Este gato (era uma gata, na verdade), existiu de fato. Em 2016, passei uns tempos em Gramado, com atelier a convite do centro de cultura. meu atelier era uma daquelas casinhas internas, dentro de um pátio, trancado por uma porta de ferro para o exterior.
Um dia, as faxineiras adotaram uma gata de rua, que ficou lá dentro (ela saía pra fazer bandalheira, pulando pelos telhados, mas voltava pra lá), a gamelinha dela comer ficava ao lado da minha porta.
Certo dia, cheguei pela manhã, e a gata veio correndo me encontrar, com ar de apavorada, e foi me conduzindo até sua gamelinha. parou e ficou miando pra mim, do tipo: "Me salva, olha á um monstro comendo a minha comida!"
Era um sabiá gordo, bonito, que comia a ração dela, e ficava provocando a gata. Quando eu cheguei perto, o sabiá voou e pousou no fio do varal. aí a gata foi comer.
Pensei comigo: "gato cagão! Eu nunca tinha visto isso!"
No dia seguinte, a mesma coisa.
Terceiro dia, ídem
No quarto dia, cheguei, e a gata tava se lembendo acomodada em frente à porta. e de um miado grave, cavernoso, e continuou a se lamber.
Aí olhei atrás dela, e vi um rastro de penas......
A desgramada da gata articulou aquilo tudo pra garantir o excesso de confiança do sabiá....
d dali por diante, dia sim, dia não, apareciam penas pelo gramado.
Daí criei este personagem do Gato Xujo, e agora tou pensando em dar sequência!
A glória de Deus é ocultar certas coisas; tentar descobri-las é a glória dos reis. (Provérbios 25:2 NVI).
Está certo, eu não sou rei, nem mesmo sou adepto da monarquia como sistema de governo, porque não combina com meu pensamento democrático, pensar que alguém tenha um cargo vitalício por hereditariedade, como um atributo divino. Não mesmo! Mas "reis", aqui, tem um contexto de magnitude, isto é, somos criados pelo Rei do Universo, à Sua Imagem e Semelhança, então, há sim certa majestade neste indivíduo, que o diferencia de um tijolo, uma árvore, um gato, ou uma lagartixa. Nossa natureza majestática se faz notar exatamente por nossa necessidade de entender aquilo que vemos e compreender aquilo que não somos capazes de tocar, pela reflexão; de pontuar o intangível pelos fragmentos que nos são mostrados. Assim, buscar desvendar o que está oculto em parte, mas que deixa uma silhueta a nos instigar à puxar a ponta do lençol que os cobre, é próprio dessa Semelhança com O criador. Diz o Talmude, que D-us Se revela, Se ocultando, para que O busquemos a conhecer, e desta forma, nos surpreendamos pelo modo maravilhosamente simples que mostra Sua complexidade. Assim, se nem todos os teólogos ousaram navegar por águas com certa profundidade, é porque seus mapas estavam limitados ao tamanho do pergaminho que os continha, porém, quanto mais minucioso for um mapa (eu sei disso, porque desenho mapas temáticos), mais fragmentado será este espaço, dando margem à que outros pergaminhos isolados complementem o que falta no anterior. A Bíblia é assim. Uma única letra, um único ideograma pode revelar um imenso compêndio de informações, se o estudioso dedicado se detiver em isolar este ideograma (ou caractere), e buscar referências de contextualização sobre o mesmo. É o que faremos neste estudo.
Temos duas definições complementares para trabalhar a expressão: "Um tição tirado do fogo". A primeira delas (não na ordem cronológica) encontraremos em Zacarias 3:2, onde Jerusalém, isto é, o povo escolhido do Senhor é comparado à uma "Brasa viva", um povo que tem valor. Porém, o contexto desta reflexão estará melhor definido pelo texto de Isaías 6:6 , onde o relato nos diz que enquanto estavam diante do Trono do Altíssimo, os anjos O adoravam, proclamando Sua Santidade, e (vamos elucubrar um pouco aqui para imaginar a situação) num cantinho, envergonhado e tremendo, se encontrava o profeta, até que um anjo se volta para ele (costume até hoje utilizado no rito de recitação de "Kedushá" em sinagogas), e diz: "Venha, Humano, vamos juntos adorar O Senhor!" Ao que o profeta, em lágrimas, responde: "Como posso eu, um Ser Humano, de boca e pensamentos sujos, proferir louvores À Santidade do Eterno?" Então, diz o relato bíblico, que o anjo vai até o brasiero do altar, e de lá, com uma tenaz, retira uma brasa ardente, e com ela, purifica os lábios do profeta, isto é, faz com que o fogo que purifica o ouro, e extermina o pecado, faça esta purificação e transformação nos lábios impuros do Homem. Naturalmente, temos aqui uma metáfora poliedral, que nos mostra muitas faces de uma mesma expressão. Isso é deixado muito claro e poderíamos encerrar aqui, se não houvesse uma segunda lição no texto, tanto de Isaías, quanto de zacarias, de "Um Tição tirado do Fogo", e em ambas as situações, embora se apresentem com objetivos diferentes (um fala do pertencimento de Jerusalém ao Reino de D'us, e outro fala de um instrumento de purificação dos pecados do Ser Humano por intervenção dos anjos, embora percebe-se que o anjo não toma a brasa com a mão, mas usa um instrumento, um gancho, uma tenaz, um VAV ( ) , que entre seus significados, simboliza O Messias).
Aqui nesse contexto, quero mostrar que o profeta poderia ter sido levado até o braseiro para sua purificação, mas vamos elucubrar novamente, e imaginar que ele estava encolhido, mortificado de terror, paralisado, e nessa condição, estaria impossibilitado de mover-se em direção à sua salvação, e nesse caso, o que faz o anjo, senão, por autoridade divina, prover meio de que A Salvação chegasse até ele, o Homem. Em hebraico, este gesto de levar a Salvação, é chamado de Yeshuah ( ) , daí, em minha licenciosidade espiritual, posso perfeitamente imaginar que O Anjo que proveu tal gesto, tenha sido O Messias, pessoalmente. Mas vamos adiante.
O ponto aqui é que O "Tição" (Brasa ardente) foi retirado do braseiro, seu lugar de conveniência, para servir ao Ser Humano, onde quer, e como quer que este se encontrasse. Percebemos que não houve exigência formal de santidade (porque era impossível) para que recebesse o "Fogo Purificador", mas o próprio Fogo Purificador saiu de onde estava para servir ao Ser Humano, em seu propósito de santificação, isso só aconteceu depois de um gesto muito significativo do diálogo: O Ser Humano reconheceu sua condição frágil e impura, e com isso, demonstrou vontade intensa de estar entre os seres santos que adoravam O Altíssimo. Isso se chama de "Confessar os pecados!"
Segunda parte do título desta reflexão é meu assunto favorito, do Livro de Números, Capítulo 19, que é o tema da Vaca (Novilha) Vermelha, onde sabemos que, semelhante à Brasa retirada do Altar, também o animal do sacrifício era retirado do Arraial (no deserto), ou do templo (em Jerusalém). Em ambos o casos, nessa linha de pensamento, podemos entender que há sintonia no propósito didático (sempre bato na tecla que a Bíblia, os ritos, são antes de tudo, pedagógicos, sejam materiais ou metafóricos os seus ensinamentos). Tanto em um quanto o outro elementos de reflexão, temos a ideia de Um Messias que sai de Seu trono de glória, para trabalhar pela redenção do Ser Humano arrependido. Temos a noção plena de que nem sempre o status quo dominante (tradições costumes, denominações, instiruições) são o ambiente em que os corações são transformados, e somos levados a perceber que não é o Homem quem encontra meios de redenção, mas é D'us, pelo Messias, Quem provê recursos, ainda que Emanando dos Céus (metáfora ou não), que Se faz presente diante do trêmulo pecador que nem mesmo sabe que pode ser transformado. Aqui está a diferença entre crer ou não crer. O que não crê, por desconhecer, ainda que cumpra a vontade do Eterno, também está destinado à salvação, não por mérito do que faz, mas por estabelecimento primevo de que amar à D'us tem que necessariamente também amar o outro, e assim cumprindo, ainda que sem rótulo de religioso, possa asceder à salvação, pelo mérito do Messias, porém com o agravante da incerteza, da angústia pelo desconhecido vindouro, ao passo de que aquele que ainda que pecador, chega trêmulo por reconhecer-se nessa condição, na presença do Eterno, tem a possibilidade de fluir pela vida com mais leveza, e isso de fato aconteceu com o profeta Isaías, que terminou sua existência terrena, serrado ao meio, dentro de um tronco, por mando do rei Manassés, e este rei, pela brasa que foi tirada do Altar, ao fim da sua vida, reencontrou a paz, mediante seu arrependimento, e ambos se abraçarão no primeiro dia da eternidade. Tudo por causa de uma Vaquinha Vermelha, e de uma Brasinha Ardente, que foram retiradas de seu ambiente natural de redenção, para serem levadas ao lugar onde a Redenção era realmente necessária: O coração arrependido de um pecador. E poderíamos encontrar uma terceira definição para o Tição tirado do fogo: Alguém que estava destinado a ser consumido pelo pecado, mas que teve a lúcida experiência de arrepender-se no último instante, e voltar-se para os braços do Redentor.
