos braços do povo, por meio do voto, se sua competência em convencer seja maior que seu histórico político, e principalmente suas "costas largas". E aqui, cito o presente caso do Presidente Bolsonaro, conhecido por sua língua destravada, e por defender posições diametralmente contrárias ao "bom senso politicamente correto" vigente, que, sem dinheiro, sem Partido, sem aliados profissionais, sem estrutura publicitária, dobrou a coluna de gigantes do Marketing Político, da Mídia, e da colossal máquina administrativa de outros candidatos, e promoveu a primeira revolução democrática com base nos ´pilares do inconformismo com a classe política, e com as Redes Sociais ao alcance de qualquer pessoa que possua um teclado de Smartphone , e alguém disposto a fazer uso devastador destas ferramentas a serviço de uma campanha.

O Poeta e a Professora, sem perceberem, fazem "leading", (Pé-de-Chumbo) abrem espaço e caminho para que qualquer cidadão perceba que de que tudo o que ele precisa para ser também um candidato à Prefeito é de um partido que o apoie, de ideias  que o diferenciem, de credibilidade que dê sustentação à arregimentação de prosélitos, e de algumas contas gratuitas no Instagram, Twitter,  Youtube, Whatsapp, Skype, Google Talk, e outros que nem lembro mais. Não precisa nem mais de Megafone, estúdio de gravação de rádio, e muito menos de impressos caríssimos. O santinho é binário e às vezes, santinho de caseiro também faz milagres. Quem se habilita?

Nota ao Leitor:
Este espaço destina-se à divulgar minhas reflexões acerca de fatos e personagens políticos. Todos terão o mesmo espaço e todos estão sujeitos à críticas, análises independentes, e também observações favoráveis, dentro do que estabelece a Lei de Imprensa, a Lei Eleitoral, e a Constituição Brasileira.

Quando os leões rugem, e Gramado treme




Muito contrário ao que se pensa, os animais rugem, vociferam, e mostram os dentes, não é quando desejam confronto, mas é quando se veem cercados por inimigos fortes, colocam-se no ataque, demonstrando que não querem briga, mas se a peleja vier, estão preparados para mostrarem toda a sua força e ferocidade.

Fedoca mostrou os dentes, e mostrou que podem estar afiados, quando respondeu com notável agressividade de modo genérico, aformando que "seu governo não é igual aos anteriores", ou especificamente, que os anteriores seriam com clara definição, Nestor e Pedro. governos que não tiveram, segundo a leitura e interpretação de Fedoca, a qualidade, e ainda sendo mais específico, a ética que supostamente, numa leitura imparcial de ambos, tenha seu atual governo.

Em resposta curta e muito direta, Nestor também expõe as garras afiadas e ruge, como o leão desafiado, dizendo que de fato, "em seus governos, a Prefeitura apenas adquiriu patrimônio, e jamais precisou vender, para honrar compromissos, ou fazer investimentos".

Um e outro expõem com bastante antecipação o ambiente que preparam para o embate em 2020. Nestor não responde como candidato, porque responde no momento à Justiça na condição de Réu, ainda que esta condição não o tire do embate, mas precavê a possibilidade de atuar apenas como líder partidário, em suporte a outro candidato dos PROGRESSISTAS. Nestor mostra que, apesar da eventual desvantagem jurídica momentânea, não vai permitir que Fedoca encontre facilidades na disputa, que não será nem um pouco diferente das que os antecederam, com bravatas, discórdias, e de um proselitismo feroz, pernicioso, onde cada força arregimenta valentia dos militantes, novamente jogando-os, eleitores e militantes, uns contra os outros. Sempre foi assim, e não será desta vez que vejo mudanças. Não nesse tipo de comportamento.

