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quarta-feira, 15 de março de 2023

Pilhôco, o cusco que falava

Imagem: internet

O nome do cusco era "Piloto", mas o Barduíno tinha adquirido a preço de promoção, de um mascate que passou pelo lugar, uma dentadura semi-nova, que era menor que a boca, o que obrigava o Barduíno a apertar os lábios e falar de boca fechada, para que a "perereca" não saísse voando mundo afora. Então, nesse desvio de diccção, chamava seu cãozinho, "Piloto", de "Pilhôco".

Barduíno era um bom sujeito, e bom parceiro de prosa, numa pescaria, por exemplo, ou lá no bolicho do Cebôla, e suas prosas se tornavam ainda mais interessantes, porque ele adicionava temperos ao causo, que se não fossem contadas por ele, que jurava serem verdades, passaria por lorotas, mentiras bem arranjadas, digamos assim. Tá bem, tenho que admitir: o ôme mentia e mentia a rodo, e pra carimbar as mentiras, constrangia a pobre da "Chelésche", ou, em dicçaõ normal, "Celeste", sua esposa, a confirmar suas façanhas. A cada lorota contada, apontava a mão, usando o palheiro como seta, para a Celeste e perguntava: "Não foi, "Chelésche", que acontecheu achim?" E a Celeste girava a cabeça, direcionando os olhos envergonhados, pros cantos e confirmava meio que de boca fechada, pra não se comprometer demais: "Foi, véio, acho que foi!" E Barduíno estufava o peito, assoprava o pito, vaidoso, e dava uma tragada recompensadora.

Certa feita, contava ele um feito, de uma caçada de veados, e na largada, assombrava pelo número de abates:
- Cachêi dijoito viado dipoish duma chuvarada aqui memo do lado de cája. Não foi, Chelésche, que eu cachei dijoito viado?
A pobre Celeste, encolhida, olhando pra baixo, respondeu:
- Óia, meu véio! Eu só me alembro de UM veado que tu caçou, mas foi lá pra baixo, perto do rio!
Com um olhar de iluminação e lembrança que voltava, Barduíno bateu  levemente à cabeça e falou:
- É mejmo, Chelésche! Dêche eu nhão me alembrava! Então chão DIJANÓVE!

Mas, pensam que parou aí? Não mesmo! Contente com o olhar crédulo da platéia, Barduíno continuou:

- Eu tinha um "cachôrro" que "falhava", o "Pilhôco". Foi "achim". Teve um dia, "dispôish duma chuvalhada", que a "Chelésche" tinha areado o chão, deixando tudo branquinho, eshpaiô unsh pelhêgo pra modi ninguém pijá no achuálio limpo, até que checáche. Então, o "Pilhôco" e eu, tava vortando duma cacháda de chabiá, e o "Pilhôco" entrou chaltitando facheiro no chão da"Chelésche", enchendo de rastro dash patinha chuja. Eo dei pito nele e diche:
- "PILHÔCO! CHAI DAÍ, Pilhôco! A Cheléste vai te chingá!"
O pilhôco nhão chaiu, e maish: Ficou dimpé nash patinha de tráish, botou ash patinha da frente na chintiúra, deu ume rebolhadjinha, e diche:
- EU NHÃO CHÁIO!

Eu arregalei osh jóio e chamei a Chelésche! Diche pra elha:
- "CHELÉSCHE! CORRE AQUI, CHELÉSCHE! O PILHÔCO TÁ FALHÂNO!"

"Cano a Chelhesche chegou, trupicou num pelego do chão, e levou um buléu bem  feio. O Pilhôco tomou um cagácho tão grande, que deu um pulo e caiu mortinho do chão.
Por muito pôco, a Chelésche nhão viu o Pilhôco FALHANO!"





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