Temos, a patroa, e eu, seis filhos: Três dela, e três meus, e ao todo, então, são três, porque, por essas virtudes da matemática do matrimônio (temos que ajustar essa palavra discriminatória, pois, por que não "patrimônio"?), os filhos dela são também, prazerosamente meus.
Sou, conforme já mencionei anteriormente, um "senhorzinho aposentado", portanto, afeto à emocionalismos lacrimosos que compensam os que porventura não manifestamos no apogeu da juventude, porque na nossa geração, "homem não chorava", pois tinha que parecer duro, respeitável, ter pulso firme, e desse modo, acumular lágrimas para o tempo em que as cãs sejam a marca de nossas virtudes, mas que nos liberam os canais lacrimais para chorosas reminiscências que se acumulam desde a alva ao crepúsculo de nossos dias.
Comum é que a idade seja inimiga da memória, porém, então, até o presente momento, ainda sou beneficiado com chispas luminosas de lembranças de avantajadas imagens, sons, e perfumes que adornaram minha juventude e maturidade, e que ainda guardados em frascos de cristal da mente, abrem-se a espargir entre os que se acercam de mim como um repositório de afeto que necessito compartilhar, e o faço, de modo bastante particular e criativo, a falta de modéstia me chama a dividir com quem me lê.
Meus três filhos foram, são, e continuarão sendo amados, e cada um a seu modo receberam tais manifestos de carinho de minha parte, porém, em todos eles, o bom humor sempre foi o selo deste relacionamento afetuoso. Ri e fiz meus filhos rirem muito das minhas palhaçadas, dos meus deboches, e a recíproca fez-se verdadeira, e ainda se faz até hoje.
Meu filho temporão, hoje com vinte e sete anos de idade, é presente de contínuo em nossa vida, porque trabalha em casa, com ponto no relógio e tudo o que um emprego convencional exige. É compenetrado, serio, exageradamente nerd, e umas duas ou três vezes aventurei-me a ver o que estava escrito naquela tela preta com milhares de símbolos e linhas, e sim, eu não entendi uma única vírgula do que estava lá. Assim, curvando-me à minha insignificante sapiência diante desse cabedal, entro cautelosamente algumas vezes do dia, em seu refúgio produtivo, e na maioria das vezes, ampla maioria, nada dizemos um ao outro, senão uma asneira, com ar de seriedade, com cumplicidade de que, um e outro sabem que a vida é esse contínuo de rir e viver, de rir e sonhar, de rir e produzir. Às vezes, entro e fico olhando serio, olhar firme, e ele nem levanta a cabeça, continua em sua pensativa faina, e o silêncio nos trai, e instintivamente rimos daquele silêncio, o que faz quebrar o encanto do inusitado, e respeitosa silenciosamente me retiro, a pensar na próxima investida, na próxima asneira, para fazê-lo rir, para que me faça rir.
Do mesmo modo, à distância, meus outros filhos também recebem minha visita virtual, com uma besteirinha, uma figurinha engraçada, uma frase sem nenhum sentido, mas que façam-nos lembrar que, mesmo longe, estamos aqui e ali, no coração uns dos outros, em afagos pelo pensamento, pelo bom humor. É mais fácil assim, suportar o ninho se esvaziando de nossas esperanças, e se enchendo pelas lembranças. Então, que sejam boas. Que sejam divertidas.
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Me considero um rapaz (essa foi pândega, pois nem mais rapaz eu sou, porquanto sou um "senhorzinho aposentado" metido a escrevedor de coisas que alguns gostam, outros, nem tanto) afortunado, pelo fato de que os doidos que tentam travar meu ir e vir, são tão alucinados no vórtex do giro sobre seus próprios umbigos, que não tem alcance mental para sociabilizarem com outros celerados, e formarem um comitê de oposição à mim, e pela natureza de seus egos que os cega pela luz de sua estupidez, o alcance de visão é restrito aos seus próprios delírios. Digo com isso que se os doidos que me odeiam fosse organizados e se comunicassem, tornar-se-íam poderosos, mais que já são, uma vez que um doido sozinho em uma reunião onde um grupo heterogêneo busca soluções para o bem comum, e quando estão quase chegando a um acordo, entra um maluco e estraga tudo, mija na jarra de refresco, porque não gosta deste sabor, e se não gosta do sabor, então ninguém tem o direito de beber.
Salomão dizia que uma única mosca que entre no barril de perfume, pode aprodrecer todo o conteúdo. Assim, como diz a reflexão do sábio, um barril inteiro de perfume é incapaz de perfumar uma mosca morta. Somos assim também. Somos dominados pelas moscas mortas, pela intransigência dos loucos, que não tendo ética alguma, não seguem regras de civilidade e decência, e põem-se nos espaços sociais, nas reuniões, nos ambientes coletivos, e envenenam de modo absurdo e inusitado (louco é sempre uma caixa de pandora), o ânimo dos que buscam dar equilíbrio ao bom andamento da vida em comum.
É fácil localizar tais indivíduos nas reuniões, pois embora não carreguem um crachá com sua condição, serão facilmente percebidos por seu sarcasmo, suas ironias fora de tempo, suas contradições à inovações, o modo com que se dirigem aos colegas, ao modo com que tentam diminuir a importância de novas iniciativas. São aqueles que certamente irão boicotar projetos, trabalhos, e acreditem: É certo como a Primavera, que "acidentes ou incidentes" poderão acontecer, e os dedos indicadores de tais criaturas, estarão apontados para você.
Dois doidos nunca formarão uma coligação, porque o ego de cada um brilha tanto, que ofusca o olhar, de um e de outro, assim, um louco não poderá nunca ser atraído pela luz alheia, como mariposa, porque a sua prórpia buscará desesperadamente por mariposas imaginárias, e é muito comum encontrar doidos falando sozinhos, e pinçando mariposinhas com os dedos pelo ar. Ainda bem que as mariposinhas imaginárias não são contagiosas, a não ser que seus doidos sejam encapsulados com outra legião de perturbados, e lhes deem poder. Mas aí já é assunto para outra área do conhecimento: Ciências Políticas!
Fujo dos loucos, e fujo principalmente da possibilidade de que o louco seja eu, e que não atravanque o ir e vir dos que se julgam equilibrados. Se isso for verdadeiro, ao menos que minha loucura me preserve de mim mesmo, e me isole de abrir a boca no conselho dos sábios. Gosto de ser o ignorante do grupo, porque assim, só tenho o compromisso de aprender, e continuar calado para continuar ouvindo, e cumprir o adágio que diz: "O idiota, calado, é um sábio!"
Acho que seria muito legal saber um pouquinho mais sobre isso. Recomendo que leia esse livro (Ah, sou eu o autor, mas fazer o quê?) É só clicar na imagem, que será redirecionado à página de compra do exemplar.
Tá com medinho da Inteligência Artificial? O antídoto é alimentar a Inteligência Natural. Comece a ler!
Lembre-se que ainda não inventaram robô que dê banho nas crianças. Nem que troque a fralda dos idosos. Nem que dê prazerosos momentos ao entardecer com uma xícara de chá, ou um mate, ou um cafezinho.
Ainda não inventaram uma inteligencia afetiva que empreste ombro, que diga palavras de consolo brotadas do coração. Ainda vai longe para que façam isso.
Ainda não inventaram uma IA que fale sobre a salvação, a ressurreição, a vida eterna. Então, largue o celular e volte a investir nas pessoas (mesmo que pra isso precise usar o celular).