Eu vi e participei de muitas eleições em Gramado. Quase vi uma união de Nelson e Pedro, em certa ocasião, mas ao mesmo tempo vi que, ainda que os líderes se entendam e se respeitem, os apaixonados pela confusão e pelo ego exaltado formarem muros intransponíveis, e esta sonhada união nunca aconteceu. Por questão de poucas horas, por questão de poucos votos. Assim, ainda que dentro da mesma casa haja divergência de opiniões sobre este ou aquele candidato ou partido, tais divergências se dissipam após a eleição, por laços de afinidade. Eu mesmo, que não tenho partido, nem inclinação política, no tocante a Gramado, sou amigo de militantes de diversos Partidos, de diversas lideranças, e procuro deixar que minhas palavras sejam refletidas antes de manifestá-las aos leitores, mas sei que não é assim com todas as pessoas, e sei que a semente da ira é mais vitaminada que as pétalas da harmonia. Assim, faltando um ano para a eleição, muito antecipadamente, vejo posicionamentos afiados e a escadaria de egos cintilando para que subam nela, um e outro. Uns e outros, os que querem o poder em Gramado.

E o eleitor torna-se um títere, um boneco articulado, uma vaquinha de presépio, onde permanece na posição em que a colocarem. E as mãos que dispõem dos personagens deste presépio, que manipulam as cordas para movimentação das pernas e braços, e até mesmo da articulação das mandíbulas de madeira dos eleitores, são as vozes que se desafiam, que nos desafiam a compreender de que lado estaremos nos próximos meses e anos.

O papel desta coluna não é escrever para agradar aos políticos, mas para despertá-los a caminharem par e passo com os eleitores, ao mesmo tempo que permitir aos eleitores que questionem as verdades amalgamadas com as bravatas por trás dos leões que rugem. Eu estava silenciosamente observando a superfície das águas, quando fui despertado por leitores e pelos próprios políticos, que pediram que eu voltasse a escrever e livremente expressar minha leitura sobre a política em Gramado. Eu não posso mudar o mundo. Não posso mudar o Brasil, e nem mesmo posso mudar Gramado. E nem quero isso. Mas posso demonstrar que por trás de gestos aparentemente particulares, existem movimentos silenciosos que podem ser desvendados à luz do pensamento e da reflexão isenta. Gramado merece que seus cidadãos pensem, e merece meu respeito e gratidão, porque de alguma forma tenho contribuído para que isso aconteça. Fiz uma revisão do blog, desde que surgiu, em 2017, percorrendo o gráfico de leituras, que hoje chegam a 298 mil visitas, considerando que se trata de um espaço reflexivo, de linguagem, por vezes, difícil, mas que ainda assim, os 30 mil leitores de Gramado reputam como respeitável. É nesta respeitabilidade que atrevo minha ousadia em trazer ao lume da razão o comportamento político dos personagens que se expõem a tal, uma vez que sejam figuras públicas, e o fazem espontaneamente, seja por amor à Gramado, seja por amor ao próprio ego. Que seja então. Não é pecado apreciar seu nome em placas de bronze, contanto que sejam placas que façam memória à bons serviços. O povo merece isso.
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sábado, 19 de outubro de 2019

Pra não dizer que não falei de flores





De modo algum irei falar de política, de movimento de resistência contra o regime militar no Brasil, embalado pela canção de Geraldo Vandré, com o título dado a este ensaio. Devidamente explicado, passo a falar de flores então.

Dar flores é um comportamento próprio dos Seres Humanos, mas também entre os animais há certos hábitos de oferecer mimos às fêmeas, como forma de demonstração de disponibilidade ao acasalamento.  Os bowerbird, ou “pássaro pavilhão” masculino, são arquitetos incríveis, mas reservam suas habilidades para apenas uma finalidade – encontrar uma companheira. Eles constroem esses ninhos elaborados e deslumbrantes para impressionar as fêmeas – talvez eles pudessem ensinar aos homens, uma coisa ou duas sobre decoração, diz um artigo no blog "Tudo Curioso". Nestes enfeites, tantos, há também flores. Há espécies de peixes que fazem o mesmo, constroem ninhos elaborados com design sofisticado, linhas precisas, geometria perfeita, para que sejam escolhidos como os progenitores dos filhotes das fêmeas, pois sua capacidade de construírem e lidarem com esta matemática inata, demonstra que seus filhotes possuirão uma genética selecionada. 



Assim como os animais que presenteiam com cores e flores seus parceiros, também as flores se oferecem, por meio do perfume e cores, aos insetos e também pássaros e morcegos, que em troca destas dádivas, são por eles, polinizados. É uma moeda de troca. É por instinto e por interesse.

