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sexta-feira, 10 de março de 2023

Jardim da Esperança - Ode à Gramado



Tive a honra de ser agraciado como "hors Concours", em um concurso de poesias sobre Gramado, há alguns anos atrás. Este poema foi impresso em um cartz, e durante um mês ficou exposto na Rua Coberta, para apreciação dos visitantes.

O evento foi da Assoiação de Artistas e Escritores de Gramado*


Pacard

Jardim da Esperança

Ode à Gramado 



Sentei-me, sozinho, à noite

Para abraçar as lembranças

Que meu tempo carregou.

Relatos de outros tempos

Cujas vozes já vazias

minha memória apagou.


Veio à mim, uma criança,

vestida, tão de esperança,

que a recebi com abraços,

tornou-se meu corpo, em braços

trajados de coração.


Pediu-me, histórias,

que as contasse.

Retratasse minha vida,

que falasse das feridas,

das flores e mananciais

mostradas pelas lembranças

do tempo de meu sonhar,

daquelas tardes airosas,

das invernias manhosas

que tempos não trazem mais.


Sou menino desta terra

que entre as serras se aninha

como faz um passarinho,

cuja mãe constrói seu ninho

no galho em que confiou.


O meu ninho, fez minha mãe

e o dela, os meus avós

cada folha desta árvore

abrigou a todos nós.


Abrigamos os nossos filhos

nos abrigam nossos pais

entre os ramos mais frondosos

dois ou dez, nunca é demais.


Uma terra é um regaço

onde jorram mananciais

onde nos plantam com sonhos

e colhemos sempre mais.


Mais que sempre, nunca é nada

o afeto que nos abraça

onde todos são pessoas

onde não se vê a raça

onde pernas são esteios

mãos e braços, ruas, praças

onde flores, mais que luzes

iluminam, fazem graça.


Passarinho, esse sou eu

neste chão que é sempre meu

embora terras, não tenha

minha herança é uma fonte

onde a fortuna jorra

da vertente sobre a mina

desta água cristalina

do chão que me recebe

e mata a sede que ainda tenha

quando minha vida termina .


A vida que um dia, encerra

carrega o cheiro da terra

o frescor do ribeirinho,

esparge doces, perfumes

dela sentirei ciúmes

se a um outro se entregar.

Mas restam outras delícias

no manancial das carícias

de um coração que ainda bate

com o doce do chocolate,

com os coloniais cafés,

com as Hortênsias e rosas,

com a devoção e a fé,

é Gramado, do meu agrado,

são as ruas, testemunhas

de todo meu caminhar,

são as gentes que ficaram,

mães das gentes que virão,

a terra do mate amargo,

de um horizonte tão largo

onde a esperança ainda grita

quando meu peito se agita

na saudade deste chão.


Embora a beleza peça,

não carrego vaidade,

só levo junto a vontade

de contar à toda gente,

que é o meu peito que sente

na compleição da verdae,

colher as mais belas flores

no meu jardim da saudade!


Que bate meu coração

como coração de criança

que possa voltar um dia,

ao meu Jardim da esperança.

12/11/2010

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