Não vou comentar aqui absolutamente nada. Abenas reproduzirei o Salmo 139.
Senhor, tu me sondaste e me conheces.
2 Tu conheces o meu assentar e o meu levantar; de longe entendes o meu pensamento.
3 Cercas o meu andar e o meu deitar; e conheces todos os meus caminhos.
4 Sem que haja uma palavra na minha língua, eis que, ó Senhor, tudo conheces.
5 Tu me cercaste em volta e puseste sobre mim a tua mão.
6 Tal ciência é para mim maravilhosíssima; tão alta, que não a posso atingir.
7 Para onde me irei do teu Espírito ou para onde fugirei da tua face?
8 Se subir ao céu, tu aí estás; se fizer no Seol a minha cama, eis que tu ali estás também;
9 se tomar as asas da alva, se habitar nas extremidades do mar,
10 até ali a tua mão me guiará e a tua destra me susterá.
11 Se disser: decerto que as trevas me encobrirão; então, a noite será luz à roda de mim.
12 Nem ainda as trevas me escondem de ti; mas a noite resplandece como o dia; as trevas e a luz são para ti a mesma coisa.
13 Pois possuíste o meu interior; entreteceste-me no ventre de minha mãe.
14 Eu te louvarei, porque de um modo terrível e tão maravilhoso fui formado; maravilhosas são as tuas obras, e a minha alma o sabe muito bem.
15 Os meus ossos não te foram encobertos, quando no oculto fui formado e entretecido como nas profundezas da terra.
16 Os teus olhos viram o meu corpo ainda informe, e no teu livro todas estas coisas foram escritas, as quais iam sendo dia a dia formadas, quando nem ainda uma delas havia.
17 E quão preciosos são para mim, ó Deus, os teus pensamentos! Quão grande é a soma deles!
18 Se os contasse, seriam em maior número do que a areia; quando acordo, ainda estou contigo.
19 Ó Deus! Tu matarás, decerto, o ímpio! Apartai-vos, portanto, de mim, homens de sangue.
20 Pois falam malvadamente contra ti; e os teus inimigos tomam o teu nome em vão.
21 Não aborreço eu, ó Senhor, aqueles que te aborrecem, e não me aflijo por causa dos que se levantam contra ti?
22 Aborreço-os com ódio completo; tenho-os por inimigos.
23 Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me e conhece os meus pensamentos.
24 E vê se há em mim algum caminho mau e guia-me pelo caminho eterno.
O nome do cusco era "Piloto", mas o Barduíno tinha adquirido a preço de promoção, de um mascate que passou pelo lugar, uma dentadura semi-nova, que era menor que a boca, o que obrigava o Barduíno a apertar os lábios e falar de boca fechada, para que a "perereca" não saísse voando mundo afora. Então, nesse desvio de diccção, chamava seu cãozinho, "Piloto", de "Pilhôco".
Barduíno era um bom sujeito, e bom parceiro de prosa, numa pescaria, por exemplo, ou lá no bolicho do Cebôla, e suas prosas se tornavam ainda mais interessantes, porque ele adicionava temperos ao causo, que se não fossem contadas por ele, que jurava serem verdades, passaria por lorotas, mentiras bem arranjadas, digamos assim. Tá bem, tenho que admitir: o ôme mentia e mentia a rodo, e pra carimbar as mentiras, constrangia a pobre da "Chelésche", ou, em dicçaõ normal, "Celeste", sua esposa, a confirmar suas façanhas. A cada lorota contada, apontava a mão, usando o palheiro como seta, para a Celeste e perguntava: "Não foi, "Chelésche", que acontecheu achim?" E a Celeste girava a cabeça, direcionando os olhos envergonhados, pros cantos e confirmava meio que de boca fechada, pra não se comprometer demais: "Foi, véio, acho que foi!" E Barduíno estufava o peito, assoprava o pito, vaidoso, e dava uma tragada recompensadora.
Certa feita, contava ele um feito, de uma caçada de veados, e na largada, assombrava pelo número de abates: - Cachêi dijoito viado dipoish duma chuvarada aqui memo do lado de cája. Não foi, Chelésche, que eu cachei dijoito viado? A pobre Celeste, encolhida, olhando pra baixo, respondeu: - Óia, meu véio! Eu só me alembro de UM veado que tu caçou, mas foi lá pra baixo, perto do rio! Com um olhar de iluminação e lembrança que voltava, Barduíno bateu levemente à cabeça e falou: - É mejmo, Chelésche! Dêche eu nhão me alembrava! Então chão DIJANÓVE!
Mas, pensam que parou aí? Não mesmo! Contente com o olhar crédulo da platéia, Barduíno continuou:
- Eu tinha um "cachôrro" que "falhava", o "Pilhôco". Foi "achim". Teve um dia, "dispôish duma chuvalhada", que a "Chelésche" tinha areado o chão, deixando tudo branquinho, eshpaiô unsh pelhêgo pra modi ninguém pijá no achuálio limpo, até que checáche. Então, o "Pilhôco" e eu, tava vortando duma cacháda de chabiá, e o "Pilhôco" entrou chaltitando facheiro no chão da"Chelésche", enchendo de rastro dash patinha chuja. Eo dei pito nele e diche: - "PILHÔCO! CHAI DAÍ, Pilhôco! A Cheléste vai te chingá!" O pilhôco nhão chaiu, e maish: Ficou dimpé nash patinha de tráish, botou ash patinha da frente na chintiúra, deu ume rebolhadjinha, e diche: - EU NHÃO CHÁIO!
Eu arregalei osh jóio e chamei a Chelésche! Diche pra elha: - "CHELÉSCHE! CORRE AQUI, CHELÉSCHE! O PILHÔCO TÁ FALHÂNO!"
"Cano a Chelhesche chegou, trupicou num pelego do chão, e levou um buléu bem feio. O Pilhôco tomou um cagácho tão grande, que deu um pulo e caiu mortinho do chão. Por muito pôco, a Chelésche nhão viu o Pilhôco FALHANO!"
Parece até profecia. E por que não? Acreditem ou não, sim, quando os acontecimentos fatídicos (eu sempre quis usar essa palavra, mas estava economizando para um tema mais retumbante) descrito no livro de Revelação, vulgo Apocalipse, estiverem na velocidade cruzeiro, a 666 mil rotações, ainda que seja o vórtex em Israel, as rebarbas do tornado irão soprar na terra das Palmeiras, onde as aves que que ainda gorjeiam aqui, gorjeiam melhor que as que chilreiam e grasnam lá (eu digo isso, porque só vi dois tipos de pássaros em meu breve périplo na Terra Santa, e eram Corvos, pretos, sinistros, e barulhentos, além de umas gaivotas que também merecem atenção dobrada se você estiver molhando os pés nas águas geladas do Mediterrâneo, e descuidar do lanche ao lado).
Os ventos (são quatro, ao todo) que já estão começando a escaparem dos lençóis sangrentos, segurados por quatro anjos, sopram sua brisa sobre o Atlântico, passando pelo Saara, na altura do Marrocos e a parte subsaariana, desemboca na costa brasileira, e garrando rumo do poente, adentram sulfurosos pelos recônditos purulentos, por onde mancomunam trapaças, os guardadores das chaves da miséria e da fome, posto que são usadas aos poucos, em doses antes homeopáticas, mas nesse tempo em descarado e ululante delírio, ao som de histriônicos festins, para que tal como faziam os tambores de Moloque, abafem também na terra onde foi dada nacionalidade ao deus das folias, e o chamaram de "brasileiro".
Ventos uivantes e gemidos nas filas da madrugada à espera de alívio nos hospitais lotados, são cantilenas dos ais que o temido livro apregoa, e cada ai despejado será ecoado pelas mídias que se multiplicam em novos ecos de ais, ais e mais ais.
Não, o velho e bom Brasil não tem uma muralha d eproteção, e não está assentado sobre um rochjedo inexpugnável. O bom e velho Brasil já quase nem é mais Brasil, se é que um dia foi, tamanha a diversidade de jeitos de gemer que os ais encontrarão. O país do acolhimento não será esquecido por nenhum dos cavaleiros, que fazem pares com os anjos, em número de quatro por quatro, e o solo macio destas terras alcatifarão as patas ferozes das quatro cores equinas vociferantes. A terra da Mula-sem-cabeça, acostumada com as loucuras da besta que solta fogo pelas ventas, estará desatenta e o som das patas de um e outro a ouvidos acostumados parecerá tudo igual, e quando perceber que não é, será tarde demais, mesmo porque Mula-sem-cabeça é lenda, assim, pensar que quatro cavaleiros trazendo revoluções, por que não seria fpabula também? E nessa narrativa de comparar a fábula com a fé, os cavalos atropelem cá e lá. Mesmo que aqui seja a terra do jeitinho. Não tem jeito. Cavaleiro furioso não se comove com rebolado. Mesmo sendo Brasil. O quanto você está preparado para o tropel destes cavalos e seus cavaleiros?