O Ser humano é o único que, não só presenteia com flores, por interesse, amor, paixão, reconhecimento, como o faze também por dor, gratidão, ou saudade.  São as pessoas quem produzem flores para venderem sentimentos, e embora eu não deixe de reconhecer a preciosidade de uma arranjo de flores numa floricultura, são as flores do campo e das matas, ou ainda dos jardins antigos, das vovozinhas, quem mais fazem aflorar minhas lembranças de tempos felizes, ou até mesmo melancólicos.

O costume de ofertar flores, é mais afeto ao mundo feminino, e mesmo os homens que oferecem flores, o fazem à mulheres: Mãe, namorada, esposa, amante, amigas, e em ocasiões significativas, na maioria.  Jamais vi um homem levar flores a outro homem (hetero), senão em velório, e mesmo assim, opta por comprar uma coroa com flores artificias, onde gravam em uma fita dizeres mecânicos de :Saudade eterna, Repouse em Paz, Homenagem da família tal.


Não sei dizer em outras culturas, mas na nossa cultura ocidental, um homem oferecer flores a outro, o carimba como homossexual. Nem mesmo um pai oferece flores ao filho, e tampouco vice-versa. Flor "é coisa de mulher", sentencia-se.

Pois eu ganhei flores, por duas vezes na minha vida. E confesso que foi uma sensação indescritível. Ganhei flores de duas mulheres, e não, nenhuma das duas mulheres estavam interessadas em mim, tenho absoluta certeza disso. O que me dá esta certeza é o motivo e circunstância em que recebi tais flores, e não era um raminho de dente-de-leão apanhado á beira da estrada. Não senhor! Eram frondosos buquês, que necessitavam abraços, exuberantes, perfumados. O primeiro recebi de uma Arquiteta, em reconhecimento ao trabalho que fiz, e fico feliz em crer que, ao respeito com que tratei os profissionais envolvidos neste trabalho. Foi a Arquiteta Melissa leite, em Lages, SC, por ocasião do lançamento de uma coleção que criei, e do Show Room de uma empresa que ajudei a montar.

A segunda ocasião, foi ao término de um Seminário de Economia criativa, Motivacional, que realizei, na cidade de São Martinho, SC, onde ao final das palestras, no segundo dia, fui homenageado com flores, inesquecíveis, de valor inestimável, oferecido pela Primeira - Dama do Município,  Turismóloga Ângela Back, e em nome da Comunidade inteira, o fez. D-s sabe o quanto aquilo significou para mim. Não as flores: o gesto, materializado em flores.

Então, agora posso dizer que falei de flores. As flores que não constroem muros, mas as que edificam e solidificam amizades. E foi muito bom. Agora é só esperar pelo velório, que talvez ganhe mais algumas, embora as prefira em vida. O perfume é bem melhor.

sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Ética na Política - Fazer campanha sem assumir que está em campanha, é ético?

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Imagem: Internet
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Quando você corre atrás da honra, a honra foge de você. Quando você foge da honra, é a honra quem corre atrás de você. (Talmude)

A mentira é algo que foge  das boas práticas da política, isso é unânime, mas que todo político mente, é um conceito aceito também por todas as pessoas. Nesta leitura, gostaria de demonstrar que ambas as verdades podem ser incompletas, e isso torna-as necessariamente outra mentira. Assim, verdade e mentira podem ser a mesma face em um espelho. Uma é real, enquanto a outra é ilusória, no entanto, está ali, pode ser vista, fotografada, comparada. Ainda assim, não é real, e portanto, não pode ser verdade.

Toda mentira precisa ter um componente de verdade para tornar-se crível, caso contrário, entra na categoria do absurdo, e absurdo, todos concordam comigo, é linguagem da loucura, do fantástico, do extraordinariamente inútil para a composição da história.

Toda história tem uma mescla de verdade com mentira, porque história é o relato de fatos, e relato é algo abstrato, que necessita de um agente, um "cavalo", um portador das palavras e do testemunho, para que outros também tomem conhecimento do fato.

Já os fatos, ainda que verdadeiros na sua origem, são falsificados pela memória traiçoeira, ou pelo senso teatral de quem os conta. Assim, dizer que chove, pode ser interpretado de muitas maneiras, pois pode ser que chova no lugar onde você está, mas é estio em outro lugar. Pode ser que chova muito ou pouco, mas muito ou pouco em relação a que? Percebe-se que até mesmo para existir, a verdade necessita de suporte, de testemunhas, e de quem a interprete também ao ouvir. Como na anedota de dois distraídos, ao celular, onde um caminhava com uma vara de pescar às costas, e outro o encontra e pergunta:

- Vais pescar?
- Não, respondeu o outro. Vou pescar!
- Ah, disse o primeiro: Pensei que você ia pescar!


Podemos falsear a verdade não em contá-la com distorção, mas em ouvir mal e a partir deste ruído na comunicação, levar adiante a parte distorcida que ouvimos. Eis então, um breve ensaio sobre o que é verdade e como a mentira se desenrola, com todos as ferramentas da verdade.

Minha sogra tinha uma vaquinha. Gostava muito e a tratava bem, com muito carinho. E todos os dias, ia à estrebaria para ordenhar a vaquinha. Usava para esta tarefa, uma roupa simples, de uso da roça. E a vaquinha liberava sua cota diária de leite. No dia, porém, que minha sogra ia sair, arrumava-se para sair, como fazem geralmente as pessoas do interior. Uma roupa para o trabalho, e outra para passeio. Assim, antes de sair, já perfumada e arrumada, minha sogra passava antes, na estrebaria, para a ordenha do dia. Naquele dia, porém, a vaca não dava leite, ou dava pouco, porque percebia que naquele dia ela estava sendo traída, abandonada. Depois de entender isso, minha sogra tornou-se mentirosa. Passou a ir ao estábulo com suas roupas velhas e suadas, e só depois, retornava à casa, e vestia-se para passeio.

Muitos políticos tratam seus eleitores como vaquinhas ciumentas, depressivas, com medo de abandono. Vestem roupas velhas e surradas, com cheiro de povo (aí do palhaço que interpretar errado isso, pois falo do cheiro do suor do trabalho, da fadiga, das dores). E muitos eleitores apaixonados, tornam-se surdos diante da evidência dos tambores e das fanfarras que seus políticos desfilam, sem perceberem que são objetos de artifícios marqueteiros para acostumarem o povo à rotina burlesca de um crescente para as campanhas eleitorais.

Não se enganem. Nada é de graça. Nem mesmo apresentações festivas de feitos, como se sem defeitos o fossem, alardeados pelos arautos de homens públicos, que dão pão e circo, por antecedência, visando anestesiar o livre arbítrio de sua grei, enquanto estabelece em torno de si um território indevassável, para perpetuidade no poder.

O poder é uma inebriante bebida, que não apenas entorpece a alma, como desfigura o caráter, transfigurando o bom, e sobretudo o mau que habita dentro de cada um, e utilizando os recursos do conhecimento científico sobre a mente humana, espargindo iscas que brilham, luzes que cintilam, para que continuem, como a vaquinha dengosa, que não dá leite para quem não pode confiar.

O eleitor continua sendo o mesmo, e suas decisões, ao longo da construção da democracia, tem, pouco a pouco, trocado o voto do coração pela escolha da razão. Eis a tarefa destes ensaios. Despertar a reflexão sobre a vida que deve ser vivida com o melhor, apesar daqueles que vestem roupas surradas para se passarem por pobres, enquanto os verdadeiros pobres desejam com intenso ardor, comprarem roupas perfumadas, para esquecer da pobreza.

Daí novamente a pergunta: É ético chamar o cidadão de irmão, enquanto deseja-se chamá-lo na realidade é de eleitor? Não seria mais verdadeiro assumir que está em campanha e que tudo o que mostra de sua vida e biografia, nada mais é do uma forma de sensibilizar o eleitor para que o escolha, quando o pleito chegar? Esta é uma pergunta retórica, cuja resposta está na ponta da língua de todos, mas que ainda assim, deveria levar-nos à reflexão do uso da mentira para vender uma verdade? Reflita e faça outros refletirem sobre isso. Estamos construindo uma história. Que personagem seremos, quando os historiadores contarem sobre a nossa biografia? Contarão eles que fomos "vaquinhas de presépio, e ainda assim, ciumentas"? Ou que fomos a geração que mudou a história pela força das ações e pensamentos ornamentados apenas com o manto da ética?






quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Trotes memoráveis em lugar incerto - II O Documentário da Rainha