Dona Izartina já vivia sozinha, havia certos pares de anos, desde que Seu Argimiro a deixara a lamentar pela saudade. E como tudo, o tempo conforta, também Dona Izartina sabia que enquanto vivesse no mundo, comer, dormir, rezar, e carpir a lavoura, eram obrigações e prazeres aos quais tinha direito, e bem exercia esta liberdade, dia após dia.
Galinha não planta milho, e vaca não planta pasto. As hortaliças não aparecem, assim, do nada, no cercadinho de taquarinhas que delimitava a horta do pasto, e o pasto, da roça, onde plantava e colhia mandioca, aipim, e milho. E as pamonhas, o angú, o cuscuz, não pulavam sozinhos pra dentro da caçarola, antes Dona Izartina precisava, pacientemente, ralar as espigas verdes, debulhar o milho seco, moer os grãos, "samear" o pasto, e carpir os inços entre suas afamadas couves e ervilhas.
Os chás de "Mistrunço", Maçanilha,e "Catinga de Mulata", que usava para curar "Furungos" e tratar do reumatismo, também eram plantas manhosas, dengosas, exigiam atenção contínua, e desse modo, entretida, Dona Izartina enganava as horas e arrematava os dias em sua laboriosa faina.
Ds frutas do pomar, fazia doces, geleias, marmeladas, goiabadas, e compotas de figos, peras, ameixas, o o que quer que coubesse no seu velho tacho de cobre, comprados dos Ciganos, ia pra panela, e da panela pros vidros "Vecks", aqueles antigos, com um arame de pressão e um anel de borracha que servia de lacre para evitar contamiação, enquanto eram pasteurizados, e expostos na prateleira da parte do rancho que servia de sala para receber as visitas e promover as rezas.
Experiente, de "bom sizo", paciente, e sábia, naquele padrão de sabedoria simples e matreira, Doza Izartina era requisitada em todos os acontecimentos comunitários. Na igreja, colaborava com a limpeza da capelinha, cuivada das flores para os cultos, e nas festas, lá estava ela, ainda madrugada alta, na cozinha, descascando batatas, temperando carnes, e preparando sobremesas, para a freguesia de fiéis e parentada, que se juntava de tempos em tempos para celebrar a vida, e recordar saudades. Depois da faina e louça limpa, que também cabia à ela e outras dedicadas aledeãs darem jeito, assentava-se com as velhas, e como nunca falta em ajuntamento de avós, netas curiosas, de olhinhos arregalados, escutando atentas à tudo o que falavam as macróbias, para depois repetirem em suas brincadeiras de meninas, daquele tipo de meninas da roça, que quase não existem mais.
As mesmas meninas da roça que antes cercavam as avós em suas prosas devotas, ao largo do tempo, seguiram o curso do mundo, e tornaram-se grandes profissionais, exemplares cidadãs, doutoras, professoras, cientistas, advogadas, enfim, a nata da nata do supra sumo da inclusão contemporânea. E sim, elas não esqueceram de onde vieram, e voltaram à sua pequenina aldeia, cheias de boas intenções e projetos, trouxeram investidores, elas próprias investiram nas suas próprias terras de herança, convenceram as autoridades a modernizarem a infraestrutura das chácaras, pavimentaram as ruas, reformaram as casas, modernizaram as plantações, ganharam prêmios, e o mundo conheceu, pelas redes sociais, a pequenina, mas aprazível aldeia, onde morava Dona Izartina.
Claro que não faltaram apelos para que Dona Izartina também permitisse que seu ranchinho recebesse benfeitorias: água encanada, energia elétrica, sanitário, mas nada dobrou Dona Izartina, exceto duas coisas: um vaso sanitário, no lugar da Capunga, e energia elétrica, para acender as três lâmpadas da casa, e movimentar a geladeira que ganhou de presente, para conservar as verduras e o leite. Ficou bem faceira, Dona Izartina, foi mesmo. E claro, com tais facilidades, Dona Izartina parou de colher verdurinhas e frutas todos os dias, pois as tinha estocado dentro de casa. Ah, sim, o velho fogão de barro, ali no cantinho do rancho, dera lugar a um moderno fogão à gás. Um luxo só. Agora, Dona Izartina podia dormir um tanticop a mais pela manhã. Levantava bem depois do canto do galo, do estardalhado das galinhas com fome, dos gatos miando à frente da porta, e do velho cusco latindo para calar os gatos e as galinhas, que não faziam por mal, era apenas fome, pois os novos horários ainda não sincronizaram com seus reloginhos biológicos. Agora, Dona Izartina, tinha tempo livre. Mas, livre pra que? - Perguntava! - Pra ler, Dona Izaltina!
- Mas eu não sei ler, minha fia!
- Então vamos ensiná-la! - Responderam. E assim, Dona Izartina, ao largos dos setenta anos, aprendeu a ler, com certo esforço, é certo, mas aprendeu: - Ivo viu a uva! Vovô viu a vovó! A palavra vovô levha chapéu. A vovó tem grampinho!
E assim, em certo tempo, já de "carreirinha", Dona Izartina deixou de ser analfabeta. Que alegria! Mas, era pouco, para as jovens bem sucedidas, que queriam mais. Não apenas mais de si, mas mais de quem estivesse sob sua influência. Agora Dona Izartina precisava se formar no Ensino Fundamental, e depois, com muita dedicação, no Ensino Médio. Por Supletivo. Em dois anos, ou menos, receberia o diploma, e estaria apta a ingressar na Universidade. Era fácil, pois no salão comunitário, havia um computador conectado à internet, que estava disponível para uso de Dona Izartina. E ela usou. Muito esforço, dois anos de dedicação dela, e da comunidade em seu apoio, e Dona Izartina subia ao palco, fantasiada de adolescente, com uma Toga preta, e um canudo na mão, para ser aclamada Bacharel. Bacharel em... bem, ao certo, não sei em quê, posto que Dona Izartina não sabia em que iria aplicar os conheimentos que adquiriu em tão pouco tempo. "O que faz o estudo", pensava ela. E depois disso, dia após dias, Dona Izartina voltava ao salão comunitário para aprender mais. Sabia navegar na internet. Já tinha conta das redes sociais, e proseava com pessoas que nunca vira antes. Fabuloso. Encontrou receitas de quitutes que nunca tirou tenpo para cozinhar. Criticava o governo, os políticos, o Presidente dos Estados Unidos, sabia quem era Gretha Thurnberg, e também Elon Musk. Sabia tudo. Mas uma coisa não mudou: Dona Izartina continuava a morar no velho ranchinho de barro, agora com luz elétrica, geladeira, e vaso sanitário. E ao fim da tarde, assentava-se no banco de tábua corroído, que o finado Seu Argimiro fizera, quando se casaram, e fitava o horizonte que embrulhava o sol para dar lugar à noite. Olhava a lavoura tomada pelo mato, as velhas árvores frutíferas embrulhadas em "Barba-de-velho", a velha cerca de Caiçara enegrecida pelos anos, se desmanchando, ligava o velho rádio na emissora que tocava valsas e canções sertanejas, e olhava para a parede da salinha, para o retrato oval retocado á mão, à pincel, onde aparecia formosa e jovem, ao lado do esposo, com seu bigodinho demodê sizudo, e em um quadro bem mais novo, seu diploma de universitária. Mas seu coração batia mais forte mesmo era com o poente, as modas de viola, e a saudade de seu velho. Ter um diploma era vaidade dos outros apenas. Ela nunca soube o que fazer com ele, senão emoldurar as lembranças.