Corria o ano tal, onde tal sujeito era o Prefeito, e também havia o Vice Tal, que como o título diz, era o Vice Prefeito do Fulano de Tal. Isso aconteceu em tal lugar, que era, digamos, o clube social do pequeno burgo, e era no clube social, que os melhores e mais suntuosos bailes aconteciam. Era lá que a sociedade V.I.P comparecia, para mostrar o automóvel tinindo de novo, ou as matronas, para exibirem seus suntuosos trajes de gala, enquanto os abobalhados maridos, servindo o braço como apoio, olhavam e sorriam o tempo todo, abanando a mão e curvando levemente a cabeça, como se quisessem dizer, entre os dentes cerrados, como fazem os ventríloquos: "Esta é minha mocréia, e este foi o vestido que ela mandou vir da capital, com meu cartão de crédito. Ai que ódio!"

Era a festa de escolha da rainha, de uma festividade local, e lá estavam reunidos todos os convidados da finesse local, e ora, onde há boca livre, o escriba que vos tecla, entendia necessário se fazer presente. E assim foi! Dez horas da noite, lá estava o galalau, enfeitado como "pixixê de china", cheiroso como mão de barbeiro, subindo as escadas que levavam ao local dos arregabofes, eis senão quando, o longo braço do porteiro ficou estendido à altura de seu pescoço, do galalau.

- De onde vens, perguntou, solene!
- Venho de um seio! - Respondeu o tararaca.
- E onde vais?
- A um coração!
- De quem és filho?
- Do acaso!
- Como te chamas?
- Paixão!
- Saiu-se bem, mas cadê o convite, malandrinho?
- E malandro precisa de convite?
- Aqui, sem convite, não entra!
- Que seja! Voltarei!

Saindo dali, o escriba voou lépido a largos passos à casa de um amigo, que possuía uma filmadora "Super 8". Tomou-a por empréstimo, e mais rápido que o pensamento, estava de volta ao refestelo.

-Tu de volta? Sorriu o porteiro.
- Sim, tenho que filmar o evento para um documentário, o qual enviarei à uma organização na Bahia!
 Sorrindo, quase aos frouxos, o porteiro o deixou entrar.

O lugar estava repleto de gente elegante, gente distinta, gente importante, políticos, autoridades, belas senhoras, senhoras,jovens exuberantes e perfumadas, e eu. Com uma filmadora Super 8, novinha.

- Boa noite, senhoras e senhores, gentis senhoritas! Estou aqui na missão de enviar um documentário à uma instituição na Bahia. Permitam que filme vossas magnificências?
- Naturalmente, caríssimo amigo (virei amigo, assim, de repente)! mas antes, aproveite o "Côck Téilll" (acentuando o L em coquetel).
Não me fiz de rogado. Bracei uma imenso prato descartável, e abasteci-me de guloseimas. Fartei-me até arrebentar a cincha. Forrei meu bandulho (sim, o galalau era eu). E disse:
- Bem! (Burrp), Senhoras e senhores! (Burrp..arrôt) hehe...desculpem...coca cola..! Vim aqui pra trabalhar, então tenho que trabalhar, Compromisso é compromisso! Só que temos um probleminha técnico ( nessa altura eu já era praticamente um Fellini, entendia tudo de iluminação,dramaturgia, cenografia, e após olhar significativo, sentenciei:
- Teremos que descer ao Hall de entrada, onde existem espelhos. Lá a iluminação é PER-FEI-TA! (e estalei a boca, como fazem os profissionais satisfeitos).

Descemos ao Hall, aquele pixurú de gente, Prefeito, Primeira Dama, Vice Prefeito, Segunda dama, autoridades civis, militares e eclesiásticas, Rainha, Princesas, blá, blá e blá. Entupiu o hall. E eu comecei a função.
- Prefeito com a rainha!
- Rainha com a Segunda Dama!
- Rainha com princesas!
E assim, sucessivamente, filmei á todos, por cerca de meia hora, a quarenta minutos, sem parar.
Agradeci e fui embora.

O tempo  longe passou. Por esta nova ocasião, a moça que havia sido escolhida como rainha, foi comigo e outros amigos, subtrair ameixas, em uma frondosa ameixeira que havia lá pelos fundos de um terreno pouco habitado. Ao voltarmos, ela disse assim:
- Paulinho! Tu te lembras daquele filme que fizestes, de nós?
- Mas claro que lembro!
- Posso vê-lo?
- Não!
- Por que não?
- Não havia filme na câmera. Além disso, o Super 8 tinha fita para três minutos, e eu filmei mais de meia hora. Ainda bem que as pilhas eram novas!










quarta-feira, 16 de outubro de 2019

Nestor responde à Fedoca: "Nós só compramos, e nunca vendemos terrenos"



"Com certeza não tem como comparar , nossas administrações compraram terrenos e nunca venderam, Está contente agora?", foi a curta e lacônica resposta do Ex Prefeito de Gramado, Nestor Tissot, em resposta à afirmação direta de Fedoca, Prefeito atual, onde disse, em entrevista ao Jornalista Caíque Marquez, após justificar a venda dos imóveis públicos para investimento em ações comunitárias, obras de interesse da população, teria afirmado Fedoca, e ao final da entrevista, como é de seu estilo, quando se zanga, respondeu à "queima-roupa", que "Não se pode comparar sua administração e seu estilo aos seus antecessores".

Este estilo não é o mesmo estilo e postura que Fedoca vinha mantendo nos últimos dois anos, mais arredio e misterioso, especialmente quanto à sua eventual reeleição. Eventualmente, e num crescente, perguntam-me se eu acho que fedoca será ou não candidato. Respondi que da cabeça de juiz e político, nunca se sabe o que sai, mas podemos antecipar alguns movimentos de Fedoca que demonstram sua intenção de continuar no gabinete, a quem, diz-se à boca pequena pelas rodinhas de café da vida, que se de um lado ele confessa a chegados que tem dias que sente-se enjaulado no gabinete, já em outros, dispara réplicas ácidas e agressivas aos seus futuros oponentes, numa demonstração que, se na campanha anterior ele foi mais cartesiano, fazendo as coisas certinhas, e deixando as bravatas em palanques para seu vice, Evandro, já nesta eleição, se candidato for, Fedoca demonstra que amadureceu para as plateias, e que seus discursos não expelirão flores. Os ataques serão cirúrgicos e diretos, e ao que tudo indica, está apenas tomando fôlego.

Se de um lado, os Progressistas estão aparentemente desarticulados (sim, fui bondoso, os Progressistas estão notadamente desarticulados), por conta da condição de Réu de Nestor, e consequente pré campanha em curso de Ubiratã e Luia, por outro lado, o MDB parece o pai da virgem que espia na janela: Uma mão no facão e outra na porta! MDB é um mistério, e assim o será até o dia da convenção, o que aliás, é uma característica deste Partido, decidir no último minuto do segundo tempo, no espaço da prorrogação, quem, como e de que forma sustentarão candidaturas, aliados, e o próprio partido. Mas não esperem pão francês de nenhum dos três lados citados. Fedoca não tem um Partido sólido, mas tem o poder da convicção de manter ao seu lado, e ainda mais fortalecido, o MDB, e os demais partidos penduricalhos, que existem dos dois lados das duas plataformas finais.

Nestor está quieto, tomando conta da sua defesa no Judiciário, mas continua sendo o homem forte do seu Partido, e o comandante da coligação que virá, que pode ou não ser ainda a UPG, ou se será criada uma nova sigla para combate. Seja como for, os Progressistas ratearam feio na última eleição, e perderam o comando do Município, e querem voltar a todo custo, ao passo que Fedoca gostou do cargo, e não vai querer largar nem tapado de mutuca.

Fedoca, de uma entrevista em resposta, deu um recado: "Tenho na mão uma oliveira e na outra uma espada! Não deixem que eu largue a oliveira!" (Na verdade esta frase é de Yasser Arafat, ex líder terrorista e fundados da OLP, mas cabe a metáfora nesse caso. Fedoca não é nenhum terrorista, mas está dizendo que tem duas armas para usar: A poesia das palavras, ou a fúria das bravatas. O Caudilho acordou!

O professor de Ballet



Aprontar trote é mais comum que a posição de defecar, e não há quem não tenha alguns memoráveis para contar, o que alias, faz até bem pra engrossar o couro, tomar um trotezinho aqui e outro ali. Eu, pelo menos, prezo por este modo de pensar, só pra não pensar em cada trote que tomei. Por misericórdia, como eu fui tonto nessa vida, gente do céu! Tá, eu também passei alguns, e vou contar aqui uns dois, com o mesmo mote: O "Professor de Ballet"!.