Parece estranho, e até pândego, iniciar um tema tão misterioso e curioso, que faz acelerar o coração e tremer as pernas, como o tema do Apocalipse, ao mesmo tem em que O Messias centraliza o título, e então começo falando de uma Vaca vermelha, o que faz parecer que estou iniciando um grande deboche. Parece. Mas não é. A Vaca Vermelha, ou Novilha Vermelha (perceberam que comecei com letra maíuscula?), é um tema que se encontra no aparentemente aborrecido livro de Números, o quarto livro do Pentateuco, e o principal livro de genealogias do Antigo testamento.
Acontece, que segundo a crendice popular, o Messias, como tal, só é apresentado no Novo Testamento, assim, com claras letras, então, por que eu o incluo em um ensaio lá do tempo em que o povo de Israel ainda fazia seu périplo educativo pelo Deserto do sinai? Exatamente por isso: Porque era uma jornada instrucional! Por mais antiquado que pareça, a mais ampla e educativa escola da história da humanidade, aconteceu numa jornada educativa, cujo período letivo deu-se ao longo de notáveis quarenta anos de "senta e levanta" à entrada do Professor, cantando-se o Hino Nacional, ao que foi dado o nome de "Shemá Israel" (Ouve Israel), cujo refrão é de apenas uma frase: "Shemá Israel! Adonai Eloheinu, Adonai Echad!" (Ouve, Israel! O Senhor É nosso D'-us! Nosso Único D-us!), e desde então, ou melhor dizendo, desde muito antes disso ainda, vamos encontrar referências e profecias relativas ao redentor da Humanidade.
Pois foi, ao som desta melodia, que alunos de todas as idades ouviram, viram e viveram experiências e aulas, que universidade alguma pode replicar, mesmo porque um curso universitário não passa de cinco, talvez seis anos, e ainda some a eles, pós graduação, mestrado e doutorado, não ultrapassa quinze anos. mais onze anos de ensino Fundamental e Médio, ainda assim, não chega a quarenta anos, e mais: Quarenta anos com Um Professor com jeito pra coisa, que dedicou-se ao magistério depois de ter criado o Universo, sem pagamento, direito a férias, e com um único dia de "descanso" por semana, isto é, não própriamente descanso, mas uma parada estratégica para dar exemplo de contemplação do que havia criado.
Assim, dizer que há preciosas lições de vida em cada gesto do deserto, é ratificar a ideia de que a grande escola do mundo é a própria existência. Poderíamos falar por muitas horas e dias sobre esse tema, mas quero resumir a reflexão no chamada: Vaca Vermelha, Messias, e Apocalipse. O texto encontra-se no capítulo 19 de Números, e precisa ser lido, relido, e contemplado à luz de uma sequência de fatos e profecias, ritos, e costumes judaicos, que dentro do judaísmo enfrenta um hiato de conhecimento, ao ponto de que há intensos debates no Talmude sobre a questão, e não há nenhuma conclusão final, ao ponto que foi comentado que nem o próprio Salomão conseguiu compreender plenamente o significado deste Mandamento, pertencente ao grupo "Chukim" (Mandamentos incompreensíveis).
O pensamento rabínico do Talmude sobre a ADAMAH PARAH, ou a Vaca Vermelha, pode ser encontrado em vários trechos da Mishná e do Gemara, especialmente no tratado de Pará (Parah) no Talmude de Jerusalém (Talmud Yerushalmi) e no Talmude da Babilônia (Talmud Bavli).
A ADAMAH PARAH é um ritual descrito em Números 19, que envolve a purificação dos impuros por meio da água da purificação obtida a partir da queima de uma vaca vermelha sem defeito e sem ter trabalhado. A vaca é queimada fora do acampamento, e suas cinzas são misturadas com água corrente para produzir a água da purificação.
Os rabinos discutem várias questões relacionadas à ADAMAH PARAH, incluindo sua finalidade, a identidade da vaca, os detalhes do ritual e seu significado simbólico. Aqui estão algumas citações relevantes:
A finalidade da ADAMAH PARAH:
"Rabi Ishmael disse: Por que a ADAMAH PARAH é vermelha? Porque a cor da ADAMAH PARAH se assemelha à cor do pecado. Assim como o pecado é comparável a essa cor, pode-se dizer que a ADAMAH PARAH vem expiar o pecado." (Talmude de Jerusalém, Parah 3:6)
A identidade da vaca:
"Rabi Elazar disse: A ADAMAH PARAH é um decreto divino sem sentido aparente. O Santo, bendito seja Ele, disse: "Eu ordenei, você não tem o direito de questionar". Rabi Akiva disse: Não direi que é um decreto sem sentido, mas diria que ela é um estatuto divino. É uma vaca que nunca trabalhou, nunca foi usada para o arado ou a lavoura, e não tinha nenhum defeito físico. O Santo, bendito seja Ele, disse: "Deixe-a ser sacrificada em expiação do pecado"". (Talmude da Babilônia, Parah 2a)
O ritual da ADAMAH PARAH:
"Rabi Yochanan disse: A ADAMAH PARAH tem nove medidas de cinzas e é misturada com água que flui. A cinza se espalha para baixo e a água flui para cima. A razão para isso é que as águas da ADAMAH PARAH expiam a impureza que se originou na terra, que fica abaixo, enquanto as cinzas expiam a impureza que vem do ar, que fica acima." (Talmude de Jerusalém, Parah 3:7)
O significado simbólico da ADAMAH PARAH:
"Rabi Yochanan disse: A ADAMAH PARAH é comparável a um rei que estava irado com seu filho e o enviou para uma cidade distante. Quando o filho se arrependeu, o rei enviou uma carruagem para buscá-lo, mas o filho se envergonhou e não queria voltar na carruagem real. Então, o rei disse ao filho: "Pelo menos use minhas terras como meio de subsistência até que você se torne rico e possa voltar para mim em grande estilo." Da mesma forma, quando os filhos de Israel pecaram com o bezerro de ouro, Deus queria puni-los com a morte, mas, em vez disso, Ele os mandou para a Terra de Israel, que é comparável à ADAMAH PARAH, para que pudessem viver lá e se arrepender de seus pecados.
A ADAMAH PARAH, ou a "terra da novilha vermelha", é um conceito simbólico do judaísmo que se refere a uma prática antiga de purificação ritual. A novilha vermelha era sacrificada e suas cinzas eram misturadas com água para produzir uma solução de limpeza. Essa solução era usada para purificar as pessoas e os objetos impuros.
Rabi Yochanan compara a ADAMAH PARAH a uma terra que Deus deu aos filhos de Israel como uma forma de purificação e arrependimento. Assim como o filho que se envergonhou de voltar na carruagem real, os filhos de Israel estavam envergonhados por seus pecados e foram enviados para a ADAMAH PARAH para se purificarem e se arrependerem.
A ADAMAH PARAH, portanto, representa um lugar de purificação e transformação espiritual. É um lembrete de que, mesmo quando pecamos, Deus ainda nos dá uma chance de nos arrepender e nos purificar para que possamos voltar a Ele em um estado de pureza espiritual.
Assim se expressam os sábios do Talmude. Porém respeitosa e ousadamente, seguiremos além nesta interpretação, que necessita de Um Aditivo posterior ao talmude, ao qual denominamos: Messias!
Para entender o rito, que vou encurtar aqui, basta ler o capítulo 19 do livro de Números, que vai conhecer o passo a passo da operação. Vou estreitar a leitura no significado místico (os crentes, com preconceito à palavra, podem entender: Espiritual. Dá na mesma), com as duas palavras: ADAMÁ, e PARAH.
ADAMÁ - Vermelha (Fem.)
ADAM - Vermelho (Masc.) (Adão - Vermelho)
DAM - Sangue
PARAH - Novilha
DO QUE ADÃO É COMPOSTO?
"A palavra אָדָם (pronunciada: Adam) está conectada com duas outras palavras em hebraico: דַּם (dam) "sangue" e אֲדָמָה (adamá) "terra/solo". Estas palavras nos mostram que o significado básico de Adam (Adão em hebraico) está associado com o "sangue" e a "terra". Podemos entender a simplicidade do significado apenas através do texto em hebraico. Conecta-se perfeitamente com a afirmação que "o Senhor Deus formou o homem do pó da terra" (Gênesis 2:7) e a proibição de comer qualquer coisa que ainda tenha sangue, porque a alma de qualquer coisa viva está no seu sangue (Gênesis 9:4)." (Fonte: E.teacher)
Indo mais adiante, vejamos o significado destas letras (caracteres) hebraicas:
Significado: Um Boi, um Milhar (Mil simboliza grande multidão) grande ensinamento, o Divino no Humano
Formato - Duas tendências polares (os yud superior e inferior) juntos por uma força mediadora (o vav) - VAV é um gancho, O Messias. O Yud Superior, voltado para baixo, mediado pelo VAV, buscando o Yud inferior, que é voltado para cima. Resumo: D-us, por intermédio do Messias, resgatando o Ser Humano perdido.