Vou omitir os personagens, mas os fatos são aproximadamente verdadeiros.

Trote número 1

Eu alugava uma sala em um prédio de salas comerciais, no centro de Gramado,tinha meu escritório. No mesmo prédio, haviam outros escritórios, sendo um de engenharia e decoração, e outro era um consultório médico, cujo titular era (e continua sendo) um grande amigo. Todos eram meus amigos, diga-se pelo bem da verdade. Volta e meia, nos visitávamos, para jogar conversa fora, tomar cafezinho, chimarrão, ou contar lorotas das boas.

Certa ocasião, passei no consultório do amigo médico, e vi que havia uma atendente nova, começando naquele dia. Estiquei o pescoço porta adentro, cumprimentei, e perguntei se o "Dr Fulano" estava.
- Gentilmente disse que não, e perguntou se era urgente. Respondi que urgente não era, mas que ele havia marcado comigo para que, dentro da próxima meia hora, nos encontrássemos no Tênis Clube, próximo dali, pois ele teria aula de Ballet comigo e outras pessoas. A moça achou aquilo muito estranho e perguntou quem eu era. Respondi que era o professor de Ballet do doutor, e que passei para lembrar que ele não poderia faltar à aula, porque iríamos experimentar nos alunos os novos collants e sapatilhas que eu trouxera de Porto Alegre, e que contava com o doutor em aula.

Apertando os lábios para evitar uma risada, saí dali e fui para a sala no fim do corredor, do escritório de engenharia. Lá trabalhava uma mocinha, que tinha um irmão de tamanho avantajado, e contei à ela a situação, e pedi que não me denunciasse. Ela então tomou a iniciativa de chamar o irmão,e juntos foram até à sala do doutor, e se apresentando, perguntaram se ela já havia localizado o doutor, porque o professor de Ballet deles estava na cidade, e eles não poderiam faltar. E eu voltei pra minha sala. Poucos minutos depois recebo uma ligação do doutor, perguntando se eu era o autor do trote. Depois de rir um bom bocado, ele disse que ela havia ligado para todos os lugares por onde ele passava e deixava o recado para que ele entrasse em contato com o tal professor de Ballet.

Trote número 1.1

Mesma situação aconteceu, num dia, em que fui, acompanhado de um vendedor de minha equipe, a uma fábrica de móveis, e o vendedor era bastante alto também. Lá nos deparamos com uma secretária nova, e pense no formigamento que me deu em ver uma secretária nova perguntando quem queria falar com sue chefe.

- Sou o professor de Ballet do fulano (o dono da fábrica, que era um sujeito bem encorpado, grande mesmo, e sues irmãos não eram muito menores, Maiores até, eu acho). Vim entregar o collant  que ele encomendou, e também a tiara com cristais e pérolas porque ele faria o papel do Cisne Negro, na peça Lago dos Cisnes.

A moça desatou a rir, e aí me "enfureci".

-"Por que você está rindo? Como você é preconceituosa. Só porque o sujeito é um armário de grande, acha que ele não tem direito de ser delicado? Por favor, assim que ele chegar, peça para contatar urgente comigo. Ele tem meu número! Este rapaz que está aqui comigo, parece um armário também, mas ele faz o cisne negro, que agora é seu chefe quem irá tomar o lugar dele"

Disse isso e saímos, segurando os frouxos de riso.

Depois do meio dia, fui ao centro da cidade, e lá encontrei os três irmãos, e mais alguns amigos, à porta do banco, e contei a história.

Malandros, de igual ou ainda piores que eu, o empresário chegou na fábrica, logo mais tarde, e ao chegar logo perguntou para a secretária:

- Meu professor de Ballet esteve aqui me procurando hoje?


Depois disso, toda vez que eu ia lá, ela nunca me oferecia cafezinho. Rancorosa!







Dona Izartina, suas couves, e o "Grande Reset Mundial"

Imagem: IA Era uma quinta-feira, disso Dona Izartina se alembrava com clareza, pois antecedia a colheita de Marcela, marcada para o amanhece...