Formato: Uma alma ereta (o vav vertical) ligada a sua Divina Fonte (o vav horizontal pairando acima)
Número: 4 (O Nome Sagrado, Bendito seja, É formado de 4 Letras)
No judaísmo, o número 4 também pode ser associado aos quatro filhos na história do Seder de Pessach (a festa da Páscoa judaica), que representam diferentes tipos de personalidades e níveis de envolvimento com a tradição judaica.
Além disso, no Talmud (a coleção de ensinamentos e comentários sobre a lei e a ética judaicas), há várias referências ao número 4, incluindo as quatro estações do ano e os quatro pontos cardeais (norte, sul, leste e oeste). O número também é considerado um número completo, simbolizando a totalidade e a perfeição.
Tempo: Terça Feira (Embora a Terça-feira seja mencionada em vários lugares do Talmude, não há uma seção específica que trate desse dia em particular.
No entanto, existem algumas referências à Terça-feira que podem ser encontradas no Talmude. Por exemplo, em algumas tradições judaicas, a Terça-feira é considerada um dia de sorte para o início de novos projetos ou empreendimentos. Isso se deve em parte à associação da Terça-feira com o terceiro dia da criação, quando Deus criou a terra e o mar).
Alma (Dom) Narina Direita, Descendentes, Discípulos, cura.
Na Cabala, a Árvore da Vida é uma representação simbólica das forças divinas e do universo. A Árvore é composta por dez esferas ou sefirotes, cada uma com seu próprio nome e significado. A esfera da direita é chamada de Chesed, que significa "bondade" ou "misericórdia".
Chesed é considerada uma esfera masculina, associada ao amor e à compaixão divina. Ela representa a energia criativa e expansiva de Deus, que está sempre pronta para se manifestar em nossas vidas. Chesed é frequentemente associada à figura bíblica de Abraão, que é conhecido por sua compaixão e generosidade.
Citação: "Na Árvore da Vida, Chesed é a esfera da direita, a esfera da bondade divina e da misericórdia." Desse modo, a Narina Direita, por onde foi sobrado o espírito (fôlego) de vida, simboliza a porção da bondade, a sensibilidadse, e a narina esquerda, simboliza a retidão e justiça.
Canal (Natureza) - Kether a Tiferet (Kether e Tiferet são dois dos dez sefirot ou esferas na tradição da Cabala, uma tradição esotérica judaica. Cada sefirá representa uma qualidade ou aspecto divino, e juntas elas formam um mapa da Divindade e do universo.
Kether é a sefirá mais elevada e representa a coroa ou o princípio da unidade divina. É frequentemente associada à vontade divina, à essência divina e à luz que permeia todas as coisas. Kether é considerada a fonte de todas as outras sefirot e, como tal, é considerada o ponto de partida para o processo de criação divina.
Tiferet, por outro lado, é a sexta sefirá e está no centro da Árvore da Vida da Cabala. É frequentemente associada à beleza, à harmonia e à compaixão divina. Tiferet representa a união das sefirot superiores e inferiores, conectando Kether e Malkuth, a sefirá da manifestação física. É a sefirá do equilíbrio e da integração, e é considerada a fonte da compaixão divina.
Juntas, Kether e Tiferet representam aspectos complementares da divindade. Kether representa a essência e a fonte de toda a criação, enquanto Tiferet representa a manifestação da divindade na realidade física. Enquanto Kether é a coroa que governa todas as outras sefirot, Tiferet é a sefirá que une e equilibra todos os aspectos da criação divina).
Número - 40 (Na Bíblia, o número 40 é um número simbólico que representa um período significativo de tempo. Ele é frequentemente usado para representar um período de provação, purificação ou preparação. Algumas das referências bíblicas ao número 40 incluem:
O Dilúvio durou 40 dias e 40 noites (Gênesis 7:12).
Moisés ficou 40 dias e 40 noites no topo do Monte Sinai, onde recebeu os Dez Mandamentos (Êxodo 24:18).
Os espiões israelitas foram enviados para explorar a terra de Canaã por 40 dias (Números 13:25).
Os filhos de Israel vagaram no deserto por 40 anos (Números 32:13).
No Talmude, o número 40 também é significativo. Ele é frequentemente usado para representar um período de mudança ou transformação. Algumas das referências talmúdicas ao número 40 incluem:
Um feto é formado em 40 dias (Niddah 30b).
Aquele que estuda a Torá por 40 anos adquire sabedoria divina (Avot 5:26).
Um indivíduo que se arrepende sinceramente de seus pecados é perdoado após 40 dias (Ta'anit 16a).
Em resumo, tanto na Bíblia quanto no Talmude, o número 40 é usado para representar um período significativo de tempo ou um período de transformação e mudança).
Tempo: Inverno (O inverno é mencionado várias vezes na Bíblia e no Talmude, mas o seu significado pode variar de acordo com o contexto e a interpretação.
Na Bíblia, o inverno é muitas vezes associado a tempos difíceis e adversidades. Por exemplo, em Ezequiel 34:12, Deus promete cuidar das suas ovelhas durante o inverno, quando elas estarão expostas ao frio e à fome. Em Zacarias 14:8, o inverno é mencionado como uma época de seca e falta de chuva, enquanto em Salmos 147:16-17, o inverno é associado com a neve e o gelo, que Deus espalha sobre a terra como parte do seu controle sobre a natureza.
No Talmude, o inverno é visto como uma época de escuridão e tristeza, mas também como um período de descanso e renovação. Por exemplo, no Talmude Babilônico, Tratado Ta'anit 29a, é mencionado que o inverno é um tempo em que as pessoas devem jejuar e buscar a Deus, a fim de evitar calamidades e obter bênçãos. No entanto, o inverno também é visto como um tempo de descanso para a terra e para as pessoas, em que se deve tirar proveito do tempo frio para repousar e renovar as forças.
Em resumo, o inverno é mencionado tanto na Bíblia como no Talmude como um período de dificuldades e adversidades, mas também como uma época de descanso e renovação. O seu significado pode variar de acordo com o contexto e a interpretação das fontes).
Alma (Essência): Torso inferior, especificamente o abdômen (Sentimentos, paixão, amor infinito). No Talmude, a palavra "alma" é frequentemente traduzida como "nefesh" em hebraico. "Nefesh" é um termo complexo e multifacetado, que pode se referir a diferentes aspectos da vida e da existência humana.
Em geral, a "nefesh" é entendida como a essência vital que anima todos os seres vivos. É a fonte da vida, responsável por todas as funções biológicas e psicológicas do indivíduo. No entanto, além disso, a "nefesh" também está associada a uma série de outros conceitos, como a vontade, o desejo, as emoções, a personalidade e a consciência.
No Talmude, a "nefesh" é frequentemente discutida em relação ao papel que desempenha na relação entre Deus e a humanidade. Segundo a tradição judaica, a "nefesh" é um presente divino que é dado a cada pessoa no momento do nascimento. É responsabilidade do indivíduo cultivar e desenvolver sua "nefesh" durante a vida, de modo a se aproximar de Deus e cumprir seu propósito na Terra.
Assim, a "nefesh" é vista como uma parte essencial da natureza humana, que deve ser nutrida e fortalecida para que o indivíduo possa viver plenamente e se conectar com o divino. No Talmude, a "nefesh" é considerada uma das maiores dádivas que Deus concede à humanidade, e é vista como a chave para a realização espiritual e a felicidade duradoura.
Qualidade: Amor, expressando-se como Água (Vide Formato)
Arquétipo: Messias, Filho de Davi
Canal: (Modo de atuação) De Netzah a Hod (Criação e Reverberação Criar O Homem à Sua Imagem e Semelhança para que seja Co-Criador)
Procurei esmiuçar um pouco aqui a natureza da palavra ADAMAH, e vejamos Quem Se identifica desta forma:
"A expressão filho do homem (ben Adam, בן אדם), literalmente filho de Adão, é utilizada comumente no Judaísmo e no idioma hebraico em geral para denotar um ser humano, uma pessoa; o plural (bnei Adam, בני אדם) é utilizado para humanidade. No Cristianismo é reconhecido como Jesus, pelas referências nas Escrituras ao Messias.
No livro do profeta Daniel conta-se que é a aparência de uma pessoa que recebe de Deus todo o poder sobre o Reino Eterno (Daniel 7,13 e 14 "Eu estive olhando nas minhas visões noturnas, e eis que vinha nas nuvens como um filho de Adão, e dirigiu-se ao Ancião de Dias, e o fizeram chegar até ele, e foi-lhe dado o domínio, e a honra, e o reino para que todos os povos, nações e línguas o sirvam. O domínio dele é domínio eterno, e o reino dele é o único que não será destruído."). (Fonte: Wiki)
Assim exposto, vou revelar o mistério da Vaca vermelha:
O animal a ser sacrificado deveria ser retirado do arraial, isto é, seria sacrificado, morto, fora deste, e suas cinzas seriam assim divididas: Uma terça parte seria guardada em uma ânfora, para purifucação das águas da Micvê, ao longo dos anos vindouros, e o restante seria enterrado fora também, no deserto (durante a travessia) ou no Horto das Oliveiras (no período do Grande Templo).
Traduzindo: Jesus sendo judeu, foi tirado dentre os judeus, e morto pelos gentios. Seus ensinamentos (cinzas que se espalham ao vento e purificam as águas), permaneceria em parte, mas seu nome seria retirado dos anais do judaísmo (fora do arraial). Suas cinzas se misturam ás águas (de Seu peito verteu sangue (DAM) e Água (no hebraicom MIM, isto é, dois Mem que cercam o Yud, ou seja, Um Único Messias, ou "O único capaz de redimir o ser Humano por DAM, na ADAMAH.
E o Apocalipse?
Apocalipse, do grego: Apokalupsys - Retirar o véu, revelar, é isso. Está revelado, desde as maravilhosas aulas do deserto, cujo "Power Point" eram os rituais, que podemos compreender cada YUD e VAV do que D'us deixou preparado para nosso conhecimento e conforto a respeito da Salvação.
Perece assim, saudável, pensar que o sacrifício era retirado de seu lugar derradeiro, para ser levado a outro lugar, e lá ter seu destino final. Parece razoável pensar que O Messias foi escolhido (ungido quer dizer "escolhido") dentre seu povo, para ser levado a interceder na morte por outro povo também.
Bem, meus queridos leitores. Vou dar uma pausa por aqui para que vocês leiam tudo novamente, e possam assimilar tanta novidade, mesmo que já esteja lá desde os tempos de Moisés.
Se quiser saber mais, pode escrever e na medida do possível, vamos conversar a respeito.
Abaixo este video que gravei sobre o mesmo assunto, com outros detalhes. Vale a pena acompanhar para ter uma leitura mais ampla do assunto.
Contem o presente ensaio, o relato fictício de uma gentil camponesa, "Dona Izartina", que, alheia às turbulências do mundo, tocava a sua vidinha mansa, com a simplicidade de uma criança recém nascida, que vê apenas vultos a poucos metros, e distingue a mãe pela voz e pelo cheiro. Assim, para a personagem Dona Izaltina, o cheiro da Maçanilha, ou o cheiro das galinhas no terreiro, ou do perfume do pasto levantado pelo orvalho aos primeiros raios de sol, era o limite de sua fé, de sua esperança, expectativa, e de ambição.
Os Lírios do Campo mencionados por Jesus, simbolizam este oásis de refrigério, entre tantas incertezas que as turbulências ameaçam. Contemplar os Lírios do Campo equivale a secar uma lágrima de alguém com um sorriso furtivo. Equivale a colocar fones de ouvido, como eu faço enquanto escrevo, para que as turbulências do mundo lá fora deslizem como se eu estivesse banhado por T-Flon, e me permitam raciocinar cada palavra entre um e outro acorde de violino ou pela orquestra inteira, ainda que lá fora as orquestras sejam de ruidosos caminhões, trens, aviões, obuses, tanques de guerra, ou soldados bem alimentados, que pisoteiam nos lírios dos campos, ou nas couves de senhorinhas que estejam entre suas marchas e seus alvos a serem destruídos.
Os Senhores das Guerras não dão importância para as velhinhas que plantam couves e dão milho para as galinhas. Na verdade, os Senhores das Guerras nem sabem que elas existem, pois veem apenas as terras e o que abaixo delas se oculta. Não sabem, os senhores das Guerras, que depois das guerras que os enriquecem, não haverá mais couves para saciar seus filhos, e talvem nem filhos, para que plantem couves, ou façam novas guerras. Mal sabem, os Senhores das Guerras, que já estão prontos para seu definitivo êxtase, em premer botões vermelhos e olhar de longe os cogumelos não comestíveis, cuja luz que brilha, apaga o brilho de pequeninas luzes que antes brilhavam por meio de sorrisos e olhares esperançosos. Mal sabem os Senhores das Guerras que nenhum êxtase, por mais glorioso que se mostre, estasiará o coração dos que restarem em seus bunkers, posto que o Sol que brilha lá fora não pode romper o concretos das galerias onde foram empacotados suas mulheres e filhos, para serem preservados das barbáries que eles prórpios semearam, ragaram com sua ganância, e agora colhem as tempestades que brotaram do brilho intenso da morte e destruição.
Olhai os Lírios dos Campos, e cerrai os olhos para guardar na lembrança este último olhar, para que reconheçis os lírios dos campos da Eternidade, ao novamente abrirdes seus olhos, despertados pela brisa suave da manhã perenal que dá início à segunda eternidade.
Olhai os Lírios do Campo, aqui e agora, enquanto ainda há lírios para desconstruir a imagem das legiões que pisoteiam nas couves das senhorinhas. Olhai os Lírios do olhar das crianças, do fraco andejar dos velhos, enquanto houver campos para semear. Olhai os Lírios com inocentes olhares, enquanto com laboriosas mãos semeiam a paz à todos os campos onde os pés os levarem.
Dona Izartina, minha doce e matuta personagem estará, tenho esta crença, entre aqueles que muito em breve, caminharão sobre o chão fertilizado pelos Senhores das Guerras, eneles plantarão Couves, Ervilhas e frutas silvestres tá doces, que não deixarão que haja lembrança alguma dos amargos frutos da guerra, da saudade, e da dor. Dona Izartina caminhará entre as Maçanilhas e Lírios, pelo doce prazer de sentir o perfume e a brisa a acariciar seus cabelos, enquanto ao longe Seu Argimiro, sorridente, estende os braços e mostraos belos cachos de uvas da Árvore da Vida, que nenhum soldado bem nutrido pisará jamais, e as espadas e tanques de guerra serão transformados em tratores e arados, e os cuscos e gatos manhosos brincarão com os leões, e os bebês de colo, colocarão a mãozinha na toca da serpente, e os cordeirinhos serelepes saltitarão com os leõezinhos e os Leopardos, bebericando a água fresca do Rio da Vida, cuja nascente emerge do meio do Trono onde reina O Altíssimo, O Redentor, Aquele que escolheu viver entre Seu Semelhante, brotado de Seu Sopro, à Sua Imagem, e semelhante perfeição.
Olhai os Lírios do Campo, com intensidade de fé. Olhai o olhar dos que apenas lírios têm nas mãos. Apenas isso.
Dona Izartina era viúva do Seu Argimiro, um matuto bonachão, que se acocorava na porta do ranchinho, ao fim da tarde, depois da faina na lavourinha mirrada, e pacientemente sovava o fumo de rolo, lambia a palha, e pitava seu paiêro.
Dia após dia, tarde, após tarde, lá estava acocorado, o Seu Argimiro, pitando seu paierinho, e ao seu lado, bombeando o céu pra módi ver se choveria ou não, na manhã seguinte, a sua fiel parceira , Dona Izartina. E entre eles, os diálogos eram simplórios, eivados de comentários econômicos, sobre o tamanho das couves, das galinhas gordas, e do chazinho de Maçanilha, que preenchia a existência daquele ranchinho de barro e palha, também chamado de Lar.
Mas, como o tempo não oferece opções, um dia, Seu Argimiro, não entardeceu mais com seu pito atrás da orelha, e foi tirar uma pestana abraçado pelo pó da terra, esperando a ressurreição, e deixando Dona Izartina sozinha, com as couves, as galinhas, e a Maçanilha florida e perfumada, do diminuto quintal, que avizinhava com a janela sem vidros, do puxadinho que servia de cozinha.
Devota, Dona Izartina começava o dia, bem no final da noite, pouco antes da madrugada, e encerrava a faina, logo além do último raio de sol, no poente que se despedia para abraçar a noite. Acordava, ela, em sua simplória, bem simplória devoção, rezava balbuciando como uma cantilena, agradecia pela noite e delicadamente, humildemente, sugeria como bênção para o dia, o pão quentinho, e "dous gorpe de leite gordo pra módi branquear o café". "Premêro D-us", dizia, e isso feito e dito, erguia-se em etapas, como se erguem os velhos, e tocava a soprar, entre as cinzas do velho fogão de barro, o toco de pau que ainda tinha brasa, encostava uma palhinha seca, e já acesa a chama tremulante e viva, cobria com uns gravetinhos, uns paus de lenha, e em poucos instantes, a velha cambona preta começava a chiar na chapa, para preparar o café.
Enquanto a água "aquentava", dava de mão a uma cumbuca e dosava certo tanto de milho e quirera, pras galinhas e pros pintos, e "apinchava", cantarolando no terreiro, chamando as galinhas, que ao som da voz, e o tilintar da vasilha de ração, faziam estardalhaço e corriam para o lugar onde o milho caía.
O gato manhoso e magro, atento a isso, se enroscava nas pernas magras da velha, e ganhava um afago, seguido de um "tantico" de leite no pratinho de barro, ali no cantinho da porta. "Biju", um velho cusco faceiro, tremulava o rabo, balouçando as "cadeiras", indo e vindo, onde ia Dona Izartina. Dali, ao estábulo quase caindo, dar pasto à vaquinha, que a recebe com um mugido sincero e terno, um olhar que só as vaquinhas tem com seus donos, quando são bem tratadas, e a mansidão de deixar que lhes espremam cuidadosamente as tetas, para ganhar uns canecos de leite gordo, todos os dias.
Depois, já refestelados os bichos, refestelava-se também ela, com seu pão e um naco de doce, e um caneco bem cheio de café coado, com o leite gordo, e assim, refestelava-se também ela. Agora, passar a mão numa enxada, e rumar pra lavourinha, cercada de caiçara, e restos de ramos secos, que impedem a entrada dos pintos na hortinha, e carpir o inço entre as couves e outros legumes. Umas enxadadas aqui, outras ali, encerra sua ida à lavoura, fazendo do avental uma sacola improvisada, e passa a colher vagens, couves, ervilhas, tomates, favas, e uma ou outra frutinha que encontra, madura, pelo diminuto passeio entre as plantas. Volta pra casa, larga as verduras numa bacia com água, para serem lavadas depois, e vai para o quartinho, separado da cozinha por um vazio, e protegido por um pano velho, parecendo ser uma cortina. Mexe as palhas do colchão, areja os trapos e os estende na soleira da janela, e volta para a cozinha, para começar a preparar o almoço. Depois, sol a pino cozinhando o mundo, uma esticada no catre até que o calor seja amainado. Um pouco mais de lavoura, uma "barrida" no terreiro, mais milho pras galinhas, e quirera pros pintos, um resto de comida pro cusco e pro gato, as rezas da noite, e assim, dia após dia, os nós de existência de Dona Izartina, se emolduram pela vida, até que se junte ao Seu Argimiro.
E a Terceira Guerra Mundial? E as nações em rebuliço estasiadas e estupefatas pelas incertezas? E a Bolsa de Valores caindo? E as ameaças de bombas nucleares que podem destruir de uma só vez mais de quarenta mundos? E as ideologias que tiram o sono de multidões, e separam famílias, destroem amizades, engordam governantes, motivam turbulências, arrastam multidões? E a alta do Dólar? E as sanções às carnes? E o Petróleo que não para de subir? E os embates entre governos e juízes? E a certeza certeira de que a guerra vai chegar? Bem, isso todos sabem que certamente nada sabem. Há apenas a perplexidade de nada saber e tudo imaginar o pior. Mas Dona Izartina, não tem ouvido falar de nada disso. Apenas acorda, ainda noite, reza para que a chuva venha no tempo certo, as couves cresçam, a vaca dê leite, e as dores da velhice tenham o lenitivo do chazinho de "Mistruis" e Maçanilha, para que o vazio entre a tarde e o alvorecer seja breve e reconfortante. Mesmo porque, quando a guerra chegar, quando as artilharias e os soldados armados e bem nutridos passarem pisoteando as suas couves, o que pode fazer Dona Izartina, senão rezar e desejar que possa se juntar ao Seu Argimiro, para serem soprados pelo vento mundo afora, até o dia da ressurreição?
Tive a honra de ser agraciado como "hors Concours", em um concurso de poesias sobre Gramado, há alguns anos atrás. Este poema foi impresso em um cartz, e durante um mês ficou exposto na Rua Coberta, para apreciação dos visitantes.
O evento foi da Assoiação de Artistas e Escritores de Gramado*
Não, diletos devotos, eu não estou blasfemando com a paródia da oração. Estou apenas dimensionando o tamanho do desafio que precisamos enfrentar para despertar da mediocridade nossa de cada dia. Estou gritando pelo silêncio das palavras que me são permitidas escrever, para que as lendo sem pensar, não sejam compreendidas, mas em separando uma fração de tempo para nelas refletir, possam perceber, diletos leitores, que há sempre uma salutar ironia em meus trocadilhos contumazes.
Dá-nos um leão a cada dia, remete-nos à ideia de que se pedirmos o "pão nosso", isto é, o pão ao qual temos, por direito divino, saciar nossa fome, nos seja dado Pari Passu à força que nos permita enfrentar os desafios advindos pelo suor de nosso rosto, ao plantarmos o trigo, e colhermos o vinho da celebração à vida.
Não há pão sem leão, está por certo isso, basta sabermos que o mundo tem fome e sede, não só de pão, mas de justiça, de generosidade, de equilíbrio e bom sizo. Não há nesse mundo, ainda, saciar de fome sem calos nas mãos, e trôpego andejar, pelas terras áridas onde se semeia vento para colher esperança, e nem esta brota, sem que venham as tempestades. Não há nesse mundo vitória sem luta, e para que haja luta, são necessários oponentes, e não há glória na vitória contra o fraco, então, que sejamos audazes e não peçamos apenas pão, como esmola, mas leões, como adversários, para que haja preço em nossas conquistas. Que não sejamos fúteis nem medíocres, mas audazes, e aguerridos, como diz a canção: "Eu só falo dos valentes. Dos covardes não se fala!" (Airton Pimentel).
Não fomos criados para sermos metade. Somos inteiros, e únicos, ainda que entre bilhões de únicos também, mas temos nome e destino, ainda que nossa estirpe humana possa parecer pífia, é nossa origem divina que nos agiganta, que nos torna audazes, e que não seja apenas de pão a nossa fome, mas de determinação para enfrentarmos o amanhecer, com espírito de vitória. Não queremos pão de mão beijada. Queremos merecer o leite e o mel que emanam de cada pedaçõ prometido de chão, que temperam o sabor, pois bem sabemos que pode haver mel de doçura inigualável dentro da boca de um leão vencido, como encontrou Davi, e ainda nem era rei nesse dia. Não precisamos de cetro ou coroa para vencermos leões. Precisamos apenas saber que fomos feitos, individualmente, "à imagem e semelhança de D'us", e que o mesmo D'us que derruba o Leviatã, dá-nos força para vencermos os leões de cada dia.
Não peço mais pão, senão que seja entregue por um leão, para que possa merecê-lo, senão que permita-me saber que não sou um derrotado. Não me importam as garras e os dentes afiados que me possam sangrar o ânimo, senão que meus braços tenham força para plantar e colher; que minhas pernas me possam levar onde hajam espíritos cansados para apascentar; que meus olhos não vejam senão horizontes de justiça e esperança; que profira minha boca, palavras de consolo e encorajamento; que meu corpo, ainda que marcado de cicatrizes, seja barreira para as feras que caminham para ferir aos que amo, e que meu espírito seja um com O Espírito do Criador dos mundos. O Criador dos campos onde brotam pão, das águas que saciam e refrigeram. E dos leões que me fazem forte, quando dobram meus joelhos ao anoitecer, para que forças reúna, à vencê-los novamente no clarear da aurora que virá.